A questão do Sábado é uma questão paradoxal, não só nos evangelhos mas em grande parte da Bíblia. O Sábado nasce de duas grandes necessidades: amar a Deus e amar o próximo. Isso mesmo está consubstanciado no mandamento do Deuteronómio: “Guarda o dia de Sábado, para o santificares”. Mas o desenvolvimento deste preceito acrescenta um dado importante: o repouso é extensivo a filhos, escravos, estrangeiros e até animais. Ou seja, o Sábado nasce como uma escola de humanidade e como uma realidade sagrada que privilegia a igual dignidade de todos diante de Deus. O grande problema que se seguiu foram os excessos aplicativos e interpretativos desta lei, que se foi tornando pesada, alienante e desumanizadora. De tal forma que, em prol de uma suposta sacralização do dia e Daquele que o instituiu, se esvaziou o sentido da humanidade e da fraternidade que Ele próprio preconiza. O Sábado deixou, com o tempo, de ser um tempo de graça, que visa oferecer ao ser humano um período gratuito e merecido de repouso (“shabat” significa descansar), e passou a constituir um rol de proibições e imposições que quase obscureceu a celebração memorial da Páscoa e esvaziou a sacralidade do dia. A polémica com Jesus surge, assim, de forma natural. Cristo não pactua com injustiças sociais, e olha para a humanidade como algo que é mais importante que o próprio sábado, pois só o ser humano é “criado à imagem e semelhança de Deus”. A expressão dos fariseus (“Vê como eles fazem ao sábado o que não é permitido”) é o olhar condenatório que ainda hoje muitos mantêm em relação a tantos irmãos na fé. Os olhos, a língua e os dedos parecem sempre prontos para atacar quem, aparentemente, quebra protocolos e não segue os padrões esperados. Mas, como diz Jesus, “o Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado”. Jesus censura a atitude daqueles que se colocam numa posição de superioridade diante dos outros, assumindo-se como juízes e árbitros da vida alheia. No fundo, os dias santos (Sábado para os judeus, Domingo para os cristãos) são importantes na medida em que nos “obrigam” a recordar as maravilhas que Deus fez e faz na história de cada um e na história de um povo, além de nos convidar a saborear o que a vida tem de bom e que mais dificilmente se consegue durante os outros dias da semana: o convívio, o descanso, o lazer, a família, as manifestações visíveis de caridade e dignidade humana. Deus repudia os actos ocos e rotineiros de piedade, que se realizam por mero preceito, movidos pela aparência e não pela convicção de coração. Celebrações litúrgicas solenes e comunhões em massa são inócuas quando não se traduzem existencialmente em alegria fraterna e em comunhão de vida com os outros. A santificação do dia sagrado começa com a santificação do ser humano, no reconhecimento da sua dignidade e no acolhimento das suas vidas, únicas e irrepetíveis. Por isso, é função da Igreja ajudar a que cada crente se liberte cada vez mais de tudo aquilo que aprisiona e asfixia o acolhimento normal dos dons de Deus, desenvolvendo um olhar e gestos concretos de misericórdia e caridade pastoral que levem os seus filhos a sentirem-se amados e protegidos no seu seio, e a fazer experiência concreta de que Jesus é não só o Senhor do Sábado mas também dos seus corações.
Ver: https://liturgia.diocesedeviseu.pt/LITURGIAEVIDA/index.html
paroquiasagb
Leitura Espiritual
É particularmente urgente no nosso tempo lembrar que o dia do Senhor é também o dia de repouso do trabalho.
Desejamos vivamente que isto mesmo seja reconhecido também pela sociedade civil, de modo que se possa ficar livre das obrigações laborais sem ser penalizado por isso. De facto, os cristãos — não sem relação com o significado do sábado na tradição hebraica — viram no dia do Senhor também o dia de repouso da fadiga quotidiana. Isto possui um significado bem preciso, ou seja, constitui uma relativização do trabalho, que tem por finalidade o homem: o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho. É fácil intuir a tutela que isto oferece ao próprio homem, ficando assim emancipado duma possível forma de escravidão. Como já tive ocasião de afirmar, “o trabalho reveste uma importância primária para a realização do homem e o progresso da sociedade; por isso torna-se necessário que aquele seja sempre organizado e realizado no pleno respeito da dignidade humana e ao serviço do bem comum. Ao mesmo tempo, é indispensável que o homem não se deixe escravizar pelo trabalho, que não o idolatre pretendendo achar nele o sentido último e definitivo da vida “. É no dia consagrado a Deus que o homem compreende o sentido da sua existência e também do trabalho. (Bento XVI, Sacramentum Caritatis, 74).
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Programação de Celebrações e Missas da Semana de 04 a 09 de junho da Unidade Pastoral P. Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã, Algodres e Freixiosa.