São várias as instituições internacionais, como a Comunidade europeia, a OCDE ou o Banco Mundial, que defendem que o empreendedorismo é uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento económico e social dos países e regiões. Esta afirmação ganha ainda maior importância ao nível das regiões, especialmente nos territórios de baixa densidade, onde a retenção de pessoas qualificadas se revela fundamental! Nestas regiões, onde o investimento externo é mais remoto, urge a necessidade de dotar as pessoas mais qualificadas (ex. licenciados e/ ou mestres) das ferramentas que os tornem capazes de montar o seu próprio negócio, gerando mais-valias para os próprios empreendedores (que criam o seu próprio posto de trabalho) e para os concelhos, em termos de emprego e riqueza. Foi neste enquadramento que a Escola de Liderança e Inovação do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa, em parceria com a Câmara Municipal de Fornos de Algodres, implementou o programa “Empreendedorismo Estratégico e Desenvolvimento Regional” neste concelho.
Resumidamente, este programa desenrolou-se em quatro fases: Diagnóstico, Avaliação do Perfil Empreendedor, Formação e Acompanhamento. A primeira fase, de Diagnóstico, visou a identificação dos recursos endógenos, das potencialidades e das lacunas do concelho de Fornos de Algodres, com vista à identificação das oportunidades de negócio que vão ao encontro das reais necessidades das pessoas. A segunda fase, de Avaliação do Perfil Empreendedor, procurou analisar as competências técnicas, comportamentais e motivacionais dos futuros empreendedores, baseando-se numa metodologia de avaliação já testada e publicada.
De seguida, teve lugar o “Curso Avançado de Empreendedorismo”, constituído por um conjunto de módulos experienciais de cariz técnico (essenciais à elaboração do plano de negócios), comportamental e motivacional. Para além da componente de formação, este curso abrangeu, ainda, dois momentos de mostra e validação dos novos negócios à comunidade. Em programas de fomento do empreendedorismo regional revela-se essencial a apresentação dos novos negócios às forças vivas do concelho, com vista à partilha, divulgação e estabelecimento de parcerias e alianças com os negócios já existentes. De reforçar que este programa pretendeu gerar novos negócios complementares com os já existentes (e nunca concorrentes), por forma a enriquecerem a região! Por último, seguiu-se a fase do Acompanhamento dos novos negócios, através da criação do “Clube de Empreendedores de Fornos de Algodres”. Com esta fase pretende-se ir ainda mais além, procurando alojar os empreendedores numa incubadora, onde possam desenvolver os seus próprios negócios.
Em termos de resultados, este programa contribuiu, no imediato, para a elaboração de 7 Planos de Negócios em Fornos de Algodres. Entre estes contam-se, a título de exemplo, a “Quinta do Mondego”, uma queijaria artesanal que tem como objectivo o fabrico de queijo de cabra; a “Aldeia da Memória”, que pretende constituir-se como um centro para idosos que sofrem de demência; ou o presente jornal, o “Magazine Serrano”, que existia enquanto blog e que este programa de empreendedorismo ajudou a dar vida “em papel”. De referir, ainda, um caso de intra-empreendedorismo – a Associação Desportiva de Fornos de Algodres – que embora já existindo, se encontrava moribunda. Cinco formandos do programa “restauraram” esta Associação, estabelecendo parcerias e criando novas turmas, que vieram assegurar a sua viabilidade.
No que toca ao impacto económico e social deste programa no concelho de Fornos de Algodres, estamos com grandes expectativas. Em primeiro lugar, e numa perspectiva de médio-prazo, esperamos o desenvolvimento destes novos negócios, com mais-valias para o concelho e para os próprios empreendedores. A longo-prazo, contamos não apenas com um impacto económico e social (em termos da criação de riqueza e de emprego), mas também com a projecção da imagem do concelho de Fornos de Algodres (dado o aproveitamento dos recursos endógenos e o marketing desencadeado pelo próprio programa) e com o desenvolvimento de um ecossistema local empreendedor, de fomento ao empreendedorismo.
Naturalmente que o êxito deste programa está dependente dos empreendedores, que muito trabalham para desenvolver os seus negócios, mas também do suporte de toda a comunidade de Fornos de Algodres, enquanto apoiante, parceira e cliente dos novos negócios!
Por: Patrícia Jardim da Palma
Professora do ISCSP – Universidade de Lisboa
Coordenadora da Escola de Liderança e Inovação