No itinerário da Quaresma, este Domingo é chamado o “Domingo da Alegria” e também o “Domingo da Iluminação”, porque se dá ênfase à imagem da luz. Na 1ª leitura, Deus ilumina o profeta no momento de ungir aquele que foi escolhido para rei. No Evangelho, com o cego de nascença, entramos numa catequese onde Jesus ensina como brota a fé no homem; podemos pensar que acreditamos, mas podemos estar cegos. O que ilumina não é a sabedoria, mas Jesus e com Ele podemos ser luz para o mundo (2ª leitura).
Samuel era profeta e tinha a missão de procurar aquele que tinha de ungir como rei. Poderia pensar que já tinha o critério formado para escolher o mais adequado. Porém, vemos que todos os critérios de escolha de Deus estão longe de um olhar humano que procura, acima de tudo, a eficiência. Na sociedade, os critérios de selecção de pessoal são muito diferentes dos de Deus. É preciso purificar o olhar, ou seja, aprender a olhar as coisas como Deus. David não é o mais forte nem com mais experiência de vida, mas aquele que, apesar das suas fraquezas, se deixa conduzir pelo Espírito de Deus. Mas também Samuel deixa conduzir-se por Deus: a escuta da Palavra é fundamental, deixando de lado a intuição pessoal. O salmo, “O Senhor é meu pastor”, convida-nos a deixarmo-nos conduzir. “Conduz-me às águas…ele me guia por sendas direitas”.
Como no Domingo passado, é Jesus que toma a iniciativa, porque quer revelar o poder de Deus. O cego não pedia nada, mas cai sobre ele o peso da culpa. Não precisamos de gastar energias a procurar as causas dos que não vêem, dos que não acreditam. Para Jesus, o mais importante é a situação do cego de nascença e ser luz para ele. “É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou”. É de salientar alguns aspectos do texto para vermos o caminho de fé do cego. Ele obedece (“Vai lavar-te”), reconhece que era cego (descrente), e diz que foi Jesus que lhe abriu os olhos. Este homem, que começou a ver (a acreditar) sabe reconhecer Jesus “como um profeta”. Apesar de alguns tentarem dizer-lhe que Jesus é um pecador, ele responde: “eu era cego e agora vejo”. “Sabemos que Deus não escuta os pecadores…se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer”. A sua fé tem consequências: é excluído. Aqueles que acreditam sentem, tantas vezes, o vazio social! O momento culminante desta catequese é a pergunta de Jesus: “Acreditas no Filho do homem? Ele prostrou-se e exclamou: Eu creio, Senhor”: uma adesão plena a Jesus em postura de adoração, cheia de gratidão e de reconhecimento.
Se na 1ª leitura Samuel aprendia a ver a realidade como Deus a vê, no evangelho vemos o processo através do qual quem está nas trevas, deixando-se conduzir por Deus, verá a sua vida interior iluminada. A Carta Efésios desafia-nos. Não basta somente ser iluminado pela fé, mas também que o nosso testemunho seja farol de “bondade, justiça e verdade” para as trevas dos outros. O cego de nascença é um verdadeiro discípulo que não se deixa manipular nem desanima perante as perseguições. A fé em Cristo é procurar em tudo agradar ao Senhor. Deixemos cair as nossas seguranças pessoais, para que Jesus seja verdadeiramente o nosso Pastor.
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LEITURA ESPIRITUAL
«Ele foi, lavou-se e ficou a ver»
Deus todo-poderoso, Benfeitor, Criador do Universo, escuta os meus gemidos, pois corro perigo. Liberta-me do medo e da angústia; liberta-me com a tua força poderosa, Tu, que tudo podes. Senhor Cristo, rasga as malhas desta rede que me envolve com a espada da tua cruz vitoriosa, que é a arma da vida. Por todos os lados esta rede me envolve, me aprisiona e me tem cativo, para me fazer perecer; conduz ao repouso os meus cambaleantes e oblíquos passos.
Cura a febre que me sufoca o coração. Perante Ti sou culpado, liberta-me da inquietação, que é fruto da invenção diabólica, faz desaparecer a escuridão da minha alma angustiada. Renova-me na alma a imagem de luz da glória do teu nome, grande e poderoso. Intensifica o brilho da tua graça na beleza do meu rosto e na efígie dos olhos do meu espírito, a mim, que do barro nasci (Gn 2,7).
Corrige em mim, refaz, com maior fidelidade, a imagem que reflecte a tua (Gn 1,26). Com a tua pureza luminosa faz desaparecer as minhas trevas, a mim, que sou pecador. Inunda a minha alma com a tua luz divina, viva, eterna, celeste, para que em mim se torne maior a semelhança com o Deus Trinitário. Só Tu, ó Cristo, és bendito com o Pai para louvor do teu Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Ámen. (São Gregório de Narek, c. 944-c. 1010), monge, poeta arménio, Livro de orações, n. 40).