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Artigo de Augusto Falcão—- Esperança de abril

Escrevo isto, entre o Dia do Pai, o 19 de março, e o dia em que comemoramos os 50 anos da Revolução dos Cravos, o 25 de abril.

Poderia falar das virtudes, da Revolução dos Cravos, que naquela noite e dia de 25 de abril, libertou um País pobre, triste e cinzento, da opressão e tirania de uma ditadura, de uma guerra colonial que lutava em 3 frentes, de uma Polícia política que tudo censurava, torturava e reprimia aqueles que eram contra o regime, seguindo a máxima “quem não é por mim, é contra mim”, máxima essa atribuída a António de Oliveira Salazar.

Hoje quero vos falar de um menino de 8 anos. Podemos chamar-lhe Manuel, João, Duarte… enfim pode ter o nome que quiserem.

Esse menino tem 8 anos e fará 9 este ano, depois de abril.

Como todos os meninos da sua idade, esse menino, gosta de jogar à bola, e acha que o Ronaldo é o maior do mundo; gosta de andar de bicicleta de vez em quando, mas não é a sua preferência; gosta de ver vídeos no Youtube, tal como os meninos da sua idade, quase todos em português do Brasil. Anda no 3.º ano, gosta de Português e Estudo do Meio, e nem por isso gosta de Matemática. Como quase todos os meninos da sua idade, não gosta muito de sopa, nem de legumes… e adora KFC e McDonald’s; quem diria? E é do Benfica…

Parece um menino normal, para a sua idade, com gostos normais para a sua idade.

Mas este menino, tem algo especial.

Este menino, com 8 anos, sabe que quando o hino toca, deve manter-se em silêncio por respeito e colocar a mão sobre o lado esquerdo do peito; sabe a letra do Hino, e sabe o porquê das cores da Bandeira Portuguesa.

Este menino, sabe que D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal, e nasceu em Guimarães, e que lutou contra a mãe em S. Mamede, e contra os Mouros; e que a Nação nasceu em Guimarães; este menino sabe que Dona Inês de Castro foi morta por amor e que D. Pedro foi o seu amor; este menino sabe que D. Dinis fundou a Universidade de Coimbra e instituiu o português como língua oficial do reino de Portugal.

Este menino sabe que Portugal efetuou viagens marítimas e descobriu grande parte do Mundo, que estava por descobrir. Este menino sabe que Luís de Camões escreveu “Os Lusíadas”, o grande poema épico da língua portuguesa e já o quer começar a ler.

Este menino sabe que um dia, no século vinte, Salazar governou Portugal, em ditadura, repressão, e que transformou o nosso País em um local, cinzento e triste, dominado pela PIDE, repressiva e torturadora; este menino sabe que foi em Peniche que este ditador encarcerou muitos portugueses e portuguesas pelo crime de serem contra ele, serem comunistas… este menino tinha um familiar que um dia foi acordado pela PIDE durante a noite, levado à força e só reapareceu 6 meses depois em Peniche.

Este menino sabe que milhares de jovens portugueses lutaram na guerra colonial, em Angola, Guiné e Moçambique, e que muitos perderam lá a vida; este menino tem 2 familiares que um dia, zarparam para África em nome de um Portugal, pluricontinental e plurirracial.

Este menino sabe que numa noite de abril, Salgueiro Maia, saiu de Santarém, e conseguiu com a ajuda de muitos outros soldados, libertar este País dos grilhões da ditadura salazarista…

Este menino sabe o que foi 25 de abril, sabe o que representa, na inocência da sua idade; sabe que a Revolução dos Cravos representa a liberdade de usar um isqueiro, de beber coca-cola e até comer uma pizza, algo que nesses dias sombrios dos Estado Novo era impossível. Esse menino representa a nossa liberdade futura, alguém que entende que um dia se lutou pela liberdade, e que essa mesma liberdade deve ser defendida todos os dias, contra as ameaças que contra ela existem…

Esse menino, seja ele quem for, esteja ele onde estiver, representa a nossa esperança, da nossa sociedade, que os valores de abril, da liberdade, nunca se perderão, e serão preservados para todo o sempre, pelas gerações vindouras como bases, para sempre inegáveis da nossa sociedade….

Augusto Falcão

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