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Domingo II da Quaresma – ano A

Domingo II da Quaresma – ano A

 Depois de termos recordado como resistir às tentações, com a força da Palavra de Deus, continuamos o caminho para a terra prometida, que será incerto para Abraão, mas confiante em seguir a vontade Deus (1ª leit.). No caminho para Jerusalém, Jesus transfigura-se diante dos seus discípulos predilectos para que nunca duvidem que, mesmo nos momentos mais difíceis, Ele é o Filho amado do Pai, o qual devemos escutar (Ev.). O caminho de Abraão, o caminho de Jesus é também o nosso caminho: têm muitas semelhanças e têm em comum a aceitação da vocação recebida: “chamou-nos à santidade…pela graça” (2ª leit.).

Quando Abraão inicia o seu caminho, não sabe para onde vai, mas sabe que naquela direcção viverá na bênção de Deus. O caminho é incerto, mas a convicção de Abraão é firme. Esta experiência dupla, incerteza e segurança em Deus, todos podemos fazer. Para Abraão, isto significa renunciar ao que tem, a um lugar seguro, a uma família estável. Permanecer ali assegurava a sua situação, e nada mais. Seguir o mandamento de Deus, ou seja, a vocação a que Deus nos chama, é não ter nada seguro, ou seja, é manter forte a confiança em Deus que nunca decepcionará. Na 2ª Carta a Timóteo, São Paulo diz que as dificuldades não nos podem provocar desânimo ou desilusão: “Sofre comigo pelo Evangelho, apoiado na força de Deus”. Numa podemos esquecer que fomos chamados a uma vocação santa.

Pedro, Tiago e João também foram chamados. Aprendem de Jesus os requisitos da sua vocação, mas com dificuldades. Seis dias antes, Jesus tinha apresentado as dificuldades da sua missão. Um final com dor e cruz era impensável, Pedro reage mal e é admoestado por Jesus. Quando Jesus os leva a um “alto monte”, deseja que façam uma experiência de Deus. Só irão perceber aquele momento depois da ressurreição, recordando a mensagem que ouviram no monte: “Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O”.

Podemos olhar para este relato da transfiguração como algo para contemplar, montando “a nossa tenda” e disfrutar o momento. Mas, creio que este texto convida-nos a trabalhar, neste tempo da Quaresma, para poder experimentar Deus e aprofundar o dom da vocação, apesar das nossas incertezas e dificuldades. Experimenta-se a proximidade de Deus pela escuta e assimilação da Sua Palavra. Na Transfiguração, Jesus anuncia a ressurreição. Aos discípulos cheios de medo, Jesus quer dizer que, apesar dos momentos difíceis que estão para vir (a paixão e a morte do mestre), o final será feliz. Tudo termina com Cristo, vencedor da morte e do pecado. Hoje, que mensagem Jesus nos quer dar? Apesar da vida ser dura e, por vezes, insuportável, tenhamos sempre esperança, porque, um dia, seremos transfigurados. Os apertos da vida não são definitivos. Procura o teu Monte de Tabor. De coração aberto, escutemos a Palavra de Deus, deixemo-nos renovar no íntimo do nosso ser, deixemo-nos transfigurar e toda a vida se iluminará. Assim, preparar-nos-emos com tranquilidade para a Páscoa que se aproxima.

 LEITURA ESPIRITUAL

«Este é o meu Filho muito amado. Escutai-O».

Os apóstolos, que precisavam de ser confirmados na sua fé, receberam no prodígio da Transfiguração um ensinamento adequado para os levar ao conhecimento de todas as coisas. Com efeito, Moisés e Elias, quer dizer, a Lei e os profetas apareceram a falar com o Senhor. Como diz São João: «A Lei foi comunicada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo» (1,17). O apóstolo Pedro estava, por assim dizer, arrebatado em êxtase com o desejo dos bens eternos; cheio de alegria com tal visão, desejava habitar com Jesus naquele lugar, onde a sua glória, assim manifestada, o cumulava de júbilo. Por isso, diz: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias».

Mas o Senhor não respondeu a esta proposta, querendo naturalmente mostrar que aquele desejo não seria mau, mas estava deslocado. Porque o mundo só podia ser salvo pela morte de Cristo, o exemplo do Senhor exortava a fé dos crentes a compreender que, sem que nos seja permitido duvidar da felicidade prometida, temos de pedir, no meio das tentações desta vida, mais a paciência do que a glória, porque a felicidade do Reino não pode preceder o tempo do sofrimento.

Enquanto Ele ainda falava, uma nuvem luminosa envolveu-os e do meio da nuvem uma voz proclamou: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». «Este é o meu Filho, por quem tudo foi feito, e sem quem nada foi feito» (cf Jo 1,3). Tudo o que Eu faço, Ele o faz também; tudo o que Eu realizo, Ele o realiza comigo, inseparavelmente, sem diferença alguma (cf Jo 5,17-19). Este é o meu Filho, que não se apropriou ciosamente da igualdade que tinha comigo, não reivindicou o seu direito, mas, sem deixar a minha glória divina, Se humilhou até à condição de servo (cf Fl 2,6s), para cumprir o nosso desígnio comum da restauração do género humano. Escutai, pois, sem hesitações Aquele que tem toda a minha complacência, Aquele cuja doutrina Me revela, cuja humanidade Me glorifica, porque Ele é a Verdade e a Vida (cf Jo 14,6), Ele é o meu poder e a minha sabedoria (cf 1Cor 1,24). Escutai-O, a Ele que resgata o mundo com o seu sangue, a Ele que abre o caminho do Céu pelo suplício da sua cruz. (São Leão Magno, ?-c. 461, papa, doutor da Igreja, Sermão 51).

 

Avisos e Liturgia do 2º Domingo da Quaresma (Ano C)

Assim como o primeiro Domingo da Quaresma sempre nos apresenta o texto evangélico das tentações de Jesus no deserto, assim também o segundo domingo deste tempo litúrgico sempre nos apresenta a narração evangélica da Transfiguração de Jesus no monte Tabor. Com a sua transfiguração, Jesus confirma que a nossa vida terminará com a vitória e a glorificação, se O quisermos seguir e ser mensageiros da Salvação e do Reino de Deus.

“Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu ao monte para rezar. Enquanto rezava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente”. Num determinado momento, ouviu-se a voz do Pai, que dizia: “Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O”. Ao verem tudo isto, Pedro, Tiago e João não sabiam o que dizer e ficaram cheios de medo. Contudo, Pedro teve o atrevimento em afirmar: “Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Jesus transfigurado falava com Moisés e Elias sobre o que iria acontecer em Jerusalém, para onde Jesus se dirigia com os seus discípulos. Antes de iniciar esta viagem, Jesus anunciou aos seus discípulos que, em Jerusalém, seria rejeitado, insultado e condenado à morte, mas que ao terceiro dia ressuscitaria. Ninguém entendeu estas palavras. Pedro chamou Jesus à parte para manifestar a sua oposição a este anúncio. E Jesus repreendeu-o severamente, afirmando: “Vai-te de mim, Satanás! Tu pensas como os homens, e não como Deus!”. Quando desceram do monte Tabor, também não entenderam nada do que ali tinha acontecido.

17-03-2019

Apesar de conhecermos toda a vida de Jesus, também não conseguimos entender e até ficamos perplexos perante a transfiguração de Jesus, que nos fala da paixão, morte e ressurreição. Mas o mais importante é a Palavra do Pai, que se manifestou na voz que se fez ouvir da nuvem que a todos cobriu: “Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O”. A transfiguração é um momento muito importante da vida de Jesus, porque revela a meta, o objectivo, que Ele quer que todos participemos. Uma meta de alegria e de paz para toda a humanidade. Pedro já queria ali ficar, ao afirmar: “Mestre, como é bom estarmos aqui”. Jesus quer preparar e fortalecer a fé dos discípulos para o que iria acontecer brevemente: o escândalo da sua paixão e a sua morte desonrosa. Ele quer fortalecer a sua esperança num final feliz e glorioso, para além da morte: a ressurreição de Jesus abre-nos as portas para participarmos na alegria da vida eterna, ou seja, na nossa ressurreição. Para que tal aconteça, enquanto peregrinamos neste mundo, é necessário que se realize a nossa transfiguração pessoal. Como? Fazer renascer em nós uma vida nova, configurar a nossa vida com Jesus. Para que tal aconteça, é necessário fazer o que nos diz a voz do Pai: “Escutai-O”. Escutai o meu Filho, o meu Amado, no qual pus toda a minha complacência.

Como é bom fazer a experiência do monte de Tabor, ou seja, estar com Jesus! Estes momentos de contemplação e de intimidade com o Senhor devem levar-nos a dizer como Samuel: “Fala, Senhor, que o teu servo escuta”; como Abraão: “Eis-me aqui, Senhor”; como Maria: “Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra; como Jesus: “Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade”. Mas não ficar somente a contemplar a glória de Deus, mas dali ver as necessidades dos meus irmãos. Que o Senhor me dê um coração para sentir a sua beleza e para me comover diante do meu irmão. Que me dê ouvidos para escutar a voz de Deus Pai e a voz dos meus irmãos necessitados e esquecidos. Que me dê pés para descer o monte de Tabor e ir ao encontro dos meus irmãos, para os levar a subir o monte de Tabor, ou seja, para que façam a experiência da alegria de estar com Jesus, para que transfigurem a sua dor em alegria e paz.

Ano C - Tempo da Quaresma - 2º Domingo - Boletim Dominical