- a) A página evangélica deste Domingo convida-nos a viver com os apóstolos a primeira semana – trabalho e festa – vivida com a novidade trazida pela ressurreição de Jesus. É a primeira semana de uma nova existência. A ressurreição de Jesus nada mudou no ritmo normal da semana, nem transtornou o trabalho nem o repouso. A Páscoa do Senhor faz que tudo se viva de uma maneira nova. No meio da normalidade da vida, os discípulos disseram: “Vimos o Senhor”, porque tinham feito essa experiência e deixaram-se tocar por Ele, pelo dom do seu Espírito e da sua paz. A narração evangélica somente nos fala de dois Domingos, do primeiro e do segundo. Durante a semana, além do encontro com Tomé, nada se escreve sobre algo que tenha sido importante. Neste encontro, encontramos de forma explícita uma maneira de viver e de transmitir a fé em Jesus Ressuscitado. Viver, conviver, partilhar a vida normal na família, no trabalho, etc.; momentos, onde não há nenhuma transcendência aparente.
- b) Os discípulos estão reunidos no mesmo lugar. É uma maneira de dizer que são uma comunidade eclesial. O “Domingo” – as duas aparições acontecem no Domingo – também nos fala de Igreja: é o dia em que nos reunimos para fazer o mesmo: celebrar o Ressuscitado que está no meio de nós. O primeiro dos dois Domingos tem uma característica que não tem o segundo: estão fechados com medo dos judeus (esta expressão não tem sentido étnico; refere-se aos dirigentes religiosos do povo). Razões para tal não lhes faltavam. O evangelista João já nos tinha narrado que os seguidores de Jesus tinham “medo dos judeus”, por exemplo, na cura do cego de nascença. Eram tempos difíceis. Mas tanto naquela ocasião como nesta, ter visto o Senhor faz mudar as coisas: o cego, quando O viu perdeu o medo; com os discípulos fechados passa-se o mesmo: no segundo Domingo, não se fala de medo. O medo e a fé são, pois, opostos. Como é oportuno fazer um exame de consciência sobre o estado de saúde da fé da Igreja actual! Haverá sintomas de medo e de isolamento? Estaremos, talvez, a viver tempos difíceis que originam tantos obstáculos à nossa confissão de fé em Jesus Cristo! Além do exame de consciência colectivo, que bom seria fazer um exame de consciência pessoal: hoje, como professo a fé na minha vida? Ver o Senhor, anima-nos? Apesar dos discípulos estarem fechados, o Ressuscitado visita-os, toma a iniciativa e aparece no meio deles. É a partir daqui que devemos fazer a nossa reflexão pessoal e comunitária: a Igreja só será construída com o ânimo de Jesus.
- c) “Assim como o Pai Me enviou”. O discípulo é convidado a deixar-se modelar por Jesus, da mesma forma que ele se deixou modelar pelo Pai. O que define o discípulo de Jesus é a missão, ser “enviado”. Os seus discípulos e a Igreja serão definidos pela missão que Jesus lhes dá. A missão evangelizadora e o próprio Evangelho têm sentido com a bem-aventurança que o Ressuscitado proclama: “Felizes os que acreditam sem terem visto”. A finalidade da evangelização é fazer “felizes” os que não conhecem Jesus, conhecendo-O; que sejam “felizes” na fé.
- d) Neste encontro alegre dos discípulos com o Senhor, tanto no primeiro como no segundo, ocupa um lugar de destaque o mostrar as mãos e o lado, onde estão as marcas da morte na cruz. O Ressuscitado é o próprio Crucificado. A eucaristia é celebrar isto mesmo. Não celebramos uma coisa qualquer, sobretudo não nos celebramos a nós próprios; o que celebramos é a Páscoa do Senhor, porque deste acontecimento vem a fé que nos liberta.
- e) Estamos na Páscoa. Oito dias depois, a celebração eucarística deve ser solene, a igreja ornada de flores, a água benta pronta para o rito da aspersão (que substitui o acto penitencial). O rito da aspersão dá às nossas celebrações um “tom” pascal. Para preparar a homilia, o mais importante é contemplar a Palavra de Deus e depois contemplar a vida da comunidade e das pessoas que a formam. Só depois deste duplo exercício, é que poderemos actualizar a Palavra de Deus que nos é proposta nas leituras deste Domingo.
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24-04-2022