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Artigos de Opinião

Artigo de Augusto Falcão – Linhas da atualidade

 

No dia em que, não sei ainda bem porquê, fui convidado para escrever uma palavras neste jornal, foi por causa da minha missão humanitária em Timor-Leste nos idos anos de 1999.

Também na altura em que continuei a escrever aqui, prometi que nunca iria escrever sobre política, ou sobre temas políticos.

Fazendo um pequeno retrocesso histórico, após o referendo à independência de Timor-Leste, onde o sim ganhou, a então província Indonésia, mergulhou numa tempestade de morte e sangue espelhada pelas tristemente faladas milícias pró-indonésias.

O governo português, decidiu então enviar uma missão humanitária constituída por médicos, enfermeiros, pessoal da Cruz Vermelha, do já extinto SNPC, e dos Bombeiros onde eu me integrei.

No dia 30 de agosto de 1999, votaram nesse referendo quase 440 000 timorenses; o SIM ganhou com 78% dos votos válidos; houve uma afluência às urnas de 98% dos eleitores registados em todo o País.  (dados do jornal The Guardian)

Após 33 anos de anexação por parte da Indonésia, o povo maubere votou para ser livre; e expressou-se de forma categórica. Nessa missão aprendi o quanto custa a luta pela liberdade, contra a opressão e a tirania de um povo sobre outro.

O nosso pequeno Portugal, a 25 de abril de 1974, iniciou um golpe militar que restituiu a liberdade e a democracia ao povo português derrubando o Estado Novo e o chamado Salazarismo; no ano seguinte a 25 de abril de 1976, os portugueses foram chamados a votar em liberdade, após décadas de ditadura, para a Assembleia da República. Para vosso espanto, ou não, foram a votos 14 forças políticas. O PS saiu vencedor das eleições, com 34,88% dos votos, elegendo 107 deputados. O PPD ficou em segundo, com 24,35% dos votos (73 deputados), seguido do CDS com 15,97% (42 deputados), o qual passou a ser a terceira força parlamentar, ultrapassando o PCP, que ainda assim subiu (14,39%, 40 deputados) (fontes site do Parlamento português).

Mas antes deste momento, não nos podemos nunca esquecer, que anos antes, em Peniche, Caxias, Tarrafal, ou no número 22 da Rua António Maria Cardoso (sede da PIDE- DGS) muitos portugueses e portuguesas pagaram o preço pela sua luta contra a ditadura. Não devemos esquecer o Sr. General Humberto Delgado, que morreu assassinado pela PIDE a 13 de fevereiro de 1968, após tentar derrubar via eleições Salazar e o então Presidente da República Américo Tomás.

Não podemos esquecer mais nomes da História Mundial, que tombaram por ideais de liberdade, contra a tirania e a opressão; Lincoln, Ghandi, Mandela, Martin Luther King Jr., Eleonor Roseveelt, Emmeline Pankhurst; as palavras destes homens e mulheres que lutaram pela liberdade, por direitos iguais, contra a opressão, não devem ser esquecidos nunca; devem ser gravados nas brumas da história, nos livros e nos ensinamentos que nós damos a próxima geração que a luta pela nossa liberdade, direitos iguais, e contra qualquer forma de opressão deve ser sempre protegida porque a liberdade, essa liberdade foi paga em sangue, suor e lágrimas ao longo da história da humanidade.

Se Leónidas não tivesse defendido com a vida, a Grécia e a cidade estado de Atenas contra a tirania do império Persa, o que teria sido da jovem democracia grega, que inspirou as democracias ocidentais?

Se Washington não tivesse ganho a guerra da independência americana, ou a revolução francesa falhasse, ou se Lincoln tivesse perdido a guerra civil americana, ou Churchill tivesse sido vencido por Hitler, como seria o nosso mundo hoje?

A nossa liberdade, esse bem jurídico, que devemos a muitos e muitas ao longo da história, é o maior legado que podemos deixar aos nossos filhos e gerações vindouras.

Em democracia a liberdade exerce-se de muitas formas, mas há uma particularmente suprema; a do voto. Muitos morreram e sofreram nas mãos da PIDE para que no próximo dia 10 de março nós possamos, mais uma vez, em consciência votarmos.

Não vou aqui fazer propaganda a nenhuma ideologia, partido, ou manifesto porque tal como Evelyn Beatrice Hall escreveu na biografia de Voltaire, que “posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até à morte o direito de o dizeres”.

No dia 10 de março, vamos honrar a memória de todos e todas quantos no passado gravaram esta frase na sua vida, mesmo sem saberem que ela foi dita, e vamos perder uns minutos, da nossa vida, mas vamos votar, em consciência, naquele ou naquela, que nós achamos que é o melhor para o nosso coletivo desígnio nacional.

 

Augusto Falcão

Artigo de Sara Morais- A Mudança do tempo e a saúde mental

Num período em que a chuva não dá tréguas, as calçadas da cidade vestem os seus tons Outonais, das folhas das árvores que vão caindo, em contraste com os dias cinzentos, estes impregnados pelo aroma convidativo das lareiras que vão declarando o regresso dos dias mais frios.

Esta mudança sazonal representa a expressão da renovação da natureza na qual o Ser Humano é convidado a exercer a sua capacidade de adaptabilidade ao meio. O Outono é, por designação, a estação do ano associada à transformação da vida, em que os elementos naturais passam por um ciclo de transformação; exatamente como as folhas caducas que sopradas pelo vento desapegam-se dos ramos para permitir o fim daquilo que já não serve. Assim, acontece com a mente humana que inicia, também, neste período um processo de reflexão, melancólico e de desapego sobre a finitude e a renovação da própria existência.

Uma das alterações que ocorre no Outono e Inverno é a redução de horas de luz que contribui para a alternância das emoções na psique humana. A diminuição da luminosidade interfere com o ciclo circadiano que é responsável, ininterruptamente, pelos vários processos biológicos do corpo, como o metabolismo, o ciclo do sono e de vigília. O cérebro recebe diferentes estímulos de luminosidade que são captados pela retina do olho e transmitidos ao Hipotálamo que ao receber esta informação estabelece os padrões de vigília e sono. Estes sinais são, posteriormente, transmitidos à Hipófise que vai produzir melatonina preparando o corpo para dormir diminuindo, assim: a temperatura corporal, a frequência cardíaca, o metabolismo, a atividade urinária, entre muitos outros processos quando existe um decréscimo de claridade. Durante o dia, esta produção é inibida e as glândulas suprarrenais aumentam a sua atividade produzindo cortisol, permitindo que o corpo aumente o estado de vigília durante o dia.

No entanto, a excessiva produção desta hormona provoca distúrbios de ansiedade, alterações de humor, perturbações do sono o que vai incitar, consecutivamente, a irritabilidade. Aliado a este descontrolo, a diminuição da luminosidade produz uma quebra dos níveis de serotonina – hormona da felicidade – que comumente com a incidência de uma produção mais prolongada da melatonina, aumentam a fadiga, o que caracteriza em termos gerais a Depressão Sazonal. Esta patologia, normalmente, principia no Outono, prolongando-se pelo Inverno e desaparece com o desabrochar da Primavera.

É neste período que a Hipnose Clínica poderá servir como ferramenta preventiva na sustentação de uma saúde mental equilibrada.  A terapia assente num estado fisiológico natural, não só permite um estado de relaxamento mental e físico, o que produz por si só o aumento da hormona da felicidade, como promove o seu desenvolvimento sensorial, intelectual permitindo, também, melhorar a capacidade de memória e atenção concentrada.  Esta captação natural de serotonina, vai automaticamente produzir efeitos na alteração do humor e por conseguinte na própria construção do pensamento.

Em jeito de conclusão, o leitor terá a oportunidade de trabalhar as várias experiências e sentimentos armazenados no seu subconsciente, o que irá permitir expandir a sua capacidade mental para interagir com uma maior adaptabilidade do “eu” à mudança: “Não existem dias cinzentos para aqueles que sonham colorido” (autor desconhecido).

No próximo artigo boletim de saúde poderá saber mais sobre a pior prisão é a da mente.

 Sara Morais

Hipnoterapeuta

 

Artigo de Luís Miguel Condeço—Sem Crises

 

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Muitos foliões portugueses e não só, festejam o secular “carnis vale” (ou Carnaval), esta festa de origem pagã tornou-se importante para os cristãos enquanto ponto de partida para o período quaresmal.

As celebrações carnavalescas coincidem este ano com o dia de São Valentim, ícone comercial dos apaixonados, românticos e namorados, que muito contribuem para o desenvolvimento das atividades comerciais nacionais.

Curiosa é a forma como Valentim aparece nos nossos dias, revestido de um peso histórico considerável e que até o campo clínico não pode descurar. Apesar da controversa em torno do padre Valentim (também com referência em alguns textos a bispo), acredita-se que terá sido perseguido e mais tarde executado pelo imperador Claudius Gothicus (Cláudio II) no século III, pela sua ação enquanto disseminador do cristianismo, mas também, enquanto “casamenteiro” dos soldados solteiros das legiões romanas, motivando o abandono e a menor ousadia nos campos de batalha.

São Valentim (já que nunca desapareceu do Martirológio Romano), emerge pela “mão” de Hartmann Schedel na sua obra mais importante do século XV (1493) e uma das mais emblemáticas da Idade Média – o Liber Chronicarum ou Crónicas de Nuremberga. O relato de um Santo que consegue curar homens e mulheres “doentes da cabeça” ou do corpo, está presente quer nas Crónicas como em pinturas e gravuras da época, onde é visível a presença de sinais clínicos, que hoje genericamente relacionamos com a epilepsia.

Já no papiro de Ebers (1500 anos a.C.) a epilepsia é relatada e até um tratamento (!) é sugerido, contudo é Hipócrates que defende a origem cerebral da doença contrariando a “comunidade científica” grega da época, que julgava tratar-se de uma possessão espiritual.

Hoje sabemos que a epilepsia é uma doença do sistema nervoso central que provoca crises epilépticas (alterações no processo de comunicação entre as células cerebrais – neurónios), ou descargas elétricas anormais manifestando-se de forma mais comum em convulsão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica outras manifestações desta atividade elétrica cerebral anormal além das convulsões (manifestações motoras), como o comportamento e sensações anormais (sintomas sensitivos, alucinações visuais, sintomas psíquicos ou alterações da linguagem), e por vezes, perda de consciência. Afeta pessoas de todas as idades, e em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Neurologia estima que 1 em cada 200 portugueses têm epilepsia.

Desde 2015, na segunda 2ª-feira do mês de fevereiro, a International Bureau for Epilepsy (Agência Internacional para a Epilepsia) e a International League Against Epilepsy (Liga Internacional contra a Epilepsia), promovem a iniciativa do Dia Internacional da Epilepsia, que este ano se evoca no dia 12.

A OMS considera esta iniciativa fundamental para a implementação do seu Plano Global de Ação Intersectorial até 2031, que tem como principal objetivo fortalecer a abordagem à epilepsia pela saúde pública e duas metas globais que visam colmatar as principais lacunas no tratamento e a inclusão de pessoas portadoras da doença em todo o mundo. A baixa literacia em saúde e os mal-entendidos ou mitos sobre a epilepsia, são os principais obstáculos no alcance destas metas.

A falta de conhecimento traduz-se em estigma social e exclusão e leva à discriminação de pessoas com epilepsia no trabalho, na escola ou na comunidade. Assim, é importante clarificar que:

– Nem todas as pessoas com epilepsia têm convulsões;

– Nem todas as pessoas com convulsões têm epilepsia;

– Durante uma crise convulsiva não se deve introduzir qualquer objeto na boca, a atuação correta passa pela lateralização da pessoa e não restrição de movimentos;

– As pessoas com epilepsia não têm à partida limitações cognitivas ou físicas;

– A epilepsia pode surgir em qualquer idade;

– Os estímulos luminosos não provocam crises em todas as pessoas com epilepsia;

– As mulheres com epilepsia podem engravidar;

– Filhos de pais com epilepsia têm um risco baixo de ter a doença;

– Em regra geral as pessoas com epilepsia podem praticar desporto.

 

O adequado conhecimento sobre esta doença possibilita um rápido e fácil acesso ao tratamento, e apoio às pessoas com epilepsia e aos que delas cuidam.

Paulo Freitas do Amaral- Artigo de opinião-Chegou o “chegalismo”

Chegou o “chegalismo”

Temos assistido a uma deriva do partido CHEGA para prometer tudo a todos nestes últimos meses…A esta forma de estar tenho vontade de apelidar de “chegalismo”.

No entanto, convém reparar que os partidos políticos que foram escolhidos pelos três diretores de informação das televisões, controlando desta forma a democracia que é de todos os partidos, foram para os debates sem apresentar os programas políticos. Isto revela uma novidade que os comentadores se esqueceram de referir, revela também uma incompetência dos partidos e revela também uma estratégia dos três maiores partidos de prometer “tudo e um par de botas”…

Se já sabíamos de ante mão que o PS e PSD iriam sobrepor-se em inúmeras medidas, temos agora o CHEGA a equiparar-se a um “socialismo”, o “chegalismo”, por ter como objetivo único; prometer tudo a todos, representando desta forma uma desenfreada caça aos votos…

Agradar a certos grupos da população portuguesa como os pensionistas, os professores, etc…torna-se para André Ventura prioritário, prometendo tudo o que tem à mão, como se Portugal vivesse de fundos inesgotáveis ou ficasse à mercê de uma estimativa incerta de um valor que será fruto do combate à evasão fiscal…

O “chegalismo” na prática está muito parecido ao socialismo, com promessas demagogas e impraticáveis.

O novo partido “Nova direita” nesta conjuntura, apresenta-se como um partido responsável que pode “chamar à razão” a megalomania de promessas eleitorais em que caíram os partidos de direita onde as sondagens dizem que os portugueses vão votar.

A responsabilidade de governação e a inexistência de quadros neste “chegalismo” a que assistimos, é de certa forma assustador quanto ao futuro.

Ossanda Liber, líder da “Nova Direita” neste aspeto, a meu ver, tem sabido estar presente nas reivindicações do partido que lidera, aliando a isso, o recrutamento de novos valores da sociedade portuguesa em diferentes áreas profissionais.

O novo “chegalismo” que poderá ser ruinoso para o país, tal como o “socialismo” o foi no passado e será no futuro.

O mais recente partido português “Nova Direita”, nesta conjuntura, foi o primeiro partido a apresentar o seu programa no seu site e tem demonstrado uma coerência programática e uma eficácia comunicativa acima das expetativas…não fosse o condicionamento da democracia por parte das televisões e tudo seria mais democrático em Portugal.

Paulo Freitas do Amaral

Artigo opinião- A queixa da “Nova Direita” contra os debates de Paulo F.Amaral

O partido Nova Direita fez entrar hoje uma queixa contra a SIC, a TVI e a RTP por estarem a bloquear o acesso à televisão dos partidos mais pequenos.

Esta queixa realizada na ERC pretende que os três diretores dos três canais televisivos e que não foram eleitos por ninguém e, em alguns casos, exercem o seu cargo há décadas, tomem consciência que a democracia não é uma coutada exclusiva deles próprios e dos seus canais.

A reclamação feita pela “Nova Direita” poderia até ser mais gravosa, se tivesse sido feita em “modo” de providência cautelar, o que provavelmente pararia a realização dos debates, no entanto, a bem da democracia, o mais recente partido português, tomou uma atitude madura e sábia, de não boicotar os partidos do “sistema” exigindo simultaneamente para si e para os outros partidos excluidoss dos 29 debates e excluídos ao longo dos 5 meses de campanha, se tivermos em conta que se sabe que haverá eleições desde Outubro de 2023.

O partido “Nova Direita” aponta, e a meu ver, muito bem, responsabilidades maiores à RTP que entrou nesta “jogada” tendo responsabilidades públicas e estando obrigada a tratar todos os partidos por igual, uma vez que é paga com impostos de todos os eleitores, incluindo os eleitores que votam nos partidos sem representação parlamentar.

A ERC, entidade que irá analisar esta queixa mas que também ela por vezes sofre de falta de independência, veremos se realmente é uma entidade com poderes ou se continua, como tem demonstrado em alguns casos, a ser uma “entidade fraca com os fortes e forte com os fracos.

Paulo Freitas do Amaral

Artigo de opinião – Paulo Freitas do Amaral – debates televisivos

Os 29 debates com os partidos do sistema e os que ficam de fora…

Ficámos a saber esta semana, a decisão antidemocrática das televisões, em atribuir 29 duelos entre os poucos partidos com representação parlamentar na anterior legislatura, e a atribuição somente de 1 único debate a todos os outros partidos sem representação parlamentar na anterior legislatura.

Esta distribuição além de ser injusta, é ilegal, por ter sido decidida com base numa representação parlamentar de partidos que na altura já não se verificava, devido à Assembleia da República ter sido dissolvida no dia 15 de janeiro de 2024.

Uma vez com a Assembleia da República dissolvida, esta decisão de distribuição de debates não se poderia ter feito com base na diferenciação entre partidos com representação parlamentar ou sem representação parlamentar. Esta decisão televisiva carece de qualquer valor jurídico, sendo a reclamação recente, feita pelo partido “Nova Direita”, totalmente legitima.

Além do mais, é incompreensível que num período eleitoral tão longo como este que o Presidente da República concedeu, em que os partidos do sistema já sabem desde dia 7 de outubro de 2023 que irá haver eleições, e em que irão totalizar quase 5 meses de campanha eleitoral, se dê mais 29 debates aos mesmos de sempre e apenas 1 debate aos outros partidos.

Podia-vos falar aqui também de todo o tempo que o CDS dispôs antes de assinar a coligação, sem qualquer representação parlamentar para nas televisões em período “prime time” expor as vantagens eleitorais de ir coligado com o PSD, ou os convites que este partido teve para telejornais ou programas de comentário político dos seus protagonistas, mas não irei entrar por aí… nem referirei o facto de existirem televisões como a TVI que nem sequer noticiaram a criação de um novo partido no sistema eleitoral português como foi o caso do partido “Nova Direita” em plena campanha eleitoral…Imagine-se se isto seria possível há 50 anos atrás…

Os editores políticos e diretores televisivos, amigos de longa data dos partidos do sistema, atuam de forma parcial, prejudicando a nossa democracia e com a máxima arrogância, acham-se acima de um sistema, como se a velha máxima do “quarto poder” não existisse…

As televisões e os seus decisores, não estão acima dos cidadãos e da democracia…Ainda chegará o dia em que veremos o que está por trás da cortina da velha caixa colorida e auguro que não seja nada de bom, afinal quem ri por último, por vezes, até ri melhor…

Paulo Freitas do Amaral

Artigo Literário de António Vilela—O Poeta é um fingidor

Um dia, uma jornalista entrevistou-me para saber a minha opinião sobre a Mentira dos Poetas. Quando ela me declarou ao que vinha, eu quis saber qual o verdadeiro sentido da pergunta. É que os Poetas mentem – disse-me de imediato… Mentem e temos poetas que reconhecem isso. Fernando Pessoa, por exemplo. Ao ouvir esta pergunta incisiva mobilizei-me todo e corri atrás de uma resposta.

Procurei organizar as minhas ideias em cima dessa temática e ainda hoje me lembro de como me embaracei. Agora, que já meditei muito sobre o assunto, essa pergunta não me atrapalha. Ao contrário, acho que a pergunta que continua a ser feita, deve ser respondida com objetividade. E então, dirá alguém, os Poetas mentem ou não? Eles fingem? O que é fingir em poesia? Que sentido tem essa expressão? E qual é o âmbito da ficção poética? O que entendemos por ficção poética, por mentira dos Poetas?

Vamos tentar dar uma pequena resposta:

Um dos principais responsáveis por esta questão é Fernando Pessoa no poema “Autopsicografia”, texto famoso, publicado na revista “Presença”, em 1932, e hoje integrado no texto global das obras poéticas do autor da “Mensagem”.

Esse poema é formado por três quadras. Mas é a primeira delas que enuncia o escandaloso conceito e que formula a tese que circula por aí de que os poetas mentem:

“O Poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.”

A segunda quadra agrava ainda mais o nível de ficção da poesia. Trata de supor que o poeta finge que é dor a dor real e que, sobre as duas dores, o homem pode ainda construir uma dor inteiramente fictícia… Na terceira quadra, há uma dimensão diferente deste fingimento. A relação do coração com a razão.

Quando o poeta escreve, portanto, ele está a criar uma realidade escrita, diferente da realidade cousal e física do mundo dos objetos. Uma realidade construída em cima de signos e de símbolos, diferente da realidade das coisas onde as horas rolam.

Há, por isso, um nível de ficção na poesia. Um faz de conta, para sermos mais claros. A realidade posta é “como se” fosse…e não que seja realmente…

Agora, pensemos.

Se há um nível de ficção na palavra poética, é fácil entender que, de alguma maneira, o poeta finge. Fingir é agir a nível de ficção. No faz-de-conta, os suspiros são “como se” fossem suspiros, as saudades são como se fossem saudades, os beijos são “como se” fossem beijos, e o amor é “como se fosse” amor…

Ou seja, sentimentos que partem da verdade real da pessoa, confissões, desejos, lembranças…

Os leitores aproximam-se dos textos por várias razões. Em primeiro lugar, pelo gosto de ler poesia, ou para estudo da linguagem, pelo interesse temático, por razões de estudo. Eles querem ler como se estivessem a ler a alma humana, como se estivessem abrindo o cofre do tesouro… O leitor não quer saber de “ficção” nem do jogo real da palavra. Ele quer sentir o jogo da expressão dentro de uma realidade que ele coisifica, que aproxima de si próprio, dos valores sociais e dos ideais que tem da vida.

António Vilela

Artigo de Luís Miguel Condeço—ULS (Utilidade, Ligação e Saúde)

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

As últimas semanas em Portugal têm-se revestido de especial agitação nos serviços que integram o SNS (Serviço Nacional de Saúde), quer para quem nele trabalha, como para a generalidade da população, novos e menos novos que têm necessitado de recorrer aos serviços por eles prestados.

De facto, os dedos das duas mãos não chegam para contar os inúmeros serviços de urgência encerrados por esse país fora, e a “nossa” região não passa incólume a essa problemática. O que me leva muitas vezes a pensar se a culpa será só dos vírus que se apelidam de sazonais, apesar de esquecermos os fraternos e próximos convívios típicos da época que ajudam a disseminar a gripe A e B, o VSR (vírus sincicial respiratório, grande responsável pela maior parte das bronquiolites nos mais pequenos), o Rinovírus, e até o Coronavírus da Covid 19, transportando para um passado longínquo os tempos da etiqueta respiratória, da distância social e do álcool gel. Não sei se têm reparado, mas os recipientes ou desapareceram de tudo quanto é lugar público, ou pura e simplesmente estão secos, sem pinga de álcool ou de gel!

Contudo o meu propósito pretende ir mais além da sazonalidade da doença respiratória que “entope” todos os serviços de urgência, centros de saúde ou serviços de saúde privados. É importante, refletir sobre a nova organização das instituições de saúde do SNS – Unidades Locais de Saúde (ULS).

No dia 1 de janeiro (do ano que agora se inicia, 2024), e por disposição do legislado em Decreto-Lei no dia 7 de novembro de 2023, Portugal reorganizará as suas instituições públicas prestadoras de cuidados de saúde em 39 ULS, 31 novas e 8 já existentes previamente (a primeira foi criada em 9 de junho de 1999 em Matosinhos, e em setembro de 2008 a ULS da Guarda).

Por definição, uma ULS integra em si mesmo a prestação de cuidados de saúde disponibilizados pelos centros de saúde e hospitais, com o principal objetivo de prestar cuidados de saúde eficientes, próximos e potenciadores dos recursos existentes em cada comunidade. No fundo, o que toda a freguesia, município ou região deseja para a sua população.

Mas quando analisamos o modelo organizacional destas novas entidades, percebemos a sua preocupação em identificar os problemas de saúde de uma determinada população, em potenciar a integração dos cuidados através de registos eletrónicos, em atribuir incentivos aos profissionais de saúde ou às estruturas criadoras de valor, e em desenvolver modelos que promovam os cuidados centrados na resposta às pessoas.

Será este o ponto de partida para acabar de vez com os constrangimentos vivenciados nos últimos meses e anos, no acesso e na organização dos serviços de saúde?

As ULS foram criadas há mais de vinte anos, a da Guarda há mais de quinze e nem por isso as dificuldades relacionadas com a escassez de recursos se resolveu, basta estar atento a qualquer um dos noticiários que podemos ver e ouvir na comunicação social portuguesa.

Recordo as palavras de um ex-bastonário de uma ordem profissional da saúde, há algumas semanas atrás quando questionado sobre esta “nova reforma da saúde” e segundo o qual identificou os seus “7 pecados mortais”: pouca comunicação com os interessados (população e profissionais de saúde); decisão nacional sem avaliação prévia; regras da gestão já utilizadas anteriormente; o número das ULS é mais complexo que o atual modelo; uma única direção para vários departamentos dos serviços de saúde; os incentivos e remunerações sem vislumbre de alterações; a antiguidade deste modelo não lhe confere o rótulo de reforma!

Apesar do enorme esforço governamental empreendido numa reforma transformadora do SNS, com a criação ou transformação dos Centros Hospitalares em ULS, a sua utilidade é muito discutível, assim como a interligação entre hospitais e centros de saúde, já não ser uma novidade.

Terá a “nossa” população mais serviços e melhor saúde em 2024?

Esperemos que sim.

Artigo de Vítor Santos—Ausência de valores no desporto de formação

Em todo o processo formativo dos jovens jogadores, para além dos conteúdos, conhecimento ou comportamento, é fundamental a relação que se estabelece entre o atleta e o treinador. Na verdade, o treinador necessita de fomentar essa relação e o jovem jogador necessita de acreditar na mensagem do seu treinador.

Todos gostamos de ganhar. Como poderia deixar de ser? Mas as crianças e os jovens gostam de aprender. Aprender a fazer as coisas bem, para serem melhores quando forem grandes. O processo é de complexidade crescente. Não podemos querer que aos 9 anos se proceda como aos 17.

Sabemos que não é fácil dar as mesmas oportunidades a todos. Os dirigentes são exigentes. Esperam vitórias, para ontem, dos treinadores, o que é difícil de conciliar com o desejo de cada um dos atletas, que é entrar e jogar.

É injusto e desigual um desporto que só se afirma na glória de uns (os vencedores) e na desvalorização de outros (os vencidos). Quando os motivos principais que levam os mais jovens a fazerem desporto deveriam ser bem outros: aprender, saber fazer, desenvolver capacidades, saber ser e saber estar. Preparando o amanhã.

Em vez de se encorajar para a vitória, esta é tomada como a condição de tudo o mais. Como o objetivo absoluto. Criam-se as circunstâncias para que seja atingida à custa de outros valores e motivos de participação, que não são estimulados: o esforço, o empenhamento, a alegria e o prazer. Despreza-se a importância de fazer coisas bem feitas, de aprender coisas novas (as habilidades, as técnicas, as formas de entender o jogo e de o jogar), de fazer outros amigos e de ter novos companheiros.

Muitos sentem-se fora deste processo, excluídos. Por uma lógica de desporto que só valoriza a vitória, que faz da competição o centro de tudo, o foco de todo o trabalho, da preparação e que cria conflitos. Gostar de competir, gostar de ganhar tem o seu lugar, mas o desporto não se limita a esta ideia, estes princípios, estes valores. Ou melhor, à ausência deles.

Deixem as crianças e os adolescentes aprenderem a ser adultos, devagar. Deem-lhes espaço, autonomia, tempo e todas as condições que lhes permitam ser, estar, descobrir e experimentar. Jogando. Sem pressas de serem grandes num mundo tornado hostil. Jovens que já não têm tempo. Não repliquem os modelos dos adultos nos treinos e competições de iniciação e formação.

Dizem que os bons treinadores são os que chegam às vitórias. Não aqueles que se empenham em criar uma escola, uma vivência mais humana do desporto, em que os jogadores, mais que o objeto, são o centro da atividade. Esta deve ser a primeira e a última razão de ser do desporto. E por esse facto, os treinadores são os garantes de um desporto novo. Um novo desporto, no futuro, renovado, mais à nossa dimensão, mais humano. Um novo desporto justificado não apenas pela transmissão de uma cultura, o seu desenvolvimento, a busca de resultados e o progresso, mas também, e sobretudo, por valores pedagógicos e morais. Os mesmos valores que estiveram no ato da criação do desporto que temos. Agora menos visíveis, a exigir reflexão…

Porque são os “treinadores do ano” escolhidos entre os mais bem sucedidos, os que obtêm resultados? E não entre aqueles que constituem modelos de referência, de responsabilidade pedagógica e moral?

Porque é que o sucesso como treinador de jovens (os critérios que determinam a avaliação de competência) depende mais dos resultados obtidos no presente e menos do número de desportistas que ajudam a formar e que atingem os estágios mais avançados da preparação desportiva, no desporto de alto nível?

As crianças e os jovens, em vez de serem encorajados a fazerem o seu melhor e serem compensados por o terem feito, são excluídos por não terem capacidades para o imediato. São excluídos de participarem naquilo que mais gostam. E acabam por abdicar do que os faz estar no desporto, numa equipa. Como poder só treinar, sem jogar? Como poder jogar só para o resultado? Qual o interesse, o sentido, de um desporto como este (se é que de desporto se trata)?

A vitória é o importante, e só têm reconhecimento os que dela participam. Está tudo errado quando assim é. Se a isto juntarmos a interferência dos pais durante os treinos e jogos (que é por norma bem mais negativa que produtiva), é assim o tipo de competição que temos nestes escalões e que  está a matá-los.

Não admira que os comportamentos destas crianças e destes jovens sejam desviantes e agressivos.

Não compliquem, deixem as crianças fazer aquilo de que eles gostam. Deixem-nas jogar!

 

Vítor Santos

Embaixador do PNED

Artigo de Sara Morais— Depressão, Personalidade Depressiva e a Hipnose Clínica

Depressão é comummente conhecida como uma perda de energia e vitalidade, tanto a um nível físico como psicológico, que condiciona o quotidiano do leitor no âmbito da concretização das várias tarefas, sendo estas percecionadas como depauperantes.

Em contraste, a personalidade depressiva é caracterizada não por uma perda, mas por um défice de investimento no próprio “eu”, que vive paredes meias com a baixa-autoestima.  Neste caso em concreto, o leitor é dominado por um sentimento permanente de frustração fruto da não concretização dos seus desejos e ambições mais profundas.

Em contraposição, o cérebro humano tem a capacidade de transformar o mundo real, de injetar a felicidade, de inventar o prazer e de potenciar a sensação de realização através dos vários neurotransmissores: dopamina, serotonina, endorfinas e adrenalina. Por exemplo, quando o leitor come um determinado alimento calórico, automaticamente, sente prazer, ou simplesmente quando faz exercício físico sente uma maior sensação de energia e vitalidade. Assim, também, acontece quando o leitor conquista uma determinada ação, comportamento ou objetivo, que em resultado acaba por sentir maior confiança e sensação de auto concretização.

Contudo, na depressão este sistema de recompensa e de construção do mundo real fica desregulado, a vida fica empobrecida e tudo o que acontece ao seu redor é percecionado como eventos ilógicos e sem relevância. O leitor experiência, então, a lentificação das capacidades cognitivas e físicas, o que cumulativamente, instala o desinteresse pela procura do prazer e da felicidade.

Na personalidade depressiva, o sistema de recompensa não existe porque não há uma perda, propriamente, dita. Há, contudo, uma construção de crenças limitantes, alimentadas pelas várias deceções sofridas no passado, que alicerça a falta do desejo. Na verdade, é como se existisse um reconhecimento “inato” da impossibilidade da concretização do sonho / objetivo. Esta delimitação autoimposta marca uma constante insatisfação e, por consequência, a sua resposta comportamental e emocional.

É neste enquadramento que surge a Hipnose Clínica enquanto ferramenta terapêutica não convencional, mas complementar e natural. O estado de Hipnose, por si só, caracteriza-se por um estado neurofisiológico natural que altera a perceção cognitiva, do exterior para o interior, permitindo a libertação natural dos neurotransmissores que restabelecem o equilíbrio neuro-químico. Neste alinhamento, o leitor começa a sentir mais energia e o pensamento fica menos disperso. Numa fase posterior, o leitor vai desenvolver uma maior consciência sobre o seu “eu” interior e sobre as suas emoções, compreendendo um reajuste nos vários comportamentos e hábitos no role play no seu quotidiano, devolvendo assim o bem-estar e a qualidade de vida ao leitor.

No próximo boletim de saúde poderá saber mais sobre como a mudança do tempo influencia os nossos comportamentos e estados emocionais e a respetiva intervenção da Hipnose Clínica.

Sara Morais

Hipnoterapeuta