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Liturgia e avisos do 31ºdomingo tempo comum

Mais de dois mil anos de cristianismo criaram uma pesada
herança de mandamentos, de leis, de preceitos, de proibições, de
exigências, de opiniões, de pecados e de virtudes, que arrastamos
pesadamente pela história. Algures durante o caminho, deixámos que o inevitável pó dos séculos cobrisse o essencial e o acessório; depois, misturámos tudo, arrumámos tudo sem grande rigor de organização e de catalogação e perdemos a noção do que é verdadeiramente importante. Hoje, gastamos tempo e energias a
discutir certas questões que têm a sua importância (como o casamento dos padres, o sacerdócio das mulheres, o uso dos meios anticonceptivos, o que é ou não litúrgico,

04-11-2018
Ano B - Tempo Comum - 31º Domingo - Boletim Dominical

os problemas do poder e da autoridade, os pormenores legais da organização eclesiástica e continuamos a ter dificuldade em discernir o essencial na proposta de Jesus.

O Evangelho deste domingo põe as coisas de forma totalmente clara: o essencial é o amor a Deus e o amor aos irmãos. Nisto se resume toda a revelação de
Deus e a sua proposta de vida plena e definitiva para os homens. Precisamos de rever tudo, de forma a que o lixo acumulado não nos impeça de compreender, de viver, de anunciar e de testemunhar o cerne da proposta de Jesus.
O que é “amar a Deus”? De acordo com o exemplo e o testemunho de Jesus, o amor a Deus passa, antes de mais, pela escuta da sua Palavra, pelo acolhimento das suas propostas e pela obediência total dos seus projectos para mim próprio, para a Igreja, para a minha comunidade e para o mundo. Esforço-me, verdadeiramente, por tentar escutar as propostas de Deus, mantendo um diálogo
pessoal com Ele, procurando reflectir e interiorizar a sua Palavra, tentando interpretar os sinais com que Ele me interpela na vida de cada dia? Tenho o coração aberto às suas propostas, ou fecho-me no meu egoísmo, nos meus preconceitos e na minha auto-suficiência, procurando construir uma vida à margem de Deus ou contra
Deus?
O que é “amar os irmãos”? De acordo com o exemplo e o testemunho de Jesus, o amor aos irmãos passa por prestar atenção a cada homem ou mulher com quem me cruzo pelos caminhos da vida (seja ele branco ou negro, rico ou pobre, nacional ou estrangeiro, amigo ou inimigo), por sentir-me solidário com as alegrias
e sofrimentos de cada pessoa, por partilhar as desilusões e esperanças do meu próximo, por fazer da minha vida um dom total a todos. O mundo em que vivemos precisa de redescobrir o amor, a solidariedade, o serviço, a partilha, o dom da vida.
Na realidade, a minha vida é posta ao serviço dos meus irmãos, sem distinção de raça, de cor, de estatuto social? Os pobres, os necessitados, os marginalizados, os
que alguma vez me magoaram e ofenderam, encontram em mim um irmão que os ama, sem condições?
É fundamental que tenhamos consciência de que estas duas dimensões do amor a Deus e o amor aos irmãos não se excluem nem estão em confronto uma com a outra. Amar a Deus é cumprir a sua vontade e os seus projectos; ora, a vontade de Deus é que façamos da nossa vida um dom de amor, de serviço, de entrega aos
irmãos – a todos os irmãos com quem nos cruzamos nos caminhos da vida. Não se trata entre optar por rezar ou por trabalhar em favor dos outros, entre estar na igreja ou estar a ajudar os pobres; trata-se é de manter, dia a dia, um diálogo contínuo com Deus, a fim de percebermos os desafios que Deus tem para nós e de lhes
respondermos convenientemente, no dom de nós próprios aos irmãos. Como é que vivemos a nossa caminhada religiosa? Qual é, para nós, o elemento fundamental da nossa experiência de fé? Por vezes não estaremos a dar demasiada importância a
elementos que não têm grande significado (as prescrições do culto e do calendário, os ritos exteriores, as regras do liturgicamente correcto, as doações de dinheiro para as festas do santo padroeiro, as leis canónicas, as questões disciplinares…
esquecendo o essencial, negligenciando o mandamento maior?

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