E mais um ano está prestes a terminar; dezembro chegou e com ele chegaram as festas.
O Natal está a porta, o fim do ano é daqui a um saltinho. E para trás mais um ano fica.
É nesta época, que começamos a pensar no Natal, no que vamos fazer para o Natal, no que vamos gastar, no que vamos comprar, oferecer etc.
Chegámos à época do consumo desenfreado que as televisões nos oferecem; brinquedos, telemóveis, televisões, enfim a época do consumo. As ruas vão encher-se de luzes, os miúdos vão aos centros comerciais e está lá o Pai Natal, pedem-se prendas de todos os tipos.
Mas eu lembro-me de um outro Natal; e desse tenho muitas saudades.
Naqueles tempos, a televisão era a preto e branco; em vez de brinquedos, telemóveis, tablets e afins, oferecia-se roupas ou calçado, que era mais que necessário. Pai Natal de chocolate ou as fantasias de Natal que apareciam nos anúncios da RTP; sim porque SIC e TVI nem em sonhos.
A árvore de Natal era um pinheiro normal, que acabava por fazer lixo quando as “folhas” secavam e caíam ao fim do Natal; luzes na árvore nem sonhar. A neve imitava-se com pedaços de algodão; o presépio era simples; três Reis Magos, um menino Jesus, Maria, José, o burro e a vaca; se houvesse mais umas figuras decorativas, ia-se ao musgo e com terra fazia-se os caminhos;
Na escola, os miúdos com papel de lustro tinham recortado as estrelas ou outros motivos de Natal que acabavam por servirem de decoração à arvore e ao presépio.
Músicas também não havia. As poucas prendas que havia eram lá colocadas, debaixo daquela árvore simples, mas que para nós era algo mágico; havia sempre aquela esperança de um brinquedo por mais tosco que fosse, mas no fundo sabíamos que era tudo roupa ou calçado.
O comer da ceia de Consoada, era o bacalhau com todos quando havia dinheiro para o comprar; o cabrito, o arroz de polvo, isso é tudo, desculpem-me a expressão, modernices. Arroz-doce para a sobremesa e depois sentava-se a família de volta da lareira, a falar…
Televisão era raro, e havia aquele aconchego da família a ouvir o estalar da lenha na lareira; a mesa depois do jantar da Consoada era uma mão cheia de sonhos, filhoses ou qualquer outro doce típico de Natal feito com aquele amor e carinho que as avós e as nossas mães tinham nas suas mãos.
Realmente nunca haverá bacalhau feito na panela de ferro à lareira, ou arroz-doce como o da avó. Não desprezando os dotes culinários de quem nos prepara hoje o jantar de Consoada. Mas recordo tão bem que tudo aquilo, apesar de hoje nos parecer “pobre” tinha um sabor mágico.
À meia-noite ou já se dormia ou se ia à missa do Galo; os miúdos deitavam-se cedo, porque achavam que assim o dia chegava mais depressa para abrir as prendas.
E quando chegava o dia de Natal, aquela manhã do 25, os miúdos levantam-se a correr e iam direitos à arvore, e os presentes eram distribuídos; o papel era rasgado, e as roupas ou calçado eram vistas por eles; não havia brinquedos, mas havia roupa; os brinquedos era algo supérfluo…
Mas havia algo nestes Natais que se perdeu com os tempos; perdeu-se a nossa inocência, e a magia que nós sentíamos…
Hoje, aquilo que no passado para nós era algo diferente e mágico, transformou-se numa época comercial; onde o comer com fartura, o consumismo das prendas, as luzes, as músicas, o Pai Natal sentado num centro comercial, fez perder toda a magia daquilo que nós há muitos anos chamávamos de Natal.
Felizes festas a todos.
Augusto Falcão