Vamos falar de professores. Não, não pare agora. Muito tem sido dito e escrito sobre os professores. A sociedade é bombardeada por notícias televisivas, entrevistas a ministros e debates confusos sobre os professores. A verdade é que tanta informação controversa provoca ideias erradas sobre uma profissão que, em tempos, era nobre. Quem não se lembra da valorização e dignificação do Sr. Professor?
Hoje, remamos em sentido inverso. O professor, que mantém a profissão das profissões, deixou de ser respeitado, quer por quem governa, quer pela população, em geral. Eu sou professora, por paixão, gosto mesmo do que faço, desde ensinar português, promover e desenvolver atividades que propiciem ferramentas para os futuros cidadãos e criar laços de afeto com os meus alunos. É verdade, nem sempre corre tudo bem: a falta de interesse, de empenho, a indisciplina são pedras que procuro afastar do caminho, das mais variadas formas e acreditem, é possível ter sucesso, é possível mover os alunos para cumprirem o seu objetivo: aprender, querer aprender, questionar…obviamente, haverá sempre exceções. Sim, ponho o meu amor à profissão, por ter a sorte de estar numa escola onde me sinto feliz, à frente da minha luta contra o sistema, mas não deixei, nunca, nem deixo de reivindicar os meus direitos e revoltar-me contra as injustiças.
Dito isto, vou ao cerne do assunto deste meu artigo: elucidar o que está na base da batalha entre Ministério da Educação e professores. É de extrema relevância que a sociedade compreenda o que fundamenta a luta da classe docente. Com um novo governo, nasce um novo ministro que se lembra de alterar o diploma dos concursos de colocação. Há muito que se pede a redução das zonas pedagógicas e prevê-se que seja feita e uma colocação por graduação. O problema está no facto dos professores de quadro de zona virem a ser colocados em escolas por decisão ou escolha do grupo de diretores dessa zona. Simplificando: imaginem os diretores da CIM das Beiras e Serra da Estrela reunidos para escolherem os professores que lá ficaram colocados. O ministro não mente quando diz que não haverá municipalização nos concursos, omite como será feita a colocação nas CIM. Cai assim a regra da graduação. Outra situação que tem vindo a desgastar os professores é a sua avaliação de desempenho para progressão na carreira aos quinto e sétimo escalões, onde impera o sistema de quotas. São milhares de professores retidos nas listas, à espera de vaga. Em nenhuma área da administração pública isto acontece. Para não falar da não contagem de tempo de serviço de mais de seis anos de serviço efetivo, no tempo do congelamento da Troika.
Prossigo com outra luta, mais delicada, a mobilidade por doença, este ano restrita a vagas decididas pelos diretores e a um concurso num raio de 50 km, em linha reta, e professores do quadro de escola impedidos de concorrer a escolas que distem 20 km em linha reta da sua residência. Ainda acusaram os docentes de falsear declarações médicas! Contrataram juntas médicas para verificar declarações médicas!! Até hoje, faleceram três docentes que não obtiveram a mobilidade. Poderiam ter morrido na mesma?
Não sabemos. Emocionalmente e fisicamente, estas alterações não deixaram indiferentes milhares de docentes a necessitar de colocação para os seus cuidados médicos. Como toda a classe média, os vencimentos não têm tido aumentos dignos, em 2026, o vencimento mínimo estará nos 900 euros e um professor com 28 anos de carreira ganhará pouco mais de 1300€ a avaliar pela taxa de aumento que têm vindo a aplicar. Poderia elencar outras situações, fico por aqui. Reitero que não trocaria a minha profissão por outra, vou buscar a gratificação nos meus alunos, na soma de amigos-alunos que criei para a vida, em muitos anos de trabalho de conquistas e reconhecimento, no entanto, uso a minha voz e as minhas palavras para apelar à justa e merecida valorização e dignificação dos professores, ao respeito das suas funções. Os professores formam os futuros profissionais da sociedade, seja qual for a área de trabalho. A Educação é um pilar da sociedade, a par da Saúde, e tem sido literalmente descurada da visão dos vários governos dos últimos anos. Os professores têm, na sua grande maioria, mais de cinquenta anos, muitos mais de sessenta, estão cansados das sucessivas injustiças e iniciaram uma luta, que espero, não seja abafada.
É a hora de quem manda, olhar com olhos de ver esta realidade, sob pena de não ter professores para colocar nos próximos anos. É a hora de sermos compreendidos pela sociedade, nomeadamente, os pais e encarregados de educação que só podem desejar o melhor para os seus educandos: uma educação de qualidade.