“O melhor amigo que possamos ter também é um livro”
Depois de lançar mais um livro, fomos conversar com o autor Carlos Pereira, de Pinhel, que agradecemos a grande colaboração que nos tem dado, com os seus poemas que mensalmente todos vão desfrutando. Assim fomos saber um pouco mais desta nova publicação.
Magazine Serrano – Já tem um novo livro disponível para todos poderem ler, como surgiu a inspiração?
Carlos Pereira – Creio que a inspiração é um mecanismo que se gera durante vários anos na adolescência! Tive o privilégio de ter nascido numa aldeia onde as horas eram “medidas” pelo sol, onde a nossa liberdade era um bem precioso e a vida em comunidade era sã e prenhe de valores morais que nos foram incutidos desde muito cedo. O chilreio da passarada, o coaxar das rãs na ribeira e os animais domésticos que nos rodeavam contribuíram para este espírito sagaz, para esta vontade exacerbada de redigir no papel a paisagem que os meus olhos admiravam. Tenho que mencionar aqui também a minha professora primária, assim como todos os outros professores que me acompanharam no ensino secundário. Com dez anos de idade li um livro que “vagueava” em casa de meu avô com sonetos de Florbela Espanca. Despertou em mim um vulcão de sentimentos que criou um laço inquebrável entre mim e a poesia. Outro facto que não posso esquecer foi a possibilidade de ter lido centenas de livros na década de setenta que nos eram facultados pelas bibliotecas itinerantes que chegavam a todas as aldeias do nosso distrito.
A nível do nome do livro deve ter um significado?
Sim! “Ecos Ensurdecidos” surge como um grito de revolta, uma vontade férrea de dar a conhecer as vivências das pessoas das nossas aldeias do interior profundo. Muitos desabafos que ficaram escondidos nas reentrâncias dos largos muros em granito das nossas casas térreas e mal abrigadas do frio, da chuva e do vento, e que eu trago à luz do dia para que todos vós, vos possais deliciar.
Em traços gerais deixe um pouco do que se pode encontrar neste livro?
Mais uma vez, vos deixo um pouco de mim. Um pouco de mim e muito dos nossos antepassados. Textos a que eu gosto de chamar “retalhos de vida” e que continuam a retratar a vida das gentes “d’antanho” onde continuo a enaltecer esta ruralidade contagiante do nosso Portugal profundo. Por outro lado, os poemas, estados de alma, desabafos e contrariedades, muitos, bastante pessoais que eu queria divulgar para vos aproximar mais de mim neste mundo conturbado onde impera o individualismo e se vão perdendo os valores morais que outrora nos foram incutidos.
Já editou outros livros, qual o que lhe deu mais trabalho?
Este é já o quarto livro, e só comecei a publicar em 2016. O que mais trabalho me deu foi talvez o primeiro “Retalhos da Tua… E da minha vida” com a chancela da Chiado Editora, agora Chiado Editorial. Talvez porque a experiência é a madre das coisas. Tive que pesquisar formatos, imaginar a capa, negociar com as editoras e dialogar sobre a melhor forma de expor as minhas experiências e contrariedades. Em boa hora me tornei parceiro desta Editora, pois nunca esquecerei a apresentação deste livro e o cineteatro de Pinhel a abarrotar de gente num domingo à tarde naquele dia quente de final de julho.
No futuro, podemos esperar outras publicações?
Não posso prometer nada! Apenas informo que já tenho outro livro quase “alinhavado”. Este bichinho que é a escrita, uma vez que começa nunca termina, só acaba no final do caminho. Se conseguir uma proveitosa parceria e alguma colaboração de certas entidades, com certeza!
Que mensagem deixa a toda comunidade e leitores em geral?
Sejam participativos na sociedade em que vivemos. Leiam obras de grandes autores para que não sejam só as informações que “colhemos” nas redes sociais a moldarem o nosso espírito critico e a nossa forma de pensar. O melhor amigo que possamos ter também é um livro. A melhor forma de dominarmos uma língua é lermos. Quanto mais lemos melhor escrevemos. A libertação da mente e o desenvolvimento cognitivo está relacionado com a assimilação de muitos valores que nos são incutidos através da leitura. Saibam que a nossa emancipação depende muito da cultura que vamos assimilando muitas vezes por causa da informação escrita. Uma sociedade inculta não tem mecanismos para singrar!