
Nascido nas faldas da Serra da Estrela de uma família de 12 irmãos, António Menano foi sem sombra de
dúvida o mais conhecido e popular cantor de fados de Coimbra. Tal como Hylário, o fabuloso cantor boémio
seu antecessor, também António Menano cedo se tornou ídolo da Academia, enriquecendo o espírito estudantil
de Coimbra e a lenda coimbrã de uma certa boémia própria da juventude, de fados e serenatas, misto de
arte e romantismo, de sonhos e ilusões. António Menano está tão intimamente ligado ao fado de Coimbra
e este a ele que verdadeiramente se não pode dissociar um do outro; falar de António Menano é falar do
fado de Coimbra e da chamada década de oiro.
Segundo nos conta João Seabra(Nº 56, de JAN/FEV de 1944,
da Revista Turismo), a lembrança e a saudade de Hylário foram esmorecendo com o tempo mas as guitarras
eos cantadores continuaram a ouvir-se no Mondego. Um dia todos os rouxinóis se calaram para ouvir um
outro que erguia mais alto os seus harmoniosos trinados, o estudante António Menano. Mais nos conta que
a recordação do seu nome traz à memória a loucura que se apossou de Coimbra e, depois, de Lisboa e de
todas as terras do País, para ouvirem a sua voz de tenor. Diz-nos ainda que iam a Coimbra milhares de
pessoas só para o ouvir cantar e, em Lisboa, nalgumas festas em que participou, mesmo em recintos de
grande lotação como o Coliseu e o Jardim Zoológico, os bilhetes se esgotavam e a ansiedade para o ouvir
era enorme, tendo-lhe sido prestadas ovações”como raras vezes se fizeram às maiores celebridades líiricas”.
O DR. João Falcato vai até mais longe e afirma que essas ovações apoteóticas nunca se fizeram às maiores
celebridades líiricas(In Coimbra dos Doutores, 1957, pág.169).
Os chamados Irmãos Menano(Francisco,
Horácio, António e Alberto) constituiram a mais famosa e fecunda plêiade de finos artistas que passou
por Coimbra, precedida no final do séc. anterior por outros dois Menanos,José Paulo Menano e Paulo da
Costa Menano(ambos formados em Direito, em 1901 e 1903, respectivamente) que se notabilizaram em récitas
e outras atividades artísticas.
Matriculado na Universidade, António Menano vê despontar a sua estrela
em Março de 1915, quando canta um fado em Aveiro, num sarau organizado pela Associação Académica de Coimbra,
com a participação da Tuna e do orfeon. É nesse ano lectivo de 1914-1915 que se procede à reorganização
do Orfeon Académico, agora sob a regência do saudoso Dr. Elias de Aguiar e onde António Menano se torna
solista e ensaiador do naipe dos lºs tenores, passando também a cantor “titular” de fados e canções nos
saraus e outros espetáculos e atividades que se realizavam.
Talves seja importante abrir aqui um
pequeno parêntesis para referir que o seu irmão Francisco, exímio guitarrista e excelente compositor,
fôra, anteriormente e até concluir o curso de Direito em 1912, ensaiador do naipe dos 2ºs tenores do
Orfeon, quando este era dirigido por António Joyce, e que um dos guitarristas que habitualmente acompanhava
António Menano era, além de Paulo de Sá, Alberto Menano, seu irmão. Um outro guitarrista que por vezes
também o acompanhou foi o seu irmão Horácio.
Nos anos 20. Artur Paredes foi também um dos seus acompanhantes
habituais.
No final desse mesmo ano letivo, em 10 de Junho de 1915, na festa de homenagem a Camões
promovida pelos alunos do Liceu José Falcão, de Coimbra, António Menano foi convidado a participar e,
em vez dos habituais fados, surge a cantar um trecho de “Os Lusíadas” que fôra musicado pelo já referido
Dr. Elias de Aguiar. É também em 1915 que surge a primeira edição musical com fados da autoria de António
menano, “Os três mais lindos fados de Coimbra”, publicada pela Livraria Neves, à Rua Larga, com o fado
“D’um olhar”(“As meninas dos meus olhos”), de Alexandre de Resende, dedicado “ao António Menano”, com
quadras populares, sendo os outros fados da autoria de António menano, o “Fado da Morenas”(“Todos gostam
das morenas”), dedicado “ao Estevão Neto”, com uma quadra popular e três outras de Fernando Correia,
e o “Fado da Noite”(“Há quem diga que quem chora”), dedicado “ao J.Gamboa, com cinco quadras de Alfredo
Fernandes Martins.
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