No dia em que, não sei ainda bem porquê, fui convidado para escrever uma palavras neste jornal, foi por causa da minha missão humanitária em Timor-Leste nos idos anos de 1999.
Também na altura em que continuei a escrever aqui, prometi que nunca iria escrever sobre política, ou sobre temas políticos.
Fazendo um pequeno retrocesso histórico, após o referendo à independência de Timor-Leste, onde o sim ganhou, a então província Indonésia, mergulhou numa tempestade de morte e sangue espelhada pelas tristemente faladas milícias pró-indonésias.
O governo português, decidiu então enviar uma missão humanitária constituída por médicos, enfermeiros, pessoal da Cruz Vermelha, do já extinto SNPC, e dos Bombeiros onde eu me integrei.
No dia 30 de agosto de 1999, votaram nesse referendo quase 440 000 timorenses; o SIM ganhou com 78% dos votos válidos; houve uma afluência às urnas de 98% dos eleitores registados em todo o País. (dados do jornal The Guardian)
Após 33 anos de anexação por parte da Indonésia, o povo maubere votou para ser livre; e expressou-se de forma categórica. Nessa missão aprendi o quanto custa a luta pela liberdade, contra a opressão e a tirania de um povo sobre outro.
O nosso pequeno Portugal, a 25 de abril de 1974, iniciou um golpe militar que restituiu a liberdade e a democracia ao povo português derrubando o Estado Novo e o chamado Salazarismo; no ano seguinte a 25 de abril de 1976, os portugueses foram chamados a votar em liberdade, após décadas de ditadura, para a Assembleia da República. Para vosso espanto, ou não, foram a votos 14 forças políticas. O PS saiu vencedor das eleições, com 34,88% dos votos, elegendo 107 deputados. O PPD ficou em segundo, com 24,35% dos votos (73 deputados), seguido do CDS com 15,97% (42 deputados), o qual passou a ser a terceira força parlamentar, ultrapassando o PCP, que ainda assim subiu (14,39%, 40 deputados) (fontes site do Parlamento português).
Mas antes deste momento, não nos podemos nunca esquecer, que anos antes, em Peniche, Caxias, Tarrafal, ou no número 22 da Rua António Maria Cardoso (sede da PIDE- DGS) muitos portugueses e portuguesas pagaram o preço pela sua luta contra a ditadura. Não devemos esquecer o Sr. General Humberto Delgado, que morreu assassinado pela PIDE a 13 de fevereiro de 1968, após tentar derrubar via eleições Salazar e o então Presidente da República Américo Tomás.
Não podemos esquecer mais nomes da História Mundial, que tombaram por ideais de liberdade, contra a tirania e a opressão; Lincoln, Ghandi, Mandela, Martin Luther King Jr., Eleonor Roseveelt, Emmeline Pankhurst; as palavras destes homens e mulheres que lutaram pela liberdade, por direitos iguais, contra a opressão, não devem ser esquecidos nunca; devem ser gravados nas brumas da história, nos livros e nos ensinamentos que nós damos a próxima geração que a luta pela nossa liberdade, direitos iguais, e contra qualquer forma de opressão deve ser sempre protegida porque a liberdade, essa liberdade foi paga em sangue, suor e lágrimas ao longo da história da humanidade.
Se Leónidas não tivesse defendido com a vida, a Grécia e a cidade estado de Atenas contra a tirania do império Persa, o que teria sido da jovem democracia grega, que inspirou as democracias ocidentais?
Se Washington não tivesse ganho a guerra da independência americana, ou a revolução francesa falhasse, ou se Lincoln tivesse perdido a guerra civil americana, ou Churchill tivesse sido vencido por Hitler, como seria o nosso mundo hoje?
A nossa liberdade, esse bem jurídico, que devemos a muitos e muitas ao longo da história, é o maior legado que podemos deixar aos nossos filhos e gerações vindouras.
Em democracia a liberdade exerce-se de muitas formas, mas há uma particularmente suprema; a do voto. Muitos morreram e sofreram nas mãos da PIDE para que no próximo dia 10 de março nós possamos, mais uma vez, em consciência votarmos.
Não vou aqui fazer propaganda a nenhuma ideologia, partido, ou manifesto porque tal como Evelyn Beatrice Hall escreveu na biografia de Voltaire, que “posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até à morte o direito de o dizeres”.
No dia 10 de março, vamos honrar a memória de todos e todas quantos no passado gravaram esta frase na sua vida, mesmo sem saberem que ela foi dita, e vamos perder uns minutos, da nossa vida, mas vamos votar, em consciência, naquele ou naquela, que nós achamos que é o melhor para o nosso coletivo desígnio nacional.
Augusto Falcão