“A Quaresma, tempo para experimentar o amor de Deus”
A Quaresma, que estamos prestes a iniciar, é sempre apelo renovado aos
cristãos e às comunidades cristãs para retomarem o caminho de Jesus. O
Caminho de Jesus mostra o amor de Deus por todos nós e também procura
levar-nos a experimentar e a viver agradecidos esse amor divino.
Mas a lógica do amor divino confunde-nos, porque, como diz o Apóstolo,
“Jesus Cristo, sendo rico fez-se pobre para nos enriquecer com a sua
pobreza (2 Cor.8,9).
Esta foi a passagem bíblica escolhida pelo Papa Francisco para nos
introduzir no espírito da Quaresma que se aproxima. A Quaresma é tempo
especialmente favorável para nos ajudar a revestir com os sentimentos de
Cristo. E entre eles está a sua opção pelo caminho da pobreza, com o
objectivo de encarnar a situação dos pobres e ajudá-los a descobrir a
verdadeira riqueza que só Deus pode oferecer e garantir.
É esse o sentido do convite à pobreza e a levar uma vida pobre que o
Evangelho nos faz. Para nos ajudar a valorizar positivamente este
convite, o Papa lembra a distinção entre pobreza e miséria. A miséria é
uma realidade que precisa de ser erradicada da vida humana e em
sociedade. E para atingir este grande objectivo da erradicação da
miséria nós queremos, com o mesmo Jesus Cristo, assumir corajosamente o
caminho da pobreza.
E começamos a sentir como a lógica de Deus não é a lógica do mundo, que,
como lembra o Papa, cai com frequência na tentação de fazer do poder,
do luxo e do dinheiro os seus ídolos, o que impede a distribuição
equitativa das riquezas. Por isso, a lógica de Deus é outra. É a lógica
da pobreza, que o Papa também chama a lógica do amor, da Encarnação e da
Cruz.
Temos à nossa frente uma Quaresma para todos procurarmos assumir o
caminho da pobreza que Jesus nos propõe e que é o seu modo de nos amar,
de se aproximar de nós, como fez o bom samaritano. E envolvidos na
pobreza de Cristo, queremos com Ele ajudar a combater as três formas de
miséria que o Papa enumera: a miséria material, a miséria moral e a
miséria espiritual. A miséria material, que vulgarmente designamos como
pobreza, atinge todos os que vivem privados das condições materiais
mínimas exigidas para o exercício da dignidade humana, como são os bens
de primeira necessidade – alimento, água, condições de higiene,
trabalho, além de outros. Por sua vez, a miséria moral e a espiritual
afastam as pessoas dos grandes valores que dão verdadeiro sentido à vida
e sobretudo da relação com Deus. E, como diz o nosso Papa Francisco,
“se julgamos que não temos necessidade de Deus, vamos a caminho da
falência”.
Com a nossa renúncia quaresmal, este ano, queremos fortalecer os meios
de combate à miséria material, vulgarmente designada como pobreza, sem
mais e por isso destinamos uma parte dela para o fundo diocesano de
solidariedade; mas também queremos voltar-nos para o combate à miséria
moral e espiritual, sobretudo no mundo dos nossos jovens. Por isso,
destinamos a outra parte ao trabalho com jovens, principalmente na
pastoral vocacional. Estamos convencidos daquilo que o Papa nos diz na
sua mensagem para esta Quaresma, citando um autor de referência: “Só há
uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de
Cristo”.
Guarda, 24 de Fevereiro de 2014
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda
fonte:diocese da Guarda