São habituais os encontros de amigos, de ex-colegas de escola, de pessoas com o mesmo nome, etc. Na maior parte das vezes, há um momento de confraternização, sentados à mesa, onde um começa a contar uma experiência de vida que o marcou e que deseja partilhar com todos. Imediatamente, um dos presentes diz: “A mim também me aconteceu o mesmo”. Sabemos o que quer dizer com esta frase: não é que estivesse no mesmo lugar e à mesma hora, mas que viveu uma experiência semelhante à do seu amigo. Parece que o evangelista Lucas quer contar-nos a história dos discípulos de Emaús, de tal maneira que cada um de nós possa dizer: “Também já me aconteceu”. Um dos discípulos chamava-se Cléofas, talvez fosse muito conhecido das primeiras comunidades cristãs. Mas do outro discípulo não se sabe o nome. Quem poderá ser? Podias ser tu? Ou eu? De certeza que não te passou isto pela cabeça?
Certamente, já nos “aconteceu a mesma coisa”. Acontece sempre que nos reunimos para celebrar a Eucaristia. Todos temos os nossos problemas e preocupações, projectos e ilusões que, por vezes, estão por um fio, periclitantes; e é com tudo isto que vamos à missa. Sentados no banco, tudo isto está a fervilhar no pensamento. Queremos rezar um pouco, mas não nos conseguimos concentrar. Fizemos o sinal da cruz à pressa e balbuciámos as palavras costumeiras. À sua maneira, Jesus diz-nos: “O que se passa na tua cabeça”? Pouco a pouco, vamos abrindo o coração a Ele.
Quando damos conta, começa a Liturgia da Palavra. Depois de termos chegado à missa, com a “mochila da vida”, em que saudámos e pedimos perdão a Jesus que nos ouviu e se tornou presente e próximo, agora é Ele que vai falar. Não irá abordar directamente os nossos problemas; não irá dar-nos uma receita. Não estejamos à espera de que Ele diga: “olha, faz isto e tudo se resolverá”. Mas, dar-nos-á a entender que nenhum momento da vida fica esquecido ou está fora dos planos de Deus, que tudo o que estamos a viver tem um sentido, que faz parte de um caminho que conduz à meta, ao Reino de Deus, onde cada um tem um lugar preparado.
Depois de termos falado com o Senhor e de O termos escutado, chega o momento de nos sentarmos à mesa com Ele. Nenhum de nós esteve no cenáculo na última Ceia. Mas, se um dos apóstolos viesse ter connosco e nos contasse o que tinha acontecido na sala de cima, poderíamos responder-lhe: “a mim já me aconteceu o mesmo”. Como também aconteceu aos discípulos de Emaús. Todas as vezes que celebramos a missa, vemos como Jesus se identifica com o pão, partido para que todos comam, e com o vinho, repartido para que todos possam beber. Neste comer o pão e beber o vinho, Jesus torna-se presente, torna-se real nas nossas vidas o seu sacrifício de amor até ao fim, ocorrido na cruz, abraçando toda a humanidade. Convida-nos a participar nesta oblação.
Com os olhos da fé, na mesa do altar, vemos Jesus. Apercebemo-nos que não ficou para sempre no sepulcro. Venceu a morte. Por isso, a missa não é uma recordação nostálgica, mas um encontro sempre novo com o Senhor que se torna presente no hoje da nossa vida. Assim, se os nossos corações ardiam com o calor da Sua palavra, agora têm de transbordar de alegria no testemunho de vida. Por isso, quando acaba a missa, começa a missão, para que a cadeia que começou com Cléofas não se interrompa até que todos tenham tido a oportunidade de se encontrar com o Senhor no caminho da sua vida.
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Flyer Parque do Perdão, Vigilia, Via Sacra e Missa Final (4)
LEITURA ESPIRITUAL
«Fica connosco»
Irmãos, quando foi que o Senhor Se deu a conhecer? Ao partir o pão. Estejamos, portanto, tranquilos: ao partir o pão, reconheceremos o Senhor. Se Ele só quis ser reconhecido nesse instante, foi por nossa causa, foi para que não O víssemos na carne comendo da sua carne. Portanto, tu que crês nele, quem quer que sejas, tu que não tomas em vão o nome de cristão, tu que não entras numa igreja por acaso, tu que escutas a palavra de Deus em temor e esperança, para ti o pão partido será uma consolação.
A ausência do Senhor não é uma ausência verdadeira. Tem confiança, mantém a fé e Ele estará contigo, ainda que não O vejas. Quando o Senhor os abordou, os discípulos não tinham fé. Não acreditavam na sua ressurreição; nem sequer esperavam que Ele pudesse ressuscitar. Tinham perdido a fé; tinham perdido a esperança. Eram mortos que caminhavam ao lado de um vivo; caminhavam mortos juntamente com a vida.
A vida caminhava com eles mas, no coração destes homens, a vida ainda não se tinha renovado. E tu? Desejas a vida? Imita os discípulos e reconhecerás o Senhor. Eles ofereceram-lhe a sua hospitalidade; o Senhor parecia estar decidido a seguir o seu caminho, mas eles detiveram-no. Detém, também tu, o estrangeiro, se queres reconhecer o teu Salvador. Aprende onde podes procurar o Senhor, onde podes possuí-lo, onde podes reconhecê-lo: partilhando o pão com ele. (Santo Agostinho, 354-430, bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja, Sermão 235; PL 38, 1117).