As palavras psicólogo e psicologia estão cada vez mais presentes no nosso dia-a-dia. Já não é algo estranho e completamente desconhecido, nem tão pouco associado apenas a pessoas com perturbações.
No entanto, o psicólogo ainda é comummente visto como alguém prescindível, sendo mais cómodo e “fácil” procurar o Médico de família ou um Psiquiatra, que recorrentemente prescreve medicação (antidepressivos, ansiolíticos, etc.), e no imediato pode solucionar o problema.
Mas, será que o problema fica resolvido?
Temporariamente, Talvez.
Recorrer à medicação pode ser necessário em alguns casos, como por exemplo, uma depressão grave ou uma esquizofrenia e funcionar como complemento da intervenção, mas não deve ser feita de forma isolada.
As especialidades devem agir complementarmente para obter melhores resultados, ajudando a resolver as questões que estão na origem do problema, e não só, a sua sintomatologia. Desta forma, o indivíduo conseguirá fazer o melhor uso possível das suas competências e assim lidar de forma eficaz com as adversidades e desafios que a vida lhe apresenta.
Quando se fala de consultas de Psicologia, de que falamos?
Primeiramente é necessário compreender que cada pessoa se ressente ao longo da sua vida daquilo que vai vivendo. Por dia, uma pessoa tem mais de um milhão de estímulos: cruza-se com diferentes pessoas, toma decisões, questiona-se sobre a sua existência, entre muitas outras coisas. Mas, nem sempre, sabe como “arrumar” essa informação. Não sabe como lidar com o stress, com a insegurança, a perda, indecisões, frustrações, até mesmo com as acções e reacções dos outros para consigo. Muitas vezes o próprio stress está relacionado com o facto de viver tanta coisa ao mesmo tempo e não saber como lidar com isso.
Nem sempre é fácil encontrar a pessoa certa com quem falar. A família e os amigos são uma opção, é certo, mas, a maior parte das vezes não sabem como ajudar, o que dizer, não sabem acolher a angústia que sentimos, a falta de energia, o coração apertado, o pânico que se instala ou a apatia.
Não são imparciais nem acríticos.
Na consulta Psicológica, existe um espaço concreto, o setting que pode ser entendido como um tipo de redoma maleável que envolve e ajuda a estabelecer a relação (de altos e baixos) entre paciente e Psicólogo. Fundamenta-se como uma condição para que o tratamento ocorra. Aqui, o indivíduo encontra um espaço acolhedor, de escuta activa e incondicional, onde os indivíduos conseguem mostrar verdadeiramente quem são, sem medo do julgamento dos outros, sem a pressão das suas expectativas, podendo aprender a gerir pensamentos disfuncionais causadores de sofrimento físico e psíquico.
O “simples” facto de podermos traduzir o que estamos a sentir por palavras, dá-nos por vezes, uma perspectiva que, de outra forma, não teríamos acesso.
O psicólogo, por seu turno, funciona como um organizador/reorganizador do estado interior da pessoa. É alguém que entra em nossa “casa” e vai ajudando a arrumar cada uma das divisões. Procura compreender as maiores dificuldades da pessoa e potenciar as suas qualidades. Sim, que não se pense que, para ir ao psicólogo temos de ter problemas ou dificuldades determinadas e/ ou determináveis. Pelo contrário. Muito do trabalho desenvolvido visa fomentar o que de melhor há no indivíduo, consciencializando-o das suas potencialidades e competências e promovendo o seu auto-conhecimento.
Sozinhos, muitas vezes, não conseguimos ver as situações com clareza nem nos apercebemos da quantidade de recursos internos positivos que temos. E isso, muitas vezes é o essencial para desimpedir o bloqueio que a pessoa sente e que a impede de ser prática e resolver as situações.
Na consulta, o psicólogo tenta perceber o que se passa, o que levou a pessoa a tomar a decisão de o procurar, faz algumas perguntas sobre a sua vida, com o objectivo de o compreender tal como é, na sua essência. Não está ali para julgar, nem as perguntas são feitas ao acaso, pelo contrário, esta primeira conversa que depois se estenderá pelas próximas, dão ao psicólogo informações valiosas para saber como poderá ajudar a pessoa e qual o melhor caminho terapêutico a seguir.
A consulta Psicológica apresenta várias finalidades, podendo intervir em situação de crise e/ou psicopatologia, em casos de doença física, em determinadas fases da vida, onde acontecimentos como rupturas relacionais, perdas afectivas e mudanças no dia-a-dia geram estados de ansiedade, colocando temporariamente em causa o equilíbrio psíquico. Permite ao indivíduo obter um maior conhecimento acerca de si próprio, de quem é, e a clarificar muitas das suas escolhas, dando-lhe assim a possibilidade de se libertar de comportamentos menos positivos e de passar a ter maior capacidade para escolher o que for melhor para si.
Com tudo isto, pretende-se que as pessoas compreendam que o papel do psicólogo não é ‘curar’, mas sim auxiliar a pessoa na resolução dos seus problemas, a enfrentar as suas dificuldades, a compreender-se melhor a si próprio, a aceitar-se e, a procurar estabilidade psicológica e emocional entre outras coisas. É assim um caminho a dois, em que só se trabalha aquilo que a pessoa estiver disponível para, e, ao longo desse caminho novos objetivos vão surgindo, construindo-se assim um processo terapêutico.
*O autor não escreve segundo o acordo ortográfico.
Por: Psicóloga Clínica, Rita Amaro (ISCMFA)
C.P.: 16527