Qual é o verdadeiro culto que Deus espera de nós? Qual deve
ser a nossa resposta à sua oferta de salvação? A forma como Jesus
aprecia o gesto daquela pobre viúva não deixa lugar a qualquer dúvida:
Deus não valoriza os gestos espectaculares, cuidadosamente encenados e
preparados, mas que não saem do coração; Deus não se deixa impressionar por
grandes manifestações cultuais, por grandes e impressionantes manifestações religiosas, cuidadosamente preparadas, mas hipócritas, vazias e estéreis…
O que Deus pede é que sejamos capazes de Lhe oferecer tudo, que aceitemos despojar-nos
das nossas certezas, das nossas manifestações de orgulho e de vaidade, dos nossos
projectos pessoais e preconceitos, a fim de nos entregarmos confiadamente nas suas
mãos, com total confiança, numa completa doação, numa pobreza humilde e
fecunda, num amor sem limites e sem condições. Esse é o verdadeiro culto, que nos
Ano B - Tempo Comum - 32º Domingo - Boletim Dominical
aproxima de Deus e que nos torna membros da família de Deus. O verdadeiro crente é aquele que não guarda nada para si, mas que, dia a dia, no silêncio e na simplicidade dos gestos mais banais, aceita sair do seu egoísmo e da sua autosuficiência
e colocar a totalidade da sua existência nas mãos de Deus. Como na
primeira leitura, também no Evangelho temos um exemplo de uma mulher pobre,
que é capaz de partilhar o pouco que tem. Este retracto, naturalmente um pouco
estereotipado, não deixa de ter um sólido fundo de verdade: só quem não vive para
as riquezas, só quem não tem o coração obcecado com a posse dos bens (falamos,
naturalmente, do dinheiro, da conta bancária; mas falamos, igualmente, do orgulho,
da auto-suficiência, da vontade de triunfar a todo o custo, do desejo de poder e de
autoridade, do desejo de ser aplaudido e admirado) é capaz de estar disponível para
acolher os desafios de Deus e para aceitar, com humildade e simplicidade, os
valores do Reino. Esses são os preferidos de Deus. O exemplo desta mulher
garante-nos que só quem é “pobre” – isto é, quem não tem o coração demasiado
cheio de si próprio – é capaz de viver para Deus e de acolher os desafios e os
valores do Reino. A figura dos doutores da Lei está em total contraste com a figura
desta mulher pobre. Eles têm o coração completamente cheio de si; estão
dominados por sentimentos de egoísmo, de ambição e de vaidade, apostam tudo nos
bens materiais, mesmo que isso implique explorar e roubar as viúvas e os pobres.
Podem ter atitudes que, na aparência, são religiosamente correctas, ou podem
mesmo ser vistos como autênticos pilares da comunidade do Povo de Deus; mas, na
verdade, eles não fazem parte da família de Deus. Nunca é demais reflectirmos
sobre este ponto: quem vive para si e é incapaz de viver para Deus e para os irmãos,
com verdade e generosidade, não pode integrar a família de Jesus, a comunidade do
Reino. Jesus ensina-nos, a não julgarmos as pessoas pelas aparências. Muitas vezes
é precisamente aquilo que consideramos insignificante, desprezível, pouco
edificante, quem é verdadeiramente importante e significativo. Muitas vezes Deus
chega até nós na humildade, na simplicidade, na debilidade, nos gestos silenciosos e
simples de alguém em quem nem reparamos. Temos de aprender a ir ao fundo das
coisas e a olhar para o mundo, para as situações, para a história e, sobretudo, para
os homens e mulheres que caminham ao nosso lado, com o olhar de Deus. Uma das
críticas que Jesus faz aos doutores da Lei é que eles se servem da religião, da sua
posição de intérpretes oficiais e autorizados da Lei, para obter honras e privilégios.
Trata-se de uma tentação sempre presente, ontem como hoje… Em nenhum caso a
nossa fé, o nosso lugar na comunidade, a consideração que as pessoas possam ter
por nós ou pelas funções que desempenhamos podem ser utilizadas, de forma
abusiva, para “levar a água ao nosso moinho” e para conseguir privilégios
particulares ou honras que não nos são devidas. Utilizar a religião para fins egoístas
é um comércio ilícito e abominável, e constitui um enorme contra-testemunho para
os irmãos que nos rodeiam.