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Avisos e Liturgia da Celebração do Domingo X do Tempo Comum – ano A

 

Terminado o Sermão da Montanha, a leitura contínua do evangelho de S. Mateus prossegue com a vocação (chamamento) dos discípulos e com o discurso da missão. Hoje, no evangelho Jesus chama Mateus (nos evangelhos de Marcos e de Lucas é chamado de Levi) para fazer parte do grupo dos Apóstolos. Parece, à primeira vista, um convite como todos os outros: Jesus toma a iniciativa, encontra-se com Mateus, chama-o e ele deixa tudo imediatamente para O seguir. Mas, o chamamento de Mateus tem alguns aspectos importantes. Em primeiro lugar, Mateus é o autor do evangelho, ou seja, é o narrador que relata a sua própria vocação. Em segundo lugar, Mateus era um publicano, um cobrador de impostos, considerado um pecador na sociedade judaica. Este elemento é importante, porque, depois da vocação de Mateus, afirma-se: “Um dia em que Jesus estava à mesa em casa de Mateus, muitos publicanos e pecadores vieram sentar-se com Ele e os seus discípulos”. Como é importante destacar a ideia de que Jesus chama sem ter em conta a condição social do candidato, “sem fazer acepção de pessoas”. Aquilo que mais interessa a Jesus é o desejo de O seguir daquele que é chamado. Esta atitude de Jesus exprime o amor universal de Deus que deseja que todos os homens se salvem, fazendo nascer ao mesmo tempo o sol sobre os justos e os pecadores.

Esta atitude aberta de Jesus incomodou os fariseus, convencidos que eram os “eleitos”, ou, como se diz na linguagem dos “media”, tinham o “exclusivo”. Jesus responde-lhes: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” e “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”. Estas afirmações de Jesus podem levar-nos a reflectir sobre os destinatários da nossa acção evangelizadora, não esquecendo de que também somos pecadores e, por isso, necessitamos da salvação que vem do Senhor, mas que para a receber é necessária uma atitude aberta e humilde e nunca auto-suficiente. A tentação de pensar que a salvação está assegurada é antiga. O povo judeu considerava-se o povo eleito e, através de ritos e de práticas cultuais, de ofertas e de sacrifícios, pensava que tinha Deus sempre do seu lado. Os profetas foram sempre recordando que a verdadeira fé supõe as obras. Por isso, hoje, Oseias diz-nos na primeira leitura: “Procuremos conhecer o Senhor”, ou seja, em primeiro lugar, amar o Senhor com todo o coração. “Eu quero misericórdia e não sacrifícios, o conhecimento de Deus, mais que os holocaustos”. Jesus usa esta frase no evangelho para justificar a sua presença entre os pecadores que estão mais receptivos a uma mensagem de salvação que os próprios justos. Esta ideia aparece também no salmo responsorial: o que Deus dá mais importância não são os sacrifícios nem os holocaustos, mas a vida, “A quem segue o caminho recto darei a salvação de Deus”.

S. Paulo oferece-nos, neste Domingo, uma reflexão idêntica. A ideia central da sua Carta aos Romanos é a seguinte: o que salva não é o cumprimento escrupuloso da Lei do Antigo Testamento, mas a fé em Deus e a graça obtida por Jesus Cristo. Na segunda leitura, S. Paulo apresenta-nos o exemplo de Abraão que, “perante a promessa de Deus, não se deixou abalar pela desconfiança, antes se fortaleceu na fé, dando glória a Deus”. E isto Deus teve em sua consideração como também tem em consideração a vivência e a firmeza da nossa fé em Jesus morto e ressuscitado “para nossa justificação”.

Hoje, não somos escravos de ritos e de formas legalistas como em outros tempos. Porém, é sempre oportuno recordar que deve haver coerência entre a fé e a vida. Recordemos o evangelho do Domingo anterior: “Nem todo aquele que Me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus”. Sendo assim, a nossa fé deve expressar-se não só com palavras, com teorias, com formas externas, mas também com um amor verdadeiro a Deus e aos irmãos, esforçando-nos por viver como Jesus em todos os momentos da nossa vida (“uma vida santa” – oração depois da comunhão). A Oração Colecta deste Domingo é um resumo da nossa reflexão: “ensinai-nos com a vossa inspiração a pensar o que é recto e ajudai-nos com a vossa providência a pô-lo em prática”.

11-06-2023

 

Leitura Espiritual

«Segue-Me»

 

«Jesus ia a passar, quando viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança dos impostos, e disse-lhe: “Segue-Me”». Não o viu tanto com os olhos do corpo, mas com o seu olhar interior, cheio de misericórdia. Jesus viu um publicano, compadeceu-Se dele, escolheu-o e disse-lhe: «Segue-Me», isto é, imita-Me. Convidou-o a segui-lO, mais que com os passos, no modo de viver. Porque «quem diz que permanece em Cristo deve também proceder como Ele procedeu» (1Jo 2,6).

Mateus levantou-se e seguiu-O. Não devemos admirar-nos de que o publicano, ao primeiro chamamento do Senhor, abandonasse os negócios terrenos em que estava ocupado e, renunciando aos seus bens, seguisse Aquele que via totalmente desprovido de riquezas. É que o Senhor chamava-o exteriormente com a sua palavra, mas iluminava-o de um modo interior e invisível para que O seguisse, infundindo na sua mente a luz da graça espiritual, para que pudesse compreender que Aquele que na Terra o afastava dos negócios temporais lhe podia dar no céu tesouros incorruptíveis (cf Mt 6,20).

«Um dia em que Jesus estava à mesa em casa de Mateus, muitos publicanos e pecadores vieram sentar-se com Ele e os seus discípulos». A conversão de um publicano deu a muitos publicanos e pecadores um exemplo de penitência e de perdão. Foi, na verdade, um belo e feliz precedente: aquele que havia de ser apóstolo e doutor das gentes atraiu consigo ao caminho da salvação, logo no primeiro momento da sua conversão, um numeroso grupo de pecadores. (São Beda, o Venerável, c. 673-735, monge beneditino, doutor da Igreja, Homilias sobre os evangelhos I, 21).

 

 

Avisos e liturgia da Celebração do Domingo da Santíssima Trindade – ano A

 

Neste Domingo, celebramos o “Mistério de Deus”. Talvez seja uma das celebrações que mais nos custa a entender, porque para cada celebração somos congregados “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Ou como diz São Paulo, na segunda leitura: “a graça de Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”. Estamos tão habituados a ouvir estas palavras que nem pensamos no que estamos a dizer. Ao menos uma vez por ano, a Igreja convida-nos a reflectir e a celebrar a solenidade do nosso Deus, que é Trindade, aberto ao amor e necessitado de amor. Deus é relação entre pessoas como o amor é relação entre pessoas. O amor esconde e revela Deus.

Deus é amor (1Jo 4,8). Esta definição da primeira carta de São João revela o dinamismo da história da salvação: Deus faz uma promessa, a Aliança, com a humanidade, e perante a infidelidade humana Deus responde com o perdão e a reconciliação. Isto já podemos constatar no Antigo Testamento. A primeira leitura narrava-nos o momento em que Deus renova a Aliança, depois do episódio do bezerro de ouro. O povo foi infiel ao Senhor, que o tinha libertado da escravidão do Egipto. Moisés intercede pelo povo para que se revele o rosto misericordioso de Deus, a quem não agrada castigar. No decorrer do livro do Êxodo, isto vai repetir-se em diversas ocasiões: Deus responde sempre com perdão às infidelidades do povo.

Também no Novo Testamento, podemos constatar este dinamismo redentor. A salvação depende da opção de acolher ou de rejeitar Jesus; por isso, “acreditar” nele é aceitá-lo, alcançando, assim, a vida eterna. Esta parte final do diálogo de Jesus com Nicodemos insiste, sobretudo, na ideia de que a vinda do Filho ao mundo é a realização deste amor salvífico e sem limites de Deus. Mais que enviar o seu Filho, Deus oferece-o a todos nós.

Como podemos exprimir um mistério tão insondável? É tão conhecida a imagem do Pai sentado, sustentando nas mãos a cruz, onde está pregado o seu Filho; por cima deles, está o Espírito Santo, em forma de pomba, iluminando-os e unindo-os no seu amor! É uma imagem que nos recorda que Deus assumiu a nossa natureza humana e que nos convida a participar na sua vida para sempre. Nos braços abertos do Filho, todos podemos sentir o abraço de Deus. O Filho é a imagem da doação e da entrega de Deus; é a melhor expressão de um Deus que é Pai; é a melhor metáfora para revelar a relação, manifestada no Espírito Santo que nos ilumina e cuida. É imenso o amor que nos tem, a dor que sente por nós, a disposição de se sacrificar para o nosso bem, a proximidade a tudo e a todos. Por isso, entrega-se na Cruz, que, ao mesmo tempo, esconde e revela tudo isto. A cruz, cravada no solo, é uma árvore que nos acolhe com os braços abertos. É o sinal da nossa salvação e do nosso perdão. Uma árvore com três braços. Um Deus em três pessoas. Um Deus de relação, comunidade e compromisso.

Não percamos tempo em tentar explicar racionalmente a realidade de um único Deus em três pessoas. Em vez de tentar explicar o “como”, procuremos contemplar “quem” nos espera e não se cansa de esperar: Deus, “clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade”. É Nele que devemos colocar toda a nossa confiança e esperança.

 

JMJ_flyer (8)
04-06-2023

Leitura Espiritual

«Para que todo o homem que acredita nele tenha a vida eterna»

 

Insensatos, que não cessais de revelar-vos indiscretos na procura da Trindade, sem vos contentardes em acreditar tão-só que Ela existe, tal como vos orienta o Apóstolo, ao dizer: «quem se aproxima de Deus tem de acreditar que Ele existe e recompensa aqueles que O procuram» (Hb 11,6). Que ninguém se ocupe de questões supérfluas, mas se contente em apreender o conteúdo das Escrituras, que dizem que o Pai é uma fonte — «o meu povo abandonou-Me, a Mim, nascente de águas vivas» (Jr 2,13); «abandonaste a fonte da sabedoria» (Br 3,12) — e é luz: «Deus é luz» (1Jo 1,5). O Filho, em relação a essa fonte, é um rio, de acordo com o salmo: «Enches, a transbordar, o rio caudaloso» (Sl 65,10), e em relação à luz é «resplendor da sua glória e imagem fiel da sua substância» (Hb 1,3).

Assim sendo, o Pai é luz, e o Filho o seu resplendor. E é no Filho que somos iluminados pelo Espírito, como diz também Paulo: «que o Pai vos dê o Espírito de sabedoria e vo-lo revele, para O conhecerdes, e sejam iluminados os olhos do vosso coração» (Ef 1,17-18). É, porém, Cristo quem nos ilumina nele quando somos iluminados pelo Espírito, pois a Escritura diz: «O Verbo era a Luz verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina» (Jo 1,9).

Para além disso, sendo o Pai fonte e Cristo rio, é dito igualmente que bebemos do Espírito: «e todos bebemos de um só Espírito» (1Cor 12,13). Dessedentados, pois, pelo Espírito, é de Cristo que bebemos, porquanto bebemos «de um rochedo espiritual que os seguia, e esse rochedo era Cristo» (1Cor 10,4). Ora, sendo o Pai o «único Deus sábio» (Rm 16,27), o Filho é a sua sabedoria, porque «Cristo é poder e sabedoria de Deus» (1Cor 1,24). Por conseguinte, ao recebermos o Espírito de sabedoria, recebemos o Filho e adquirimos a sua sabedoria. O Filho é a vida, pois Ele disse: «Eu sou a Vida» (Jo 14,6).

Mas também se diz na Escritura que somos vivificados pelo Espírito, quando Paulo afirma que «o Pai, que ressuscitou Cristo de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vós» (Rm 8,11). Ao sermos vivificados pelo Espírito, é Cristo que Se faz vida em nós: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2,20). Existindo assim no seio da Trindade uma tal correspondência e uma tal unidade, quem poderá separar o Filho do Pai, e o Espírito do Filho ou do Pai? O mistério de Deus não é concedido ao nosso ser com discursos eloquentes, mas pela fé e por via de preces respeitosas. (Santo Atanásio, 295-373, bispo de Alexandria, doutor da Igreja, Carta I a Serapião, 19; PG 26, 573).

 

http://www.liturgia.diocesedeviseu.pt/

Solenidade de Corpus Christi Festa Santo Padroeiro Cartaz – 1

Avisos e Liturgia – Ascensão do Senhor-ano A

a)         Ainda em Tempo Pascal, este Domingo coloca diante de nós um acontecimento da vida de Jesus: a sua ascensão ao céu. Como nos diz o livro dos Actos dos Apóstolos (1ª leitura), Jesus, quarenta dias depois da sua ressurreição, subiu ao céu. Durante muito tempo na Igreja, esta solenidade foi celebrada na quinta-feira passada, respeitando a exactidão cronológica. Actualmente, foi transferida para o domingo para que todos os cristãos pudessem celebrar este mistério da vida de Cristo que, dada a sua importância, é referenciada no Credo. É bom não esquecer que não se trata de um acontecimento isolado, mas intimamente ligado à Páscoa. Na liturgia deste domingo, é-nos recordado também este momento da vida de Jesus na Oração Eucarística e no Prefácio próprio. Seria oportuno proclamar a Oração Eucarística I ou III, porque ambas fazem referência na “anamnese” à ascensão do Senhor.

 

b)        O mistério da ascensão do Senhor (Jesus sobe ao céu e senta-se à direita do Pai) coloca-nos diante da glorificação de Cristo. A glória velada (escondida) de Jesus Cristo na sua humanidade durante as suas aparições depois da ressurreição, entra no domínio celeste, manifestando toda a sua potencialidade. Jesus foi constituído Senhor, participando no poder e na autoridade de Deus. São Paulo diz na segunda leitura: “colocou (Jesus) à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há-de vir”. O Prefácio da Ascensão I explica resumidamente esta ideia: “Jesus Cristo, Rei da glória, vencedor da morte e do pecado, subiu hoje ao mais alto dos céus, ante a admiração dos Anjos, e foi constituído mediador entre Deus e os homens, juiz do mundo e Senhor dos senhores”; como também o “Memento” das orações eucarísticas I e III: “Jesus Cristo, vosso Filho Unigénito, colocou à direita da vossa glória a nossa frágil natureza humana unida à sua divindade”.

 

c)         O mistério da ascensão do Senhor coloca-nos também diante da glorificação da humanidade. Em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, foi exaltada a natureza humana assumida pelo Verbo de Deus. Assim, a ascensão faz-nos compreender “a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes” (2ª leitura). Também na eucologia deste domingo encontramos esta ideia: “onde já se encontra convosco, em Cristo, a nossa natureza humana” (oração depois da comunhão), “subiu aos céus, para nos tornar participantes da sua divindade” (Prefácio da Ascensão II), “colocou à direita da vossa glória a nossa frágil natureza humana unida à sua divindade” (“Memento” do Cânon Romano). A glorificação da humanidade é expressa, metaforicamente, na imagem paulina do corpo no qual Cristo é a cabeça: “tendo-nos precedido na glória como nossa Cabeça, para aí nos chama como membros do seu Corpo” (oração colecta); “subindo aos céus, como nossa cabeça e primogénito, deu-nos a esperança de irmos um dia ao seu encontro, como membros do seu Corpo, para nos unir à sua glória imortal” (Prefácio da Ascensão I).

 

d)        Antes de subir ao céu, Jesus envia os seus discípulos a evangelizar por todo o mundo: “Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei” (evangelho). A missão é fundamental e essencial na vida do cristão. Nós somos testemunhas do Ressuscitado e devemos anunciá-Lo a todos os povos. É isto que Jesus nos pede: “recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra” (1ª leitura). No dia da ascensão, os anjos disseram aos discípulos: “Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu?”. Ser cristão não é somente ter uma grande amizade com Jesus, mas também ser enviado.

 

21-05-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos»

 

Aquele que desceu à Terra – e só Ele sabe como -, antes de voltar para o Céu – como? só Ele o sabe -, tomou aqueles que amava e levou-os ao alto de um monte […] para lhes elevar a cabeça e o espírito. […] O Senhor, abrindo os braços como asas, cobriu, qual águia, o ninho de que cuidava ternamente (cf Dt 32,11) e disse aos seus: «Protegi-vos contra todos os males à minha sombra (cf Sl 90,1): assim como Eu vos amei, amai-Me vós também. Não Me separarei de vós: permaneço convosco, e ninguém poderá fazer-vos mal» (cf Mt 28,20; Rom 8,31). […]

Com estas palavras, o Senhor provocou grande dor nos seus apóstolos. Talvez tenham até chorado, dizendo: […] «Vais abandonar-nos, vais separar-Te daqueles que Te amam? […] Isso angustia-nos, porque o nosso maior desejo é estar sempre contigo. Procuramos o teu rosto […]; não há outro Deus além de Ti (cf Sl 26,8; Is 45,5). Não Te afastes daqueles que Te amam, fica connosco e diz-nos: “Não Me separarei de vós: permaneço convosco, e ninguém poderá fazer-vos mal”».

Vendo a dor daqueles que O amavam, o Senhor consolou-os como um pai consola os filhos: «Não choreis, amigos, porque não estamos em tempo de lágrimas […]. Esta é a hora da minha alegria; para ir ter com meu Pai, tomo asas e repousarei na minha tenda (cf Sl 138,9), pois fiz do firmamento do céu uma tenda […], como diz Isaías: “Deus formou o céu como uma abóbada e como uma tenda onde Ele habita” (Is 40,22), Deus, que diz aos seus: “Não Me separarei de vós: permaneço convosco, e ninguém poderá fazer-vos mal”».

«Por isso, estai alegres e radiosos, tende um ar feliz, “cantai um cântico novo” (Sl 97,1), pois tudo aquilo que vai chegar, chega para vós. Eu desci do Alto por amor a vós, e andei pela Terra para vos agradar e ser acolhido por vós. É também por amor a vós que volto para o Céu, a fim de dispor do lugar onde estarei convosco, pois “em casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14,2) […]. Vou, pois, preparar-vos uma morada para vos receber e não Me separarei de vós: permaneço convosco, e ninguém poderá fazer-vos mal» (São Romano, o Melodista (?-c. 560), compositor de hinos, Hino 48 para a ascensão, 2-4, 7-8; SC 283).

 

Cartaz elegante branco de festa da misericórdia – 2

 

Avisos e Liturgia do VI de Páscoa – ano A

Todos já tivemos momentos que nos trazem alegria e tristeza ao mesmo tempo. Isto acontece, quando vivemos um momento muito intenso e agradável e que, depois, vai chegando ao seu termo. Pode ser o último dia das férias ou o final de uma viagem de sonho, ou a saudade dos pais, ou a alegria da visita dos familiares que, depois, regressarão à sua terra. Por muito que nos custe, cada momento é efémero, o tempo foge; esta é a lei da vida. Se ficamos agarrados ao passado, a vida foge e ficamos desligados da realidade presente, isolados num mundo de recordações que se vão desvanecendo.

Talvez tenha sido isto que viveram os discípulos, entre a Quinta-feira Santa e o Pentecostes. O texto evangélico deste Domingo é um excerto do discurso de despedida de Jesus na Última Ceia, antes da Paixão. Depois do Domingo de Páscoa, entre as aparições do Ressuscitado, os discípulos terão tido saudades dos momentos vividos com Jesus a caminhar, a pregar e a curar. Nunca mais isto ia acontecer, sem estavam conscientes do seu futuro.

Não nos acontece o mesmo na nossa vida? Não temos saudade dos tempos passados? Talvez daquele tempo em que se pensava que ser cristão e participar da vida da Igreja era o habitual e rotineiro para todos, e não tínhamos, como agora, a sensação de que vamos contra a corrente e que algumas pessoas não nos entendem. Talvez daquele tempo em que havia a impressão de que um certo sacerdote ou uma certa pessoa de confiança resolvia os nossos problemas de consciência e esclarecia as nossas dúvidas. Talvez daquele tempo em que éramos mais ingénuos do que agora, tempo em que era mais fácil confiar em alguém…

O passado nunca mais volta, apesar de se dizer que “a história repete-se”. Não devemos ficar obstruídos na nostalgia. Jesus convida-nos a viver uma nova presença, mais íntima e profunda do que a anterior. Já não temos Jesus, mas temos o Espírito Santo em nós. Parece que ficamos desprotegidos, porque o mundo não é capaz de ver esta nova presença, mas o Defensor, o Espírito da verdade, nos fortalecerá interiormente e nunca nos abandonará. Já não precisaremos do consenso social nem da autoridade de ninguém para nos sentirmos seguros. A nossa paz e segurança brotam da experiência pessoal de sermos morada divina. “Se Deus está connosco, quem poderá estar contra nós”?

Esta presença do Espírito Santo motiva-nos e fortalece-nos para cumprirmos a missão que Deus nos confiou. “Filipe desceu a uma cidade da Samaria e começou a pregar o Messias àquela gente”. Antes de subir ao Céu, Jesus enviou os seus discípulos a pregar a Boa Nova, a começar por Jerusalém e por toda a Judeia, passando pela Samaria e até aos confins da terra. No dia de Pentecostes, com o discurso de Pedro, teve início a pregação em Jerusalém. A morte de Estêvão foi a primeira grande desgraça devido ao anúncio do Evangelho. Mas, fugindo da primeira perseguição, Filipe chega a Samaria e inicia a segunda etapa da missão apostólica. Sem esta ousadia de Filipe, talvez, quem sabe, Paulo e os outros apóstolos não teriam irradiado tão rapidamente a Boa Nova por toda a parte.

Procuremos não procurar apoios externos para a fé. Temos o necessário com a graça divina que o Espírito Santo nos derrama; graça e presença divinas que recebemos todas as vezes que celebramos a Eucaristia ou outro sacramento. Participemos nela com toda a confiança, devoção e de coração aberto para a missão.

14-05-2023

 

LEITURA ESPIRITUAL

Recorramos ao Espírito Santo

 

Aqueles que são conduzidos pelo Espírito Santo têm ideias certas. É por isso que há tantos ignorantes que sabem mais do que os sábios. Uma pessoa que é conduzida por um Deus de força e de luz não pode enganar-se. O Espírito Santo é uma luz e uma força; é Ele que nos permite distinguir o verdadeiro do falso e o bem do mal. Ao enviar-nos o Espírito Santo, Deus fez como um grande rei que encarregasse um ministro de orientar um dos seus súbditos, dizendo-lhe: «Vai acompanhar este senhor por toda a parte e trazer-mo de volta são e salvo».

Que belo é ser acompanhado pelo Espírito Santo! Ele é um bom guia. O Espírito Santo conduz-nos como uma mãe leva o filho de dois anos pela mão, como uma pessoa que vê conduz um cego. Todas as manhãs devemos dizer: «Meu Deus, enviai-me o vosso Espírito Santo, que me fará conhecer quem eu sou e quem Vós sois». Uma alma que possui o Espírito Santo experimenta um delicado sabor na oração e nunca perde a santa presença de Deus. (São João-Maria Vianney, 1786-1859, presbítero, Cura de Ars, «Pensamentos Escolhidos»).

 

Avisos e Liturgia do V Domingo de Páscoa – ano A

Todos desejamos ser felizes. Neste aspecto, estamos todos de acordo. Sim, desejamos, porque não o somos como desejávamos. Somos eternos insatisfeitos e medrosos. Tememos perder o pouco de felicidade que vamos tendo. Tememos tomar a decisão errada e ser impossível voltar atrás. Tememos que a felicidade não exista e que todo o nosso esforço tenha sido em vão. Uma das características da nossa geração é a incapacidade de tomar decisões definitivas. Tudo é tão duvidoso e tudo muda tão depressa que não nos atrevemos a pôr as mãos no fogo por nada, nem por ninguém. Podemos ser despedidos da noite para o dia; alguns, ontem, diziam uma coisa e hoje dizem totalmente o contrário. Como se pode, assim, assumir um compromisso para toda a vida? Há uma crise de instabilidade. Somos uma “sociedade líquida”, até mesmo “gasosa”; uma sociedade sem vínculos nem forças de coesão.

Então, onde encontraremos a solução? Há alguma receita? Alguma terapia para recuperar o norte, a confiança, a segurança? Temos conhecimento de pessoas que, com esperteza, procuram alcançar uma felicidade que, mau grado, cada vez é mais incerta. Ambicionam um corpo perfeito, sucesso nas redes sociais, o homem/mulher ideal, a solução dos problemas com técnicas de meditação duvidosas, a alucinação autodestrutiva das drogas…

Mas, e a solução perfeita? Jesus é a resposta a todas as nossas inquietações e ambições. Jesus é o caminho. Não é uma poção mágica que tudo cura de uma só vez. É o caminho que nos permite avançar, pouco a pouco, com esforço, sem saber, previamente, o percurso e a distância. Mas, se há um caminho, há uma meta. Se O seguimos, não nos perdemos nem nos desorientamos. Tudo tem sentido.

Jesus é a verdade. Todas as teorias e correntes ideológicas têm os seus pontos fracos, porque são construções humanas. É evidente que desconfiamos de algumas ideologias. Mas a verdade existe. Não é uma ideia. É uma pessoa. Jesus é a referência sólida para construirmos a nossa vida sobre a rocha. Ele não muda segundo as conveniências, nem passa de moda.

Por isso, Jesus é, também, vida. Não é o “vai-se vivendo”. É a vida com letras maiúsculas, a plenitude que desejamos, a felicidade que sonhamos. É uma vida ao alcance de todos. Na sociedade de hoje, há pessoas exploradas e escravizadas pelo sistema, para que outras possam viver melhor. Como também, há pessoas “descartáveis”: não são úteis e o sistema abandona-as e não quer saber delas. Porém, na casa do Pai há lugar para todos. Não há marginalizados, nem “descartáveis”. Todos são acolhidos e bem-vindos.

Filipe diz a Jesus que está tudo muito bem, mas “mostra-nos o Pai e isto nos basta”. Que se coloque tudo de lado e que o Pai venha, de uma vez por todas e nos leve para Si. Que nos dê tudo feito e não nos peça o esforço da fé e do trabalho de todos os dias. Jesus responde claramente. Ele é o único caminho de acesso ao Pai. Não estejamos à espera de outras revelações. Não há outro caminho nem outra sabedoria senão Jesus. Só Ele é a vida. Se não O conheceste, não te preocupes, Ele encontrará maneira de vir ao teu encontro. Na casa do Pai há também lugar para ti. Se O conheceste, não vás atrás das novidades. Em Jesus, encontrarás tudo o que necessitas. Ele é a novidade e a plenitude da vida.

07-05-2023

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LEITURA ESPIRITUAL

«Eu sou o caminho, a verdade e a vida»

 

Ouçamos o Senhor: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida». Se procuras a verdade, segue o caminho; porque o caminho é também a verdade; ele é o teu destino e o teu percurso. Não é por outra coisa que vais a outra coisa; não é por outra coisa que vens a Cristo: é por Cristo que vens a Cristo. E como vais a Cristo por Cristo? Vais ao Cristo Deus pelo Cristo homem; pelo Verbo feito carne, vais ao Verbo que estava, no começo, em Deus; por aquilo que o homem comeu àquilo que os anjos comem todos os dias.

Com efeito, está escrito: «Deu-lhes a comer do pão do Céu; o homem comeu o pão dos anjos» (Sl 77,24-25). O que é o pão dos anjos? «No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus» (Jo 1,1-3). Como foi que o homem comeu o pão dos anjos? «O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós» (Jo 1,14).

 

Avisos e Liturgia do IV Domingo de PÁSCOA – ano A

Se perguntarmos a alguém com que animal mais se identifica, raramente dirá uma ovelha. São animais pacíficos, amáveis e submissos. A muitas pessoas não agrada muito a imagem do pastor e do rebanho que Jesus utiliza ao falar de si e dos discípulos, nem quando os bispos e os presbíteros se apresentam como pastores do rebanho dos fiéis! Ora, não nos devemos escandalizar pelo facto de Jesus utilizar esta imagem. No seu tempo, na Palestina, havia muitos rebanhos e a figura do pastor era muito comum. Jesus falava sempre, utilizando imagens da vida quotidiana; por isso, as parábolas estão cheias de semeadores, ceifeiros, vinhateiros, pescadores e pastores.

Se Jesus tivesse vivido na nossa cultura urbana, certamente teria utilizado outras imagens. Podemos imaginar que, em vez do bom pastor, falaria de si como do bom pedagogo ou bom educador. Era usual as pessoas chamarem Jesus por Mestre. Etimologicamente, o pedagogo é aquele que acompanha ou guia as crianças, e o educador é quem conduz, quem ajuda a sair. Nenhuma destas palavras está longe da imagem do bom pastor. Não seria desapropriado falar de um pedagogo ou de um educador como um pastor de crianças.

Em primeiro lugar, é alguém que entra pela porta. Não invade a propriedade privada com intenções perversas. É alguém que tem autorização para entrar, porque é de confiança e relaciona-se facilmente. As ovelhas conhecem a voz do pastor e as crianças a voz do mestre. O bom pastor não força, não intimida, mas convida e atrai.

Se o pastor entrou no curral, a sua missão é fazer sair as ovelhas e conduzi-las aos pastos. Talvez a primeira geração de cristãos, provenientes do judaísmo, ao ouvir estas palavras, recordava a experiência dolorosa que viveram com a expulsão das sinagogas. Aquela incómoda sensação de tempestade foi muito importante e fecunda para a expansão da fé cristã. Os cristãos começaram a anunciar o Evangelho ao mundo pagão; assim, a fé foi expandindo por todo o mundo. Sair, ir às periferias é uma ideia-força que se ajusta com o evangelho deste domingo.

O pastor vai à frente e as ovelhas seguem-no, diz Jesus. É o líder que abre caminho porque sabe para onde vai e confiam nele. O pastor conduz as ovelhas para prados viçosos. O educador conduz as crianças para desenvolver todos os seus talentos. Mas, por vezes, o bom pastor vai no meio do rebanho. Necessita de sentir a proximidade, sentir o cheiro a ovelha e confia nas ovelhas que vão à frente do rebanho, que sabem ir para boas pastagens. Outras vezes, o bom pastor vai atrás para ajudar as ovelhas mais debilitadas e as que têm dificuldade em acompanhar o ritmo. Todas são importantes, nenhuma é descartada.

Tudo isto acontece no mundo da educação. Muitas vezes, o mestre conduz a marcha do grupo; por vezes, tem de se misturar com os alunos para dar conta das suas necessidades e ambições e satisfazer as suas iniciativas. Terá de dar mais atenção aos que têm dificuldades de prosseguir. Isto é válido também para os pastores da Igreja. Da parte dos presbíteros, as comunidades cristãs precisam de liderança que motiva, de proximidade que acompanha e de cuidado que conforta. Jesus, o bom pastor, veio para que as ovelhas tenham vida, e a tenham em abundância. Como o bom pastor, somos enviados a ajudar e a crescer as pessoas que nos rodeiam na família, no trabalho e na igreja.

 

30-04-2023

LEITURA ESPIRITUAL

Jesus, Bom Pastor, protege-me!

 

Que a tua divina omnipotência, a tua sabedoria e a tua bondade, meu Deus, meu doce amor, me abençoem; que me façam caminhar no teu seguimento com vontade apressada, renunciar sinceramente a mim mesma e, com coração, espírito e alma zelosos, seguir-Te da maneira mais perfeita. «Escutai-me e ensinar-vos-ei o temor do Senhor» (Sl 33,12).

Ah, Jesus, Bom Pastor, faz que eu ouça e reconheça a tua voz, que me liberta de tudo o que me impede de ser tua; faz-me repousar no teu seio, eu que sou a tua ovelha, que o teu Espírito tornou fecunda. E ensina-me a temer-Te; ensina-me a amar-Te; ensina-me a seguir-Te.

«Aquele que habita na casa do Altíssimo terá a protecção do Deus do Céu» (Sl 90,1). Protector da minha alma e meu refúgio no dia da solidão, defende-me de todas as tentações, cerca-me com a armadura da verdade. Fica comigo em todas as minhas tribulações, Tu que és a minha esperança, defende-me sempre de todos os perigos do corpo e da alma, e protege-me. Amém! (Santa Gertrudes de Helfta, 1256-1301, monja beneditina, Exercícios IV, SC 127).

 

 

Avisos e Liturgia do III Domingo de PÁSCOA – ano A

São habituais os encontros de amigos, de ex-colegas de escola, de pessoas com o mesmo nome, etc. Na maior parte das vezes, há um momento de confraternização, sentados à mesa, onde um começa a contar uma experiência de vida que o marcou e que deseja partilhar com todos. Imediatamente, um dos presentes diz: “A mim também me aconteceu o mesmo”. Sabemos o que quer dizer com esta frase: não é que estivesse no mesmo lugar e à mesma hora, mas que viveu uma experiência semelhante à do seu amigo. Parece que o evangelista Lucas quer contar-nos a história dos discípulos de Emaús, de tal maneira que cada um de nós possa dizer: “Também já me aconteceu”. Um dos discípulos chamava-se Cléofas, talvez fosse muito conhecido das primeiras comunidades cristãs. Mas do outro discípulo não se sabe o nome. Quem poderá ser? Podias ser tu? Ou eu? De certeza que não te passou isto pela cabeça?

Certamente, já nos “aconteceu a mesma coisa”. Acontece sempre que nos reunimos para celebrar a Eucaristia. Todos temos os nossos problemas e preocupações, projectos e ilusões que, por vezes, estão por um fio, periclitantes; e é com tudo isto que vamos à missa. Sentados no banco, tudo isto está a fervilhar no pensamento. Queremos rezar um pouco, mas não nos conseguimos concentrar. Fizemos o sinal da cruz à pressa e balbuciámos as palavras costumeiras. À sua maneira, Jesus diz-nos: “O que se passa na tua cabeça”? Pouco a pouco, vamos abrindo o coração a Ele.

Quando damos conta, começa a Liturgia da Palavra. Depois de termos chegado à missa, com a “mochila da vida”, em que saudámos e pedimos perdão a Jesus que nos ouviu e se tornou presente e próximo, agora é Ele que vai falar. Não irá abordar directamente os nossos problemas; não irá dar-nos uma receita. Não estejamos à espera de que Ele diga: “olha, faz isto e tudo se resolverá”. Mas, dar-nos-á a entender que nenhum momento da vida fica esquecido ou está fora dos planos de Deus, que tudo o que estamos a viver tem um sentido, que faz parte de um caminho que conduz à meta, ao Reino de Deus, onde cada um tem um lugar preparado.

Depois de termos falado com o Senhor e de O termos escutado, chega o momento de nos sentarmos à mesa com Ele. Nenhum de nós esteve no cenáculo na última Ceia. Mas, se um dos apóstolos viesse ter connosco e nos contasse o que tinha acontecido na sala de cima, poderíamos responder-lhe: “a mim já me aconteceu o mesmo”. Como também aconteceu aos discípulos de Emaús. Todas as vezes que celebramos a missa, vemos como Jesus se identifica com o pão, partido para que todos comam, e com o vinho, repartido para que todos possam beber. Neste comer o pão e beber o vinho, Jesus torna-se presente, torna-se real nas nossas vidas o seu sacrifício de amor até ao fim, ocorrido na cruz, abraçando toda a humanidade. Convida-nos a participar nesta oblação.

Com os olhos da fé, na mesa do altar, vemos Jesus. Apercebemo-nos que não ficou para sempre no sepulcro. Venceu a morte. Por isso, a missa não é uma recordação nostálgica, mas um encontro sempre novo com o Senhor que se torna presente no hoje da nossa vida. Assim, se os nossos corações ardiam com o calor da Sua palavra, agora têm de transbordar de alegria no testemunho de vida. Por isso, quando acaba a missa, começa a missão, para que a cadeia que começou com Cléofas não se interrompa até que todos tenham tido a oportunidade de se encontrar com o Senhor no caminho da sua vida.

 

23-04-2023

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LEITURA ESPIRITUAL

«Fica connosco»

 

Irmãos, quando foi que o Senhor Se deu a conhecer? Ao partir o pão. Estejamos, portanto, tranquilos: ao partir o pão, reconheceremos o Senhor. Se Ele só quis ser reconhecido nesse instante, foi por nossa causa, foi para que não O víssemos na carne comendo da sua carne. Portanto, tu que crês nele, quem quer que sejas, tu que não tomas em vão o nome de cristão, tu que não entras numa igreja por acaso, tu que escutas a palavra de Deus em temor e esperança, para ti o pão partido será uma consolação.

A ausência do Senhor não é uma ausência verdadeira. Tem confiança, mantém a fé e Ele estará contigo, ainda que não O vejas. Quando o Senhor os abordou, os discípulos não tinham fé. Não acreditavam na sua ressurreição; nem sequer esperavam que Ele pudesse ressuscitar. Tinham perdido a fé; tinham perdido a esperança. Eram mortos que caminhavam ao lado de um vivo; caminhavam mortos juntamente com a vida.

A vida caminhava com eles mas, no coração destes homens, a vida ainda não se tinha renovado. E tu? Desejas a vida? Imita os discípulos e reconhecerás o Senhor. Eles ofereceram-lhe a sua hospitalidade; o Senhor parecia estar decidido a seguir o seu caminho, mas eles detiveram-no. Detém, também tu, o estrangeiro, se queres reconhecer o teu Salvador. Aprende onde podes procurar o Senhor, onde podes possuí-lo, onde podes reconhecê-lo: partilhando o pão com ele. (Santo Agostinho, 354-430, bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja, Sermão 235; PL 38, 1117).

 

Avisos e Liturgia de Domingo de Páscoa- ano A

É habitual dizer-se que nos momentos de aflição é quando se descobre o valor das pessoas. Durante os dias da Semana Santa, vimos que os discípulos não se comportaram da melhor forma. Encontrar o sepulcro vazio também não ajudou muito. Apesar de todos os anúncios de Jesus sobre a ressurreição, só Maria Madalena, de madrugada, foi ao sepulcro, sem qualquer esperança, mas cheia de compaixão que nela surge por causa do corpo sofrido daquele homem e pela necessidade de chorar por quem a tinha tirado da beira do precipício da vida. Simão Pedro, apesar de ter negado Jesus no pretório, é o primeiro a entrar no sepulcro e a ver os sinais que mostram que o cadáver de Jesus não foi roubado, mas que desapareceu. Mantém-se no silêncio e nada diz sobre o que vê. Terá que ser o discípulo amado, este personagem misterioso que aparece nos momentos cruciais do quarto evangelho como modelo a seguir pelos discípulos de todos os tempos, a professar a fé: “viu e acreditou”.

É esta atitude crente que tudo esclarece e tudo transforma. Fez recordar tantos momentos vividos com Jesus. Ele tinha sido rejeitado e condenado pelas autoridades, por aqueles que acreditavam ter o poder de julgar em nome de Deus. Todavia, Deus colocou-se junto do seu filho amado, resgatando-O e glorificando-O. Esta atitude de Deus e a vitória de Jesus transformam tudo. De certeza que, naquela altura, ninguém tinha consciência das consequências que a ressurreição de Jesus iria ter nas nossas vidas e na história da humanidade. Mas já suspeitavam que nada ficaria igual a partir daquele momento; era o início de uma onda crescente que iria varrer todo o mal, a injustiça e a morte, e levar à plenitude o plano de Deus, anunciado nas Escrituras. Era necessário que Jesus fosse rejeitado, que morresse na cruz e ressuscitasse.

Como o discípulo amado, também cada um de nós é convidado a ver e a acreditar. Assim, somos transformados pela força da morte e ressurreição de Jesus. Morte e ressurreição. Não é possível a segunda sem a primeira. Jesus não tem uma varinha mágica para resolver todos os problemas de uma forma imediata. Mas revelou-nos que o caminho da obediência ao Pai e o amor até ao fim são as formas eficazes para vencer o mal e que, apesar das dificuldades, a vitória é certa.

Por vezes, também nos esquecemos das consequências da ressurreição de Jesus nas nossas vidas e na história da humanidade. Preferimos permanecer na angústia deprimente e no desânimo, em vez de apostarmos com confiança na vida que Ele nos concede. Não vale a pena escravizarmo-nos com as coisas da terra, não vale a pena vivermos com uma moral conservadora ou com medo de perdermos o pouco que temos. Temos de aspirar aos bens do Alto, onde está Cristo vitorioso. Esta vitória ainda não se manifestou em vários sectores do mundo, mas o sinal do túmulo vazio manifesta que não há pecado que não possa ser perdoado, não há injustiça que não possa ser reparada, não há morte que não gere vida. Celebremos a Páscoa com alegria e esperança, alicerçados na nossa fé, iluminados pela luz que nasce do sepulcro vazio do Senhor. Uma Santa e Feliz Páscoa!

 

09-04-2023

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LEITURA ESPIRITUAL

O primeiro dia da vida nova

 

Eis uma máxima de grande sabedoria: «No dia da felicidade, esquecemos todos os males» (Sir 11,25). Hoje foi esquecida a sentença lançada sobre nós; melhor, não foi esquecida, foi anulada! Este dia apagou qualquer lembrança da nossa condenação. Outrora, o parto ocorria com dor; agora, o nascimento é sem sofrimento. Outrora, éramos apenas carne, nascíamos da carne; hoje, o que nasce é espírito, nascido do Espírito. Ontem, nascíamos simples filhos de homens; hoje, nascemos filhos de Deus. Ontem, éramos os rejeitados dos Céus na Terra; hoje, Aquele que reina nos Céus faz de nós cidadãos do Céu. Ontem, a morte reinava por causa do pecado; hoje, graças à Vida, é a justiça quem toma o poder.

Outrora, um único homem abriu-nos as portas da morte; hoje, um único homem traz-nos de novo à vida. Ontem, perdemos a vida por causa da morte; mas hoje a Vida destruiu a morte. Ontem, a vergonha fazia-nos esconder debaixo da figueira; hoje, a glória atrai-nos para a árvore de vida. Ontem, a desobediência expulsou-nos do Paraíso; hoje, a fé permite-nos entrar nele. De novo nos é oferecido o fruto da vida, para que o saboreemos como quisermos.

De novo a nascente do Paraíso, cuja água nos irriga pelos quatro rios dos evangelhos (cf Gn 2,10), vem refrescar o rosto da Igreja. Que fazer agora senão imitar, em seus saltos jubilosos, as montanhas e as colinas da profecia: «Montanhas, saltai como carneiros; e vós, colinas, como cordeiros!» (Sl 113,4).

Vinde, cantemos de alegria no Senhor! (cf Sl 94,1). Ele quebrou o poder do inimigo e ergueu o grande troféu da cruz. Digamos, pois: «Grande é o Senhor, nosso Deus, Ele é o grande rei em toda a Terra!» (cf Sl 94,3; 46,3). Ele abençoa o ano coroando-o com os seus benefícios (cf Sl 64,12) e congrega-nos em coro espiritual, em Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem pertence a glória pelos séculos dos séculos. Amém! (São Gregório de Nisa, c. 335-395, monge, bispo, Homilia para a santa e salutar Páscoa).

 

Avisos e Liturgia do VI Domingo da Quaresma- ano A Domingo de Ramos

 

Com o Domingo de Ramos, iniciamos a Semana Santa, na qual celebraremos o âmago da nossa fé: o Mistério Pascal da morte e da ressurreição de Jesus Cristo. Hoje, celebramos um dia com “duas caras” muito contrastantes: em primeiro lugar, celebramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, aclamado pela multidão, como Aquele que vem em nome do Senhor, como rei de Israel; de seguida, ouviremos a proclamação da paixão e da morte do Senhor.

No contexto da bênção dos ramos, o texto evangélico é de São Mateus. Jesus faz a sua entrada em Jerusalém, montado num jumentinho e aclamado pelo povo. Em Jesus, cumprem-se as profecias, até ao momento crucial da sua morte na cruz. Aclamamos Jesus como nosso Salvador, nosso Rei, nossa vida. Oxalá que o estilo da nossa vida corresponda a esta aclamação que brota dos nossos lábios!

Os textos bíblicos deste dia são de grande beleza e profundidade. Em primeiro lugar, Isaías, no canto do Servo de Javé, diz que foi incapaz de resistir ao chamamento de Deus e a tudo o que isso implica de sofrimento, na certeza de que o Senhor Deus vem em seu auxílio e não o abandona, porque Deus é o seu refúgio e a sua força. O salmo é um dos mais impressionantes de todo o saltério. Na cruz, Jesus clamou com voz forte: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes”? Na vida, de certeza que já tivemos momentos em que nos apeteceu gritar deste modo! A 2ª leitura, de São Paulo, afirma claramente que Jesus Cristo, sendo Deus, fez-se homem e morreu na cruz. Por isso, Deus O exaltou e todos os povos se ajoelharão diante Dele, professando que Ele é o Senhor, para glória de Deus Pai. Finalmente, o relato da Paixão, segundo São Mateus, é precedido pela Última Ceia, onde Jesus já anuncia a entrega do seu Corpo e do seu Sangue, que acontecerá plenamente na cruz. Este é o maior gesto de amor do Senhor: entregar-se por nós, para nossa salvação. Podemos pensar: que fiz por ele? Que faço por ele? Que irei fazer por ele?

Neste dia, contemplamos a história humana de Jesus, ao lado das nossas histórias. História de êxito, da entrada em Jerusalém, história de aparente fracasso, na cruz. Também nós experimentamos o êxito e o fracasso, a alegria e a tristeza, a vida e a morte. Quantas mortes desnecessárias: acidentes, doenças, epidemias, desnutrição, violência doméstica, egoísmo! Histórias de morte, como a que escutamos neste dia, a de Jesus na cruz.

A Paixão de Cristo não é uma história que nos convide a pensar que já não se pode fazer nada, que será sempre assim. As celebrações dos próximos dias revelam-nos que no meio das trevas, há luz; no meio do ódio, há amor; no meio do egoísmo, há generosidade. Uma generosidade como a do dono do jumentinho, do dono da casa da Última Ceia, de Simão de Cirene, das mulheres de Jerusalém, de José de Arimateia. Nesta história de injustiça, de violência e de morte, a Paixão de Jesus, encontramos pequenas histórias de generosidade, acompanhamento, compromisso, ajuda. Ouvir a Paixão de Jesus ajuda-nos a descobrir o espírito de Deus na nossa história pessoal, sendo generosos e próximos daqueles que hoje vivem a sua paixão na vida. Neste ano, Jesus também nos diz: “é em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa”; na casa da nossa vida, repleta de esperança e de amor.

 

02-04-2023

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LEITURA ESPIRITUAL

Cristo Deus e Homem

 

Talvez alguém se pergunte, com espanto, como é que Cristo, nosso Salvador, sendo verdadeiro Deus, igual ao Pai omnipotente, conheceu a tristeza, o sofrimento e a dor. Tal não poderia acontecer, evidentemente, se, sendo Deus, Ele fosse apenas Deus, sem ser ao mesmo tempo homem. Na verdade, porém, uma vez que Ele era tão verdadeiramente Deus como verdadeiramente homem, parece-me que não é de espantar que tenha passado pelos vulgares sentimentos do género humano (contando ausente o pecado) enquanto homem, como não é de espantar que tenha feito milagres imensos enquanto Deus. Com efeito, se nos espantamos por Cristo ter tido medo, sofrimento e dor, sendo Deus, também deveríamos espantar-nos por Ele ter tido fome, por ter tido sede, por ter dormido. Pois não era menos Deus por Se sujeitar a estes constrangimentos. Cristo veio dar testemunho da verdade. Não faltava quem negasse que Ele era verdadeiramente homem. E, para remediar esta doença tão mortal, o nosso excelente e doce médico quis mostrar que era verdadeiramente homem. (São Tomás Moro, 1478-1535, inglês, mártir, «A tristeza de Cristo»).

 

Avisos e Liturgia do IV Domingo da Quaresma – ano A

No itinerário da Quaresma, este Domingo é chamado o “Domingo da Alegria” e também o “Domingo da Iluminação”, porque se dá ênfase à imagem da luz. Na 1ª leitura, Deus ilumina o profeta no momento de ungir aquele que foi escolhido para rei. No Evangelho, com o cego de nascença, entramos numa catequese onde Jesus ensina como brota a fé no homem; podemos pensar que acreditamos, mas podemos estar cegos. O que ilumina não é a sabedoria, mas Jesus e com Ele podemos ser luz para o mundo (2ª leitura).

Samuel era profeta e tinha a missão de procurar aquele que tinha de ungir como rei. Poderia pensar que já tinha o critério formado para escolher o mais adequado. Porém, vemos que todos os critérios de escolha de Deus estão longe de um olhar humano que procura, acima de tudo, a eficiência. Na sociedade, os critérios de selecção de pessoal são muito diferentes dos de Deus. É preciso purificar o olhar, ou seja, aprender a olhar as coisas como Deus. David não é o mais forte nem com mais experiência de vida, mas aquele que, apesar das suas fraquezas, se deixa conduzir pelo Espírito de Deus. Mas também Samuel deixa conduzir-se por Deus: a escuta da Palavra é fundamental, deixando de lado a intuição pessoal. O salmo, “O Senhor é meu pastor”, convida-nos a deixarmo-nos conduzir. “Conduz-me às águas…ele me guia por sendas direitas”.

Como no Domingo passado, é Jesus que toma a iniciativa, porque quer revelar o poder de Deus. O cego não pedia nada, mas cai sobre ele o peso da culpa. Não precisamos de gastar energias a procurar as causas dos que não vêem, dos que não acreditam. Para Jesus, o mais importante é a situação do cego de nascença e ser luz para ele. “É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou”. É de salientar alguns aspectos do texto para vermos o caminho de fé do cego. Ele obedece (“Vai lavar-te”), reconhece que era cego (descrente), e diz que foi Jesus que lhe abriu os olhos. Este homem, que começou a ver (a acreditar) sabe reconhecer Jesus “como um profeta”. Apesar de alguns tentarem dizer-lhe que Jesus é um pecador, ele responde: “eu era cego e agora vejo”. “Sabemos que Deus não escuta os pecadores…se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer”. A sua fé tem consequências: é excluído. Aqueles que acreditam sentem, tantas vezes, o vazio social! O momento culminante desta catequese é a pergunta de Jesus: “Acreditas no Filho do homem? Ele prostrou-se e exclamou: Eu creio, Senhor”: uma adesão plena a Jesus em postura de adoração, cheia de gratidão e de reconhecimento.

Se na 1ª leitura Samuel aprendia a ver a realidade como Deus a vê, no evangelho vemos o processo através do qual quem está nas trevas, deixando-se conduzir por Deus, verá a sua vida interior iluminada. A Carta Efésios desafia-nos. Não basta somente ser iluminado pela fé, mas também que o nosso testemunho seja farol de “bondade, justiça e verdade” para as trevas dos outros. O cego de nascença é um verdadeiro discípulo que não se deixa manipular nem desanima perante as perseguições. A fé em Cristo é procurar em tudo agradar ao Senhor. Deixemos cair as nossas seguranças pessoais, para que Jesus seja verdadeiramente o nosso Pastor.

 

19-03-2023

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LEITURA ESPIRITUAL

«Ele foi, lavou-se e ficou a ver»

 

Deus todo-poderoso, Benfeitor, Criador do Universo, escuta os meus gemidos, pois corro perigo. Liberta-me do medo e da angústia; liberta-me com a tua força poderosa, Tu, que tudo podes. Senhor Cristo, rasga as malhas desta rede que me envolve com a espada da tua cruz vitoriosa, que é a arma da vida. Por todos os lados esta rede me envolve, me aprisiona e me tem cativo, para me fazer perecer; conduz ao repouso os meus cambaleantes e oblíquos passos.

Cura a febre que me sufoca o coração. Perante Ti sou culpado, liberta-me da inquietação, que é fruto da invenção diabólica, faz desaparecer a escuridão da minha alma angustiada. Renova-me na alma a imagem de luz da glória do teu nome, grande e poderoso. Intensifica o brilho da tua graça na beleza do meu rosto e na efígie dos olhos do meu espírito, a mim, que do barro nasci (Gn 2,7).

Corrige em mim, refaz, com maior fidelidade, a imagem que reflecte a tua (Gn 1,26). Com a tua pureza luminosa faz desaparecer as minhas trevas, a mim, que sou pecador. Inunda a minha alma com a tua luz divina, viva, eterna, celeste, para que em mim se torne maior a semelhança com o Deus Trinitário. Só Tu, ó Cristo, és bendito com o Pai para louvor do teu Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Ámen. (São Gregório de Narek, c. 944-c. 1010), monge, poeta arménio, Livro de orações, n. 40).