SINTONIZADOS COM O PENSAMENTO DE DEUS
“Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. Não seria melhor iniciar o tempo do Advento com um texto evangélico menos aterrador? É um texto com uma linguagem apocalíptica, o qual, longe de querer gerar medo, procura revelar-nos uma grande esperança. Jesus encontra-se no templo de Jerusalém, na última semana da sua vida terrena, no designado átrio das mulheres; ali, os seus discípulos convidam-no a contemplar a sumptuosidade do templo, construído por Herodes. Olhando para essas pedras, admiravelmente esculpidas e adornadas, o Mestre afirma: “virá o dia em que, de tudo isto que estais a contemplar, não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. Os discípulos, para quem o templo era o sinal da presença de Deus nesta terra, ficaram cheios de medo, pensando que Jesus falava do fim do mundo. Se o templo era destruído, significava que a humanidade tinha chegado ao seu fim. Mas, o que há de mais estável que os astros do céu e o seu percurso? Na antiguidade, e hoje, contemplamos o céu e sabemos o percurso dos planetas e estrelas. É normal ver o sol, todas as manhãs, no oriente, e a lua manifestar-se nas suas fases. Ao dizer-nos que haverá sinais no sol e na lua, Jesus pretende dizer-nos que esta estabilidade do mundo irá ter o seu fim e que uma grande novidade estará para chegar. Aproxima-se um momento decisivo em que cada um terá de tomar uma decisão para a sua vida. No tempo de Jesus, o mar e as suas criaturas eram considerados como o lugar das trevas, onde habitavam as forças do mal. Ao chegar o novo Reino, estas forças iriam cair no desespero. Como também seria eliminada a forma de conceber a religião e a relação com Deus, simbolizada no templo e nos astros; também chegaria ao fim o reino do mal, que será vencido definitivamente. O Advento coloca diante nós o Natal. E o texto evangélico deste domingo diz-nos que o Natal é um momento radical. É Cristo que vem instaurar um mundo novo, onde o “velho” já não tem sentido e o “novo” é obra do Espírito do Amor. Cristo é aquele “rebento…que exercerá o direito e a justiça na terra”, como afirma Jeremias, na primeira leitura. Neste Domingo, o que Jesus nos anuncia? Não anuncia somente o que acontecerá, mas também nos diz como devemos esperar a sua vinda. Jesus lança o convite: “erguei-vos e levantai a cabeça…não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida…Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer e comparecer diante do Filho do homem”. “Erguei-vos”. Não cair na resignação diante de toda a espécie de escravidão. Não cair nas garras do pecado ou no remoer da desolação e da tristeza. “Levantai a cabeça”, sede optimistas! Advento é um tempo de espectativa alegre; recordemos que se aproxima a nossa libertação. Não podemos ficar sentados no sofá da vida, quietos, mas erguidos, com o olhar dirigido para um futuro melhor, muito melhor! É Cristo que vem ao nosso encontro. “Cristo pode nascer mil vezes em Belém, mas se não nasce em mim, nasceu em vão” (Mestre Eckhart) Então, o que fazer? Ser vigilantes é estar atentos para que o nosso coração não seja insensível aos verdadeiros valores; é não perder os critérios de Jesus, porque, se tal acontecer, ficaremos escravos das angústias da vida. Cristo convida-nos a não ficarmos bloqueados com as preocupações da vida, mas a levantar a cabeça, alargar horizontes, estar sempre alerta para contemplar a Sua vinda. Tenhamos a coragem de estar sempre em sintonia com o pensamento de Deus. O Evangelho não antecipa o fim do mundo, narra o segredo do mundo: toma-nos pela mão e leva-nos para fora de portas, a olhar para o alto, a sentir o universo pulsar à nossa volta; chama-nos a abrir as janelas de casa para fazer entrar os grandes ventos da história, a sentirmo-nos parte viva de uma imensa vida. Que padece, que sofre, mas que nasce.
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Leitura Espiritual
«Vigiai e orai em todo o tempo»
Quem quiser orar em paz não terá em consideração apenas o local, mas o tempo. O momento do repouso é o mais favorável, pois quando o sono da noite estabelece um silêncio profundo, a oração torna-se mais livre e mais pura: «Levanta-te, grita durante a noite, no começo das vigílias; derrama o teu coração como a água perante a face do Senhor» (Lm 2,19). Com que segurança a oração sobe na noite, quando só Deus é dela testemunha, com o anjo que a recebe para a ir apresentar ao altar celeste! Ela é agradável e luminosa, pintada de pudor; é calma e tranquila, já que nenhum barulho, nenhum grito a interrompe; é pura e sincera, não manchada pelo pó das preocupações terrenas. Não há espectador que possa expô-la à tentação, pelos seus elogios ou pela sua adulação. Dizemos, pois, que a Esposa (do Cântico dos Cânticos) agiu com prudência e pudor quando escolheu a solidão nocturna do seu quarto para rezar, ou seja para procurar o Verbo, que é a mesma coisa. Rezas mal se, ao rezar, não procuras o Verbo, a Palavra de Deus, ou se o que pedes na tua oração não é relativo ao Verbo. Porque tudo está nele: o remédio para as feridas, o socorro nas necessidades, a melhoria dos defeitos, a fonte dos progressos, em suma, tudo o que um homem pode e deve desejar. Não há razão para pedirmos ao Verbo outra coisa que não seja Ele próprio, pois Ele é todas as coisas. Se pedimos certos bens concretos, e se os desejamos pelo Verbo, não é tanto essas coisas em si mesmas que pedimos, como Aquele que é a causa da nossa súplica. (São Bernardo, 1091-1153, monge cisterciense, doutor da Igreja, Sermão 86 sobre o Cântico dos Cânticos).