As leituras deste Domingo convidam-nos a reflectir o tema da
hospitalidade e do acolhimento. Sugerem, sobretudo, que a existência cristã é o acolhimento de Deus e das suas propostas; e que a ação (ainda que em
favor dos irmãos) tem de partir de um verdadeiro encontro com Jesus e da escuta da Palavra de Jesus. É isso que permite encontrar o sentido da nossa ação e da nossa missão. A primeira leitura propõe-nos a figura patriarcal de Abraão. Nessa figura
apresenta-se o modelo do homem que está atento a quem passa, que partilha tudo o que tem com o irmão que se atravessa no seu caminho e que encontra no hóspede que entra na sua tenda a figura do próprio Deus. Sugere-se, em consequência, que Deus não pode deixar de recompensar quem assim procede. A segunda leitura
apresenta-nos a figura de um apóstolo, para quem Cristo, as suas palavras e as suas propostas são a referência fundamental, o universo à volta do qual se constrói toda a
vida. Para Paulo, o que é necessário é “acolher Cristo” e construir toda a vida à
volta dos seus valores. É isso que é preponderante na experiência cristã.
O nosso tempo vive-se a uma velocidade estonteante… Para ganhar uns
minutos, arriscamos a vida porque “tempo é dinheiro” e perder um segundo é ficar
para trás ou deixar acumular trabalho que depois não conseguimos “digerir”.
Mudamos de fila no trânsito da manhã vezes incontáveis para ganhar uns metros,
passamos semáforos vermelhos, comemos de pé ao lado de pessoas para quem nem
olhamos, chegamos a casa derreados, enervados, vencidos pelo cansaço e pelo
stress, sem tempo e sem vontade de brincar com os filhos ou de lhes ler uma
história e dormimos algumas horas com a consciência de que amanhã tudo vai ser
igual… Claro que estas são as exigências da vida moderna; mas, como é possível,
neste ritmo, guardar tempo para as coisas essenciais? Como é possível encontrar
espaço para nos sentarmos aos pés de Jesus e escutarmos o que Ele tem para nos
propor?https://mail.google.com/mail/u/0?ui=2&ik=08d5f436b4&attid=0.2&permmsgid=msg-f:1738452097749395711&th=182038f8e162a8ff&view=att&disp=safe
Nas nossas comunidades cristãs e religiosas, encontramos pessoas que
fazem muitas coisas, que se dão completamente à missão e ao serviço dos irmãos,
que não param um instante… É óptimo que exista esta capacidade de doação, de
entrega, de serviço; mas não nos podemos esquecer que o activismo desenfreado
nos aliena, nos massacra e asfixia. É preciso encontrar tempo para escutar Jesus,
para acolher e “ruminar” a Palavra, para nos encontrarmos com Deus e connosco
próprios, para perceber os desafios que Deus nos lança. Sem isso, facilmente
perdemos o sentido das coisas e o sentido da missão que nos é proposta; sem isso,
facilmente passamos a agir por nossa conta, passando ao lado do que Deus quer de
nós. Esta época do ano – tempo de férias, de descanso – é um tempo privilegiado
para invertermos a marcha alienante que nos massacra. Que este tempo não seja
mais uma corrida desenfreada para lugar nenhum, mas um tempo de reencontro
connosco, com a nossa família, com os nossos amigos, com Deus e com as nossas
prioridades. A oração e a escuta da Palavra podem ajudar-nos a recentrar a nossa
vida e a redescobrir o sentido da nossa existência. Qual é a nossa perspectiva da
hospitalidade e do acolhimento? Esta leitura sugere que o verdadeiro acolhimento
não se limita a abrir a porta, a sentar a pessoa no sofá, a ligar a televisão para que
ela se entretenha sozinha, e a correr para a cozinha para lhe preparar um grande
banquete; mas o verdadeiro acolhimento passa por dar atenção àquele que veio ao
nosso encontro, escutá-lo, partilhar com ele, a fazê-lo sentir o quanto nos
preocupamos com aquilo que ele sente…
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