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Avisos e Liturgia do II Domingo do ADVENTO – ano B

 

Iniciamos a segunda semana do Advento com as palavras do profeta Isaías: “Consolai o meu povo”. Neste itinerário pessoal e comunitário, Deus revela-se como Consolador, como alento para ultrapassar todas as crises da vida. Deus não quer conceder-nos uma consolação superficial, mas deseja entrar no mais íntimo de nós, de tal maneira que o Filho de Deus se fará carne da nossa carne. Porquê? Porque nos ama, porque quer levar-nos à plenitude, porque quer cumprir a profecia de que a sua glória será contemplada por todos, através do Verbo de Deus feito homem, Jesus. Por isso, o Advento é um anúncio de consolação de amor, anunciado pelo profeta Isaías, e um tempo de conversão, proclamado pela boca de João Batista, o precursor do Messias que, agora, nos anima a construir os novos céus e uma nova terra, como afirma a segunda leitura. “Preparai no deserto o caminho do Senhor”. O deserto é um tempo de aprendizagem, de revelação no silêncio, um tempo para voltar a escutar a mensagem da Boa Nova (evangelho), dada por Deus, para, novamente, podermos preparar o caminho do Senhor, como diz a primeira leitura. O Advento é, também, um tempo de deserto. Um tempo para, novamente, escutar Jesus que “grita com voz forte”, proclamando: “Eis o vosso Deus”. Na vida, temos momentos difíceis – de deserto – mas o cristão não entra em desespero, mas mantem a esperança, que não é a resignação; por isso, não nos é permitido cair na tentação da acomodação: “abri na estepe uma estrada para o nosso Deus”. “Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas”. Talvez os montes que deveremos abater consistam em tudo aquilo que em nós faça querer sermos mais do que realmente somos: a azáfama de ser mais do que os outros, de ter mais do que os outros, de impor a nossa vontade, os nossos gostos, ou os nossos interesses e conveniências. Talvez os vales que devam ser alteados sejam os nossos medos, desânimos, pessimismos…Este é o caminho que devemos preparar para o Senhor no deserto e no terreno da nossa vida: o caminho de uma confiança humilde e generosa em Deus, que Jesus já percorreu e que, agora, acompanha-nos neste percurso. Porque “a sua salvação está perto dos que O temem” (salmo), o Advento é, também, um tempo de conversão pessoal e eclesial: “como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus”, como nos diz a segunda leitura. Convida-nos a fazer o nosso caminho com humilde confiança, na certeza de que se pode recomeçar de novo, porque o Senhor “usa de paciência” para connosco. Porém, sabemos que não é fácil recomeçar de novo; por isso, Deus, como afirma Isaías, “fala ao coração de Jerusalém”, à Igreja – que somos nós, os baptizados – para renovar a nossa fidelidade ao projecto salvífico de Deus, continuando a anunciar que “a salvação está perto dos que O temem” no aqui e agora da vida. Nesta segunda semana do Advento, rezemos para que nos convertamos à Boa Nova de Deus. Assim, continuaremos a anunciar que toda “a criatura verá a salvação de Deus”, porque em Seu Filho Jesus se encontrarão a misericórdia e a fidelidade, abraçar-se-ão a paz e a justiça, como rezamos no salmo. A Eucaristia é o memorial onde se torna presente o nosso futuro; por isso, façamos nossa a oração colecta deste segundo Domingo do Advento: “Concedei, Deus omnipotente e misericordioso, que os cuidados deste mundo não sejam obstáculo para caminharmos generosamente ao encontro de Cristo, mas que a sabedoria do alto nos leve a participar no esplendor da sua glória”.

10-12-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias»

 

«Então veio Jesus da Galileia ter com João ao Jordão para ser baptizado por ele. João opunha-se, dizendo: “Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por Ti”» (Mt 3,13-14). Na tua presença, Senhor Jesus, não posso calar-me, porque sou a voz, a voz que clama no deserto: «Preparai o caminho do Senhor». Sou eu que tenho necessidade de ser baptizado por Ti e Tu vens a mim? Tu, que eras no princípio, Tu, que estavas em Deus e eras Deus (cf Jo 1,1); Tu, que és o resplendor da glória do Pai e a imagem da sua substância (cf Hb 1,3); Tu, que, quando estaio o Taumaturgo, c. 213-c. 270, bispo, Homilias sobre a sagrada Teofania, 4; PG 10, 1181).

 

 

Unidade Pastoral P. Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã, Algodres e Freixiosa

Programação de Missas e Celebrações da Semana, de 12 a 17 de dezembro.

Avisos e Liturgia do 31º Domingo do Tempo Comum- Ano B

No Domingo passado, no texto evangélico, vimos como os apóstolos Tiago e João, perante a pergunta “Que quereis que Eu vos faça?”, responderam que queriam poder, sentar-se à direita e à esquerda do Mestre. A pergunta repete-se no evangelho deste Domingo dirigida ao cego Bartimeu, mas também dirigida a cada um de nós. Também o Senhor me pergunta: “Que queres que Eu te faça?”. Cada um responderá partindo das suas necessidades, como o cego, que vive de pedir caridade, que suporta a suspeita sobre os pecados que terá cometido, ele ou os seus pais, e que provocaram a sua cegueira. Recordemos que no mundo judeu a doença era tida como consequência de algum pecado. Este homem tem fé, porque, aos gritos, dirige-se a Jesus dando-lhe o título de Filho de David e faz o seu pedido: “Tem piedade de mim”. Que oração tão simples e tão sincera! Por vezes, as súplicas e as justas reclamações dos pobres são reprimidas. O texto diz que “muitos repreendiam-no para que se calasse”. Não era a preocupação de não aborrecer o Mestre que os fazia ter este comportamento. Os ouvidos de Jesus estavam sempre atentos para escutar e acolher as súplicas e reclamações dos pobres. “Jesus parou e disse: Chamai-o”. Não te esqueças que Jesus também escuta o teu pedido! Este texto evangélico permite-nos apreciar o valor da comunidade que também se sente interpelada, e convertida, pela decisão de Jesus de chamar aquele pobre cego que estava aos gritos. As pessoas rejeitavam o cego, pecador e pobre, porque estava a incomodar, porque não tinha o direito de se manifestar e porque, sendo considerado pecador, não tinha direito a Deus. Contudo, a voz do cego expressa a sua fé enraizada na convicção de que Jesus é o Filho de David, o Messias. É isto que lhe dá força para insistir. O seu pedido é escutado por Jesus, que o manda chamar, dizendo, assim, às pessoas que todos têm o direito a ser escutados e acolhidos por Ele. Com esta acção educa e repreende todos aqueles que queriam excluir aquele pobre. Então, as pessoas dizem ao cego: “Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te”. E qual é o pedido daquele homem a Jesus? “Mestre, que eu veja”. Desejamos sempre que Deus atenda e realize os nossos pedidos pessoais e das pessoas que mais gostamos. Recordemos o argumento dos responsáveis da sinagoga de Cafarnaum para que Jesus curasse o servo do centurião: “Satisfaz o seu pedido, porque ele gosta muito de nós e até nos construiu a sinagoga”. Tantas vezes, usamos o mesmo argumento para sermos escutados com as seguintes palavras: “até é boa pessoa”, “está sozinha, coitada”, “ajuda toda a gente”, “é muito simples”, “tem os filhos no desemprego”, “está doente”, “é um miserável, não tem nada”! “Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho”. Através de uma narração tão simples esconde-se uma breve explicação do caminho a fazer para cada um se encontrar com Jesus Cristo e seguir os seus passos. É cego quem não descobriu Jesus Cristo como Mestre e como Senhor. Em primeiro lugar, o cego Bartimeu só reconhece Jesus como Filho de David, como Messias. Mas Jesus está atento e disponível a deixar-se encontrar pelos que O procuram, como fez com Zaqueu. Depois, chamou o cego que atirou fora a capa, ou seja, desprendeu-se de tudo o que lhe pudesse impedir de ir ao encontro de Jesus. Deu um salto, libertado da miséria e respondeu a Jesus dando-lhe o título de Rabbuni, mestre, senhor, pedindo-lhe a fé: “Que eu veja”, ou que eu tenha fé. De imediato, Jesus percebeu o cego, como também me percebe a mim com prontidão: “Vai: a tua fé te salvou”. Assim, temos um final feliz: o cego recuperou a vista, abriram-se-lhe os olhos da fé, e seguiu Jesus como solução para a sua pobreza. E qual era o caminho que o cego percorria para seguir Jesus? Era o caminho para Jerusalém, para viver com Jesus a sua paixão, morte e ressurreição. No seu texto evangélico, a seguir à cura do cego Bartimeu, S. Marcos narra a entrada de Jesus em Jerusalém, recordada todos os anos no Domingo de Ramos. Também Jesus me chama a segui-Lo por este caminho.

31-10-2021

LEITURA ESPIRITUAL

No Monte Sinai, Moisés disse ao Senhor: «Mostra-me a tua glória». Deus respondeu-lhe: «Farei passar diante de ti toda a minha bondade, mas tu não poderás ver a minha face» (Ex 33,18ss).] Experimentar este desejo parece-me porvir de uma alma animada pelo amor à beleza essencial, uma alma a quem a esperança não para de conduzir da beleza que já viu para aquela que está para além. Este pedido audacioso, que ultrapassa os limites do desejo, almeja pela beleza que está para além do espelho, do reflexo, para a ver face a face. A voz divina satisfaz o pedido, recusando-o simultaneamente: a magnanimidade de Deus concede-lhe a satisfação do desejo mas, ao mesmo tempo, não lhe promete repouso nem saciedade. É nisto que consiste a verdadeira visão de Deus: quem para Ele eleva os olhos nunca mais cessa de O desejar. É por isso que Ele diz: «não poderás ver a minha face». O Senhor que tinha respondido a Moisés exprime-Se da mesma forma aos seus discípulos, clarificando o sentido desta simbologia. Ele diz «Se alguém quiser vir após Mim», (Lc 9,23) e não: «Se alguém quiser ir à minha frente». Ao que Lhe faz um pedido a respeito da vida eterna, propõe o mesmo: «Vem e segue-Me» (Lc 18,22). Ora, aquele que segue caminha virado para as costas daquele que o guia. Portanto, o ensinamento que Moisés recebe sobre a maneira pela qual é possível ver a Deus é este: ver a Deus é segui-Lo para onde Ele conduzir. Com efeito, aquele que não conhece o caminho não pode viajar em segurança se não seguir o guia. Este precede-o, mostrando-lhe o caminho; por isso, quem o segue não se desviará do caminho se se mantiver virado para as costas daquele que o conduz. Com efeito, se se deixar ir ao lado ou de frente para o guia tomará uma via diferente da indicada. Por isso, Deus diz àquele a quem conduz: «Não poderás ver a minha face», o que significa: «Não olhes de frente o teu guia» porque, se assim fizesses, correrias num sentido que Lhe é contrário. Como vês, é importante aprender a seguir a Deus: para aquele que assim O segue nenhuma contradição do mal se poderá opor ao seu caminhar. (São Gregório de Nissa, c. 335-395, monge, bispo, A Vida de Moisés, II, 231-233, 251-253 (a partir da trad. de cf. SC Iter, pp. 265ss.).

 

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Ano B - Tempo Comum - 31º Domingo - Boletim Dominical II

Avisos e Liturgia do Domingo X do Tempo Comum – ano B

a)         Na primeira leitura vamos às origens, para identificarmos a raiz da tendência que nos leva a querer programar a nossa vida à margem de Deus. E verificamos que, nesses casos, perdemos a identidade: não nos assumindo como criaturas e querendo ser como Deus, acontece-nos como ao peixe voador no sermão de “Santo António aos peixes”, do Pe. António Vieira. Ele, por ter asas, julga-se ave: não quer a água, faz-se ao ar, e vai cair numa sertã ao fogo; nós, não nos assumindo como criaturas, queremos ser como Deus, mas sentimo-nos despojados da nossa dignidade, temos vergonha e fugimos a esconder-nos do nosso Criador e Pai.

 

b)        Mas Deus não desiste de nós. Primeiro, prometeu ao ser humano um descendente que, nascendo da mulher, lhe dará a vitória sobre a tentação de querer prescindir do plano de Deus. Mais tarde, “enviou o seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl 4,4).

06-06-2021

c)         No evangelho, vemos esse Filho, Jesus, a libertar as pessoas de tal modo perdidas na sua identidade, que se julgavam, umas, possessas do demónio; e diziam, outras, que era pelo poder do chefe dos demónios que Jesus expulsava os demónios… Mas iam ter com Ele, para que lhos expulsasse! Vamos lá ver se nos entendemos, diz Jesus: “Como pode Satanás expulsar Satanás?”. A saída é uma outra família: a dos que, fazendo a vontade de Deus, e não fugindo d’Ele, se tornam irmão, irmã e mãe de Jesus. “No Senhor está a misericórdia e abundante redenção” (Salmo).

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Ano B - Tempo Comum - 10º Domingo - Boletim Dominical II

Avisos e Liturgia do Domingo VI de Páscoa – ano B

 

Chegámos à última etapa do itinerário pascal que terminaremos com a Ascensão e o Pentecostes. Continuamos a viver com uma atitude pascal numa fé cheia de esperança, fundamentada em Cristo Ressuscitado.

Vivemos tempos difíceis e, ao mesmo tempo, interessantes. São estes os nossos tempos, os quais devemos amar. Todos os tempos têm as suas incertezas, as suas queixas e os seus objectivos. Surgem novos tempos, novas necessidades, novas perspectivas na vida, as quais gostaríamos de controlar, mas que nos apanham sempre desprevenidos. Por vezes, geram nostalgia, desculpas, críticas, decepções, profetismos. Sobre isto, o Concílio Vaticano II foi muito claro: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (Gaudium et Spes 1). Sendo assim, e nós, que dizemos sobre isto, o que andamos fazer nesta matéria? Será que amamos os tempos da nossa vida? Esforçamo-nos e colaboramos para que haja tempos melhores, sendo testemunhas e arautos de uma esperança resplandecente e pascal?

A primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos, deste Domingo é um cântico ao apreço da maior riqueza: a pessoa humana e a sua vida. Pedro diz a Cornélio: “Levanta-te, que eu também sou um simples homem”. E disse-lhe ainda: “Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável”. Deus não inventou as exclusões nem criou os descartáveis. Os muros, os receios, as discórdias de todo o tipo, as diferenças são obras dos homens e mulheres. Muitas vezes foram esquecidas as palavras de S. João que encontramos na segunda leitura: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados”. É preciso repetir isto: Deus é Amor e revela-se em e por Cristo e esta é a nossa fonte para vivermos e espalharmos a paz e a fraternidade.

O texto do evangelho deste Domingo (Jo 15,9-17) é uma página sublime da Sagrada Escritura. Situa-nos na Última Ceia quando Jesus fala ao coração dos seus discípulos: “Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor”. Pede-nos a perseverança nesta comunhão para que sejamos dignos. Por isso, as últimas palavras do testamento de Jesus são estas: “O que vos mando é que vos ameis uns aos outros”. Este mandamento novo não se resume a uma questão de sentimentos, de atracção, de desejo, de benevolência, mas de doação, de entrega, de serviço, de solidariedade. É este o amor que se manifesta claramente na vida, na morte e na ressurreição de Jesus. Dele recebemos o testemunho essencial e de referência para amar. Um amor aberto a todos, um amor afectivo e efectivo, oferecerá uma diversidade de formas de convivência pacífica, de justiça e de respeito pelas diferenças.

Tantas vezes já ouvimos ser proclamado este mandamento novo do amor! Será que já o levamos a sério na nossa vida? Ou ficamos somente pelo encanto das palavras? Nunca se deverá separar a dimensão evangelizadora da dimensão litúrgica nem da solidária para com os pobres. O mandamento novo une-nos na vivência da fé em Cristo Ressuscitado. Sabendo relacionar a nossa experiência pessoal e comunitária da salvação de Deus, que gera paz, serenidade e alegria, com a dor e as incertezas da vida humana, poderemos encantar, sensibilizar e aproximar muitos homens e mulheres que encontramos na nossa vida. Pensemos nos casais, na nossa família, nos nossos vizinhos, nos colegas de trabalho, nas pessoas que se cruzam connosco, naqueles que não concordam ou não têm as mesmas ideias religiosas e culturais. Não fiquemos somente na preocupação de os amar discretamente. Será que eles se sentem amados? Quem são as pessoas que mais te amam? Quem são as pessoas que mais amo? Quem são as pessoas que tenho mais dificuldade em amar? Que a celebração da Eucaristia nos ajude a viver nesta atitude feliz e pascal, ou seja, amando e sentindo-nos amados.

Elo de Comunhão 09-05-2021

LEITURA ESPIRITUAL

O Evangelho, onde resplandece gloriosa a Cruz de Cristo, convida insistentemente à alegria. Apenas alguns exemplos: «Alegra-te» é a saudação do anjo a Maria (Lc 1, 28). A visita de Maria a Isabel faz com que João salte de alegria no ventre de sua mãe (cf. Lc 1, 41). No seu cântico, Maria proclama: «O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador» (Lc 1, 47). E, quando Jesus começa o seu ministério, João exclama: «Esta é a minha alegria! E tornou-se completa!» (Jo 3, 29). O próprio Jesus «estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo» (Lc 10, 21). A sua mensagem é fonte de alegria: «Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa» (Jo 15, 11). A nossa alegria cristã brota da fonte do seu coração transbordante. Ele promete aos seus discípulos: «Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria» (Jo 16, 20). E insiste: «Eu hei-de ver-vos de novo! Então, o vosso coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» (Jo 16, 22). Depois, ao verem-No ressuscitado, «encheram-se de alegria» (Jo 20, 20). O livro dos Atos dos Apóstolos conta que, na primitiva comunidade, «tomavam o alimento com alegria» (2, 46). Por onde passaram os discípulos, «houve grande alegria» (8, 8); e eles, no meio da perseguição, «estavam cheios de alegria» (13, 52). Um eunuco, recém-baptizado, «seguiu o seu caminho cheio de alegria» (8, 39); e o carcereiro «entregou-se, com a família, à alegria de ter acreditado em Deus» (16, 34). Porque não havemos de entrar, também nós, nesta torrente de alegria?

Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa. Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transforma-se, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados. Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves dificuldades que têm de suportar, mas aos poucos é preciso permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias: «A paz foi desterrada da minha alma, já nem sei o que é a felicidade. Isto, porém, guardo no meu coração; por isso, mantenho a esperança. É que a misericórdia do Senhor não acaba, não se esgota a sua compaixão. Cada manhã ela se renova; é grande a tua fidelidade. Bom é esperar em silêncio a salvação do Senhor» (Lm 3, 17.21-23.26). (Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 5-6.

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Ano B - Tempo Pascal - 6º Domingo - Boletim Dominical II

Avisos e Liturgia do Domingo V de Páscoa – ano B

O texto do evangelho deste Domingo recorda-nos que se o ramo não estiver unido à videira não recebe dele a vida, não pode dar fruto. É mais que evidente que temos necessidade de viver unidos a Jesus, a verdadeira videira. Sem Ele, a nossa vida será estéril, vazia, sem sentido, sem horizontes…

Como fazer a descoberta de nós próprios? Na relação com os outros. A nossa vida tem sentido graças à família, aos amigos, àquelas pessoas que nos abordam, às nossas motivações, aos nossos projectos e ambições salutares. Podemos afirmar que estamos enxertados numa vida em relação, em caminho, com muitas potencialidades e limitações. Tudo o que partilhamos, em espírito e verdade, com as pessoas que nos acompanharam ou acompanham, amando-nos, é comunhão fraternal e vida frutífera. Precisamos uns dos outros e completamo-nos uns aos outros. Sendo assim, como me relaciono com os outros? Sou afável, delicado, paciente, dedicado, prestável? Ou sou carrancudo, indiferente, grosseiro? Quando é que me sinto mais unido às pessoas que me rodeiam nas diversas circunstâncias da minha vida?

O profeta Isaías cantava o amor apaixonado de Deus pelo seu povo. É belíssimo o seu cântico da vinha (5,1-7): “Sobre uma fértil colina, o meu amigo possuía uma vinha. Cavou-a, tirou-lhe as pedras, e plantou-a de bacelo escolhido (boas cepas)”. Trata-se de uma vinha cultivada com esmero e amada. “Depois esperou que lhe desse boas uvas, mas ela só produziu agraços”. “A vinha do Senhor do universo é a casa de Israel; os homens de Judá são a sua cepa predilecta. Esperou deles a justiça, e eis que só há injustiça; esperou a rectidão e eis que só há lamentações”. Apesar da instabilidade humana, Deus continua a amar. E do coração da humanidade surgirá a verdadeira vide que nos dará vida: Jesus Cristo.

Em oposição à “vinha estéril” Jesus afirma no evangelho: “Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor”. É com esta força robusta e proactiva que Jesus se apresenta e também nos apresenta como seus “ramos”, cuidados zelosamente pelo “lavrador” sublime: Deus Pai. Ele cuida amorosamente de todos nós. A comunhão, em espírito e verdade, com Jesus ressuscitado, pode saciar-nos a vida: “Deus permanece em nós” onde quer que estejamos, para que tenhamos vida e produzamos bom fruto. Sem Ele, onde estaríamos? Que poderíamos fazer? Aquilo que, aos nossos olhos, é impossível ou difícil, para Deus é possível. O Pai-lavrador cuida de nós; se for necessário, poda-nos; com a vida pascal, enxerta-nos para que possamos dar fruto em abundância e de qualidade. Assim podemos afirmar: graças à “poda divina” cortam-se os ramos inúteis e as folhas secas e assegura-se a produção frutífera. Isto também vale para a nossa vida.

Mas, que frutos têm de dar os cristãos e as comunidades cristãs? A primeira leitura deste domingo diz-nos que a “Igreja gozava de paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e vivendo no temor do Senhor e ia crescendo com a assistência do Espírito Santo”. As comunidades iam tomando forma através de um espírito de acolhimento, de convivência, de presença, de abertura e de entusiasmo para originar outras comunidades. Viviam unidos a Cristo-Videira: viver na presença do Senhor e sentir a proximidade Dele é o terreno ideal para dar fruto. Mas qual é o fruto que devemos dar? A resposta encontramos em S. João, na segunda leitura: “Não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade”. Se amarmos, com obras e em verdade, podemos ter a certeza de que Deus está connosco.

Elo de Comunhão 02-05-2021

LEITURA ESPIRITUAL

«Aprouve [a Deus] que nele [em Cristo] habitasse toda a plenitude» (Col 1,19); Ele está adornado de todos os dons que acompanham a união hipostática; porquanto nele habita o Espírito Santo com tal plenitude de graças, que não se pode conceber maior. A Ele foi dado poder sobre a carne (cf Jo 17,2); Dele provém ao corpo da Igreja toda a luz que ilumina divinamente os féis, e toda a graça com que se fazem santos como Ele é santo.

É ele que infunde nos féis a luz da fé; Ele que aos pastores e doutores, e sobre todos ao seu vigário na Terra, enriquece divinamente com os dons sobrenaturais de ciência, entendimento e sabedoria, para que conservem fielmente o tesouro da fé, o defendam corajosamente, piedosa e diligentemente o expliquem e valorizem; é Ele enfim o que, invisível, preside e dirige os concílios da Igreja.

Cristo é o autor e o operador da santidade, já que nenhum acto salutar pode haver que dele não derive como fonte soberana: «Sem Mim nada podeis fazer» (Jo 15,5). Se nos sentimos movidos à dor e contrição dos pecados cometidos, se com temor e esperança filial nos convertemos a Deus, é sempre a sua graça que nos comove. A graça e a glória brotam da sua inexaurível plenitude.

E quando, com rito externo, se ministram os sacramentos da Igreja, é Ele que opera o efeito correspondente nas almas. É Ele também que, nutrindo os fiéis com a própria carne e o próprio sangue, serena os movimentos desordenados das paixões; é Ele que aumenta as graças e prepara a futura glória das almas e dos corpos.

Cristo faz que a Igreja viva da sua vida sobrenatural, penetra com a sua divina virtude todo o corpo e cada um dos membros, segundo o lugar que ocupa no corpo, nutre-o e sustenta-o do mesmo modo que a videira sustenta e torna frutíferas as vides aderentes à cepa (cf Jo 15,4-6). (Pio XII, 1876-1958, papa, Encíclica «Mystici Corporis», 47-53).

 

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Ano B - Tempo Pascal - 5º Domingo - Boletim Dominical II

Avisos e Liturgia do Tempo Pascal- 3ºDomingo- ano B

DOMINGO III de PÁSCOA – ano B

Como aconteceu no Domingo passado, contemplamos mais uma aparição de Jesus ressuscitado aos seus discípulos. Para eles, não foi fácil compreender a experiência de fé em Jesus ressuscitado. Estas manifestações gloriosas foram decisivas para uma fé viva e para assumirem a missão de serem arautos da mesma.

Na nossa vida, há tantas situações e acontecimentos que consistem em processos e etapas a percorrer, podendo, até, revelarem sentimentos e experiências contrapostas, de alegria ou de tristeza, de paz ou de ansiedade, de decepção ou de ilusão, de abatimento ou de esperança. Além disso, também há tantos momentos de relação e de convívio, como encontros para dialogar e debater questões políticas, sociais, éticas, artísticas, económicas e até religiosas. Mas, atenção, uma coisa é partilhar experiências vividas, e outra é partilhar ideias ou dialogar e debater questões políticas, de futebol e de religião.

A intercomunicação é franca e enriquecedora quando a experiência pessoal se mistura com os sentimentos e as convicções. A vida continua, apesar de muitas ideias e previsões. Então, podemos afirmar claramente o seguinte: comunicar ideias não é a mesma coisa que dar testemunho. Facilmente damos conta que se alguém nos fala a partir da sua experiência de vida procura fazê-lo numa atitude humilde de partilha, sem a preocupação de convencer ou de impor. Bem sabemos que o descrédito de muitas ideologias e crenças brota da incoerência da vida das pessoas, dos grupos, partidos ou instituições que as defendem e promovem. Hoje, somos mais sensíveis e receptivos aos testemunhos pessoais do que às doutrinas.

Nestes Domingos do Tempo Pascal, os textos bíblicos descrevem-nos as experiências vividas pelos discípulos de Jesus e pelas primeiras comunidades cristãs, e como todos pregavam e partilhavam a alegria e a densidade dessas experiências. Isto provocou a rápida expansão da mensagem de Jesus e sobre Jesus, apesar das dificuldades e das perseguições. Esta mensagem era mais do que uma doutrina ou uma teoria; era, realmente, uma proposta de uma nova maneira de encarar e de interpretar os acontecimentos e a vida.

Neste Domingo, o texto do evangelho de S. Lucas fala-nos de dois discípulos, decepcionados e tristes, que regressam a casa depois dos acontecimentos vividos que culminaram com a crucifixão e a sepultura do Mestre e Messias, em quem tinham confiado. No caminho, tiveram uma experiência misteriosa de encontro com Jesus, que lhes abriu os olhos. Começaram a interpretar os acontecimentos de outra forma e recuperaram a esperança perdida, e Jesus aceitou a hospitalidade e a mesa de ambos. Não guardaram para si esta vivência. Regressaram imediatamente a Jerusalém para junto dos seus companheiros, que permaneciam trancados em casa. Então, “os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão”. Enquanto estavam a contar isto, “Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: ‘A paz esteja convosco’. A primeira reacção foi de susto: só podia ser um espírito. Mas o Ressuscitado insistiu: “Porque estais perturbados? Sou Eu mesmo”. A segunda reacção foi a insegurança de acreditar de imediato, “apesar da sua alegria e admiração”; até que, finalmente, a paz, o júbilo, a confiança acabam por se impor.

Por fim, os discípulos receberam a missão de não reservar para eles esta nova experiência: “Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia…Vós sois testemunhas de todas estas coisas”. Este testemunho é sublime e expressivo na primeira carta de S. João (1Jo 2,1-5a): “E nós sabemos que O conhecemos, se guardamos os seus mandamentos”. Sabemos que os seus mandamentos se concentram num só: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Esta é a garantia da verdade de um testemunho.

Elo de Comunhão 18-04-2021

LEITURA ESPIRITUAL

Quando Jesus apareceu aos apóstolos, estando fechadas as portas, e veio pôr-Se ao meio deles, eles ficaram dominados pelo espanto e cheios de medo, julgando ver um fantasma (Jo 20,9; Lc 24,37). Mas, quando soprou sobre eles dizendo: «Recebei o Espírito Santo» (Jo 20,22), e mais tarde, quando lhes enviou do céu esse mesmo Espírito como novo dom, esse dom foi uma prova indubitável da sua ressurreição e da sua nova vida. Com efeito, é o Espírito que dá testemunho no coração dos santos, e em seguida pela sua boca, de que Cristo é a verdade, a verdadeira ressurreição e a vida. É por isso que os apóstolos, que inicialmente tinham duvidado, mesmo à vista do seu corpo vivo, «davam testemunho da ressurreição com grande poder» (Act 4, 33) depois de terem experimentado esse Espírito que dá a vida. É-nos muito mais proveitoso acolher Jesus no coração do que vê-Lo com os olhos e ouvi-Lo falar. A acção do Espírito Santo sobre os nossos sentidos interiores é muito mais poderosa do que a impressão dos objectos materiais sobre os nossos sentidos exteriores.

Muito bem, irmãos, qual é o testemunho que a alegria do vosso coração presta ao vosso amor por Cristo? Quando hoje, na Igreja, tantos mensageiros proclamam a ressurreição, o vosso coração exulta e exclama: «Jesus, o meu Deus, está vivo; eles anunciaram-no! Perante esta boa nova, o meu espírito desalentado, tíbio e entorpecido pela dor, recuperou a vida. A voz que proclama esta boa nova desperta da morte os mais culpados.» Irmão, o sinal que te permitirá reconhecer que o teu espírito recuperou a vida em Cristo é se ele disser: «Se Jesus está vivo, tanto me basta!» Oh, palavra de fé e bem, digna dos amigos de Jesus! «Se Jesus está vivo, tanto me basta!» (Beato Guerric de Igny, c. 1080-1157, abade cisterciense, I Sermão para a ressurreição do Senhor, 4).

 

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Ano B - Tempo Pascal - 3º Domingo - Boletim Dominical II

Liturgia do 3ªDomingo Comum- Ano B

 

LEITURA ESPIRITUAL

«Disse-lhes Jesus: “Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens”». Feliz mutação da pesca: Simão e André são a pesca de Jesus. Estes homens são comparados a peixes, pescados por Cristo, antes de irem eles próprios pescar outros homens. «Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus.» Uma fé verdadeira não conhece demora; quando O ouviram, acreditaram, seguiram-no e tornaram-se pescadores: «deixaram logo as redes». E, com estas redes, foram todos os vícios da vida deste mundo que eles deixaram.

«Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus.» Dir-me-eis: a fé é audaciosa; que indício tinham eles, que sinal sublime tinham observado, para O seguirem, assim que Ele os chamou? É evidente que alguma coisa de divino emanava do olhar de Jesus, da expressão do seu rosto, que incitava os que O olhavam a aderirem a Ele. Porque digo eu tudo isto? Para vos mostrar que a palavra do Senhor agia, e que, através da menor das suas palavras, Ele realizava a sua obra: «ordenou e logo foram criados» (Sl 148,5). Com a mesma simplicidade, chamou, e eles seguiram- no. «Ouve, filha, vê e presta atenção; esquece o teu povo e a casa do teu pai; porque o rei se deixou prender da tua beleza» (Sl 44,11-12).

Elo de Comunhão

Presta atenção, irmão, e segue as pegadas dos apóstolos; escuta a voz do Salvador, ignora o teu pai pela carne, e vê o verdadeiro Pai da tua alma e do teu espírito. Os apóstolos deixam o pai, deixam o barco, deixam todas as suas riquezas; abandonam o mundo e as suas inumeráveis riquezas; renunciam a tudo o que possuem. Mas não é a quantidade das riquezas que Deus considera, é a alma daquele que a elas renuncia. Também os que deixaram poucas coisas renunciaram verdadeiramente a uma grande fortuna. (São Jerónimo, 347-420, presbítero, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja, Homilias sobre o Evangelho de S. Marcos)

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Ano B - Tempo Comum - 3º Domingo - Boletim Dominical II

Avisos e Liturgia – Sagrada Família – ano B

 

Continuando com as festas solenes do Natal, neste domingo a Igreja recomenda contemplar a Sagrada Família. Esta celebração não ofusca este tempo litúrgico; recordamos e celebramos Deus que quis nascer numa família para que tivesse alguém que Dele cuidasse. Jesus, o Filho de Deus, ao nascer numa família, santificou a família humana. Por isso, veneramos a Sagrada Família como modelo importante e fundamental da família humana. Numa sociedade em que a família não disfruta do mérito e prestigio que merece, é muito importante celebrar esta festa instituída em 1921 pelo Papa Bento XV e colocada no calendário universal da Igreja. A oração colecta recorda-nos que Deus quis dar-nos o modelo da Sagrada Família para que, imitando as suas virtudes familiares e o seu espírito de caridade, possamos um dia reunir-nos na Sua casa para gozarmos as alegrias eternas.

Mas, quais são essas virtudes familiares? O texto do evangelho pode ajudar-nos a encontrar a resposta. José e Maria levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, para cumprirem os preceitos da lei de Moisés relacionados com a purificação. Esta particularidade do início do texto ajuda-nos a entender que José e Maria eram uma família que cumpria os preceitos da sua religião judaica. Por isso, não é difícil imaginá-los na sua casa a rezar juntos os salmos e a ensinar o Menino Jesus no ritmo diário de oração. É isto que as nossas famílias cristãs deveriam imitar com os mais pequenos da casa para que aprendam a importância de rezar nos diversos momentos do dia. Mas sigamos o texto para encontrar outras virtudes a imitar desta família. A visita ao templo supõe um encontro com duas pessoas interessantes.

Sabemos que Simeão era um homem justo e piedoso e que esperava a hora da consolação de Israel. Movido pelo Espírito Santo vai ao templo e ali encontra-se com a Sagrada Família. Desta maneira, cumpre-se a promessa que o Espírito Santo lhe tinha feito: ver o Messias antes de morrer. Com o menino Jesus nos braços, Simeão entoa um dos hinos mais importantes para a liturgia da Igreja que é rezado na hora de completas, antes do repouso da noite. Este hino é de acção de graças por ter conseguido ver o Messias. Sabemos que Ana foi casada sete anos após o tempo de donzela e viúva até aos oitenta e quatro. Tinha uma vida sóbria dedicada à oração e ao jejum, não se afastando do templo. O texto não nos revela nenhum diálogo entre ela e a Sagrada Família, mas podemos imaginar uma grande alegria ao conhecer o menino Jesus, a qual deu origem à sua acção de graças a Deus. Falava daquele menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Em ambos os encontros a Sagrada Família proporciona um momento de acção de graças a Deus. Assim, temos uma nova virtude, digna de ser imitada: eles dão a conhecer o Messias e, com Ele, geram a consolação e a esperança que vêm de Deus depois de uma vida longa e provavelmente dura. E se nós também fossemos mensageiros desta consolação e esperança, dando a conhecer o Messias em todos os momentos da nossa vida? Talvez a nossa sociedade pudesse converter-se numa autêntica família que louva a Deus e é capaz de imitar os exemplos da família da qual Deus fez parte.

Elo de Comunhão (3)

Finalmente, na festa da Sagrada Família rezemos especialmente pelas nossas famílias. No seio da nossa família nascemos e crescemos. Foi nela que Deus estabeleceu o alicerce das nossas vidas. Os nossos pais e padrinhos ajudaram-nos a crescer na fé, nos valores de uma vida cristã. Recordemos os membros falecidos das nossas famílias e agradeçamos os novos membros que nela se incorporaram. Diante de Deus, agradeçamos todos os membros da nossa família e peçamos a protecção da Sagrada Família. Que o nosso lar, por intercessão da Sagrada Família, se converta num modelo da Igreja doméstica, como afirmou o Concílio Vaticano II.

 

LEITURA ESPIRITUAL

Nazaré é a escola em que se começa a compreender a vida de Jesus, é a escola em que se inicia o conhecimento do Evangelho. Aqui se aprende a observar, a escutar, a meditar e a penetrar o significado tão profundo e misterioso desta manifestação do Filho de Deus, tão simples, tão humilde e tão bela. Talvez se aprenda também, quase sem dar por isso, a imitá-la. Aqui se aprende o método e o caminho que nos permitirá compreender facilmente quem é Cristo. Aqui se descobre a importância do ambiente que rodeou a sua vida, durante a sua permanência no meio de nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo o que serviu a Jesus para Se revelar ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem sentido. Aqui, nesta escola, se compreende a necessidade de ter uma disciplina espiritual, se queremos seguir os ensinamentos do Evangelho e sermos discípulos de Cristo. Quanto desejaríamos voltar a ser crianças e acudir a esta humilde e sublime escola de Nazaré! Quanto desejaríamos começar de novo, junto de Maria, a adquirir a verdadeira ciência da vida e a superior sabedoria das verdades divinas! Mas estamos aqui apenas de passagem e temos de renunciar ao desejo de continuar nesta casa o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. No entanto, não partiremos deste lugar sem termos recolhido, quase furtivamente, algumas breves lições de Nazaré.  Em primeiro lugar, uma lição de silêncio. Oh se renascesse em nós o amor do silêncio, esse admirável e indispensável hábito do espírito, tão necessário para nós, que nos vemos assaltados por tanto ruído, tanto estrépito e tantos clamores, na agitada e tumultuosa vida do nosso tempo! Silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor de uma conveniente formação, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê. Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu carácter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré como é preciosa e insubstituível a educação familiar e como é fundamental e incomparável a sua função no plano social. Uma lição de trabalho. Nazaré, a casa do Filho do carpinteiro! Aqui desejaríamos compreender e celebrar a lei, severa mas redentora, do trabalho humano, restabelecer a consciência da sua dignidade, de modo que todos a sentissem; recordar aqui, sob este tecto, que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que a sua liberdade e dignidade se fundamentam não só em motivos económicos, mas também naquelas realidades que o orientam para um fim mais nobre. Daqui, finalmente, queremos saudar os trabalhadores de todo o mundo e mostrar-lhes o seu grande Modelo, o seu Irmão divino, o Profeta de todas as causas justas que lhes dizem respeito, Cristo Nosso Senhor. (Paulo VI, Alocução em Nazaré, 5 de Janeiro de 1964).

 

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Ano B - Tempo do Natal - Sagrada Família - Boletim Dominical II

Avisos e Liturgia do Domingo IV do ADVENTO – ano B

a)         Estamos no último e quarto Domingo do Advento. Estes quatro Domingos ajudaram-nos a melhor preparar a vinda de Jesus. Esta vinda que esperamos para o fim dos tempos, no final da história, recordando, por agora, a sua primeira vinda fazendo-se homem. Neste contexto, é importante não esquecer o contraste e a complementaridade das leituras propostas na liturgia deste Domingo.

 

b)         Em primeiro lugar, há um contraste entre a primeira leitura e o texto do evangelho. O extracto do 2º Livro de Samuel (1ª leitura) apresenta-nos David a manifestar o desejo de construir uma casa para Deus, uma casa semelhante ao palácio que ele construiu para si próprio, e a resposta de Deus na boca do profeta Natã. Mais que uma casa, Deus deseja recordar a David tudo o Ele fez por ele, pelo Povo de Israel e confirma todas as promessas feitas. Porém, o extracto do evangelho de S. Lucas narra-nos o anúncio de Arcanjo Gabriel a Maria, falando-nos, assim, da “casa” que Deus escolheu para se tornar presente na Humanidade, para habitar entre nós; não num edifício, mas “entre nós”. Esta presença supõe o consentimento da própria humanidade, expressa na resposta positiva de Maria ao convite que Deus lhe faz para ser mãe do seu Filho. Estas duas leituras como o fragmento da Carta de S. Paulo aos Romanos (2ª leitura) falam-nos da contínua presença de Deus entre nós. Há, pois, entre elas, uma complementaridade. É uma presença que o salmista converte em oração de louvor e de agradecimento: “Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor e para sempre proclamarei a sua fidelidade”.

 

Ano B - Tempo do Advento - 4º Domingo - Boletim Dominical II

 

c)         Deus entra na vida da humanidade, na vida da nossa comunidade cristã, na vida de cada cristão discretamente, sem ruído, sem expressões evidentes de poder ou magnificência, sem se impor. O Senhor torna-se presente silenciosamente. Para Ele, basta a nossa resposta. A nossa comunidade cristã, onde fazemos a caminhada de fé, a mesma que nos ajuda a viver a fé, é o ambiente propício para se manifestar, descobrir e celebrar esta presença e a proposta de vida que Deus nos faz por Jesus Cristo.

 

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Elo de Comunhão (2)

Avisos e Liturgia do II Domingo do Advento Ano B

 

O itinerário do Advento continua no segundo Domingo deste tempo dedicado à esperança no Senhor. Ao iniciar a Eucaristia, a oração colecta deste Domingo contém dois pedidos. Por um lado, pedimos que os “cuidados deste mundo não sejam obstáculo para caminharmos generosamente ao encontro de Cristo”; por outro, pedimos que o conhecimento daquele que é a “sabedoria do alto nos leve a participar no esplendor da sua glória”. Portanto, para caminharmos ao encontro de Cristo neste Advento temos de O conhecer mais e melhor prescindindo de tudo o que na vida se converte em tentação ou distracção do que realmente desejamos: o encontro pessoal com Jesus Cristo.

Na primeira leitura, da profecia de Isaías, encontramos palavras de consolação e de esperança. O povo de Israel encontrava-se no exílio mas já sentia que estava próxima a sua libertação e o regresso a Jerusalém. Mas as palavras do profeta Isaías não são as únicas que este Domingo nos oferecem consolação e esperança para enfrentar as dificuldades da vida. A segunda leitura convida-nos a nunca perder de vista a promessa do Senhor: Ele levar-nos-á para os novos céus e para a nova terra, onde habitará a justiça. As palavras do apóstolo Pedro são pertinentes mais do que nunca num mundo onde parece que reina o caos e a injustiça. Na sociedade actual temos de sentir e de fazer sentir o desejo do regresso do Senhor para que estabeleça a ordem, a paz e a justiça. Além disso, Pedro exorta-nos a uma vida consequente com este desejo e promessa: “como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus”. Com uma vida santa e piedosa anima-nos a tornar presente a realidade deste novo mundo que quer instituir com a nossa conduta. Como cristãos e coerente com a nossa fé, temos um papel fundamental para fomentar todos os valores que o Senhor deseja neste mundo novo que pretende instaurar.

O texto do evangelho deste Domingo apresenta-nos um dos protagonistas deste tempo: João Baptista. A partir da profecia de Isaías na primeira leitura, pede aos seus conterrâneos que abram um caminho para o Senhor e que endireitem as suas veredas. Tanto Isaías como João Batista sentiram a necessidade de abrir e de preparar um caminho para o Senhor; esta necessidade continua presente nos nossos dias.

João Baptista é uma voz que grita no deserto. O seu testemunho neste Domingo é um exemplo para cada um de nós. Porque João grita, se está no deserto? O mais lógico é pensar que não é necessário gritar porque no deserto não está ninguém. Mas o seu grito é um sinal de um Deus que não quer permanecer no silêncio e que quer estar presente onde há silêncio. O seu anúncio é para todos, mesmo para os que estão nos lugares mais recônditos e inacessíveis. O seu grito é o sinal de um anúncio a uma sociedade que quer silenciar a voz de Deus, deixando-O muitas vezes à margem. O testemunho de João Batista deve encorajar-nos para que a nossa voz seja potente como a dele. Será que estamos dispostos a oferecer a nossa voz para anunciar a sua vinda?

João Baptista pregava um baptismo de conversão. Depois de escutar o anúncio do profeta e perante uma promessa tão importante, a nossa vida não pode permanecer na mesma. Muitas vezes deixamos este tema da conversão para o tempo quaresmal, mas na realidade deveria ser uma constante em toda a nossa vida. Não se pode ouvir o anúncio da promessa de Cristo e continuar indiferente. A nossa vida tem de mudar, cada um de nós tem de mudar. Se no primeiro Domingo insistíamos na importância de viver uma vida vigilante, ou seja, responsável e fiel para preparar a sua vinda, neste Domingo somos convidados a fazer todo o possível para abrir o caminho para o Senhor. Como? João Baptista ajuda-nos: por um lado, devemos ser anunciadores da Sua vinda; por outro, temos de converter a nossa vida. Anúncio e Conversão ajudarão a abrir o caminho ao Senhor e a preparar a sua vinda.

Elo de Comunhão

LEITURA ESPIRITUAL

Tendo o povo de Deus sido reduzido à escravatura pelos pagãos e enviado como cativo para o meio dos persas e dos medos, depois de ter sofrido um longo cativeiro, o rei Ciro resolveu livrá-lo dessa servidão e reconduzi-lo à Terra Prometida. Qual poesia divina, o profeta Isaías entoou então estas palavras cheias de beleza: “Povo de Israel, consolai-vos, consolai-vos, diz o Senhor nosso Deus; a vossa consolação não será vã nem inútil. Falai ao coração de Jerusalém, porque a sua malícia chegou ao fim. E porque as suas iniquidades atingiram o máximo, serão perdoadas”. Por isso, dizia esse grande poeta ao povo de Israel: “Aplanai os vossos caminhos e endireitai as vossas veredas” (40, 1s).

Porque é que Deus diz que perdoará ao povo de Israel as suas iniquidades, se é verdade que ele atingiu o cúmulo da sua malícia? Os Padres antigos ensinam que estas palavras podem entender-se como se Deus dissesse: “Quando eles estão no auge das suas aflições e sentem vivamente o fardo das suas iniquidades nesta escravidão e neste cativeiro, depois de os ter punido pela sua maldade, olhei-os e tive deles compaixão. Chegados ao pior dos seus dias, bastou-Me o que já tinham sofrido; por isso, as suas iniquidades ser-lhes-ão agora perdoadas. Quando atingiram o cúmulo da sua ingratidão, quando parecia não terem nenhuma lembrança nem memória de Deus e dos seus benefícios, a sua iniquidade ser-lhes-á perdoada”. Quando a Providência de Deus quis mostrar aos homens a sua bondade, isso foi admirável, porque Ele não quis ser induzido por motivação alguma: movido apenas pela sua bondade, comunicou-Se aos homens de uma forma absolutamente maravilhosa.

Quando Ele veio a este mundo, era o tempo em que os homens tinham chegado ao cúmulo da sua malícia: as leis estavam nas mãos de Anás e Caifás, Herodes reinava e Pôncio Pilatos governava a Judeia; foi nesse tempo que Deus veio ao mundo para nos resgatar e nos libertar da tirania do pecado e da servidão do nosso inimigo. (São Francisco de Sales, 1567-1622).

 

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Ano B - Tempo do Advento - 2º Domingo - Boletim Dominical II