CHAMOU OS QUE ELE QUERIA
Jesus dirige-se, com os seus discípulos para a cidade de Jerusalém. E nesta viagem, ia ensinando claramente os discípulos (Mc 8,32). Se no Domingo passado, os discípulos ficaram incomodados e calados, depois de terem discutido sobre qual deles era o mais importante, agora, um dos Doze, João, toma a iniciativa e espera encontrar complacência em Jesus, quando denuncia a acção de alguém que se vale do Seu nome para expulsar demónios, apesar de não pertencer ao grupo. A semelhança é muito grande com a passagem do livro dos Números quando Josué, jovem como João, ousou dirigir-se a Moisés para lhe pedir algo parecido: “Moisés, meu senhor, proíbe-os” (1ª leitura). Quando defendemos a verdade sem caridade, caímos no descrédito. É inadmissível pensar que podemos controlar a acção do Espírito de Jesus a partir dos nossos cálculos e segundo as estratégias humanas. “O vento sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3,8). O discípulo João pensava que tinha autoridade para decidir quem podia fazer, ou não, parte do grupo dos seguidores de Jesus, ou, o que é pior, quem podia agir em nome de Jesus. Mas, o Mestre respondeu-lhe: “Quem não é contra nós é por nós”. O coração humilde e misericordioso de Jesus alarga o horizonte humano, deformado pelo egoísmo. Bem conhecemos qual foi o critério de escolha dos Doze. Não foi como uma selecção para uma empresa. Jesus nunca pediu o “curriculum vitae” aos que iriam fazer parte do grupo dos Apóstolos: “chamou os que Ele queria e foram ter com Ele” (Mc 3,13). É Ele quem escolhe os discípulos sem levar muito em conta as capacidades de cada um. Esta perspectiva é fundamental, se quisermos compreender os direitos e os deveres que se têm dentro da Igreja, num espírito de serviço e de entrega humilde. A intervenção de João diante de Jesus exagera no “nós”, acima do “tu” (referido a Jesus). Não tinha entendido, ainda, que pertencer à comunidade dos apóstolos não dá nenhuma exclusividade nem privilégio. Fora de Jesus, que é a Verdade, ninguém pode dizer que possui a verdade na sua plenitude. “Cristo, mediador único, estabelece e continuamente sustenta sobre a terra, como um todo visível, a Sua santa Igreja…Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica; depois da ressurreição, o nosso Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo. 21,17), confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo (cfr. Mt. 28,18 ss.), e erigindo-a para sempre em «coluna e fundamento da verdade» (1Tim. 3,5). Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste na Igreja Católica… embora, fora da sua comunidade, se encontrem muitos elementos de santificação e de verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica” (LG 8). A Igreja, pois, guarda a verdade, a ela confiada por Cristo, mas não a possui plenamente. Por isso, é importante dar valor a tudo o que existe de bom, de belo e verdadeiro para além das fronteiras estruturais da Igreja, porque a Bondade, a Beleza e a Verdade, têm uma origem comum em Deus. A missão dos apóstolos, escolhidos por Jesus para pregar o Evangelho e anunciar o Reino de Deus, supõe a abertura a uma realidade imensa onde Deus vai escrevendo a história da salvação. Nesta história, têm prioridade, aos olhos de Cristo, os mais pequenos, os simples, os pobres, os necessitados, para os quais tem de se dedicar tempo e energia. A grandeza da fé consiste, pois, não em sentirmo-nos superiores por uma espécie de privilégio recebido, como se os que não a tivessem fossem inferiores, mas em viver sem extinguir o Espírito Santo, examinando tudo à sua luz e valorizando tudo o que é bom. Aqueles que presidem à Igreja e, sobretudo, à celebração dos santos mistérios, dos quais somos somente dispensadores e não proprietários, têm de exercer o seu ministério com generosidade e celebrar com dignidade, evitando escândalos e protegendo os mais pequeninos, para que muitas pessoas possam acolher nos seus corações a graça e a misericórdia de Deus.
paroquiasagb
Leitura Espiritual
«Quem vos der a beber um copo de água por serdes de Cristo, não perderá a sua recompensa. Dá os bens deste mundo e receberás os bens eternos. Dá na Terra e receberás no Céu. Mas a quem os darás? Escuta o que te diz a Escritura: «Quem dá ao pobre empresta ao Senhor» (Pr 19,17)
Deus não precisa de ti, seguramente: mas outro precisará. O que deres a um, outro o receberá. Porque o pobre nada tem para te dar; bem quereria, mas nada encontra para dar; nele, há apenas essa vontade vigilante de rezar por ti. Mas, quando um pobre reza por ti, é como se dissesse a Deus: «Senhor, recebi um empréstimo, sê Tu a minha caução». Se o pobre com quem lidas está insolvente, tem um bom fiador, pois Deus diz-te: «Não tenhas receio de dar, Eu respondo por ele, Eu darei, sou Eu que recebo, é a Mim que dás». Acreditas que Deus te diz: «Sou Eu que recebo, é a Mim que dás»? Sim, seguramente, pois Cristo é Deus, e nisto não há dúvidas. De facto, Ele disse: «Tive fome e destes-Me de comer». E, quando Lhe perguntamos: «Senhor, quando foi que Te vimos com fome?», Ele mostra-nos que é de facto o fiador dos pobres, que responde por todos os seus membros, e diz-nos: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,35s). (Santo Agostinho, 354-430, bispo de Hipona, norte de África, doutor da Igreja, 3º Sermão sobre o Salmo 36).
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Unidade Pastoral das P. de Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã e Algodres.
Programação de Celebrações da Semana, 05 e 06 de outubro.