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Artigos de Opinião

Artigo de Luís Miguel Condeço—Borda d’Água

Confesso que a leitura atenta dos seculares almanaques que nos apresentam prognósticos, conselhos práticos baseados na sabedoria popular, previsões meteorológicas e astrológicas, assim como as informações sobre o oceano e as marés, faz parte da minha infância e acredito que de muitos que fazem da agricultura de subsistência uma prática regular. Por isso, não são alheias às “obras” do Borda d’Água e d’O Seringador.

Contudo serão previsíveis e confiáveis esses prognósticos?

Sempre foram, mas as alterações climáticas, a poluição atmosférica e marítima, o aquecimento do planeta e a emissão de gases com efeito estufa, têm transformado radicalmente o senso comum e a sabedoria popular há muito enraizados no nosso cancioneiro.

E um dos resultados mais visíveis destas mudanças climáticas no nosso Portugal é a seca! Em agosto do ano passado, e segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, 97% do território continental estava em seca e 27% em seca extrema (situação em que a precipitação é quase nula e a disponibilidade de água no solo é francamente baixa). Apesar da preciosa chuva no início do inverno, 37,6% de Portugal continental ainda se encontrava em seca (21,4% seca fraca e 16,2% seca moderada) no mês de dezembro, desta forma, não podemos esquecer a necessidade hidrológica que a agricultura, a pecuária, a indústria e também a população sentem.

Foi desde 1992, e no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Ambiente, que o Dia Mundial da Água começou a ser comemorado no dia 22 de março. Este dia pretende servir de impulso à dinamização de várias atividades que alertam para a importância deste recurso natural, criando estratégias de preservação e restauração do ciclo natural da água.

Lembro que o ser humano é constituído na sua maioria (70%) por água, e esta é fundamental para os processos de digestão, absorção, metabolismo e excreção do organismo (pois é a principal constituinte do sangue, da linfa e das secreções corporais), além da sua função no controlo térmico do corpo humano. A sua ingestão diária deve ser uma prioridade, recomendando-se que os indivíduos adultos saudáveis bebam entre 1,5 e 3 litros de água. Muitas vezes o nosso organismo “pede” essa ingestão de água, através da comum sensação de sede, mas para que tal aconteça é importante criar hábitos de beber água ao longo do dia.

Algumas organizações não governamentais internacionais, apontam para uma “crise da água” atendendo ao seu papel social, político e económico. Hoje 1 em cada 10 pessoas no mundo não tem acesso a água potável e 1 em cada 4 não têm acesso a instalações sanitárias, condições que para nós parecem tão básicas e intrínsecas à nossa vida diária.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, se tivermos em linha de conta os dados relativos à mortalidade, percebemos que todos os anos morrem cerca de um milhão de pessoas devido a doenças causadas pela ingestão de água imprópria para consumo ou por falta de higiene, e se atendermos à população infantil percebemos que a cada 2 minutos morre uma criança devido aos mesmos problemas. A acessibilidade a água potável e a instalações sanitárias condignas permitem reduzir a disseminação de doenças infeciosas e as taxas de mortalidade infantil e materna, principalmente nos países em desenvolvimento.

Quase a totalidade (97%) da água disponível para consumo humano encontra-se no subsolo, e esta representa cerca de 1/3 da água doce disponível no planeta. Razão pela qual a falta de reposição de água no solo nas grandes cidades europeias, nos deve deixar muito preocupados.

A escassez de água, como as secas ou o excesso de água, como as cheias, são a principal expressão pela qual sentiremos muitos dos efeitos das alterações climáticas. Milhões de famílias vivenciam já estas situações no seu dia-a-dia, mas é responsabilidade de todos e em qualquer parte do mundo zelar por este Bem tão precioso.

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Artigo de opinião de Sara Morais ——-Mente: A cruel e invisível prisão

A mente humana é incrível, disso não há dúvida, é um dos locais mais brilhantes que escondem, ainda, grandes mistérios e um potencial infinito. É neste “lugar” que reside toda a nossa capacidade de agir, de produzir ideias, conceitos, de raciocinar e imaginar, o que identifica a nossa singularidade perante todas as outras formas de existência na natureza. Neste sentido, o homem é, antes de tudo, livre porque detém a capacidade de agir sobre si mesmo, de propor ideais, de agir de acordo com a razão, dispondo da autodeterminação, independência e autonomia para impor limites aos impulsos do desejo e do instinto.

Embora, na prática, não seja possível aprisionar todas as conexões sinápticas cerebrais, a verdade é que, por vezes, a mente torna-se numa verdadeira prisão sem grades. A maior barreira mental afirma-se quando o leitor desenvolve em si as ideias limitantes, porque acredita na sua incapacidade, tornando-se refém e escravo de si próprio e, com isso, esgota todas as oportunidades viáveis de ser feliz.

Ao contrário do carcere físico, em que a ação libertadora poderá estar dependente de terceiros, neste caso só o leitor poderá soltar os grilhões que o prendem a uma vida de frustração plena e das mais variadas crenças limitantes. É importante assinalar que, em grande maioria das situações, o regime de crenças é desenquadrado da realidade e sustentado pela inércia do próprio leitor. E, quando há, uma tentativa real falha, o leitor cerca-se do seu fracasso inicial e investe, ainda mais, na sua ideação entorpecedora. Isto, tornar-se-á numa dificuldade em reconhecer quando está, de facto, refém dos seus próprios pensamentos, uma vez que a “verdade” que se instala parece real e absoluta.

Contudo, o fracasso não tem que ditar a sua história de vida. Até, porque, a escada do sucesso prende-se exatamente pela persistência, pelo falhar, o cair, o levantar e insistir até resultar. Exatamente, como uma pequena semente que é lançada à terra que passa pela incerteza da escuridão, pela humidade e erosão e, que no final, acaba por desenvolver as suas raízes para prosperar no seu meio envolvente. Todo processo de aprendizagem para estar bem consigo e com a vida, mora exclusivamente, dentro da sua decisão e atitude.

A Hipnose Clínica é uma ferramenta terapêutica que pode auxiliar o leitor nesta demanda. Inicialmente, são identificados os pensamentos emocionais, psicológicos e irracionais, formados através das várias experiências de interação com o meio. Seguidamente, o leitor irá desenvolver o autoconhecimento de como estas crenças afetam a sua vida. Cada pensamento tem um impacto diferenciado, por vezes, profundo na forma como exibe as suas próprias decisões e comportamentos. Esta consciencialização permite que o leitor se adapte melhor à mudança. Posteriormente, e ao adquirir este novo olhar sobre estas ideias e sensações irracionais, o leitor é convidado a mergulhar nas suas memórias para  descobrir a origem das crenças para refutar, eliminar e alterar esses padrões de pensamento. Neste seguimento, surge uma nova “programação” mental, em que consiste numa reestruturação dos significado que o leitor atribui, interpreta e aplica ao seu “eu” e ao mundo ao seu redor. Esta reorganização cognitiva pressupõe um maior auto domínio sobre a resposta emocional e, por conseguinte, permite finalmente soltar-se da mais cruel e invisível prisão: a mente.

No próximo boletim de saúde poderá verificar mais sobre as crises existenciais, os objetivos de vida e como qual a intervenção da Hipnose Clínica.

Sara Morais – Hipnoterapeuta

Artigo de Opinião de Augusto Falcão—Ainda o 10 de março

Na passada edição escrevi acerca do voto, e de como nomes sonantes que ficaram gravados nos anais da nossa história mundial se bateram e alguns, pagaram o preço mais alto pela liberdade.

Quando falo disto, ficam-me sempre na ideia as palavras que um dia Abraham Lincoln escreveu em carta à Sra. Bixby, que tinha perdido 3 filhos na Guerra Civil Americana.

Hoje transcrevo, mais uma vez essas palavras: “Rogo ao Pai do Céu, que possa aplacar a angústia da sua perda, e que lhe deixe, as afetuosas memórias dos seus entes queridos e agora perdidos, e o orgulho solene que deve sentir por ter depositado um tão grande sacrifício no altar da Liberdade” (tradução livre).

Ao longo da nossa história muitos foram aqueles que lutaram pelos valores que hoje comungamos enquanto nação; e que ao longo da história pagaram o preço mais alto pela sociedade, embora sempre imperfeita, hoje temos.

Por isso hoje, vou-vos contar a história de Fernando dos Reis, Fernando Gesteira, José Arruda e José Barneto.

Sim, 4 homens, cujo nomes, com grande probabilidade nenhum dos nossos leitores conhece. 4 homens que um dia tombaram sob as balas dos defensores da ditadura.

Fernando dos Reis, segundo o Museu do Aljube, era filho de Alice e Luís Reis, nasceu a 16 de novembro de 1950 em Arranhó, Arruda dos Vinhos. Com 11 anos, entrou para a Casa Pia, onde estudou até 1967.
Pouco se sabe sobre a vida de Fernando Reis, exceto que, era soldado da 1.a Companhia Disciplinar de Penamacor, unidade historicamente utlizada pelo Estado Novo para punir militares e elementos da oposição acusados de indisciplina.

Fernando Gesteira, era o mais novo de todos, e era natural de Vreia de Jales, Vila Pouca de Aguiar, Trás-os-Montes, e trabalhava num escritório na capital, tinha acabado de atingir a maioridade; tinha vindo para a capital para fugir a uma vida nas minas onde o seu pai trabalhava.

José Arruda, nasceu a 13 de janeiro de 1954 na Ilha de São Miguel, nos Açores; estudou na universidade católica em Braga, e terá estado ligado ao PCP e outro movimento de esquerda.

José Barneto, nasceu em 1935 em Vendas Novas, no Alentejo; Cresceu nos Olivais, em Lisboa, vivia com a mulher e os quatro filhos em Benfica e era escriturário no Grémio Nacional dos Industriais de Confeitaria.

Estes 4 homens, no dia 25 de abril, por entre notícias e emissões de rádio, acerca da Revolução dos Cravos, andavam pelas ruas de Lisboa. Tal como muitos portugueses, nesse dia, saboreavam os primeiros momentos de liberdade após décadas de ditadura do Estado Novo.

Já Marcelo Caetano se tinha rendido, no Quartel do Carmo, uma multidão, ao fim do dia, dirige-se para o edifício sede de um dos símbolos mais horrendos do regime deposto. Na rua António Maria Cardoso, era a sede da PIDE – DGS, a ferramenta de opressão do Estado Novo; aquela que usava a prisão arbitrária e a tortura como arma para defender o regime político em Portugal.

E estes 4 homens, embalados pelo cheiro da liberdade, que os cravos nos canos das armas dos militares exalavam, dirigiram-se no meio da multidão, para a sede deste símbolo de terror.

Os agentes da PIDE, cercados, e sem hipótese de fuga, com medo da multidão, abriram fogo, sobre; por entre gritos de terror e medo, feridos, 4 homens caem no chão, mortos pelas balas da PIDE; estes 4 homens são os descritos acima; mortos pela ditadura que acabara de cair, movidos pelo sentimento de liberdade porque se moveram conscientes de serem livres, de qualquer medo.

Estes são os únicos portugueses que tombaram na revolução de abril, esquecidos das páginas da história, relembrados apenas no Museu do Aljube. Os únicos que perderam a vida, no dia em que Portugal reconquistou a liberdade, e se livrou dos grilhões da tirania da ditadura.

O seu sangue merece ser honrado; a sua morte celebrada; são heróis esquecidos da nossa revolução pura e livre de sangue, que nos devolveu o direito de “apesar não concordarmos com o que outros dizem, defenderemos o direito de o dizerem até a morte”; são aqueles que em nome dos cravos da revolução. Não estão no Panteão, mas devem estar na nossa memória coletiva.

São os heróis esquecidos, entre muitos outros, como maior ou menor importância, que nos devolveram a democracia, a liberdade. Devemos honrar a sua memória votando. Seja no que for, em quem for… mas votando. Em liberdade e em democracia….

 Augusto Falcão

Artigo de Opinião de Vítor Santos—O futuro é novo: Valorizar as competições locais e nacionais

O futebol vive momentos de enorme mudança com a criação de competições e o aumento do número de jogos. A globalização chegou ao futebol e todos os dias temos jogos e mais jogos na televisão.

As Federações nacionais e as Associações regionais têm o desafio enorme pela frente de não permitirem que o futebol, na sua verdadeira essência, acabe. A importância das competições domésticas está a diminuir.

Os clubes vão ter de repensar o seu posicionamento. Terão de optar entre serem “apenas” laboratórios para formar atletas ou então polos dinamizadores de atividade social na sua aldeia, vila ou cidade através do futebol.

Portugal é um país estranho e com uma Liga profissional condicionada por três clubes. Não existe respeito pelo adepto que vai ao estádio com os horários em que se realizam os jogos. Quem gosta de futebol está a abdicar do estádio em detrimento da televisão.

Os estádios têm poucos adeptos porque é impossível a um Farense deslocar-se a Chaves a uma segunda-feira à noite! O próprio flaviense tem de se superar para, com o gelo transmontano, ir a uma noite de semana para o estádio!

A convicção que fica é de que, cada vez mais, estas decisões são tomadas em escritórios e não no país real. Que haja clubes sem dinheiro para pagar ordenados, em ligas profissionais, não parece ser um problema para quem gere a atividade. Já é uma tradição que herdámos do século passado. A verdade desportiva está em causa.

Só a ética no desporto de formação pode resolver estes problemas com uma formação integral dos desportistas. Podem não vir a ser jogadores de futebol, mas serão certamente melhores dirigentes, jornalistas, treinadores e, acima de tudo, serão melhores adeptos.

A ética desportiva diz-nos como se devem comportar todos aqueles que estão envolvidos na prática desportiva. A ética desportiva ajuda a prevenir a violência, a corrupção, a dopagem, o racismo, a discriminação e a xenofobia. Também promove a saúde física, o desenvolvimento das competências pessoais, interpessoais, sociais e cívicas, o respeito pelos outros e nós próprios, o respeito pelas regras e pelo bem coletivo, o respeito pela diversidade e a vontade de sermos bons anfitriões. A tudo isto temos de associar a
modernidade, a economia local e o contacto social.

As confederações americana e africana precisam de palcos mediáticos e os clubes europeus ambicionam dinheiro. O Mundial de clubes serve estas causa em simultâneo. A Superliga serve os magnatas dos clubes. O futuro do futebol está a ser moldado por forças económicas e, à medida que enfrentamos essas mudanças, é crucial equilibrar os interesses comerciais com a preservação da verdadeira essência do desporto, mantendo-o enraizado nas comunidades que o tornam tão especial. Estas duas vertentes são complementares, mas as competições internas estão em desvantagem e os clubes vão ter de se reinventar e unir.

Para a imprensa local, uma parceria com os clubes de futebol dos campeonatos distritais pode ser uma excelente oportunidade para ambas as partes. O jornalismo desportivo nacional já não atrai leitores e os mais jovens nem querem saber.

Se eles e os seus clubes passarem a ser a notícia, o cenário altera-se. Urge valorizar as competições locais.

A refletir.

Vitor Santos (Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto)

Artigo de opinião-O Impacto da Inteligência Artificial na Arte e no Design: o que irá mudar?

A Inteligência Artificial (IA) emerge como uma força revolucionária em diversos setores – e não é diferente na cultura e no design. A interseção entre criatividade humana e os algoritmos avançados está a moldar uma nova era, desafiando paradigmas estabelecidos e explorando territórios inexplorados. Será que passaremos a ser mais consumidores do que produtores de conteúdos?

Nos últimos anos, testemunhamos uma revolução sem precedentes na produção cinematográfica. Enquanto a grande mudança no setor do cinema estava centrada na distribuição, com o aparecimento de serviços de streaming como a Netflix e Amazon Prime, agora verificamos uma transformação na própria produção cinematográfica. Hoje, com o avanço da tecnologia e a introdução da inteligência artificial, o que costumava levar meses a ser produzido, agora pode ser realizado numa questão de horas e, o que antes era considerado pós-produção, agora é incorporado em tempo real durante as filmagens.

Um dos aspetos mais impressionantes desta revolução é a forma como os cenários interagem em tempo real com os atores. Estes não estão mais limitados às telas verdes, agora os atores podem interagir efetivamente com personagens geradas por inteligência artificial, que reagem de forma autêntica e dinâmica. Esta tecnologia não acelera apenas o processo de produção, mas eleva também o nível de imersão e autenticidade nas produções cinematográficas.

No universo do design, a influência da IA também se tem feito sentir. A automação de tarefas rotineiras permite que os designers dediquem mais tempo à expressão criativa e à conceptualização. Ferramentas baseadas em IA ajudam a acelerar o processo criativo, sugerindo ideias e otimizando layouts com base em padrões identificados em grandes conjuntos de dados.

Por outro lado, a criação visual está a tornar-se cada vez mais livre de obstáculos externos à própria visão artística. Historicamente, a capacidade motora do artista limitava a sua expressão criativa, mas, agora, com o auxílio de softwares e interfaces intuitivas, os artistas podem materializar as suas visões de uma maneira mais eficiente e precisa. Além disso, com a inteligência artificial generativa, os artistas não precisam ser especialistas em técnicas representativas, físicas ou digitais, como aquarelas ou photoshop. Em vez disso, podem descrever a sua visão artística e deixar que a IA a materialize. Conforme as interfaces melhoram e a IA se torna mais sofisticada, essa capacidade interpretativa só tende a melhorar, proporcionando aos artistas uma liberdade sem precedentes para explorar novas fronteiras criativas.

Contudo, é importante reconhecer que o impacto da inteligência artificial generativa não se limita a simplesmente apoiar designers e artistas. A tendência, a longo prazo, é que a quantidade de produtos culturais (filmes, designs, arte) realizados por IA seja maior do que a realizada por humanos (mesmo que apoiados por IA). É fácil notar que esta tendência é inevitável se considerarmos que estas plataformas trabalham muito mais rápido que um humano. Neste contexto, podemos considerar que, no futuro, poderemos ser mais consumidores do que produtores destes conteúdos. É, no entanto, necessário um diálogo ético para orientar o desenvolvimento e a implementação da IA na arte e no design. Questões relacionadas com a autoria, responsabilidade e a preservação da originalidade devem ser cuidadosamente consideradas, assim como, as questões relacionadas com a remuneração destes profissionais.

A Inteligência Artificial está, de facto, a desempenhar um papel fundamental na redefinição da arte e do design. É, por isso, importante aceitar esta nova realidade e aprender a colaborar com estas novas ferramentas, olhando para elas como aliadas e como uma forma de potenciar a arte e a criatividade humana. A contínua evolução dos algoritmos de IA, combinada com o pensamento humano, abrirá, certamente, portas para possibilidades inexploradas.

Paulo Renato Oliveira, CEO Global da Action Labs

Artigo de Augusto Falcão – Linhas da atualidade

 

No dia em que, não sei ainda bem porquê, fui convidado para escrever uma palavras neste jornal, foi por causa da minha missão humanitária em Timor-Leste nos idos anos de 1999.

Também na altura em que continuei a escrever aqui, prometi que nunca iria escrever sobre política, ou sobre temas políticos.

Fazendo um pequeno retrocesso histórico, após o referendo à independência de Timor-Leste, onde o sim ganhou, a então província Indonésia, mergulhou numa tempestade de morte e sangue espelhada pelas tristemente faladas milícias pró-indonésias.

O governo português, decidiu então enviar uma missão humanitária constituída por médicos, enfermeiros, pessoal da Cruz Vermelha, do já extinto SNPC, e dos Bombeiros onde eu me integrei.

No dia 30 de agosto de 1999, votaram nesse referendo quase 440 000 timorenses; o SIM ganhou com 78% dos votos válidos; houve uma afluência às urnas de 98% dos eleitores registados em todo o País.  (dados do jornal The Guardian)

Após 33 anos de anexação por parte da Indonésia, o povo maubere votou para ser livre; e expressou-se de forma categórica. Nessa missão aprendi o quanto custa a luta pela liberdade, contra a opressão e a tirania de um povo sobre outro.

O nosso pequeno Portugal, a 25 de abril de 1974, iniciou um golpe militar que restituiu a liberdade e a democracia ao povo português derrubando o Estado Novo e o chamado Salazarismo; no ano seguinte a 25 de abril de 1976, os portugueses foram chamados a votar em liberdade, após décadas de ditadura, para a Assembleia da República. Para vosso espanto, ou não, foram a votos 14 forças políticas. O PS saiu vencedor das eleições, com 34,88% dos votos, elegendo 107 deputados. O PPD ficou em segundo, com 24,35% dos votos (73 deputados), seguido do CDS com 15,97% (42 deputados), o qual passou a ser a terceira força parlamentar, ultrapassando o PCP, que ainda assim subiu (14,39%, 40 deputados) (fontes site do Parlamento português).

Mas antes deste momento, não nos podemos nunca esquecer, que anos antes, em Peniche, Caxias, Tarrafal, ou no número 22 da Rua António Maria Cardoso (sede da PIDE- DGS) muitos portugueses e portuguesas pagaram o preço pela sua luta contra a ditadura. Não devemos esquecer o Sr. General Humberto Delgado, que morreu assassinado pela PIDE a 13 de fevereiro de 1968, após tentar derrubar via eleições Salazar e o então Presidente da República Américo Tomás.

Não podemos esquecer mais nomes da História Mundial, que tombaram por ideais de liberdade, contra a tirania e a opressão; Lincoln, Ghandi, Mandela, Martin Luther King Jr., Eleonor Roseveelt, Emmeline Pankhurst; as palavras destes homens e mulheres que lutaram pela liberdade, por direitos iguais, contra a opressão, não devem ser esquecidos nunca; devem ser gravados nas brumas da história, nos livros e nos ensinamentos que nós damos a próxima geração que a luta pela nossa liberdade, direitos iguais, e contra qualquer forma de opressão deve ser sempre protegida porque a liberdade, essa liberdade foi paga em sangue, suor e lágrimas ao longo da história da humanidade.

Se Leónidas não tivesse defendido com a vida, a Grécia e a cidade estado de Atenas contra a tirania do império Persa, o que teria sido da jovem democracia grega, que inspirou as democracias ocidentais?

Se Washington não tivesse ganho a guerra da independência americana, ou a revolução francesa falhasse, ou se Lincoln tivesse perdido a guerra civil americana, ou Churchill tivesse sido vencido por Hitler, como seria o nosso mundo hoje?

A nossa liberdade, esse bem jurídico, que devemos a muitos e muitas ao longo da história, é o maior legado que podemos deixar aos nossos filhos e gerações vindouras.

Em democracia a liberdade exerce-se de muitas formas, mas há uma particularmente suprema; a do voto. Muitos morreram e sofreram nas mãos da PIDE para que no próximo dia 10 de março nós possamos, mais uma vez, em consciência votarmos.

Não vou aqui fazer propaganda a nenhuma ideologia, partido, ou manifesto porque tal como Evelyn Beatrice Hall escreveu na biografia de Voltaire, que “posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até à morte o direito de o dizeres”.

No dia 10 de março, vamos honrar a memória de todos e todas quantos no passado gravaram esta frase na sua vida, mesmo sem saberem que ela foi dita, e vamos perder uns minutos, da nossa vida, mas vamos votar, em consciência, naquele ou naquela, que nós achamos que é o melhor para o nosso coletivo desígnio nacional.

 

Augusto Falcão

Artigo de Sara Morais- A Mudança do tempo e a saúde mental

Num período em que a chuva não dá tréguas, as calçadas da cidade vestem os seus tons Outonais, das folhas das árvores que vão caindo, em contraste com os dias cinzentos, estes impregnados pelo aroma convidativo das lareiras que vão declarando o regresso dos dias mais frios.

Esta mudança sazonal representa a expressão da renovação da natureza na qual o Ser Humano é convidado a exercer a sua capacidade de adaptabilidade ao meio. O Outono é, por designação, a estação do ano associada à transformação da vida, em que os elementos naturais passam por um ciclo de transformação; exatamente como as folhas caducas que sopradas pelo vento desapegam-se dos ramos para permitir o fim daquilo que já não serve. Assim, acontece com a mente humana que inicia, também, neste período um processo de reflexão, melancólico e de desapego sobre a finitude e a renovação da própria existência.

Uma das alterações que ocorre no Outono e Inverno é a redução de horas de luz que contribui para a alternância das emoções na psique humana. A diminuição da luminosidade interfere com o ciclo circadiano que é responsável, ininterruptamente, pelos vários processos biológicos do corpo, como o metabolismo, o ciclo do sono e de vigília. O cérebro recebe diferentes estímulos de luminosidade que são captados pela retina do olho e transmitidos ao Hipotálamo que ao receber esta informação estabelece os padrões de vigília e sono. Estes sinais são, posteriormente, transmitidos à Hipófise que vai produzir melatonina preparando o corpo para dormir diminuindo, assim: a temperatura corporal, a frequência cardíaca, o metabolismo, a atividade urinária, entre muitos outros processos quando existe um decréscimo de claridade. Durante o dia, esta produção é inibida e as glândulas suprarrenais aumentam a sua atividade produzindo cortisol, permitindo que o corpo aumente o estado de vigília durante o dia.

No entanto, a excessiva produção desta hormona provoca distúrbios de ansiedade, alterações de humor, perturbações do sono o que vai incitar, consecutivamente, a irritabilidade. Aliado a este descontrolo, a diminuição da luminosidade produz uma quebra dos níveis de serotonina – hormona da felicidade – que comumente com a incidência de uma produção mais prolongada da melatonina, aumentam a fadiga, o que caracteriza em termos gerais a Depressão Sazonal. Esta patologia, normalmente, principia no Outono, prolongando-se pelo Inverno e desaparece com o desabrochar da Primavera.

É neste período que a Hipnose Clínica poderá servir como ferramenta preventiva na sustentação de uma saúde mental equilibrada.  A terapia assente num estado fisiológico natural, não só permite um estado de relaxamento mental e físico, o que produz por si só o aumento da hormona da felicidade, como promove o seu desenvolvimento sensorial, intelectual permitindo, também, melhorar a capacidade de memória e atenção concentrada.  Esta captação natural de serotonina, vai automaticamente produzir efeitos na alteração do humor e por conseguinte na própria construção do pensamento.

Em jeito de conclusão, o leitor terá a oportunidade de trabalhar as várias experiências e sentimentos armazenados no seu subconsciente, o que irá permitir expandir a sua capacidade mental para interagir com uma maior adaptabilidade do “eu” à mudança: “Não existem dias cinzentos para aqueles que sonham colorido” (autor desconhecido).

No próximo artigo boletim de saúde poderá saber mais sobre a pior prisão é a da mente.

 Sara Morais

Hipnoterapeuta

 

Artigo de Luís Miguel Condeço—Sem Crises

 

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Muitos foliões portugueses e não só, festejam o secular “carnis vale” (ou Carnaval), esta festa de origem pagã tornou-se importante para os cristãos enquanto ponto de partida para o período quaresmal.

As celebrações carnavalescas coincidem este ano com o dia de São Valentim, ícone comercial dos apaixonados, românticos e namorados, que muito contribuem para o desenvolvimento das atividades comerciais nacionais.

Curiosa é a forma como Valentim aparece nos nossos dias, revestido de um peso histórico considerável e que até o campo clínico não pode descurar. Apesar da controversa em torno do padre Valentim (também com referência em alguns textos a bispo), acredita-se que terá sido perseguido e mais tarde executado pelo imperador Claudius Gothicus (Cláudio II) no século III, pela sua ação enquanto disseminador do cristianismo, mas também, enquanto “casamenteiro” dos soldados solteiros das legiões romanas, motivando o abandono e a menor ousadia nos campos de batalha.

São Valentim (já que nunca desapareceu do Martirológio Romano), emerge pela “mão” de Hartmann Schedel na sua obra mais importante do século XV (1493) e uma das mais emblemáticas da Idade Média – o Liber Chronicarum ou Crónicas de Nuremberga. O relato de um Santo que consegue curar homens e mulheres “doentes da cabeça” ou do corpo, está presente quer nas Crónicas como em pinturas e gravuras da época, onde é visível a presença de sinais clínicos, que hoje genericamente relacionamos com a epilepsia.

Já no papiro de Ebers (1500 anos a.C.) a epilepsia é relatada e até um tratamento (!) é sugerido, contudo é Hipócrates que defende a origem cerebral da doença contrariando a “comunidade científica” grega da época, que julgava tratar-se de uma possessão espiritual.

Hoje sabemos que a epilepsia é uma doença do sistema nervoso central que provoca crises epilépticas (alterações no processo de comunicação entre as células cerebrais – neurónios), ou descargas elétricas anormais manifestando-se de forma mais comum em convulsão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica outras manifestações desta atividade elétrica cerebral anormal além das convulsões (manifestações motoras), como o comportamento e sensações anormais (sintomas sensitivos, alucinações visuais, sintomas psíquicos ou alterações da linguagem), e por vezes, perda de consciência. Afeta pessoas de todas as idades, e em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Neurologia estima que 1 em cada 200 portugueses têm epilepsia.

Desde 2015, na segunda 2ª-feira do mês de fevereiro, a International Bureau for Epilepsy (Agência Internacional para a Epilepsia) e a International League Against Epilepsy (Liga Internacional contra a Epilepsia), promovem a iniciativa do Dia Internacional da Epilepsia, que este ano se evoca no dia 12.

A OMS considera esta iniciativa fundamental para a implementação do seu Plano Global de Ação Intersectorial até 2031, que tem como principal objetivo fortalecer a abordagem à epilepsia pela saúde pública e duas metas globais que visam colmatar as principais lacunas no tratamento e a inclusão de pessoas portadoras da doença em todo o mundo. A baixa literacia em saúde e os mal-entendidos ou mitos sobre a epilepsia, são os principais obstáculos no alcance destas metas.

A falta de conhecimento traduz-se em estigma social e exclusão e leva à discriminação de pessoas com epilepsia no trabalho, na escola ou na comunidade. Assim, é importante clarificar que:

– Nem todas as pessoas com epilepsia têm convulsões;

– Nem todas as pessoas com convulsões têm epilepsia;

– Durante uma crise convulsiva não se deve introduzir qualquer objeto na boca, a atuação correta passa pela lateralização da pessoa e não restrição de movimentos;

– As pessoas com epilepsia não têm à partida limitações cognitivas ou físicas;

– A epilepsia pode surgir em qualquer idade;

– Os estímulos luminosos não provocam crises em todas as pessoas com epilepsia;

– As mulheres com epilepsia podem engravidar;

– Filhos de pais com epilepsia têm um risco baixo de ter a doença;

– Em regra geral as pessoas com epilepsia podem praticar desporto.

 

O adequado conhecimento sobre esta doença possibilita um rápido e fácil acesso ao tratamento, e apoio às pessoas com epilepsia e aos que delas cuidam.

Paulo Freitas do Amaral- Artigo de opinião-Chegou o “chegalismo”

Chegou o “chegalismo”

Temos assistido a uma deriva do partido CHEGA para prometer tudo a todos nestes últimos meses…A esta forma de estar tenho vontade de apelidar de “chegalismo”.

No entanto, convém reparar que os partidos políticos que foram escolhidos pelos três diretores de informação das televisões, controlando desta forma a democracia que é de todos os partidos, foram para os debates sem apresentar os programas políticos. Isto revela uma novidade que os comentadores se esqueceram de referir, revela também uma incompetência dos partidos e revela também uma estratégia dos três maiores partidos de prometer “tudo e um par de botas”…

Se já sabíamos de ante mão que o PS e PSD iriam sobrepor-se em inúmeras medidas, temos agora o CHEGA a equiparar-se a um “socialismo”, o “chegalismo”, por ter como objetivo único; prometer tudo a todos, representando desta forma uma desenfreada caça aos votos…

Agradar a certos grupos da população portuguesa como os pensionistas, os professores, etc…torna-se para André Ventura prioritário, prometendo tudo o que tem à mão, como se Portugal vivesse de fundos inesgotáveis ou ficasse à mercê de uma estimativa incerta de um valor que será fruto do combate à evasão fiscal…

O “chegalismo” na prática está muito parecido ao socialismo, com promessas demagogas e impraticáveis.

O novo partido “Nova direita” nesta conjuntura, apresenta-se como um partido responsável que pode “chamar à razão” a megalomania de promessas eleitorais em que caíram os partidos de direita onde as sondagens dizem que os portugueses vão votar.

A responsabilidade de governação e a inexistência de quadros neste “chegalismo” a que assistimos, é de certa forma assustador quanto ao futuro.

Ossanda Liber, líder da “Nova Direita” neste aspeto, a meu ver, tem sabido estar presente nas reivindicações do partido que lidera, aliando a isso, o recrutamento de novos valores da sociedade portuguesa em diferentes áreas profissionais.

O novo “chegalismo” que poderá ser ruinoso para o país, tal como o “socialismo” o foi no passado e será no futuro.

O mais recente partido português “Nova Direita”, nesta conjuntura, foi o primeiro partido a apresentar o seu programa no seu site e tem demonstrado uma coerência programática e uma eficácia comunicativa acima das expetativas…não fosse o condicionamento da democracia por parte das televisões e tudo seria mais democrático em Portugal.

Paulo Freitas do Amaral

Artigo opinião- A queixa da “Nova Direita” contra os debates de Paulo F.Amaral

O partido Nova Direita fez entrar hoje uma queixa contra a SIC, a TVI e a RTP por estarem a bloquear o acesso à televisão dos partidos mais pequenos.

Esta queixa realizada na ERC pretende que os três diretores dos três canais televisivos e que não foram eleitos por ninguém e, em alguns casos, exercem o seu cargo há décadas, tomem consciência que a democracia não é uma coutada exclusiva deles próprios e dos seus canais.

A reclamação feita pela “Nova Direita” poderia até ser mais gravosa, se tivesse sido feita em “modo” de providência cautelar, o que provavelmente pararia a realização dos debates, no entanto, a bem da democracia, o mais recente partido português, tomou uma atitude madura e sábia, de não boicotar os partidos do “sistema” exigindo simultaneamente para si e para os outros partidos excluidoss dos 29 debates e excluídos ao longo dos 5 meses de campanha, se tivermos em conta que se sabe que haverá eleições desde Outubro de 2023.

O partido “Nova Direita” aponta, e a meu ver, muito bem, responsabilidades maiores à RTP que entrou nesta “jogada” tendo responsabilidades públicas e estando obrigada a tratar todos os partidos por igual, uma vez que é paga com impostos de todos os eleitores, incluindo os eleitores que votam nos partidos sem representação parlamentar.

A ERC, entidade que irá analisar esta queixa mas que também ela por vezes sofre de falta de independência, veremos se realmente é uma entidade com poderes ou se continua, como tem demonstrado em alguns casos, a ser uma “entidade fraca com os fortes e forte com os fracos.

Paulo Freitas do Amaral