Início » Aguiar da Beira » Liturgia do 2º domingo da Quaresma – ano B

Liturgia do 2º domingo da Quaresma – ano B

As leituras deste Domingo apresentam-nos alguns amigos de Deus: Abraão, Moisés e Elias; e alguns amigos de Jesus: Pedro, Tiago e João. As relações de amizade, tão presentes em todos os escritos da Bíblia e na vida e no ministério de Jesus, ajudam-nos a abeirar-nos da liturgia deste domingo, que nos apresenta a experiência da Transfiguração, neste ciclo litúrgico, segundo o relato do evangelista Marcos. É um ponto muito importante na nossa caminhada quaresmal. Deus, especialmente em Jesus, revela a sua vontade de ser amigo da humanidade, de todos e de cada um em particular, mesmo daquele a quem nos custa ou não temos vontade de amar. Esta amizade de Deus para com todos e cada um pede que seja correspondida.

Seguindo o caminho da apresentação de alguns dos grandes personagens e momentos marcantes da história da salvação realizada por Deus com Israel (recordemos a aliança de Deus com Noé que foi proclamada no domingo passado), a primeira leitura apresenta-nos a experiência radical de fé de Abraão com a prova do pedido de sacrificar o seu filho Isaac. Esta é uma página bíblica que choca violentamente com a nossa mentalidade contemporânea. Não podemos esquecer o contexto cultural em que se situa esta prática sacrificial e, sobretudo, destacar o seu significado profundo de fé que ultrapassa a contingência dos factos que refere. Não podemos esquecer que Deus revelou a sua amizade a Abraão através do seu chamamento e da sua promessa. Abraão mostra que é amigo de Deus através da confiança que Nele deposita. Mas este texto, apresentado pela liturgia deste domingo, deixa bem claro que esta amizade não está isenta de dificuldades, sofrimento e problemas…A experiência de Abraão confirma que ser amigo de Deus, naquele tempo e hoje, não está isento de dificuldades, de momentos problemáticos, de sofrimento que também existiram na relação de Moisés e de Elias com Deus. Porém, a sua experiência também nos mostra como, apesar das dificuldades, eles fizeram suas as palavras que constituem o refrão do salmo deste domingo: “Caminharei na terra dos vivos, na presença do Senhor”.

A experiência de Pedro, Tiago e João é única e bela. Num alto monte têm a possibilidade de ver o seu amigo Jesus de outra forma a que estavam habituados: contemplam-No em glória (com uma serie de elementos comuns na tradição de Israel: o monte, as vestes resplandecentes e brancas, a nuvem, a voz vinda da nuvem, a mensagem transmitida pela voz), acompanhado por Moisés e Elias, duas figuras que simbolizam a Lei e os Profetas, os dois amigos de Deus. Pela voz que se fez ouvir da nuvem, Jesus é proclamado como o Filho muito amado e todos são convidados a escutá-lo. Este momento termina fazendo referência ao resultado final da Paixão e da Morte de Jesus, ou seja, a sua Ressurreição: “Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhe que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do Homem não ressuscitasse dos mortos”.

Elo de Comunhão 28-02-2021

A experiência destes apóstolos convida-nos a ter um olhar sempre novo e diferente sobre Jesus, a não ficarmos nos clichés (chavões) que, mais ou menos, todos temos assumidos. Convida-nos a ter um olhar sempre aberto para descobrir a novidade que Jesus traz à nossa porta, sobretudo neste tempo da Quaresma. Nas portas da nossa vida, encontramos aquela palavra, aquele gesto, aquele convite, aquela pessoa que, apesar de termos visto e ouvido, até agora não nos tinha dito nada de especial, mas que, através da experiência íntima, pessoal e comunitária, com Deus adquirem um novo sentido e importância e tira-nos da indiferença. O texto do evangelho deste Domingo convida-nos a olhar Jesus de uma forma diferente e nova. Mas também nos convida a olhar os amigos e todos os outros de uma forma diferente e nova, superando os clichés com os quais os fomos rotulando, abertos à novidade que esta relação, que esta amizade pode dar à nossa vida e, quem sabe, à nossa experiência de fé. Com a certeza de que “se Deus está por nós, quem estará contra nós?”, perceberemos que não caminhamos sozinhos; assim, a “descida do monte” será feita sem receios de qualquer fracasso.

 

LEITURA ESPIRITUAL

Jesus queria armar os seus apóstolos com uma grande força de alma e uma constância que lhes permitissem carregar sem temor a sua própria cruz, a despeito da sua dureza. Queria também que eles não corassem com o seu suplício, que não considerassem uma vergonha a paciência com que Ele haveria de suportar uma Paixão tão cruel, sem nada perder da glória do seu poder. Por isso, Jesus «tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os a um monte elevado» e ali lhes mostrou o esplendor da sua glória. Embora tivessem compreendido que a majestade divina estava nele, eles ignoravam ainda o poder contido naquele corpo que encobria a divindade.

O Senhor revela a sua glória na presença das testemunhas que escolhera; e o seu corpo, semelhante a todos os outros corpos, difunde um esplendor tal, «que o seu rosto brilhava como o sol e as suas vestes estavam brancas como a neve». O objectivo desta transfiguração era indubitavelmente retirar do coração dos seus discípulos o escândalo da cruz, não permitir que a humildade da sua Paixão voluntária lhes abalasse a fé; mas esta revelação também fundava na sua Igreja a esperança que haveria de sustentá-la. Deste modo, todos os membros da Igreja, que é o seu Corpo, compreenderiam que um dia esta transformação também haveria de operar-se neles, pois fora prometido aos membros que participariam na honra que resplandeceu na Cabeça. O próprio Senhor dissera ao falar da majestade do seu advento: «Então os justos resplandecerão como o sol no reino de seu Pai» (Mt 13,43). Por seu turno, o apóstolo Paulo afirma: «Tenho como coisa certa que os sofrimentos do tempo presente nada são em comparação com a glória que se revelará em nós» (Rm 8,18). E também: «Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com Ele, revestidos de glória» (Cl 3,3-4). (São Leão Magno,?-c. 461, papa, doutor da Igreja, Homilia 51, sobre a Transfiguração; SC 74 bis).

 

http://www.liturgia.diocesedeviseu.pt/

Ano B - Tempo da Quaresma - 2º Domingo - Boletim Dominical II

Publicidade...