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Artigo de Luís Miguel Condeço—–Candeia que vai à frente…

Há ditados populares que carregam verdades intemporais.

Apesar do gradual desaparecimento daquela luminária, que queimava lentamente as gorduras (como o azeite) e os hidrocarbonetos (como o petróleo), através da mecha, e que de uma forma geral o povo entendia que à frente alumiava duas vezes, lembra-nos do poder transformador de quem guia o caminho, iluminando não só a sua própria rota, mas também a de quem vem atrás. Esta visão luminosa, deve convidar todos a refletir sobre liderança, progresso e esperança, uma vez que vivemos “uma mudança de época” (como diria o Papa Francisco) política, religiosa e social.

Neste mês de maio, esta visão ganha um significado especial ao recordar o nascimento de Florence Nightingale. Esta mulher de sangue inglês, viu pela primeira vez a luz em Florença, no dia 12 de maio de 1820, sendo reconhecida anos mais tarde como a fundadora da enfermagem moderna. Embora passados mais de cento e cinquenta anos do choque bélico que a tornou célebre – a Guerra da Crimeia (já no século XIX em conflito armado), ainda hoje lhe reconhecemos a coragem e dedicação com que, cuidou de soldados feridos em condições precárias. Também ela munida de uma candeia, com a qual vigiada os doentes durante as noites, aliviando-lhes o sofrimento e a solidão.

O legado de Nightingale mudou para sempre a forma como vemos a enfermagem e a prestação de cuidados de saúde, transformando a prática de enfermagem numa atividade profissional, assente no conhecimento científico, com uma metodologia científica e voltada para a investigação, abandonando de vez, o cariz não profissional. A ênfase que colocou na higiene, na organização hospitalar e na formação de enfermeiras salvou inúmeras vidas e estabeleceu padrões seguidos até hoje. Não admira que, o dia do seu nascimento (12 de maio), tenha sido o escolhido para instituir o Dia Internacional do Enfermeiro, em sua homenagem, evocando o valor destes profissionais.

O Dia Internacional do Enfermeiro é uma oportunidade para valorizarmos quem, tal como Nightingale, se dedica ao cuidado do próximo. Em hospitais, centros de saúde e unidades de saúde familiares, lares e unidades de cuidados continuados, ou em muitos outros, os enfermeiros são candeias que iluminam “caminhos” difíceis, mesclando competências técnicas, relacionais, instrumentais, comunicacionais, científicas, e acima de tudo – humanas. É justo destacar o papel vital que desempenham nas nossas comunidades: estão na linha da frente do cuidado, desde a maior das instituições até ao mais pequeno dos serviços. Ao assinalarmos este dia, reforçamos a gratidão e o respeito por quem cuida, inspirando-nos no seu exemplo.

Mas a luz que guia não se limita à saúde. Também na esfera cívica e política precisamos de candeias que vão à frente, apontando caminhos de futuro. Portugal vive mudanças políticas significativas, com eleições legislativas que nos trará mais um ciclo governativo. Após momentos de incerteza, os portugueses irão às urnas e demonstrarão a vitalidade da nossa democracia. A forte participação e a serenidade do ato eleitoral foram sinais de maturidade, que passados cinquenta anos de voto livre (25 de abril de 1975), devem manter a chama da liberdade acesa, possibilitando ao povo escolher de forma pacífica e consciente.

Com uma nova legislatura, renova-se a esperança de que o país possa enfrentar os desafios com energia redobrada. Independentemente das cores partidárias, espera-se que prevaleça o compromisso com o bem comum. Apesar dos gigantescos desafios na saúde, educação e economia, há sempre a oportunidade de fazer melhor. As nossas populações anseiam pela promoção do desenvolvimento económico e social, e pela valorização dos serviços essenciais à comunidade.

Da enfermagem à governação, a lição é clara: a liderança pelo exemplo tem um efeito multiplicador. Florence Nightingale, com a sua “candeia”, iluminou mais do que os corredores de um hospital de campanha – abriu caminho para a dignificação do cuidar e para o desenvolvimento da saúde pública. Do mesmo modo, cada candeia que assume a dianteira – seja um enfermeiro proficiente, seja um governante comprometido – pode iluminar o porvir de todos.

“Candeia que vai à frente alumia duas vezes”: cada passo pioneiro beneficia tanto quem o dá como toda a comunidade que o segue. O futuro constrói-se com a confiança de quem leva a candeia e a determinação de quem segue essa luz.

Autor:

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Artigo de opinião de Augusto Falcão—- A esperança de um dia seguinte melhor

Hoje, quando vos escrevo isto, é 25 de abril; dia da nossa liberdade, da nossa revolução, dos cravos; faz hoje 51 anos que alguns, poucos militares conquistaram a nossa liberdade, o fim da ditadura, o início da passagem à Democracia; o fim da guerra colonial, que tantos jovens portugueses levou a fugirem, a tombarem ou a ficarem estropiados pelo ideal “Deus, Pátria, família” que Salazar perpetuou durante a sua ditadura, foi o fim da repressão da PIDE-DGS; a libertação dos presos políticos; um turbilhão de mudanças anunciava-se na aurora daquele dia já longínquo, mas que todos nós relembramos ano após ano, a passamos esta memória aos nossos filhos e esperamos que eles a passem às gerações vindouras, para que eles nunca se esqueçam que a liberdade é algo que nunca é garantida, portanto devemos todos os dias, lutar para a manter entre nós;

O meu filho, já nasceu no século 21, portanto filho pleno da liberdade, e a consciência que tem da liberdade, do 25 de abril, dos cravos, do “Grândola, vila morena”, de Salgueiro Maia, é aquela que eu, lhe irei passar.

Eu, por outro lado, nasci 2 anos após a Revolução; o meu Pai, ainda esteve no Ultramar, assim como outros familiares meus; aquele a quem a gente carinhosamente chamava de “padrinho” esteve em Peniche quase 1 ano (nem o filho viu nascer) por ser membro do PCP; cresci a ouvir as histórias de Salazar, da fome, da miséria, da guerra colonial, e algumas (poucas) passagens das celas e corredores de Peniche; aquele Homem, não falava muito disso; era conversa de almoços de família, quando nos juntávamos em que as lembranças daqueles dias tristes e cinzentos vinham ao de cima; e eu cresci a ouvir isto; o preço da liberdade, o quanto custou a luta contra a ditadura, e todos aqueles que tendo sido presos, por professar um ideal politico diferente, foram mortos, torturados e ficado com mazelas para o resto da vida, nos calabouços da PIDE.

O povo, esse na manhã do 25 de abril, ao aperceber-se que algo estava em marcha, foi perdendo o medo aos poucos, e saiu às ruas a apoiar os militares que aos poucos fizeram cair o regime, que Marcelo Caetano teimava em manter inalterado;

Havia esperança que a partir dali tudo seria diferente; que tudo seria melhor, que nós, coletivo e povo, iriamos ter a partir daquele momento, uma nova oportunidade de construir um País melhor, para eles e para os vindouros; o povo votou pela primeira vez, de forma livre, depois do 25 de abril; com a esperança, que aquele momento fosse o momento da libertação total, e que o caminho de construção de algo melhor tivesse início; todos eles tinham a esperança que o dia seguinte fosse melhor;

Passou-se 51 anos; e todos mantemos esse mesmo sonho; construir algo melhor para as gerações vindouras;

E todos temos a mesma esperança; que o dia seguinte seja melhor; foi essa esperança que os nossos avós nos passaram e deixaram; ousemos, pelo menos ser iguais; deixarmos aos nossos filhos essa mesma esperança; que o dia seguinte seja melhor.

Augusto Falcão

Artigo de opinião de Luís Miguel Condeço— O valor da saúde

Foi durante a criação da Organização das Nações Unidas, cedo se percebeu a necessidade de instituir um organismo internacional responsável pela saúde. De tal forma que, rapidamente o Comité Técnico nomeado pelo primeiro Secretário-Geral da ONU, o norueguês Trygve Halvdan Lie, elaborou e apresentou propostas para uma constituição, à Conferência Internacional da Saúde, que seria aprovada no ano de 1946 por 51 países membros e 10 países não membros.

Esperando cerca de dois anos pela ratificação de 26 dos países fundadores, a Constituição da Organização Mundial da Saúde entra em vigor no dia 7 de abril de 1948, sendo a data consensual para a fundação da organização.

E foi ao sétimo dia do mês de abril, em 1950, que se comemorou o primeiro Dia Mundial da Saúde, para apoiar e consciencializar prioridades à época como a malária, a saúde das mulheres e crianças, a tuberculose, as infeções sexualmente transmissíveis, a nutrição e a saúde ambiental. Com o passar dos anos, o trabalho da OMS ampliou-se para fazer face aos problemas de saúde que não eram sequer conhecidos em 1948, como as “novas” doenças – vírus da imunodeficiência humana, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), ou o coronavírus 2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-2).

Passados 75 anos da evocação deste dia, a OMS continua a destacar a importância da saúde materna e neonatal como pilares fundamentais para sociedades mais sustentáveis, prósperas e justas. No entanto, sabemos que a cada ano, aproximadamente 300 mil mulheres perdem a vida devido a complicações relacionadas com a gravidez ou o parto. E mais de 2 milhões de Recém-nascidos morrem no primeiro mês de vida, e outros milhões nascem sem ela. A cada 7 segundos contabilizamos uma morte, que poderia ser evitável.​

Os países enfrentam desafios significativos para alcançar as metas globais de sobrevivência materna até 2030, e 80% deles não conseguirão cumprir os objetivos estabelecidos. Este cenário sublinha a necessidade urgente de implementar estratégias eficazes que garantam a sobrevivência e o bem-estar de mães e recém-nascidos.​

É essencial garantir que todas as mulheres tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade antes, durante e após o parto. E que não devem abranger apenas as complicações obstétricas, mas também as questões relativas à saúde mental, doenças não transmissíveis e planeamento familiar. Uma gravidez saudável e um parto seguro contribuem significativamente para a construção de comunidades mais saudáveis e resilientes, assegurando um futuro pleno de esperança para todos.

Em Portugal, o Dia Mundial da Saúde é uma oportunidade para reforçar as políticas e programas dedicados à saúde materna e neonatal. Iniciativas que promovem o acompanhamento pré-natal, o acesso a partos assistidos por profissionais qualificados e o apoio pós-parto são essenciais para reduzir a mortalidade materna e infantil. Além disso, a educação para a saúde reprodutiva e a promoção de estilos de vida saudáveis desempenham um papel crucial na prevenção de complicações durante a gravidez e o parto.​

Este ano, a OMS convida-nos a refletir sobre os avanços alcançados e os desafios que persistem na área da saúde reprodutiva e infantil. É um momento para renovar compromissos, mobilizar recursos e fortalecer colaborações entre instituições governamentais, organizações não-governamentais, profissionais de saúde e comunidades. Podemos trabalhar juntos, para um futuro onde cada nascimento seja um momento de comemoração e cada criança tenha a oportunidade de crescer saudável e feliz.​

A participação ativa da sociedade civil é fundamental para o sucesso das iniciativas no âmbito da saúde materna e neonatal. Ao promovermos a consciencialização sobre a importância dos cuidados pré e pós-natais, incentivamos as mulheres a procurarem os serviços de saúde disponíveis e a adotarem práticas benéficas para a sua saúde e a dos seus bebés. Comunidades informadas e envolvidas são mais capazes de apoiar as mulheres durante a gravidez e o pós-parto, criando redes de suporte que contribuem para melhores resultados de saúde.​

Ao assegurarmos “inícios saudáveis”, estamos a construir “futuros cheios de esperança”, onde cada indivíduo tem a oportunidade de alcançar o seu pleno potencial e contribuir para um mundo mais saudável e equitativo. É este o valor da Saúde!

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Artigo de Opinião de Vítor Santos—Desprezo pela ética e pelo fair-play

Seja qual for o nível de prática desportiva que se considere, podemos verificar que tem grandes semelhanças com o desporto profissional, já que é necessário preparar e organizar o jogo para a competição. Os atletas são a parte mais visível destas atividades, mas existe alguém que assume o papel central em todo o processo: o treinador. Há que perceber o grande impacto que um treinador tem junto dos seus praticantes para entender que a sua valorização tem sido esquecida.

Na sua grande maioria, os treinadores da formação dão mais valor ao facto de estabelecerem uma relação positiva com os seus atletas do que à sua promoção pessoal. Estes treinadores consideram que, mais importante do que vencer, é aquilo que os jovens aprendem na prática desportiva e o prazer que retiram da atividade. Ao terem estas convicções e os comportamentos correspondentes, a sua interação com os atletas vai‑se pautar pelos valores do desporto e o seu trabalho irá contribuir para melhorar significativamente a qualidade de um ambiente desportivo saudável. No entanto, muitos destes treinadores, jovens ainda, enfrentam grandes obstáculos ao tentarem atingir os objetivos a que se propõem. Na origem destes problemas estão a falta de colaboração dos pais, a interferência de dirigentes, pais e adeptos e a dificuldade em conciliar a sua atividade profissional com o tempo de treino. É igualmente verdade que na formação, mas não só, ainda temos muitos treinadores “voluntários”.

Infelizmente, há também um outro tipo de treinadores, os que têm comportamentos desviantes e irresponsáveis. Atualmente, seja qual for o nível de competição desportiva, encontramos exemplos de comportamentos desajustados por parte dos adultos, sejam eles agentes desportivos ou espetadores. É geralmente reconhecido que a forma como os adultos participam no desporto deriva da ligação que eles estabeleceram com o desporto durante a sua juventude. Não há grandes dúvidas acerca dos efeitos a longo prazo que a prática desportiva exerce sobre as crianças e jovens.

Se a cultura desportiva em que estes adultos foram formados assenta na obtenção de resultados imediatos, na hostilidade e na intimidação, eles não irão gostar do jogo. Eles não irão sequer perceber os princípios do jogo porque viveram o desporto num contexto de desprezo pela ética e pelo fair-play. Por isso assistimos demasiadas vezes a cenas lamentáveis envolvendo agentes desportivos e adeptos.

Quando escutamos ou lemos notícias sobre certas personagens, devemos lembrar-nos de que eles são o produto do contexto em que foram gerados e que não tiveram, nem quiseram ter, a capacidade para perceber O jogo. Escolheram o caminho mais fácil.

Ao longo do tempo, investiu-se muito pouco ou mesmo nada no comportamento. Porém, os valores do desporto não nascem de geração espontânea. Precisam de ser trabalhados desde a base e em permanência, antes, durante e depois de cada treino e de cada jogo. Não é de certeza o caminho mais fácil, mas é seguramente o mais gratificante.

 

Vitor Santos

Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

Artigo de opinião – NAVEGAR SEM NAUFRAGAR

Os riscos do uso  excessivo das redes sociais

Vivemos numa era de conexão, mas nunca estivemos tão sós. As redes sociais, criadas com o intuito de garantir maior proximidade e facilidade de comunicação, rapidamente, se tornaram abismos invisíveis onde muitos, jovens e adultos, caem sem se darem conta. A névoa digital que retira a visibilidade perfeita da realidade, vai-se tornando num abraço apertado, que embora pareça reconfortante, pode ser sufocante. Cada like, cada comentário, cada partilha transforma-se num ato perigoso que corrói lentamente a autoestima, o autoconhecimento e a paz interior. O feed infinito de vidas aparentemente perfeitas constrói uma ilusão cruel: a de que a felicidade dos outros é real e constante, enquanto a nossa parece ser uma raridade ou até mesmo um erro ou um desajuste pessoal.

Este mundo em muito se assemelha a um iceberg, do qual só conseguimos visualizar um pequeno pedaço, a parte que cada pessoa escolhe para mostrar aos outros. Na verdade, por detrás de cada perfil perfeito, de cada foto retocada, de cada realidade convertida em história encantada, existe um aglomerado de experiências, emoções, desafios, lutas e inseguranças que permanecem ocultos. Se cada utilizador tem ou deve ter a obrigação de escancarar a sua vida, não, não tem! Mas quem está do outro lado a observar tem que ter a clara noção disso mesmo. Devido a questões culturais, sociais e até pessoais, habitualmente, é complexo para um ser humano expor as suas fragilidades. Mas o mais curioso é que na verdade, as redes sociais parecem funcionar como um livro de contos: ora um conto de fadas, onde todos são felizes e bem-sucedidos, ora se transformam num livro de terror, com conteúdos que promovem medo, insegurança e sofrimento.

O cérebro humano evoluiu ao longo de milhares de anos, tornando-se numa estrutura altamente adaptável e complexa, capaz de reagir e desenvolver competências racionais e emocionais. Especialmente na adolescência, o cérebro é extremamente sensível à comparação social. Nesta fase do desenvolvimento, os modelos sociais deixam de ser os
pais/cuidadores/familiares e passam a ser os pares e outros sujeitos com os quais se identificam, de alguma forma ou por algum motivo em particular. As redes sociais são um espelho para a apresentação destes novos modelos, o que na maioria das vezes acontece, é a falta de perceção de que o conteúdo revelado neste contexto digital é distorcido, o que se vê pode estar camuflado de manipulação, de informação filtrada, editada e idealizada.

E será que a solução passa pelo abandono das redes sociais? Não, acredito que o mais correto será falar em moderação e não em eliminação ou proibição. Recentemente tem vindo a ser estudado um novo fenómeno designado por FOMO (Fear of Missing Out). Este conceito surge da necessidade de classificar o sentimento de medo de estar fora ou a perder algo, ou seja, é a ansiedade causada pela sensação de que os outros se atualizam, divertem e têm sucesso enquanto eu estou de fora. É o medo da rejeição, da não integração no grupo. As redes sociais amplificam este sentimento, mostrando apenas os melhores momentos da vida das pessoas, criando uma falsa ilusão de perfeição que só os outros conseguem alcançar. Para evitar o FOMO, é importante lembrar que o que vemos online não representa a realidade completa e que cada um tem seu próprio ritmo e estilo de vida.

Contudo, o uso excessivo das redes sociais é uma realidade e quando colocamos em cima da mesa esta problemática, a solução que se vê como mais eficaz é a proibição e não a
educação. O que em primeira linha poderá não ser o mais adequado, afinal, sempre ouvimos dizer que o “fruto proibido é o mais apetecido”. Parece-me que a estratégia mais eficiente é a da literacia, da transmissão da mensagem direta sobre a dualidade risco-benefício, da utilização dos meios digitais.

Este processo de ensino-aprendizagem, deve focar fatos cientificamente comprovados. O uso excessivo de redes sociais promove uma maior libertação de dopamina no cérebro, criando um ciclo vicioso parecido com a adição de jogos ou drogas. Isso pode contribuir para a diminuição da concentração, pode causar ansiedade, desregulação emocional, problemas relacionados com o sono e diminuir o prazer em atividades simples. Além disso, a comparação com vidas perfeitas nas redes pode afetar a autoestima. Assim, é fácil perceber que esta situação pode impactar negativamente o desenvolvimento, especialmente em crianças e adolescentes.

Como temos vindo a referir ao longo deste texto, as redes sociais podem ter um impacto profundo na saúde mental dos jovens, influenciando emoções e comportamentos de forma preocupante. A exposição constante a vidas aparentemente perfeitas pode gerar sentimentos de inadequação, tristeza e baixa autoestima, levando alguns a pensamentos autodestrutivos. Além disso, a normalização da automutilação e do suicídio em certos conteúdos pode incentivar a imitação, especialmente entre os mais vulneráveis.

A automutilação, muitas vezes silenciosa e escondida, pode ser uma tentativa desesperada de transformar a dor emocional em algo visível, controlável. Um grito mudo esculpido na própria pele. A curto prazo, pode parecer uma válvula de escape, mas a longo prazo contribui apenas para aprofundar ainda mais a dor. É também uma realidade que as redes sociais facilitam o acesso a conteúdos perigosos. Algoritmos, que deveriam mostrar entretenimento e informação, acabam a recomendar conteúdos nocivos sobre transtornos psicológicos, romantizando a dor e sugerindo que o sofrimento é uma identidade. A exposição frequente a esses conteúdos pode normalizar ideias suicidas, tornando-as opções plausíveis para lidar com a angústia.

Mas não tem que ser assim! Os meios digitais podem ter uma utilização válida, mas é necessário estar consciente dos riscos para conseguir percecionar o perigo a tempo de evitar acontecimentos autodestrutivos (físicos e/ou emocionais). A verdadeira conexão não está na tela, mas sim no contato humano real, na escuta sem julgamentos, no apoio de quem nos ama. Afinal, somos muito mais do que a soma dos nossos seguidores ou dos likes que recebemos em cada post ou story publicados. Somos sim, seres humanos complexos, maravilhosos e únicos.

Lembrem-se! Se as redes sociais sugam para um lugar escuro, o mundo real tem cores que nenhum filtro pode recriar. E, mais importante, se sentem algum tipo de dor ou sofrimentos, não procurem ajuda e solução atrás de uma tela… nem procurem resolvê-la sozinhos. Há profissionais, familiares e amigos dispostos a caminhar consigo até encontrarem o caminho certo.

Se a dor se tornou insuportável, peçam ajuda. Procurar apoio não é sinal de fraqueza, mas de coragem. A sua vida tem valor. E merece ser vivida por completo, sem cortes, sem pausas, sem filtros.

É essencial promover um uso saudável das redes sociais, incentivando o diálogo, a literacia, a procura de apoio e a valorização da própria realidade fora do mundo digital.
Por (*)  Dra. Marta Duarte, Psicóloga Clinica e Gestora Executiva do CACB. Sócia da www.girohc.pt

 

Artigo de Opinião de Augusto Falcão—“Vamos lá falar de tolerância” parte 2

Voltamos, este mês a falar de tolerância; note-se mais uma vez, que não pretendo criar ideias fixas ou até estereotipadas sobre a tolerância ou o que deve ser a tolerância, mas criar no leitor uma “tempestade” de ideias de forma a promover uma reflexão crítica acerca do que queremos para a nossa sociedade em comum.

O que é caracteriza uma sociedade? É a crença de um grupo de pessoas em determinados valores, que todos em conjunto partilhamos, e com objetivos iguais em direção a um bem comum. São esses valores, é essa cola que nos identifica como portugueses, e que todos devemos preservar ou tentar preservar; no fundo, todas as sociedades, acabam por ter um direito, mais ou menos, sustentado à sua auto preservação, sendo esse direito, um direito razoável.

Se temos o direito, de auto preservarmos, esses direitos que nós consideramos fundamentais, onde começa a tolerância e acaba a mesma? Será que ao defendermos esses nossos valores não estamos a ser intolerantes? E onde fica o direito de preservarmos, de forma razoável, esses valores?

Estamos então perante um paradoxo? Aqui, permite-me o leitor, de responder por ele; sim estamos.

Paradoxo esse que já foi bastante filosofado por autores tal com o Popper, ou Rawls.

A defesa intransigente da sociedade de tolerância ilimitada, levará ao desaparecimento da tolerância; isso ocorrerá porque ao protegermos o direito de alguém ser intolerante, levará a que esses mesmos indivíduos, julguem dentro da sua intolerância , que eles não tem o dever ser tolerantes com a nossa posição, e eles mesmo irão lutar para que a nossa posição desapareça; é caso para dizer    que “a tolerância chegará a tal ponto que as pessoas inteligentes serão impedidas de fazer qualquer reflexão para não ofender os imbecis”, citação esta que foi incorretamente  atribuída a Dostoievski;

No entanto, devemos sempre permitir que o intolerante deva ser tolerado, caso contrário estaremos a ser intolerantes; no entanto, a liberdade de “ser parvo” – como se diz em bom português – deve ser restringida quando os tolerantes creem estar em perigo a sua liberdade, crenças e instituições. E essa restrição deve usar os meios que se julguem por convenientes para que essa preservação seja atingida. No entanto, o combate à intolerância deve ser primariamente, feito com argumentos racionais e através de debate de ideias, tentando demover os intolerantes, e levá-los a abandonar as suas crenças e valores de intolerância.

Ou seja, advoga-se o uso da força, se necessário, para preservarmos as nossas crenças e valores, que nos compõem como sociedade.

Deixo aqui, um conselho de leitura: “As sociedades abertas e os seus inimigos” de Karl Popper e a “Teoria da Justiça” de John Rawls, mas acho que no fundo a lição que podemos tirar é aquela que a sabedoria popular ainda nos diz que a “virtude está no meio” e que os extremos nunca são bons.  E que até a tolerância, sendo algo por essência uma virtude, tem que ser bebida com moderação necessária e adequada ao contexto conjetural em que vivemos.

Bom mês de março.

Augusto Falcão

Artigo de Opinião de Luís Miguel Condeço—–O futuro dos nossos sorrisos!

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Nas últimas décadas, podemos afirmar que a saúde oral das crianças e adolescentes portugueses tem melhorado, muito por força das campanhas de sensibilização e programas de prevenção. Os dados mais recentes continuam a evidenciar desafios significativos, sobretudo no que diz respeito à elevada prevalência de cáries dentárias na infância e à disparidade no acesso aos cuidados de saúde oral. Apesar dos esforços do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (2021-2025) da Direção-Geral da Saúde, muitos jovens ainda enfrentam dificuldades no acesso a cuidados médico-dentários, o que compromete por si só, o seu bem-estar e a qualidade de vida.

O problema persistente é – a cárie dentária, que continua a ser a doença crónica mais prevalente na infância, com impacto significativo na saúde geral das crianças. A Organização Mundial da Saúde revelava em 2019, que cerca de 514 milhões de crianças em todo o mundo tinham cáries dentárias em dentes decíduos (ou “de leite”). Em Portugal, os dados do terceiro Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais (apresentados em 2017), indicavam que 45% das crianças portuguesas tinham cáries dentárias. Embora o número tenha vindo a diminuir desde a implementação do cheque-dentista, estas, continuam a ser uma realidade preocupante, especialmente entre as crianças mais novas.

Em 2023, a Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária realizou um inquérito a nível nacional, no qual 13% dos pais portugueses afirmaram que os seus filhos tiveram problemas dentários devido a maus hábitos de higiene oral. A situação agrava-se entre crianças de contextos socioeconómicos mais vulneráveis, onde o acesso regular a consultas de medicina dentária é menos frequente, além das desigualdades regionais também serem um entrave na equidade do acesso aos cuidados de saúde oral.

A DGS e o seu programa nacional (PNPSO 2021-2025), introduziram importantes medidas para reforçar a prevenção e o tratamento das doenças orais em Portugal. Este programa abrange crianças e adolescentes (até aos 18 anos), bem como grávidas e pessoas de outros grupos vulneráveis, promovendo a literacia em saúde oral, a aplicação de flúor, a selagem de fissuras dentárias e o acesso a consultas de higiene oral e medicina dentária, através do cheque-dentista. Contudo, a implementação do programa tem enfrentado alguns desafios, como a falta de adesão por parte de algumas famílias ou a insuficiência de profissionais de saúde oral no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Nem só o acesso aos cuidados médico-dentários, é fundamental para a prevenção das doenças orais, também, a educação para a saúde oral desempenha um papel preventivo por excelência. A promoção de bons hábitos desde a infância, como a escovagem dos dentes duas vezes por dia com dentífrico fluoretado, a redução do consumo de açúcares e a realização de consultas regulares de medicina dentária, são essenciais para garantir uma boa saúde oral ao longo da vida.

O impacto na alteração da saúde oral, vai muito além da boca, descrevendo vários estudos que, crianças e adolescentes com problemas dentários têm maior probabilidade de sentir dor crónica, dificuldades na alimentação, distúrbios do sono e menor rendimento escolar. Em 2023, um estudo publicado na prestigiada revista científica Pediatric Dentistry Journal, evidenciou que crianças com cáries não tratadas apresentavam um desempenho académico inferior, às crianças com uma boa saúde oral.

Portugal tem dado passos importantes na promoção da saúde oral infantil, mas ainda há um longo caminho a percorrer. É essencial reforçar:

  1. Alargamento do cheque-dentista, para inclusão precoce de crianças com dentes decíduos;
  2. Presença de especialistas em medicina dentária no SNS e outros profissionais habilitados para a vigilância da saúde oral das crianças e adolescentes;
  3. Investimento na literacia em saúde oral, através de campanhas educativas que envolvam os pais, os professores, e claro, as crianças e adolescentes, promovendo hábitos alimentares saudáveis e de higiene oral;
  4. Atenção ao impacto das desigualdades socioeconómicas, apoiando as famílias com menos recursos económicos na consecução dos cuidados dentários expectáveis.

Se cuidarmos da saúde oral das “nossas” crianças e adolescentes, construímos um futuro sorridente, no entanto, as famílias, as escolas e os profissionais de saúde devem unir esforços para garantir que todas as crianças tenham um sorriso saudável. Pois mais não é, do que o indicador de um corpo saudável e de uma sociedade mais justa e equilibrada.

 

Artigo de Augusto Falcão–“Vamos lá falar de tolerância” parte 1

Talvez não seja um assunto fácil de escrever; até porque tudo o que mexe com as nossas convicções costuma ser quase que assuntos proibidos de debater, ou até de um simples sussurro.

Mas, já dizia Platão, que uma vida não questionada, não merece ser vivida; todos nós já nos debatemos com situações que vão contra as nossas convicções; contra os nossos códigos de moral e de conduta; contra tudo aquilo que os nossos Pais e Avós nos passaram; mas peço ao leitor, um minuto da vossa vida, e vamos fazer um exercício de reflexão.

Tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente das que são as “normais” no seu próprio grupo. Assim, a partir da tolerância, é garantida a aceitação da diversidade e inclusão.

Devem ter reparado que coloquei normais entre aspas; isto porque o próprio conceito de normal, não pode ser usado sem ser relativizado; a normalidade de uma ação depende do tempo e do próprio espaço onde estamos inseridos; ou seja a normalidade de um ato, pensamento, é uma noção localizada espaço-temporalmente.

A democracia como a conhecemos hoje, por exemplo, foi na sua génese muito pouco democrática, já que e a título de exemplo, o voto não podia ser exercido pela mulheres. E se nesse tempo, isto era aceite como “normal”, hoje, apesar de adotarmos a democracia, aceitamos como normal as mulheres votarem, e até achamos errado o contrário.

Ou seja, o código de valores que nós, enquanto grupo, neste caso País aceitamos como válido para todos muda consoante a sociedade evolui; aceitarmos indivíduos ou grupos que tenham valores ou atitudes diferentes das nossas já é aceitamos a diversidade e sermos tolerantes.

 Mas devemos, em nome da diversidade e inclusão, aceitar normas e atos que vão frontalmente contra todo o nosso código de valores?

E se, nós, enquanto sociedade, proibirmos esse grupo de praticar esse ato, porque o consideramos errado, à luz do nosso código de valores? Somos intolerantes?

Podemos então concluir, que ser tolerante, a própria tolerância é quase que uma virtude, ou seja é uma característica, de excelência, que deve ser mantida e cultivada por cada um individualmente e por fim como um todo enquanto sociedade.

Dizer que uma sociedade é tolerante, não é propriamente fácil, pelo que se torna mais fácil dar exemplos de sociedade intolerantes; uma sociedade intolerante apresenta comportamentos de repulsa e até mesmo ódio a tudo o que lhes seja diferente.

Acho que todos concordamos que devemos então ser tolerantes; julgo que nunca foi ideia de nenhum de nós ser catalogado como intolerante, ou mesmo contribuirmos para a construção de uma sociedade intolerante;

Mas agora coloca-se a questão: deve esta tolerância ter limites? Até que ponto devemos ser tolerantes perante algo que nos causa, enquanto sociedade, repulsa ou até mesmo ódio? E se colocarmos limites a essa tolerância, estamos a ser intolerantes, como tal, não aceitamos a diversidade e a inclusão, logo não compreendemos o mundo onde estamos inseridos?

Ou pelo contrário, aceitamos tudo sem limites, de forma a termos uma sociedade completamente tolerante, aceitando que sejam praticados atos que, são totalmente contrários aquilo que nós enquanto sociedade abominamos?

Fica a questão para a próxima edição.

Augusto Falcão

Artigo de Luís Miguel Condeço—(Neuro)Diferentes

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Hoje muitos se questionam sobre o perfil neurológico e cognitivo de alguns líderes mundiais, que enchem continuamente a nossa comunicação social com expressões, afirmações ou insinuações, que testam a forma como vemos o mundo.

A diferença das capacidades neurocognitivas sempre existiu, basta comparar personalidade como Platão e Mozart, ou Gengis Khan e Cervantes. E será porventura, aquilo que mais nos diferencia e nos torna seres únicos.

A Ciência atribui à maioria dos seres humanos, o que se designa por neurotípico, ou a pessoa que apresenta um desenvolvimento neurológico esperado e um padrão cognitivo que “encaixa” no que consideramos normal. Mas nem todos são enquadráveis neste “rótulo”, por isso se designam como neurodivergentes.

As crianças neurodivergentes, podem apresentar diferenças em várias áreas do desenvolvimento, como a cognição, a linguagem, a socialização e o comportamento, conhecendo-se como exemplos destas condições, as perturbações do espetro do autismo, o défice de atenção e hiperatividade, a dislexia, entre outras. Esta classificação não reflete uma deficiência, mas sim uma diversidade de funcionamento cerebral (dificuldades na interpretação de sinais sociais, interesses restritos, padrões de comportamento repetitivos ou uma sensibilidade sensorial elevada), que deve ser compreendido e valorizado no contexto educativo e social.

Inserida na perturbação do espetro do autismo, desde 2013 e após a publicação da 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a Síndrome de Asperger é caracterizada por especificidades marcantes que desafiam e enriquecem a compreensão sobre o desenvolvimento infantil.

Descrita pela primeira vez em 1944, pelo pediatra austríaco Hans Asperger, que observou um grupo de crianças com comportamentos sociais diferentes, dificuldades de comunicação não verbal e interesses restritivos, a Síndrome de Asperger está presente em crianças com inteligência normal ou acima da média, apesar das dificuldades na compreensão e interação com o mundo que as rodeia.

As causas associadas a esta neurodivergência, ainda não estão bem esclarecidas, apesar de a comunidade científica aceitar que se deve a um conjunto de fatores neurobiológicos que afetam o desenvolvimento cerebral.

O diagnóstico desta perturbação é conseguido pelo esforço de uma equipa multidisciplinar, que procura identificar alterações, “dificuldades” ou descoordenações relativamente às competências comunicacionais, comportamentais, e de interação social, para que a intervenção seja o mais precocemente possível, favorecendo a evolução do quadro clínico e promovendo as potencialidades de cada criança. Não devemos, pois descurar os sinais de alerta: atraso significativo na linguagem, dificuldades no relacionamento com outras crianças, obsessão por determinados temas ou comportamentos repetitivos, dificuldade em expressar emoções, baixo nível de tolerância à frustração, e sensibilidade a ruídos, cheiros ou luzes.

Todos os anos, no dia 18 de fevereiro, várias instituições e organizações não governamentais evocam o Dia Internacional da Síndrome de Asperger, procurando sensibilizar a sociedade civil e instituições com poder de decisão, para a necessidade de investir mais nestas crianças e jovens.

É essencial garantir o bem-estar da família e o desenvolvimento da criança, apoiando-os na educação/literacia sobre a sua condição (desmistificando o “ser neurodivergente” e como isso influencia o comportamento e as necessidades da criança), nas estratégias para gerir o comportamento (ensinar técnicas sobre como lidar com situações desafiantes, crises ou resistência a mudanças), na divulgação de redes de suporte (encaminhar para grupos de apoio, reduzindo a impotência e o isolamento), e na promoção de planos de intervenção personalizados (colaborar com terapeutas e demais técnicos).

O Estado, deve investir na formação de técnicos (essencialmente profissionais de saúde) e na criação de centros de avaliação e intervenção precoce; deve garantir a educação inclusiva, provendo a escola de um ambiente acessível e acolhedor; deve disponibilizar terapias, dispositivos e benefícios fiscais, por forma a colmatar algumas das necessidades destas famílias; e por fim, implementar campanhas de sensibilização para a neurodiversidade, reduzindo o estigma e o preconceito enraizado na sociedade.

As crianças neurodivergentes enriquecem a diversidade humana e desafiam a sociedade a criar estruturas mais inclusivas e compreensivas. A Síndrome de Asperger, com as suas especificidades únicas, é um exemplo poderoso de como a neurodiversidade exige um olhar atento, empático e inclusivo.

Artigo de Sara Morais—Aprendizagem – Hipnose Clínica

A aprendizagem e a Hipnose Clínica andam de mãos dadas de várias maneiras, uma vez que a hipnose pode ser uma ferramenta poderosa para ajudar no processo de aprendizagem, no desenvolvimento de novas habilidades e na superação de dificuldades cognitivas ou emocionais que possam, de alguma forma, interferir nesse processo.

Um dos grandes desafios da aprendizagem é, sem dúvida, a concentração e o foco. A Hipnose é uma ferramenta fundamental para melhorar estas duas premissas. A própria alteração de estado de consciência é caracterizado por uma intensa concentração, foco e relaxamento induzido pelo profissional, o que possibilita ao leitor a mudança das ondas cerebrais para um padrão mais organizado, como por exemplo: as ondas alfa (associadas ao relaxamento e foco) ou beta (associadas a um estado de alerta e atenção); o que por sua vez, estimulam a libertação de substâncias como a dopamina e norepinefrina que vão, consequentemente, aumentar a atividade cerebral no Córtex pré-frontal o que permite o exercício de tomada de decisões, planeamento e controle executivo. Isto, possibilita desempenhar um papel central na concentração ao filtrar as distrações e a manter o foco na tarefa que é essencial em todos e, quaisquer, ambientes de aprendizagem, onde a atenção plena é crucial para absorver, processar e armazenar novas informações.

Contudo, a ansiedade pode irromper como um obstáculo à concentração e foco e, como resultado, contribuir para o insucesso escolar / profissional. Porém, a Hipnose Clínica pode influenciar positivamente a fisiologia da ansiedade de diversas maneiras: ajudando a reequilibrar os sistemas orgânicos e promover um estado de relaxamento e controlo emocional. Durante o processo de hipnose é ativado o sistema nervoso parassimpático, o que reduz a resposta de “luta e fuga” tão característica da ansiedade. É, também, diminuída a frequência cardíaca, a pressão arterial e promovida uma respiração mais lenta e profunda o que reduz os sintomas físicos da ansiedade, como a taquicardia, a hiperventilação e a tensão muscular. Neste alinhamento, existe uma diminuição da produção do cortisol – a hormona do stress – o que favorece um ambiente físico mais calmo e equilibrado.

Ainda, durante a hipnose, o leitor pode ser orientado pelo profissional a explorar e reprogramar os padrões de pensamento que alimentam a ansiedade. O terapeuta pode sugerir maneiras de interpretar situações de grande agitação de forma mais realista e menos ameaçadora, o que reduz a ativação emocional negativa. Esta forma de reestruturação desenvolve respostas mais equilibradas e menos ansiosas. Desta forma, a Hipnose Clínica pode ajudar a reduzir a ansiedade associada às várias situações de aprendizagem, como exames ou apresentações, criando um estado de calma e confiança.

A par destas intervenções na aprendizagem a Hipnose Clínica tem, também, um papel preponderante no que diz respeito às dificuldades emocionais que podem intervir no processo de aquisição de conhecimentos. Por vezes, as pessoas têm crenças limitantes sobre a sua capacidade de aprender ou de se desenvolver em certas áreas. A hipnose pode ajudar a identificar e a mudar essas crenças, permitindo que o leitor possa desenvolver um padrão mental de crescimento e produtividade. Por outro lado, o leitor poderá apresentar dificuldades na aprendizagem por estar relacionado a um bloqueio emocional. Neste enquadramento, a hipnose clínica ajuda aceder a essas memórias e experiências traumáticas passadas e a resolver as mesmas para que possa usufruir da sua capacidade de aprender de maneira eficiente.

Em conclusão, a Hipnose Clínica pode ser uma ferramenta valiosa no processo de aprendizagem, ajudando a melhorar o foco, a reduzir a ansiedade, a incrementar a memória, e a superar os bloqueios emocionais que possam interferir na aquisição de novos conhecimentos e habilidades.

No próximo artigo poderá verificar mais sobre o papel da Hipnose na relação intrapessoal.

 

Sara Morais

Hipnoterapeuta