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Tag Archives: Domingo de Ramos

Avisos e Liturgia do Domingo de Ramos – ano C

O Domingo de Ramos é o pórtico da Semana Santa, iniciada com a liturgia da bênção dos Ramos, normalmente ao ar livre, com uma numerosa participação de fiéis, não esquecendo as crianças que, com a sua inocência, sempre aclamaram Jesus como rei da paz, entrando em Jerusalém, cidade da paz. Depois da bênção dos ramos, a missa deste domingo propõe-nos a leitura e a reflexão da paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, este ano segundo o evangelista Lucas. É importante fazer dela uma profunda reflexão e contemplação, mas de uma forma breve.

A leitura da Paixão começa com a ceia pascal, tomando esta ceia tradicional judaica um novo sentido. Jesus deseja “ardentemente comer esta Páscoa” com os seus discípulos, “antes de padecer”. O pão e o vinho daquela mesa converter-se-ão no memorial da sua paixão: “Fazei isto em memória de mim”. Na segunda leitura de quinta-feira santa, S. Paulo recorda à comunidade de Corinto: “todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha”. Por isso, continuamos a repetir a “fracção do pão”, o gesto sublime de partir e de repartir. Se não recordarmos este momento, rapidamente o esqueceremos.

Neste momento tenso e intenso, os discípulos não conseguiam ver o que, realmente, se estava a passar e o que se iria passar, porque estavam preocupados em saber qual deles era o mais importante. Jesus, bom pedagogo e paciente, teve de repetir pela enésima vez que “o maior entre vós seja como o menor, e aquele que manda seja como quem serve”. Disse isto da mesma maneira como os pais repetem os conselhos aos seus filhos, como os avós previnem os seus netos. Pedro, perante os seus companheiros, não se priva de manifestar a sua valentia e de dizer a Jesus que está disposto a ir com ele, até para a prisão e para a morte. Mas Jesus disse-lhe: “Não cantará hoje o galo, sem que tu, por três vezes, negues conhecer-Me”. Pedro não estará sozinho na negação. Será que nós também não o acompanhamos a negar Jesus?

Não sabemos se foi à força ou por compaixão que Simão de Cirene leva a cruz atrás de Jesus. Com este gesto, Simão de Cirene converte-se num sinal, por excelência, de compaixão por todos os crucificados do mundo. Talvez não soubesse a razão pela qual Jesus foi condenado a este suplício, mas ajuda-o a levar a cruz até onde for necessário. Cada um de nós tem de trabalhar para que o nosso próximo não carregue uma cruz por nossa causa. A nossa missão é ajudar a levar a cruz, ajudar os que estão em sofrimento.

“Seguia-O grande multidão de povo e mulheres que batiam no peito e se lamentavam, chorando por Ele”. Aquelas mulheres acompanhariam a mãe de Jesus e restante família. Aquelas mulheres, que a sociedade discriminava, Jesus acolheu-as e falou com elas. Por isso Jesus disse-lhes que não chorassem por Ele, mas por elas próprias e pelos seus filhos, e que se mantivessem fiéis na sua dignidade até ao fim. Continua a ser tão actual esta mensagem e este conforto de Jesus nos nossos dias, sobretudo para as mulheres que têm de lutar, neste mundo globalizado, para serem respeitadas, valorizadas e amadas.

No evangelho de S. Lucas, encontramos as mais belas parábolas sobre a misericórdia de Deus Pai: a do pai misericordioso (mais conhecida como a parábola do filho pródigo) e a do bom samaritano. Na cruz, Jesus atinge o ponto máximo da misericórdia quando pede o perdão para os seus verdugos: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Ele já tinha dito que se devia dar a outra face, que se devia perdoar os inimigos…, mas, também os algozes, aqueles tiranos desgraçados? Sim, também, porque o perdão é fonte de vida. O perdão é reconciliar-se com alguém e continuar a viver, sabendo que a ferida fica aberta. “O perdão não cura nem fecha feridas; ficam abertas, mas não isso não impede de viver, mas é a única possibilidade de viver” (Joan C. Mèlich).

 

10-04-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor!» (Lc 19,38)

 

No Céu, sentado no teu trono, cá em baixo sentado num burrinho, Cristo, Tu que és Deus, acolhias os louvores dos anjos e os hinos das crianças que Te cantavam: «Bendito sejas, Tu que vens chamar Adão». Eis o nosso Rei, manso e pacífico, montado num jumentinho, com pressa de sofrer a sua Paixão e limpar os nossos pecados.

O Verbo, Sabedoria de Deus, vem montado num animal para salvar os seres dotados de razão. E pudemos contemplar, sentado no dorso de um burrico, Aquele que conduz os Querubins e que no passado fez subir Elias num carro de fogo, Aquele que, «sendo rico, se fez pobre» voluntariamente (2Cor 8,9), Aquele que, escolhendo a fraqueza, dá força a quantos clamam: «Bendito sejas, Tu que vens chamar Adão».

Tu manifestas a tua força escolhendo a indigência. As vestes dos discípulos eram a marca da indigência, mas proporcional ao teu poder era o hino das crianças e a afluência da multidão que bradava: «Hosana – quer dizer: Salva-nos, Tu que estás no mais alto dos Céus. Salva, ó Altíssimo, os humildes. Tem piedade de nós, por atenção às nossas palmas; os ramos que se agitam moverão o teu coração,

Tu que vens chamar Adão». Ó criatura da minha mão, respondeu o Criador, eis que vim Eu próprio. Não será a Lei a salvar-te, pois não foi ela que te criou, nem os profetas, que eram criaturas como tu. Só Eu posso libertar-te da tua dívida. Eu fui vendido por ti, para te libertar; fui crucificado por causa de ti, para que possas escapar à morte; morro, e ensino-te a clamar: «Bendito sejas, Tu que vens chamar Adão».

Amei assim os anjos? Não, és tu, o miserável, que me és querido. Escondi a minha glória e eu, o Rico, fiz-Me pobre deliberadamente, por teu amor. Por ti, sofri a fome, a sede, a fadiga. Percorri montanhas, ravinas e vales à tua procura, ovelha perdida; tomei o nome de cordeiro para te trazer de volta, atraído pela minha voz de pastor, e quero dar a minha vida por ti, para te arrancar das garras do lobo. Tudo isto suporto para que possas bradar: «Bendito sejas, Tu que vens chamar Adão». (São Romano, o Melodista, ?-c. 560, compositor de hinos, Hino 32).

 

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Avisos e Domingo de Ramos- Ano C

PREPARAR AS CELEBRAÇÕES PASCAIS

A Congregação para o Culto divino publicou, em Janeiro de 1988, uma “Carta circular” que retoma, explicita e particulariza as normas litúrgicas relativas à preparação e celebração das Festas Pascais e sugere oportunos temas da catequese do máximo interesse para a vivência da Páscoa. Destacamos algumas propostas:

1. “Tal como a semana tem o seu início e o seu ponto culminante na celebração do Domingo, sempre caracterizado pela sua índole pascal, assim também o centro culminante de todo o ano litúrgico refulge na celebração do sagrado Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor, preparada pela Quaresma e prolongada na alegria dos cinquenta dias seguintes“. (Carta circular, Preparação e celebração das Festas pascais [PCFP], nº 2). Toda a pastoral e, assim, a pastoral litúrgica, devem brotar da e convergir para a celebração anual da Páscoa.

2. “A caminhada anual de penitência da Quaresma é o tempo de graça durante o qual se sobe à santa montanha da Páscoa. O tempo da Quaresma, com a sua dupla característica, prepara quer os fiéis quer os catecúmenos em ordem à celebração do mistério pascal… Os fiéis, dedicando-se com mais assiduidade a escutar a Palavra de Deus e a uma oração mais intensa, e mediante a penitência, preparam-se para renovar as suas promessas baptismais. (PCFP, nº 6)

3. “Toda a iniciação cristã comporta um carácter eminentemente pascal enquanto é a primeira participação sacramental na Morte e na ressurreição de Cristo. Por esta razão convém que a Quaresma adquira o seu carácter pleno de tempo de purificação e de iluminação…; a própria Vigília Pascal há-de ser tida como o momento mais adequado para celebrar os Sacramentos da iniciação” (PCFP, nº 7).

4. “…Os pastores recordem aos fiéis a importância que tem para fomentar a sua vida espiritual a profissão da fé baptismal que, “terminado o exercício da Quaresma”, são convidados a renovar publicamente na Vigília Pascal” (PCFP, nº 8). Este é o programa próprio da Quaresma.

5. Durante a Quaresma há que organizar uma catequese para os adultos… Ao mesmo tempo, estabeleçam-se celebrações penitenciais… (PCFP, nº 9).

6. “O tempo da Quaresma é também tempo apropriado para levar a cabo os ritos penitenciais, a modo de escrutínios… também para as crianças, já baptizadas, antes de se abeirarem pela primeira vez do Sacramento da Penitência” (PCFP, nº 10).

7. “Deve ministrar-se, sobretudo nas homilias do Domingo, a catequese do mistério pascal e dos sacramentos…” (PCFP, nº 12).
8. “Os pastores exponham a Palavra de Deus mais a miúdo e com maior empenho, nas homilias dos dias feriais, nascelebrações da Palavra de Deus, nas celebrações penitenciais, nas pregações especiais próprias deste tempo, nas visitas que façam às famílias ou a grupos de famílias para a sua bênção. Os fiéis participem mais frequentemente nas Missas feriais e, se isso não lhes for possível, serão convidados para ao menos ler, em família ou privadamente, as leituras do dia” (PCFP, nº 13).9. “A Igreja celebra todos os anos os grandes mistérios da redenção humana, desde a missa vespertina da Quinta-feira “In Cena Domini” até às vésperas do domingo da ressurreição. Este espaço de tempo é justamente chamado o “tríduo do crucificado, do sepultado e do ressuscitado” e também tríduo pascal, porque com a sua celebração se torna presente e se cumpre o mistério da Páscoa, isto é, a passagem do Senhor deste mundo ao Pai. Com a celebração deste mistério a Igreja, por meio dos sinais litúrgicos e sacramentais, associa-se em íntima comunhão com Cristo seu Esposo” (PCFP, nº 38).
10. “É muito conveniente que as pequenas comunidades religiosas, quer clericais, quer não, e as outras comunidades laicais participem nas celebrações do t r í d u o pascal nas igrejas maiores. De igual modo, quando em algum lugar é insuficiente o número dos participantes, dos ajudantes e dos cantores, as celebrações do tríduo pascal sejam omitidas e os fiéis reúnam-se noutra igreja maior. Também onde mais paróquias pequenas são confiadas a um só sacerdote, é oportuno que, na medida do possível, os seus fiéis se reúnam na igreja principal para participar nas celebrações. Para o bem dos fiéis, onde ao pároco é confiada a cura pastoral de duas ou mais paróquias, nas quais os fiéis participam em grande número e podem ser realizadas as celebrações com o devido cuidado e solenidade, os mesmos párocos podem repetir as celebrações do tríduo pascal, respeitando-se todas as normas estabelecidas” (PCFP, nº 43). “Nestas comunidades, embora muitas vezes pequenas e pobres, ou dispersas, está presente Cristo, por cujo poder se unifica a Igreja una, santa, católica e apostólica” (LG 26)
11. “É desejável que, segundo as circunstâncias, seja prevista a reunião de diversas comunidades numa mesma igreja, quando, por razão da proximidade das igrejas ou do reduzido número de participantes, não se possa ter uma celebração completa e festiva. Favoreça-se a participação de grupos particulares na celebração da vigília pascal, na qual todos os fiéis, formando uma única assembleia, possam experimentar de modo mais profundo o sentido de pertença à mesma comunidade eclesial. Os fiéis que, por motivo das férias, estão ausentes da própria paróquia sejam convidados a participar na celebração litúrgica no lugar onde se encontram” (PCFP, nº 94).

14-04-2019

UMA PASTORAL PARA GARANTIR A UNIDADE SACRAMENTAL DO TRÍDUO PASCAL

A unidade do Tríduo Pascal é uma unidade histórica e sacramental porque representa o mistério pascal que S. Agostinho chamou de “Tríduo de Cristo, crucificado, sepultado e ressuscitado”. É uma unidade litúrgica, porque as suas celebrações estão muito relacionadas com estes três acontecimentos: a antecipação sacramental da morte na Última Ceia ao entardecer de quinta-feira santa, o drama do Calvário na sexta-feira santa, a contemplação da sepultura durante o sábado, e a Ressurreição na passagem da noite para o dia do domingo da Ressurreição. Em algumas comunidades paroquiais, devido à falta de padres, celebra-se somente na quinta-feira santa e no Domingo de Páscoa. Em alguns sítios, há celebrações da Palavra no dia da Instituição da Eucaristia com a distribuição da sagrada comunhão! Noutros, a liturgia de sexta-feira santa consiste numa celebração da palavra, presidida por um leigo, fundamentando-se na seguinte ideia: se não há consagração, não há necessidade de sacerdote! Proliferam “vigílias” pascais, a começar pela tarde com a duração de uma “normal” missa vespertina e com uma redução do número das leituras propostas. Fala-se na celebração de “vigílias” pascais para grupos específicos de espiritualidade, retirando os seus membros das comunidades paroquiais! Outra “novidade” é a multiplicação dos círios pascais na Vigília Pascal para significar as diversas comunidades numa única assembleia. Afinal, o círio representa Cristo Ressuscitado ou comunidades? O que fazer? O que se deve corrigir? O Tríduo Pascal é uma grande celebração com diversos momentos. Três são centrais e alguns complementares. Centrais: a missa da Ceia do Senhor, a celebração solene da Paixão e a Vigília Pascal. Complementares: adoração na noite de quinta para sexta-feira santas, alguma parte da Liturgia das Horas, nas manhãs de sexta-feira e Sábado Santos. A continuidade destas três celebrações manifesta-se no seguinte: não se despede a assembleia ao concluir a liturgia de quinta-feira santa, mas temos a trasladação da reserva eucarística. Esta reserva da Eucaristia é a que se vai comungar, depois da adoração da cruz, no dia seguinte. Na sexta-feira santa não há saudação inicial e, no final, não se despede a assembleia. A desnudação do altar no fim da missa de quinta-feira santa introduz-nos na entrega plena de Cristo na sua Paixão até à sua “descida aos infernos”. Num clima de contemplação, o Tríduo Pascal vai sendo, pouco a pouco, um momento de espera e de preparação para o encontro com o Ressuscitado na Vigília Pascal. Assim, é conveniente que se estabeleça e se promova uma continuidade. Para tal:

1º Nas comunidades paroquiais, o Tríduo Pascal seja completo: a missa da Ceia do
Senhor, a Celebração da Paixão e a Vigília Pascal.

2º Todas as celebrações sejam presididas pelo sacerdote.

3º As celebrações ocorram na mesma igreja por causa da repercussão que a liturgia tem sobre o espaço litúrgico, que permite apreciar os diversos mistérios que se estão a celebrar. Por exemplo, a desnudação do altar não é uma acção meramente funcional; esse altar representa Cristo na sua entrega total e plena. O mesmo altar revestido de uma forma festiva representará Cristo, Cordeiro Pascal.

4º Nas comunidades paroquiais onde não é possível as celebrações do Tríduo Pascal, poder-se-á cultivar a oração da Liturgia das Horas, pela qual, como acontece com os sacramentos, se actualiza também o mistério pascal. O Ofício Divino não é uma realidade paralela ou alternativa à Eucaristia, ou às celebrações do Tríduo, mas é uma forma de participação que se deve promover onde não são possíveis as celebrações do Tríduo Pascal.

5º Nas comunidades onde existem tradições da Semana Santa (procissões, via-sacra ao vivo, sermões), não haja competições com as celebrações litúrgicas no que respeita à marcação de horários, mas que sirvam para a oração e para a contemplação do mistério pascal de Cristo, a sua morte, sepultura e ressurreição, acompanhado pela sua Mãe, Maria de Nazaré.

6º Recordemos que o Tríduo Pascal “não é de preceito”, o que não supõe assegurar de qualquer maneira a sua celebração em todos os lugares. O ideal será assegurar a celebração do Domingo de Ramos e do Domingo de Páscoa, enquanto o Tríduo Pascal seja celebrado no local onde se congrega a maioria dos fiéis e que permita uma celebração espiritual, cuidada e participativa. O mistério pascal actualiza-se sacramentalmente na celebração da Eucaristia e de uma forma sequencial, anualmente, no Tríduo Pascal. Como não é concebível a separação dos mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, também não é admissível a celebração do Tríduo de um modo que não seja completo. Não se retirem elementos destas celebrações, como se fossem celebrações paralelas nem se multipliquem as celebrações sem as suficientes condições de assistência de fiéis, cuidando da liturgia e nas horas correspondentes. Sobre isto, é urgente iniciar e promover um caminho de sensibilização dos fiéis…o que não é nada fácil, mas não impossível!

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Ano C - Tempo da Quaresma - Domingo de Ramos - Boletim Dominical