Sonho realizado finalmente
Depois do anúncio deste novo trabalho do fornense Joaquim Rodrigues, que é natural da Freguesia de Algodres, fomos conversar um pouco com o músico e compositor de como tudo aconteceu, tornar real este sonho.
Magazine Serrano (MS) – Com o lançamento deste novo álbum Plexus, se sente muito feliz, pelo sonho agora ser real?
Joaquim Rodrigues (JR) – Antes de mais quero agradecer o interesse pelo meu trabalho. É sempre motivo de felicidade, poder falar um pouco daquilo para o qual trabalhamos e que, neste caso, acaba por ser quase projetos de vida. Sim, um sonho que foi demasiadas vezes adiado, mas finalmente concretizado.
Na verdade, o que demorou mais foi a música. Apesar de ter já algumas composições que fui criando no decorrer dos últimos quinze anos, quis para este trabalho, ter material novo e pensado maioritariamente para esta formação instrumental mais específica. Também por isso, o processo de criação acabou por ser o mais demorado. Já há muito sabia qual carimbo discográfico pelo qual queria lançar o disco e quais os músicos com quem queria gravar (alguns deles também já o sabiam há anos). Mas, como tenho passado uma grande parte da minha atividade musical a tocar para outras pessoas e a tocar música de outros compositores, de repente, quando me encontrei neste papel de compositor, fui completamente “assaltado” por imensas dúvidas e inseguranças quanto à qualidade e à estética do material que estava a compor. Tudo isto provocou, com que todo o processo fosse um pouco mais demorado do que as minhas previsões iniciais.
MS – Em que se inspirou para lançar este novo trabalho?
JR – Para este disco estavam já definidos os elementos sobre os quais, o processo de criação deveria assentar, e tinham essencialmente que ver com o local onde vivo, as pessoas que me rodeiam e as suas peculiaridades e a paisagem natural e edificada circundante que me é familiar desde sempre. Foi desse pressuposto que parti, embora reconhecendo que, tratando-se de música instrumental, essa associação é relativamente abstrata. Em breve partilharei alguns temas acompanhados por vídeo que ajudarão um pouco a percecionar essa ideia.
MS – Decerto, foram precisas muitas horas de trabalho e muito empenho de uma equipa?
JR – Sim, isso é uma condição indispensável à concretização de um trabalho. No todo, a música é apenas uma das partes do trabalho final. Há muito trabalho para além da música. Felizmente tive ajuda de muitos amigos que tornaram a minha vida bastante mais facilitada e que me permitiram focar mais na composição. Os músicos que tocaram no disco também foram extraordinários a todos os níveis. Acabei por ter a felicidade de estar rodeado das pessoas certas.
MS – No seu intuito como está a música portuguesa na sua opinião?
JR – Essa pergunta é realmente difícil de responder. Por um lado há uma quantidade gigante de música nova a surgir todos os dias, instrumentistas cada vez mais novos e de nível superlativo, criatividade abundante, artistas que se reinventam e arriscam e saem da zona de conforto e artistas intemporais em super forma absolutamente inspiradores com muita vontade e entusiasmo de subirem ao palco como se o fizessem há poucos anos, relevam um dinamismo sem paralelo na música portuguesa mas, por outro lado, a depreciação do papel dos músicos, o crivo menos fino que uniformiza coisas qualitativamente antagónicas, a escassez de novos letristas diferenciados e inovadores, serão, para mim, os pontos menos positivos. E refiro-me ao que habitualmente é considerado música para o grande público. Deixo de fora a apreciação da música mais de nicho como o jazz, música clássica, world music, alternativa, entre outras, que também é música portuguesa mas que faz o seu caminho de forma muito mais discreta e quase anónima.
Do ponto de vista da profissão de músico, vivemos tempos de alguma dificuldade. A pandemia foi muito cruel para a maioria das pessoas e para os músicos não foi exceção. A isso juntamos a guerra na Ucrânia que criou um clima de grande instabilidade económica e social. Para os músicos o impacto causado por este tipo de crises é muito direto e imediato. Somos provavelmente das profissões que mais sentem as crises por fazemos parte de uma atividade considerada genericamente supérflua e onde é relativamente fácil cortar e desmarcar.
MS – Onde se pode adquirir este novo trabalho?
JR – O disco foi editado pela Gira Discos que é o carimbo discográfico da Associação Gira Sol Azul. O disco pode ser comprado precisamente na Associação Gira Sol Azul ou diretamente a mim (em ambos os casos, basta entrarem em contacto por mail ou pelas redes sociais). Em breve também estará disponível no Bandcamp. De qualquer forma, a música já está também disponível nas habituais plataformas musicais.
MS – Que mensagem deixa a toda a comunidade nesta fase?
JR – Tendo esta entrevista como base o lançamento de um trabalho discográfico, a mensagem que quero deixar passa por lançar a desafio a todos que procurem ouvir mais música e ver mais concertos. Tanto numa perspetiva artística ou de entretenimento. Além disso, deixo também o apelo a que possam procurar ouvir coisas que estão muitas vezes fora daquilo que regularmente nos é disponibilizado pelas rádios e pela televisão. Costumo dizer que, por cada artista conhecido, há umas centenas de outros que, não sendo mediáticos, são incrivelmente talentosos e produzem trabalhos de uma dimensão artística fabulosa. Fico o apelo e a provocação, no bom sentido, de iniciar essa busca.