O texto evangélico deste Domingo é uma oração de Jesus. Sabemos que Jesus rezava sozinho e, também, com os seus discípulos. Além de rezar os salmos, fazia a sua própria oração, mas não conhecemos muitas destas orações. Com as suas palavras, podemos iluminar as nossas com duas coisas muito importantes: confiança e bênção. “Eu te bendigo, ó Pai”. Estamos perante uma oração confiante, onde Deus é chamado de Pai. Em todas as orações de Jesus, Deus é chamado de Pai: a oração de Jesus, a oração cristã, é inteiramente filial. Recordemos as palavras do Pai-Nosso! É uma oração de bênção e de acção de graças. Jesus bendiz o Pai, porque os sábios e inteligentes deste mundo rejeitam a Sua mensagem; todavia, os pequeninos acolhem os mistérios do Reino: o que aos olhos humanos parecia um fracasso, foi um êxito, na perspectiva de Deus. Mas, porque é que os sábios e os inteligentes não entendem estas coisas? Porque, como os escribas e os fariseus, procuram um Deus à sua medida, para satisfazer os seus interesses, com sabedoria e conhecimentos humanos e que seja legalista e vingativo. Assim, fecham os corações à misericórdia de Deus e não capazes de acolher o Reino e a Justiça de Deus, por Jesus Cristo. A Palavra de Jesus é preparada e ilustrada com as outras duas leituras bíblicas, que nos convidam a praticar duas atitudes fundamentais da vida cristã: humildade e conversão. Humildade, porque o texto de Zacarias anuncia a entrada triunfal em Jerusalém do rei messiânico, que será aclamado pelos habitantes da cidade. Recorda-nos a entrada de Jesus em Jerusalém, antes da sua paixão, no Domingo de Ramos. O texto descreve o Messias esperado como um rei vitorioso, mas com a supressão explícita dos aspectos políticos e militares. É uma entrada triunfal, mas simples: a chegada é humilde e não há ostentação de armas, nem violência. O seu reinado caracterizar-se-á por uma paz universal: “anunciará a paz às nações, o seu domínio irá de um mar ao outro mar, até aos confins da terra”. A soberania de Deus é universal e a sua salvação é oferecida a todos os povos. Conversão, porque no capítulo 8 da carta aos Romanos, São Paulo faz uma interessante reflexão sobre a vida nova do crente: uma comparação entre o que ele chama “o espírito” e a “carne”. São duas realidades que podemos alimentar, ou não, no nosso interior. São dois dinamismos que actuam na pessoa humana e a inclinam para âmbitos diferentes e incompatíveis. Apesar de tudo, graças a acção de Cristo, aconteceu algo decisivo na história, que se pode definir como a passagem ao âmbito do Espírito. Aqueles que acreditam em Cristo, já receberam, pelo Baptismo, a vida nova que vem de Cristo ressuscitado. O Espírito habita neles e é esta presença que os converte, nos converte, em cristãos. É este Espírito que nos liberta das escravidões da carne. Já recebemos a vida nova, a vida do Espírito, a que vem de Cristo ressuscitado. É um tempo novo, mas ainda não estamos no tempo definitivo. Porque recebemos este dom sem mérito algum da nossa parte, devemos corresponder-lhe. Humildade e conversão, este é o desafio. Mais do que nunca, façamos nossas as palavras do salmo: “Louvarei para sempre o vosso nome, Senhor, meu Deus e meu Rei”. Não fiquemos somente na teoria, com os sábios. Tudo o que dissermos por palavras, sintamos no nosso coração, e que se note nas nossas obras. Temos a sensação de que falamos de coisas negativas, do sacrifício da vida e da dor. Mas, sem sacrifício, não se vence na vida. Sim, a cruz é sofrimento e é morte, mas também é sinal de salvação; mais ainda, é sinal de até onde chega o amor de Jesus por nós. Porque amar é sofrer, é querer o bem do outro, é aconselhar quem está a desviar-se do recto caminho. Quem ama está lá, esperando que ele regresse, que um dia compreenda o que, realmente, dá felicidade. Isto é o que Deus, em Jesus, faz por nós. Seguir Jesus e a cruz são inseparáveis, como também a ressurreição e a vida. Isto diz-nos São Paulo na segunda leitura. Vinculando a morte com o baptismo, diz-nos que aqueles que morreram com Cristo, ou seja, os que foram baptizados, participarão na sua ressurreição e viverão definitivamente com Ele.
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Leitura Espiritual
«Em quem repousarei, senão naquele que é manso e humilde, e teme as minhas palavras?» (Is 66,2, LXX)
Está claro, pois, que o Reino de Deus Pai pertence aos humildes e aos mansos. Com efeito, também está dito: «Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra» (Mt 5,4). A Terra é o estado e o poder, firme e imutável, suscitado pela beleza e a rectidão dos mansos, porque eles estão sempre com o Senhor, comunicam uma alegria incessante, conquistaram o Reino preparado desde o começo e são dignos do lugar e da ordem do Céu, qual terra cuja localização no centro do Universo é a razão da virtude, segundo a qual o homem manso, que se encontra no seu centro, entre o elogio e a difamação, permanece impassível, nem inchado pelos elogios, nem abatido pela difamação. Com efeito, depois de ter recusado o desejo das coisas das quais está livre por natureza, a razão não sente os ataques das mesmas quando a perturbam; repousando da sua agitação, transportou todo o poder da alma para o porto da liberdade divina distanciada da acção, essa liberdade que o Senhor desejava transmitir aos seus discípulos quando lhes dizia: «Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas». Ele chama repouso ao poder do Reino divino, um poder que suscita nos que são dignos uma soberania distanciada de qualquer servidão. Ora, se o poder indestrutível do Reino em estado puro foi dado aos mansos e humildes, estes estão cheios de amor e desejo dos bens divinos, tendendo por isso, em extremo, para a humildade e a mansidão, a fim de se tornarem marca do Reino de Deus, na medida em que isso é possível ao homem, trazendo em si aquilo que, pela graça, os faz ter uma forma espiritual semelhante à de Cristo, o qual é, na verdade e por essência, o grande Rei. (São Máximo, o Confessor, c. 580-662, monge, teólogo, Interpretação do Pai-nosso).

Cartaz elegante branco de festa da misericórdia – 3
Magazine Serrano A Voz Serrana para o Mundo