Pouco mais de um ano depois do incêndio que devastou 25% da área do Parque Natural da Serra da Estrela, várias associações e movimentos cívicos juntam-se, este novembro, para celebrar o mês da floresta autóctone. Em ações e eventos em torno do dia da bolota (dia 10 de novembro) e do dia da floresta autóctone (dia 23 de novembro) alertam para a importância da preservação desses ecossistemas diversos e resilientes.
© Nik Völker
Carvalho centenário na Capela de São Lourenço, Manteigas
Num território afetado pelos efeitos das alterações climáticas, por incêndios que se repetem em ciclos cada vez mais curtos e pela proliferação de plantas exóticas invasoras, a preservação e regeneração da floresta autóctone é fundamental para tornar os territórios mais resilientes, combater a perda de biodiversidade e promover ecossistemas equilibrados que contribuem, entre outros, para sequestrar carbono, regular os ciclos de água e a temperatura ambiente. A sensibilização para a importância da reflorestação centra-se, normalmente, no dia da árvore, em março. Foram já vários os apelos, entre eles um manifesto iniciado pelos Guardiões da Serra da Estrela, que alertaram para a pouca eficiência de plantações nessa altura do ano, uma vez que é agora, no outono, que se deve plantar.
No entanto, o Mês da Floresta Autóctone não se reduz a ações de reflorestação, que são apenas uma das muitas atividades que podem contribuir para a recuperação e preservação de ecossistemas florestais biodiversos em todas as suas camadas e dimensões. Demonstrar esta diversidade, realçar o papel fundamental das comunidades locais na preservação desses ecossistemas e convidar, a quem vem de fora da Serra da Estrela, para se juntar a estas comunidades de guardiões e guardiãs do território, são objetivos comuns de todas as ações.
O primeiro passo para a preservação é, muitas vezes, conhecer melhor o que se quer preservar. Com esse objetivo, o Movimento Estrela Viva (MEV) realizou, ainda em outubro, uma caminhada de recolha de sementes de teixo (Taxus baccata) – uma árvore de crescimento lento muito afetada pela intervenção humana. O CERVAS / Associação ALDEIA, por sua vez, convida a olhar para os solos das florestas, à descoberta do mundo dos fungos: na exposição Cogumelos Incríveis, patente na Casa da Torre em Gouveia durante todo o mês de novembro, e numa saída de campo e workshop no dia 19 de novembro onde os participantes são convidados a aprofundar conhecimentos sobre o tema.
O combate às plantas exóticas invasoras serve de mote a uma ação do Movimento Estrela Viva no dia 11 de novembro, na Portela do Arão. A planta em destaque é a háquea-picante (Hakea sericea) que, após vários incêndios, começou a modificar os habitats naturais daquela zona, ameaçando a sobrevivência de espécies autóctones.
Também a Associação Veredas da Estrela convida voluntários a apoiar a recuperação pós-incêndio, dando início, no dia 11 de novembro, aos trabalhos no Soito do Futuro – um bosque de castanheiros afetado por dois incêndios que foi recentemente adquirido pela associação com o objetivo de o transformar num soito que alie a conservação a uma utilização sustentável por parte da comunidade, criando um espaço de partilha, convívio e aprendizagem.
Os Guardiões da Serra da Estrela dão continuidade ao programa Renascer de dentro para fora, com ações de estabilização de solos, plantações de variedades autóctones e rearborização de zonas afetadas pelos incêndios. A Associação Cultural Amigos Serra da Estrela (ASE) também foca o seu trabalho nas zonas mais afetadas pelo incêndio do ano passado, com ações de reflorestação em Lapa das Cachopas (Covilhã). O mês encerra, no dia 25 de novembro, com uma ação de reflorestação com espécies autóctones na aldeia de Prados, organizada pel’A Geradora – Cooperativa Integral.
Para desfrutar e saborear os produtos de outono da floresta autóctone haverá, ainda, caminhadas e momentos de convívio. Estas são apenas algumas das atividades de um mês de novembro repleto de momentos de aprendizagem e de ação concreta no território para preservar florestas que dão vida à flora, fauna e às comunidades que com elas convivem