A temática do evangelho deste Domingo é o perdão e o amor. Havia uma norma ética e nobre da justiça retributiva, que é a base do direito antigo e moderno da justiça distributiva. Mas Jesus quer fazer uma proposta teológica e interior, anti-violenta, fundamental para a vida pessoal e social do cristão e da Igreja. Não responder ao mal com o mal: “se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda; se alguém quer ficar com o manto, dá-lhe também a túnica…dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado”. Trata-se de uma nova estratégia, aberta para criar uma nova relação com o adversário, livre da lógica da injustiça violenta.
“Amai os vossos inimigos”. É a grande novidade da doutrina cristã. Se o amor de Deus é infinito, assim também tem de ser o amor do cristão. Um amor que procura a perfeição e não tem limites, amar como Jesus ensinou e mandou. A 1ª leitura do Levítico prepara o evangelho: “sede santos, porque Eu sou santo. Não te vingarás nem terás rancor dos outros. Amarás o próximo como a ti mesmo”. O amor de Jesus não exclui ninguém, é a plenitude do amor.
Na 2ª leitura, S. Paulo recorda-nos que somos templo de Deus, do qual fazemos parte pelo amor de Cristo. Exalta a sabedoria cristã, distinguindo-a da sabedoria humana. A sabedoria cristã consiste no conhecimento de Cristo crucificado por amor à humanidade. Finalmente, S. Paulo diz que não podemos seguir diferentes líderes religiosos, porque “vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. Com estes três exemplos do templo, da sabedoria divina e de pertença a Cristo, faz-nos sentir unidos ao imenso amor de Deus. Há que promover a pastoral do perdão, da não-violência, da paz, lutando contra as tensões humanas, sociais, políticas e também eclesiais, contra a falta de diálogo para construir a paz e reconhecermo-nos como irmãos e filhos de Deus.
O amor tem de resplandecer mais na vida dos cristãos. Temos de ajudar, de servir, de ser mais tolerantes, de rezar, de ter pequenos gestos de amor e de caridade para com os outros. A primeira forma de amar os inimigos é rezar por eles. Saber ter um coração grande e aberto para acolher e amar. Temos de promover a educação do amor nas crianças e jovens, nas famílias e nas comunidades paroquiais. O evangelho não é concêntrico, amando-me somente a mim próprio, mas excêntrico, de coração aberto para amar a todos. Para que um dia se estabeleça plenamente o reino da caridade, é preciso cultivar a paciência e o perdão que, muitas vezes, custa ter com os outros.
Custa muito perdoar, mas custa muito mais amar. Os sentimentos humanos e os ressentimentos procuram o ódio e a vingança; por isso, custa tanto perdoar, saudar, amar. Neste ponto é preciso que sempre recordemos a atitude de Jesus, cravado na cruz, perante os seus inimigos (Lc 23,34). É preciso converter o inimigo em amigo. Procure cada um não ser inimigo de ninguém, nem ter inimigos; só assim terá paz e bem-estar. Trata-se de ser perfeito como é o nosso Pai que está no céu (Mt 5,48).
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LEITURA ESPIRITUAL
A arte de amar a Deus
Bem-aventurado o homem que sabe amar todos os homens igualmente. Bem-aventurado o homem que não se prende a nada que seja corruptível e passageiro. Aquele que ama a Deus também ama totalmente o seu próximo. Esse homem não sabe guardar o que tem, antes o dispensa como Deus, dando a cada um aquilo de que tem necessidade. Aquele que dá esmola, à imitação de Deus, ignora a diferença entre o mau e o bom, o justo e o injusto (cf Mc 5,45), quando os vê sofrer. Mas dá igualmente a todos, segundo as suas necessidades, ainda que prefira, pela sua boa vontade, o homem virtuoso ao homem depravado.
Assim como Deus, que é por natureza bom e impassível, ama igualmente todos os seres como obra sua, mas glorifica o homem virtuoso porque este está unido a Ele pelo conhecimento e, na sua bondade, tem piedade do homem depravado e fá-lo voltar instruindo-o neste mundo, assim também aquele que, pelo seu movimento próprio, é bom e impassível ama igualmente todos os homens: ama o homem virtuoso pela sua natureza e a sua vontade boa; e ama o homem depravado pela sua natureza e a sua compaixão, porque tem piedade dele como dum louco que avança nas trevas.
Não é só partilhar o que se tem que revela a arte de amar, ainda mais o revela transmitir a palavra e servir os outros nos seus corpos. «Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem». (São Máximo o Confessor, c. 580-662, monge, teólogo, Centúria I sobre o amor, nos. 17, 18, 23-26, 61).