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Avisos e Liturgia do IV Domingo da Quaresma – ano A

No itinerário da Quaresma, este Domingo é chamado o “Domingo da Alegria” e também o “Domingo da Iluminação”, porque se dá ênfase à imagem da luz. Na 1ª leitura, Deus ilumina o profeta no momento de ungir aquele que foi escolhido para rei. No Evangelho, com o cego de nascença, entramos numa catequese onde Jesus ensina como brota a fé no homem; podemos pensar que acreditamos, mas podemos estar cegos. O que ilumina não é a sabedoria, mas Jesus e com Ele podemos ser luz para o mundo (2ª leitura).

Samuel era profeta e tinha a missão de procurar aquele que tinha de ungir como rei. Poderia pensar que já tinha o critério formado para escolher o mais adequado. Porém, vemos que todos os critérios de escolha de Deus estão longe de um olhar humano que procura, acima de tudo, a eficiência. Na sociedade, os critérios de selecção de pessoal são muito diferentes dos de Deus. É preciso purificar o olhar, ou seja, aprender a olhar as coisas como Deus. David não é o mais forte nem com mais experiência de vida, mas aquele que, apesar das suas fraquezas, se deixa conduzir pelo Espírito de Deus. Mas também Samuel deixa conduzir-se por Deus: a escuta da Palavra é fundamental, deixando de lado a intuição pessoal. O salmo, “O Senhor é meu pastor”, convida-nos a deixarmo-nos conduzir. “Conduz-me às águas…ele me guia por sendas direitas”.

Como no Domingo passado, é Jesus que toma a iniciativa, porque quer revelar o poder de Deus. O cego não pedia nada, mas cai sobre ele o peso da culpa. Não precisamos de gastar energias a procurar as causas dos que não vêem, dos que não acreditam. Para Jesus, o mais importante é a situação do cego de nascença e ser luz para ele. “É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou”. É de salientar alguns aspectos do texto para vermos o caminho de fé do cego. Ele obedece (“Vai lavar-te”), reconhece que era cego (descrente), e diz que foi Jesus que lhe abriu os olhos. Este homem, que começou a ver (a acreditar) sabe reconhecer Jesus “como um profeta”. Apesar de alguns tentarem dizer-lhe que Jesus é um pecador, ele responde: “eu era cego e agora vejo”. “Sabemos que Deus não escuta os pecadores…se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer”. A sua fé tem consequências: é excluído. Aqueles que acreditam sentem, tantas vezes, o vazio social! O momento culminante desta catequese é a pergunta de Jesus: “Acreditas no Filho do homem? Ele prostrou-se e exclamou: Eu creio, Senhor”: uma adesão plena a Jesus em postura de adoração, cheia de gratidão e de reconhecimento.

Se na 1ª leitura Samuel aprendia a ver a realidade como Deus a vê, no evangelho vemos o processo através do qual quem está nas trevas, deixando-se conduzir por Deus, verá a sua vida interior iluminada. A Carta Efésios desafia-nos. Não basta somente ser iluminado pela fé, mas também que o nosso testemunho seja farol de “bondade, justiça e verdade” para as trevas dos outros. O cego de nascença é um verdadeiro discípulo que não se deixa manipular nem desanima perante as perseguições. A fé em Cristo é procurar em tudo agradar ao Senhor. Deixemos cair as nossas seguranças pessoais, para que Jesus seja verdadeiramente o nosso Pastor.

 

19-03-2023

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LEITURA ESPIRITUAL

«Ele foi, lavou-se e ficou a ver»

 

Deus todo-poderoso, Benfeitor, Criador do Universo, escuta os meus gemidos, pois corro perigo. Liberta-me do medo e da angústia; liberta-me com a tua força poderosa, Tu, que tudo podes. Senhor Cristo, rasga as malhas desta rede que me envolve com a espada da tua cruz vitoriosa, que é a arma da vida. Por todos os lados esta rede me envolve, me aprisiona e me tem cativo, para me fazer perecer; conduz ao repouso os meus cambaleantes e oblíquos passos.

Cura a febre que me sufoca o coração. Perante Ti sou culpado, liberta-me da inquietação, que é fruto da invenção diabólica, faz desaparecer a escuridão da minha alma angustiada. Renova-me na alma a imagem de luz da glória do teu nome, grande e poderoso. Intensifica o brilho da tua graça na beleza do meu rosto e na efígie dos olhos do meu espírito, a mim, que do barro nasci (Gn 2,7).

Corrige em mim, refaz, com maior fidelidade, a imagem que reflecte a tua (Gn 1,26). Com a tua pureza luminosa faz desaparecer as minhas trevas, a mim, que sou pecador. Inunda a minha alma com a tua luz divina, viva, eterna, celeste, para que em mim se torne maior a semelhança com o Deus Trinitário. Só Tu, ó Cristo, és bendito com o Pai para louvor do teu Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Ámen. (São Gregório de Narek, c. 944-c. 1010), monge, poeta arménio, Livro de orações, n. 40).

 

 

Avisos e Liturgia do III Domingo da Quaresma – ano A

 

Nesta Quaresma, pela 1ª leitura, já vimos que Deus criou o homem livre (1º Domingo) e dá-lhe uma vocação (2º Domingo). Neste 3º Domingo, apesar de ter sido libertado, por Deus, da escravidão, o povo começa a desconfiar de Deus, quando surgem as tribulações. Com a simbologia da água, Deus responde a esta desconfiança: na 1ª leitura, a água libertará da sede o povo, e no evangelho ajudará a samaritana a reflectir sobre a acção do Espírito de Deus para saciar a verdadeira sede, porque a água viva será a imagem do Espírito de Deus que brota do interior, de tal maneira que, na 2ª leitura, é-nos dito que “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.

O Êxodo faz-nos ver que o caminho da vida nem sempre é plano. As dificuldades podem fazer perder o sentido da vida. O povo escolhido, a caminho da terra prometida, começa a protestar, perante as dificuldades. Começa a duvidar da presença de Deus. A passagem pela vida é como a travessia do deserto, não se faz sem água. Mas, temos de sede de quê? De riqueza, de poder, de afecto, de justiça, de reconhecimento? A partir da leitura do Êxodo, de que é que tenho sede, o que desejo? Para a samaritana, o seu desejo era ir buscar água ao poço. O povo de Israel já nem se recordava que era o povo de Deus e do objectivo da sua vida. Também nós, com as nossas frustrações, podemos esquecer a vocação a que fomos chamados. Pela 1ª leitura, somos convidados a aprender a confiar em Deus. A água para a travessia da vida virá de Deus.

Na leitura do evangelho deste Domingo, e dos dois seguintes, descobriremos três aspectos da pessoa e da missão de Jesus. O diálogo com a samaritana apresenta-nos a simbologia baptismal da água. No próximo Domingo, a cura do cego convidar-nos-á a uma nova maneira de olhar, ver e entender. No último Domingo, com a ressurreição de Lázaro, veremos como a vida vence a morte. No diálogo com a samaritana, é Jesus quem toma a iniciativa de a levar à realidade da sua vida. É uma catequese que ajuda uma realidade frustrante e escravizadora a abrir-se a uma vida interior, onde descobrirá os valores libertadores. O diálogo passa da constatação de uma situação material, ter sede, e de inimizade, judeus e samaritanos, para uma situação satisfatória de saciedade, que é Jesus, Fonte da Água Viva: “Senhor, dá-me dessa água”. Jesus situa no interior do homem a fonte de água viva; já não se adora Deus em Jerusalém ou em Garizim: “vai chegar a hora – e já chegou- em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade”. Para Jesus, já não é o Templo que importa, mas a relação que se estabelece entre o Pai e o Filho, uma relação profunda de amor, fundamentada na fé. De seguida, Jesus revela-se à mulher como o Messias, o Ungido, o Salvador. Assim, Jesus revela a proximidade de Deus.

Na figura da samaritana, podemos ver a nossa vida. É o amor de que nos falava a 2ª leitura: “o amor de Deus foi derramado em nossos corações”. Quando ela regressa a casa, dá testemunho do que viveu: “Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é realmente Salvador do mundo”. Todos temos de passar pela escuta de Jesus.

12-03-2023

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LEITURA ESPIRITUAL

«Porventura és mais do que o nosso patriarca Jacob?»

 

A vista da beleza de Raquel fortaleceu Jacob, que assim conseguiu levantar a enorme pedra de cima do poço e dar de beber ao seu rebanho (Gn 29,10). Raquel, com quem se casou, era um símbolo da Igreja. Por isso, ao beijá-la, teve de chorar e de sofrer (v. 11), prefigurando deste modo, pelo seu casamento, os sofrimentos do Filho. Quão mais belas são as núpcias do Esposo real do que as dos seus embaixadores! Jacob chorou por Raquel, ao desposá-la; Nosso Senhor cobriu a Igreja com o seu sangue, ao salvá-la.

As lágrimas são o símbolo do sangue, porque não é sem dor que elas jorram dos olhos. O choro do justo Jacob é o símbolo do grande sofrimento do Filho, pelo qual a Igreja das nações foi salva. Vem, contempla o nosso Mestre: Ele veio ao mundo, aniquilou-Se para fazer o seu caminho na humildade (Fl 2,7). Vendo as nações como rebanhos sedentos e a fonte da vida fechada pelo pecado, como que por uma pedra, derrubou o pecado, que era pesado como uma rocha. Ele abriu o baptistério à Esposa e foi aí buscar água para dar de beber às nações da Terra, como aos seus rebanhos.

Com a sua omnipotência, levantou o pesado fardo dos pecados e pôs a descoberto a fonte de água doce. Sim, pela Igreja, Nosso Senhor deu-Se a grandes trabalhos. Por amor, o Filho de Deus vendeu os seus sofrimentos para poder desposar, à custa das suas chagas, a Igreja abandonada. Por ela, que adorava os ídolos, sofreu na cruz. Por ela quis entregar-Se, para que ela fosse completamente imaculada (Ef 5,25-27). Conduziu às pastagens todo o rebanho dos homens, com o grande cajado da cruz, e não rejeitou o sofrimento; aceitou conduzir raças, nações, tribos, multidões e povos, para poder reaver a Igreja, sua única Esposa (Ct 6,9). (São Tiago de Sarug, c. 449-521, monge e bispo sírio, Homilia sobre Nosso Senhor e Jacob, sobre a Igreja e Raquel).

 

Avisos e Liturgia do VII Domingo do Tempo Comum- ano A

 

A temática do evangelho deste Domingo é o perdão e o amor. Havia uma norma ética e nobre da justiça retributiva, que é a base do direito antigo e moderno da justiça distributiva. Mas Jesus quer fazer uma proposta teológica e interior, anti-violenta, fundamental para a vida pessoal e social do cristão e da Igreja. Não responder ao mal com o mal: “se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda; se alguém quer ficar com o manto, dá-lhe também a túnica…dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado”. Trata-se de uma nova estratégia, aberta para criar uma nova relação com o adversário, livre da lógica da injustiça violenta.

“Amai os vossos inimigos”. É a grande novidade da doutrina cristã. Se o amor de Deus é infinito, assim também tem de ser o amor do cristão. Um amor que procura a perfeição e não tem limites, amar como Jesus ensinou e mandou. A 1ª leitura do Levítico prepara o evangelho: “sede santos, porque Eu sou santo. Não te vingarás nem terás rancor dos outros. Amarás o próximo como a ti mesmo”. O amor de Jesus não exclui ninguém, é a plenitude do amor.

Na 2ª leitura, S. Paulo recorda-nos que somos templo de Deus, do qual fazemos parte pelo amor de Cristo. Exalta a sabedoria cristã, distinguindo-a da sabedoria humana. A sabedoria cristã consiste no conhecimento de Cristo crucificado por amor à humanidade. Finalmente, S. Paulo diz que não podemos seguir diferentes líderes religiosos, porque “vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. Com estes três exemplos do templo, da sabedoria divina e de pertença a Cristo, faz-nos sentir unidos ao imenso amor de Deus. Há que promover a pastoral do perdão, da não-violência, da paz, lutando contra as tensões humanas, sociais, políticas e também eclesiais, contra a falta de diálogo para construir a paz e reconhecermo-nos como irmãos e filhos de Deus.

O amor tem de resplandecer mais na vida dos cristãos. Temos de ajudar, de servir, de ser mais tolerantes, de rezar, de ter pequenos gestos de amor e de caridade para com os outros. A primeira forma de amar os inimigos é rezar por eles. Saber ter um coração grande e aberto para acolher e amar. Temos de promover a educação do amor nas crianças e jovens, nas famílias e nas comunidades paroquiais. O evangelho não é concêntrico, amando-me somente a mim próprio, mas excêntrico, de coração aberto para amar a todos. Para que um dia se estabeleça plenamente o reino da caridade, é preciso cultivar a paciência e o perdão que, muitas vezes, custa ter com os outros.

Custa muito perdoar, mas custa muito mais amar. Os sentimentos humanos e os ressentimentos procuram o ódio e a vingança; por isso, custa tanto perdoar, saudar, amar. Neste ponto é preciso que sempre recordemos a atitude de Jesus, cravado na cruz, perante os seus inimigos (Lc 23,34). É preciso converter o inimigo em amigo. Procure cada um não ser inimigo de ninguém, nem ter inimigos; só assim terá paz e bem-estar. Trata-se de ser perfeito como é o nosso Pai que está no céu (Mt 5,48).

 

19-02-2023

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LEITURA ESPIRITUAL

A arte de amar a Deus

 

Bem-aventurado o homem que sabe amar todos os homens igualmente. Bem-aventurado o homem que não se prende a nada que seja corruptível e passageiro. Aquele que ama a Deus também ama totalmente o seu próximo. Esse homem não sabe guardar o que tem, antes o dispensa como Deus, dando a cada um aquilo de que tem necessidade. Aquele que dá esmola, à imitação de Deus, ignora a diferença entre o mau e o bom, o justo e o injusto (cf Mc 5,45), quando os vê sofrer. Mas dá igualmente a todos, segundo as suas necessidades, ainda que prefira, pela sua boa vontade, o homem virtuoso ao homem depravado.

Assim como Deus, que é por natureza bom e impassível, ama igualmente todos os seres como obra sua, mas glorifica o homem virtuoso porque este está unido a Ele pelo conhecimento e, na sua bondade, tem piedade do homem depravado e fá-lo voltar instruindo-o neste mundo, assim também aquele que, pelo seu movimento próprio, é bom e impassível ama igualmente todos os homens: ama o homem virtuoso pela sua natureza e a sua vontade boa; e ama o homem depravado pela sua natureza e a sua compaixão, porque tem piedade dele como dum louco que avança nas trevas.

Não é só partilhar o que se tem que revela a arte de amar, ainda mais o revela transmitir a palavra e servir os outros nos seus corpos. «Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem». (São Máximo o Confessor, c. 580-662, monge, teólogo, Centúria I sobre o amor, nos. 17, 18, 23-26, 61).

 

Avisos e Liturgia do VI Domingo do Tempo Comum-ano A

 

Se observarmos a vida das pessoas, é fácil dar conta do seguinte: noutros tempos, vivia-se com esforço e exigência, respeitando as normas e fazendo sacrifícios; hoje, parece que se vive a relativizar tudo, numa superficialidade de relações. Parece que andamos saturados, esgotados, porque não é fácil a vida! Mas, alguma vez foi? Deus dá-nos a Sua Palavra como ajuda para rever, iluminar e transformar a nossa vida. E de todas as palavras do Evangelho, o Sermão da Montanha é uma das passagens fundamentais. Talvez já tivemos a tentação de dizer que o Evangelho não se pode cumprir, porque é muito idealismo e é muito exigente. Mas a exigência não é defeito, é virtude! “Ser fiel depende da tua vontade” (1ª leitura). Deus deu-te a liberdade; por isso, és responsável pelas tuas decisões: “estenderás a mão para o que desejares”. Em nossa ajuda, vem a Lei de Deus.

No texto evangélico deste domingo, Jesus recorda-nos a Lei antiga e depois convida-nos a fazer caminho: “Foi dito”; “Eu, porém, digo-vos”. Ele não anula a Lei de Moisés nem a relativiza, mas aumenta o seu grau de exigência. A Lei não perde valor, mas Jesus assume-a como essencial para entrar no Reino dos Céus. Para isso, é necessário que transforme interiormente o olhar e o coração e não ficar somente por respostas mecânicas e ritualismos externos.

Por isso, Jesus alarga o sentido de alguns preceitos da Lei. Ao mandamento “Não matarás”, afirma que existe outro tipo de homicídio. Pode-se não matar fisicamente, mas a agressividade para com um irmão acaba por o matar interiormente com a ofensa, a difamação e a intriga. Conflitos todos temos na vida, mas terão sempre de ser resolvidos. Pois, se não tivermos vontade e humildade para os resolver, também não podemos aproximarmo-nos da mesa da Eucaristia. Não pode haver comunhão, sem perdão e reconciliação.

Jesus avisa-nos que o nosso estilo de vida não pode consistir na simples resposta a preceitos, mas a uma atitude interior. Assim cometer adultério não é somente uma infidelidade a uma pessoa com quem já se assumiu um compromisso, mas obscurece a riqueza da sexualidade humana e a grandiosidade de um compromisso definitivo. Quando se perde o equilíbrio, tudo se precipita, tudo cai.   

Jesus é radical. A salvação é uma questão de vida ou de morte, não pode haver “meios termos”. Temos de rever a nossa vida constantemente para detectarmos o que está a minar a nossa saúde espiritual e moral. Diante do mal, não pode haver complacências: tem de ser destruído, mesmo que seja difícil. Para tal, somos convidados a sabe discernir onde andamos e com quem andamos.

A nossa linguagem tem de ser “sim, sim; não, não”. Sintonizados com o Evangelho, a nossa vida tem de ser um “sim” a Deus” e um “não” ao pecado. “Quem quer o que Deus quer, tem tudo quanto quer”, “antes perder tudo do que perder a Deus” (Santo Afonso Maria Ligório).

 

12-02-2023

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LEITURA ESPIRITUAL

«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar»

 

Em todos os tempos e em todas as nações, é agradável a Deus aquele que O teme e pratica a justiça (cf Act 10,35). Contudo, aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo, que O conhecesse na verdade e O servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santificando-o para Si.

Mas todas estas coisas aconteceram como preparação e figura da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de ser estabelecida, e da revelação mais completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feito carne. «Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança. Porei a minha lei nas suas entranhas e a escreverei nos seus corações, e serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Todos Me conhecerão, desde o mais pequeno ao maior, diz o Senhor» (Jer 31,31-34).

Esta nova aliança foi instituída por Cristo no novo testamento do seu sangue (cf 1Cor 11,25), chamando o seu povo de entre os judeus e os gentios, para formar um todo, não segundo a carne mas no Espírito, e fazer dele o Povo de Deus: «raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo conquistado, que outrora não era povo, mas agora é povo de Deus» (1Ped 2,9-10). Mas, assim como Israel segundo a carne, que peregrinava no deserto, é já chamado Igreja de Deus (cf 2Esd 13,1; Nm 20,4; Dt 23,1ss), assim o novo Israel, que ainda caminha no tempo presente e se dirige para a futura e perene cidade (cf Heb 13-14), se chama também Igreja de Cristo (cf Mt 16,18), pois que Ele a adquiriu com o seu próprio sangue (cf Act 20,28), a encheu com o seu espírito e a dotou dos meios convenientes para a unidade visível e social. (Concílio Vaticano II, Constituição dogmática sobre a Igreja «Lumen gentium», 9).

 

Missa de celebração – 1

Avisos e Liturgia do V Domingo do Tempo Comum – ano A

 

O Sermão da Montanha é a Carta Magna do Cristianismo, é um verdadeiro compêndio que contém o fundamental da novidade cristã, os alicerces fundamentais da fé cristã. Mais do que palavras, são desafios que nos desinstalam e nos convidam a não ficarmos nos ritualismos. Jesus está sentado no cimo de um monte e faz um discurso aos que O seguiam. Assim, Jesus é apresentado como o “Novo Moisés” e o conteúdo do seu ensino como a “Nova Lei”.

Jesus quer “refrescar” a religião judaica que tinha caído num individualismo fechado aos problemas sociais. Mas, a Palavra de Deus condena uma religião ligada a Deus, mas desligada da Humanidade, um culto meramente exterior, sustentado por práticas rituais, mas apático na vontade de transformar corações. Já o profeta Isaías, no seu tempo, critica esta situação, como podemos ver na primeira leitura: “reparte o teu pão, dá pousada aos pobres, leva roupa ao que não tem que vestir, não voltes as costas ao teu semelhante”. Se assim procederes, “a tua luz brilhará na escuridão…se chamares, o Senhor responderá…seguir-te-á a glória de Deus”. Sem esta “liturgia da vida”, a liturgia da Igreja torna-se um rito vazio e hipócrita, não conseguindo mostrar a entrega de Deus, através do seu Filho, Jesus Cristo.

É isto que Jesus quer combater através das palavras do Sermão da Montanha. Por isso, Jesus não quer que os seus discípulos sejam somente piedosos, zelosos e cumpridores da Lei. Não interessa a Jesus robôs e fantoches que cumprem ordens e nada mais. Ele quer discípulos que, depois de acolher os dons de Deus, os vivam com os outros. Por isso, Jesus utiliza estas duas imagens: o sal e a luz.

“Vós sois o sal da terra”. Para os povos antigos da Bíblia, “sal” é igual a “sabedoria”. “Ser salgado” equivale a “ter sabedoria”, a sabedoria de Jesus e a viver segundo o Evangelho. Ser sal é dar sabor à vida. O sal tem duas propriedades: conservar e dar sabor. Nós temos a missão de conservar a Palavra de Deus, vinda de Jesus, e de a apresentar como a única que dá um novo paladar à vida. Sem Jesus, a vida torna-se insossa, destemperada. Mesmo sem se ver, o sal torna uma refeição boa ou não: é a diferença entre viver com Jesus ou sem Jesus. Mas, cuidado! Demasiado sal faz mal, não se consegue comer! Na nossa vida de fé, é preciso, também, equilíbrio: nem ausência de sal nem sal em excesso, ou seja, nem moleza nem fanatismo.

“Vós sois a luz do mundo”. Jesus diz aos seus discípulos que não se escondam das suas responsabilidades. Se Ele se chamou a si próprio “Eu sou a Luz do mundo”, “Quem me segue, não andará nas trevas”, como pode um seu discípulo não ser luz para os outros? Através de cada um de nós, Jesus quer continuar a iluminar a humanidade. As capacidades e os dons que Deus nos concede não são para serem colocados “debaixo do alqueire”, mas para serem postos a render ao serviço da evangelização.

Onde quer que estejamos, sejamos Evangelho vivo para todos os que nos rodeiam, amando, sem criticar os outros, ajudando os mais necessitados, mudando a nossa vida e ajudando os irmãos a mudarem também a vida. Deixemos que o Espírito Santo atue em nós e através de nós para dar sabor e luz à nossa sociedade. Só assim, colaboraremos para que também hoje se possa dizer: vede como se amam e glorificam o Pai que estás nos céus. 

 

05-02-2023

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LEITURA ESPIRITUAL

Jesus ilumina o espaço do coração

 

O sal sensível dá sabor ao pão e a todos os alimentos, impede certas carnes de apodrecerem, conservando-as durante muito tempo. Considera que o mesmo acontece com a guarda da inteligência, pois ela cumula de sabor divino tanto o homem interior como o homem exterior, expulsa o odor fétido dos maus pensamentos e permite-nos perseverar no bem. De uma sugestão nascem numerosos pensamentos e destes, más acções sensíveis; mas quem, com Jesus, apaga imediatamente a primeira, evita as suas consequências e poderá enriquecer-se com o suave conhecimento divino pelo qual encontrará Deus, que está presente em toda a parte.

Estando o espelho da inteligência diante de Deus, é continuamente iluminado, à imagem do puro cristal e do sol sensível. Então, tendo alcançado o cume definitivo dos desejos, a inteligência repousa nele de qualquer outra contemplação. Quem olha o sol não pode deixar de ficar com os olhos inundados de luz. Da mesma maneira, quem se debruça permanentemente sobre o espaço do seu coração não pode deixar de ficar iluminado.

Quando as nuvens se dissipam, o ar fica limpo; da mesma maneira, quando os fantasmas das paixões se dissipam diante de Jesus Cristo, o Sol da Justiça, nascem no coração pensamentos luminosos, semelhantes às estrelas. Pois Jesus ilumina o espaço do coração. (Hesíquio do Sinai, dito de Batos, por vezes assimilado a Hesíquio, sacerdote de Jerusalém (séc. V?), monge, «Sobre a sobriedade e a vigilância», 87, 88, 108, 197).

 

Avisos e Liturgia do IV Domingo do Tempo Comum- ano A

 

Para o Tempo Comum do ciclo A, a Liturgia propõe para a nossa reflexão extractos do Sermão da Montanha. Uma parte deste texto aparecer-nos-á também na quarta-feira de Cinzas. O evangelista S. Mateus, segundo os estudos exegéticos, organiza a sua narração em cinco sermões, colocando Jesus em diversos contextos e a falar para pessoas diferentes. O primeiro sermão é conhecido como o Sermão da Montanha que é mais uma página programática da sua mensagem. Muitos fiéis que participam nas nossas celebrações estão habituados a ler os textos de uma maneira fragmentada, tal como acontece na liturgia. Por isso, seria bom lembrar de que o evangelho forma uma unidade e os que extractos que se apresentam obedecem a uma determinada sucessão com a finalidade de apresentar a mensagem de Jesus, estando relacionados uns com os outros. O evangelho forma uma unidade literária e de conteúdo.

O centro da nossa fé está Jesus. É Ele que queremos seguir, porque é Ele que nos dirige a sua palavra e que se dá como alimento de vida eterna na Eucaristia no aqui e agora da nossa vida. A nossa relação, individual e comunitária, será mais profunda, mais radical, mais cheia de afecto e de amizade se nos aproximarmos cada vez mais de Jesus e da sua palavra. Nunca conseguiremos conhecer totalmente Jesus, estar perto dele e ser seus discípulos em pleno. A introdução do Sermão, onde Jesus é apresentado como o novo Moisés, no cimo do monte, sentado como faz um Mestre, preparado para apresentar ao seu povo a “nova Lei”, um texto programático, fala-nos da presença de multidões e “rodearam-no os discípulos”. Até agora o texto só nos apresentou quatro (domingo passado), e é necessário chegar ao capítulo 9º para se ler a vocação de Mateus e ao início do capítulo 10º para a eleição dos Doze. Estes são os primeiros discípulos que Jesus instruirá. Hoje somos nós, os que preparamos a celebração e que depois participaremos dela, a escutar as palavras e as instruções de Jesus.

A mensagem de Jesus começa com uma palavra que repetirá nove vezes: “Bem-aventurados”. Hoje e sempre, o mundo procura e propõe caminhos concretos para alcançar a felicidade. Em alguns momentos, a sua proposta para chegar à felicidade corresponde com a proposta de Jesus; outras vezes, não. Contudo, o desejo de felicidade é a base para apresentar a proposta de Jesus. Um caminho de felicidade a ser percorrido enfrentando múltiplos caminhos e situações (cada bem-aventurança). O mais importante é saber a orientação que se quer dar à vida. Neste sentido, a última bem-aventurança resume o efeito dos comportamentos adoptados “por minha causa”, porque ultrapassa os critérios e as consequências de seguir Jesus. “É grande nos Céus a vossa recompensa”.

 

29-01-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Deles é o reino dos Céus»

 

«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus.» Sim, bem-aventurados aqueles que rejeitam os fardos sem valor, mas cheios de peso, deste mundo; aqueles que não querem ser ricos, a não ser pela posse do Criador do mundo, e só por Ele; aqueles que, nada tendo, por Ele tudo possuem (2Cor 6,10). Pois tudo possuem estes que possuem Aquele que tudo contém e de tudo dispõe, estes de quem Deus é a parte e a herança (Nm 18,20). «Nada falta aos que O temem» (Sl 34,10): Deus dá-lhes tudo o que sabe ser-lhes necessário; e se lhes dará a Si mesmo um dia, para que eles encontrem a alegria. Glorifiquemo-nos, pois, meus irmãos, pelo facto de sermos pobres por Cristo, e esforcemo-nos por ser humildes com Cristo. Pois não há coisa mais detestável nem mais miserável que um pobre orgulhoso.

«O reino de Deus não é uma questão de comer e beber, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 17). Se sentimos que temos tudo isto em nós, proclamemos com segurança que o reino de Deus está dentro de nós (Lc 17,21). Ora, aquilo que está dentro de nós pertence-nos verdadeiramente; ninguém nos pode arrancar. É por isso que, quando proclama a bem-aventurança dos pobres, o Senhor não diz: «deles será o reino dos Céus», mas: «deles é o reino dos Céus». E é deles, não apenas por um direito firmemente estabelecido, mas também por um penhor inteiramente seguro, que já é uma experiência da felicidade perfeita. E não apenas porque o reino foi preparado para eles desde o começo do mundo (Mt 25,34), mas também porque eles já começaram a entrar na sua posse: eles já possuem o tesouro celeste em vasos de barro (2Cor 4,7), já trazem a Deus no seu corpo e no seu coração. (Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense, Sermão para a Festa de Todos os Santos, 3.5-6).

 

Avisos e Liturgia do III Domingo do Tempo Comum – ano A

O texto do evangelho deste Domingo tem a preocupação de afirmar que em Jesus se cumpre a mensagem de libertação e de paz para os gentios da “terra de Zabulão da terra de Neftali”, “caminho de mar, além do Jordão”, duas tribos de Israel, que estavam sob o domínio assírio. O profeta Isaías anuncia a destruição do jugo assírio: verão uma grande luz, portadora de paz e deixarão de habitar nas trevas. Como esta passagem nos recorda a luz do Natal do Senhor! Na noite de Natal, o profeta Isaías anunciava o nascimento de um menino da linhagem de David, que vem restabelecer a liberdade e a casa de David, garantia de paz e de harmonia para todos os povos. O “dia de Madiã” refere-se à vitória de Gedeão e recorda que a libertação virá, graças à intervenção divina, que trará a paz. Além da terra de Neftali e de Zabulão, o evangelho fala da Galileia, terra de fronteira, de encruzilhada de povos, ou seja, o povo judeu (o povo escolhido) relaciona-se com povos pagãos que acreditam noutros deuses. Todos estes povos são convidados a ser o povo de Deus, um povo de povos. Segundo o evangelista Mateus, é a partir da Galileia que se inicia o anúncio da Boa Nova do Reino. Mas também é para a Galileia que, depois da ressurreição, Jesus convida a ir os seus discípulos, para, daí, os enviar a todos os povos. Jesus situa-se na fronteira, na encruzilhada, na periferia. No evangelho, encontramos três momentos. O primeiro momento introduz a actividade de Jesus com um comentário a revelar o cumprimento da profecia, a visão da luz, e o surgir de um reino de justiça e de paz. O segundo momento narra o chamamento e a resposta dos irmãos Pedro e André, e dos irmãos Tiago e João. É um momento de conversão, ou seja, de mudança de estilo de vida perante o anúncio de Jesus. O terceiro momento descreve a actividade de Jesus em toda a Galileia: o anúncio da “boa nova do reino” e as curas de todas as doenças e enfermidades entre o povo. Enquanto a missão de João Batista, o profeta do deserto, se vai desvanecendo, levanta-se “uma grande luz” que realizará a esperança messiânica anunciada por Isaías em favor dos povos oprimidos. A prisão de João assinala o início da missão de Jesus. Cafarnaum, situada na terra de Neftali e de Zabulão, é o centro de irradiação da missão. Já não estamos no deserto, no lado oriental do Jordão, passagem para a terra prometida; mas em Cafarnaum, “o outro lado do Jordão”, onde já resplandece a luz. Jesus começa a revelar-se como servo do Senhor e como “luz das nações”, anunciando que “está próximo o reino dos Céus”. Para acolher esta mensagem, é necessário arrependimento, conversão. O convite à conversão é acolhido pelos irmãos pescadores que Jesus vê e chama. Jesus propõe-lhes uma nova missão em relação ao seu estilo de vida: seguir Jesus é ser pescadores de homens, ou seja, é salvar todos os homens e mulheres. Para esta missão, é necessário caminhar na luz para que não vivamos com medo e dominados pelas injustiças. Nós temos a certeza de que não caminhamos sozinhos, mas com Jesus, como companheiro de viagem que, sempre nos convida a não nos desviarmos da rota que Ele nos indica. Este esforço chama-se conversão. Quando Jesus nos chama, agrada-lhe muito a nossa prontidão, disponibilidade e desprendimento. Finalmente, Jesus quer discípulos com um coração totalmente entregue a Ele, sem receios e medos. Não lhe agradam conflitos, divisões, porque isso não ajuda na credibilidade do anúncio da Boa Nova. A principal raiz dos problemas e das divisões é a vontade de criar uma Igreja “à minha maneira, segundo os meus critérios, ao meu estilo”, tentações tão presentes na Igreja de hoje. Deus não quer sectarismos, mas quer que as feridas e as mágoas sejam sublimadas pela comunhão e por uma linguagem de tolerância, de respeito e de delicadeza, pois é o que requer uma Igreja que é o Corpo de Cristo.

 

22-01-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou»

 

Cristo, digna-Te acender pessoalmente as nossas candeias, Tu que és o nosso Salvador; fá-las brilhar sem fim na tua morada e receber de Ti, luz eterna, uma luz indefectível. Que a tua luz dissipe as trevas e, através de nós, faça recuar as trevas do mundo. Peço-Te pois, Jesus, que acendas a minha candeia com a tua própria luz, e que assim, com essa claridade, eu possa ver o Santo dos Santos, onde Tu, Pai Eterno dos tempos eternos, dás entrada nos pórticos desse Templo imenso (cf Hb 9,11ss).

Que, sob a tua luz, nunca deixe de Te ver e de dirigir para Ti o meu olhar e o meu desejo. Então, só Te verei a Ti no meu coração, e na tua presença a minha candeia ficará para sempre acesa e ardente. Dá-nos a graça, visto que batemos à tua porta, de Te manifestares a nós, Salvador cheio de amor. Compreendendo-Te melhor, que não tenhamos amor senão para Ti, só para Ti.

Que sejas, noite e dia, o nosso único desejo, a nossa única meditação, o nosso pensamento contínuo. Digna-Te derramar em nós todo o amor necessário para que possamos amar a Deus como convém. Enche-nos do teu amor, até que não saibamos amar-Te senão a Ti, que és eterno. Então as águas caudalosas do céu, da Terra e do mar não poderão apagar em nós tão grande caridade, como lemos no Cântico dos Cânticos: «As águas caudalosas não conseguirão apagar o fogo do amor» (8,7). Que se realize em nós, pelo menos em parte, esse crescendo de amor, pela tua graça, Senhor Jesus. (São Columbano, 563-615, monge, fundador de mosteiros, 12.ª Instrução espiritual, 2-3).

 

Avisos e Liturgia do II Domingo do Tempo Comum – ano A

  1. a)         Terminado o tempo litúrgico do Natal, iniciamos os Domingos do Tempo Comum. O evangelho deste Domingo está relacionado com o da Festa do Baptismo do Senhor. Se na semana passada ouvíamos a narração do Baptismo de Jesus segundo S. Mateus, hoje escutamos um fragmento do evangelho de S. João no qual João Baptista dá testemunho de Jesus a partir do episódio narrado por S. Mateus. Este evangelho é a introdução da narração dos factos e das palavras de Jesus que são o conteúdo do Tempo Comum, orientado este ano por S. Mateus (ciclo A) que retomaremos no próximo Domingo. A leitura e a meditação do início da vida pública de Jesus leva-nos a sentir que estamos a iniciar um caminho, tendo como objectivo seguir Jesus como aqueles discípulos que foram chamados e enviados por Ele. É importante neste domingo destacar a ideia que aparece em todas as leituras: chamados e enviados.
  1. b)        O discípulo é aquele que se sente chamado por Jesus, ou seja, eleito por Deus. O profeta Isaías, na primeira leitura, diz: “E agora o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno, para fazer de mim o seu servo… vou fazer de ti a luz das nações”. O salmista expressa a sua disponibilidade para acolher o convite: “Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade”. São Paulo, na segunda leitura, diz que se sentiu “escolhido, por vontade de Deus, para Apóstolo de Cristo Jesus”, dirigindo-se à comunidade de Corinto como aqueles que “foram santificados em Cristo Jesus, chamados à santidade”. No evangelho, João Baptista conta a experiência que o levou a reconhecer Jesus sem qualquer hesitação: “É d’Ele que eu dizia: ‘Depois de mim vem um homem, que passou à minha frente, porque era antes de mim’. Tudo o que aconteceu no baptismo de Jesus (a voz do Pai e o dom do Espírito Santo) tornou claro a João que “Ele é o Filho de Deus”. Cada um tem a sua experiência de Deus, geralmente não tão espectacular como a de João Baptista, mas com um sentimento de que Deus o escolheu, de que Jesus o chamou.
  1. c)         O chamamento divino supõe sempre uma missão, um envio “para reunir Israel… para restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel… para que a minha salvação chegue até aos confins da terra (primeira leitura); “proclamei a justiça na grande assembleia, não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis” (salmo); “escolhido para Apóstolo” (segunda leitura). Trata-se, pois, de dar testemunho, de transmitir aos outros aquela experiência que vivi, que me transformou e que não posso guardar somente para mim. João Baptista partilha o que sente: “Eis o Cordeiro de Deus… eu vi e dou testemunho”. É um duplo movimento (chamados e enviados) que todos estamos convidados a fazer e que nos é recordado no início do ciclo litúrgico do Tempo Comum. É um resumo de como seguir Jesus pelo caminho da vida, ou seja, de como ser cristão.
  1. d)        O chamamento e o envio de Jesus, o fundamento da identidade de um cristão, é para todos os que seguem o Senhor. Todos somos “Igreja de Deus, consagrados por Jesus Cristo e é muito importante que nos sintamos unidos a todos aqueles que invocam o nome de Jesus Cristo, Nosso Senhor”. Que a saudação de S. Paulo não passe despercebida a cada um de nós: “A graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco”.

15-01-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Ó Cordeiro de Deus, escondido entre os homens!»

Ó inconcebível bondade de Deus, que nos protegeis a cada passo, seja dado contínuo louvor à vossa misericórdia por não Vos terdes irmanado com os anjos, mas com os homens; é um milagre do insondável mistério da misericórdia. Toda a nossa confiança está em Vós, nosso Irmão primogénito, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

O meu coração estremece de alegria ao ver como Deus é bom para nós, homens, tão miseráveis e ingratos, e, como prova do seu amor, nos oferece uma dádiva inconcebível, isto é, a Si mesmo, na pessoa de seu Filho. A esse mistério de amor, não o conseguiremos compreender por toda a eternidade. Ó humanidade, porque pensas tão pouco no facto de Deus Se encontrar verdadeiramente entre nós?

Ó Cordeiro de Deus, nem sei o que primeiro admirar em Vós, se a vossa mansidão ou a vossa vida oculta; se o vosso aniquilamento pelo homem ou esse incessante milagre da vossa misericórdia que transforma as almas e as ressuscita para a vida eterna. Embora estejais tão escondido, o vosso ser omnipotente revela-Se aqui mais do que na própria criação do homem. E, apesar da vossa misericórdia omnipotente actuar na justificação do pecador, essa vossa acção é silenciosa e oculta (Santa Faustina Kowalska (1905-1938), religiosa, Diário (Fátima, Marianos da Imaculada Conceição, 2003), § 1584).

http://www.liturgia.diocesedeviseu.pt/

Avisos e Liturgia do IV Domingo do Advento- ano A

Chegámos ao último Domingo do Advento. À nossa volta, tudo está preparado para celebrar a solenidade do nascimento de Jesus. Mas, procuremos não cair em distracções, vivendo estes dias festivos sem dar conta da presença do Senhor. Não fiquemos carentes da proximidade de Deus.

Os especialistas dizem que as pessoas carentes de algum dos cinco sentidos, desenvolvem mais os outros, até ao ponto de compensar o que lhes falta. Na vida interior, acontece o mesmo. Quanto mais indiferente estiver o coração, menos sensível será a tudo e a todos. Isto acontece com pais e filhos, com casais, com empresários e operários, com sacerdotes e paroquianos…Para darmos conta da presença de Deus na nossa vida, é necessário estar vigilante e atento e não nos enfartarmos de palavras, de imagens ou de emoções. É importante que nos esvaziemos, que nos privemos de algumas coisas para estarmos mais atentos a tudo o que acontece à nossa volta. Deus pode estar muito perto de ti, mais perto do que tu pensas, mas ao estares tão preocupado com os teus problemas e inquietações, o que a todos acontece com frequência, não dás espaço aos sinais que, certamente, o Senhor vai deixando à sua passagem.

A atitude de Acaz é um alerta para todos. Acaz andou a vida inteira à procura de Deus, e quando o Senhor quis tornar-se acessível, ele ficou assustado. Isto não pode acontecer connosco que andamos uma vida inteira a pedir sinais a Deus da sua misericórdia, do seu amor ou do seu perdão. Por vezes, andamos tão cheios de ocupações e de preocupações, que não temos nem um minuto sequer na nossa preenchida agenda, nem um lugar na nossa vida, nem um sentimento no nosso coração! Muitas vezes, as nossas ocupações cegam-nos.

O Senhor deu-nos e dá-nos um sinal. Isto não podemos negar! Podemos olhar para o outro lado e repetir mil e uma vezes que não O vimos, podemos querer justificar-nos que Deus já não passa na nossa vida e no nosso mundo há muito tempo! Mas não é verdade. Deus dá-nos sinais evidentes, sinais inequívocos do seu amor por nós. Mas se não vemos os sinais, talvez seja, agora, o momento para nos esvaziarmos de algumas coisas para darmos espaço a Deus. Ele não é muito exigente, não precisa de muitas coisas, só pede um cantinho no nosso coração e na nossa vida.

Que belo exemplo encontramos na figura deste Domingo, São José. Andou esquecido durante tanto tempo, mas também ele é muito importante para a concretização do mistério da Encarnação. A José foi confiada a missão de proteger o maior tesouro dado por Deus, o Seu Filho, Jesus Cristo. No texto do evangelho, José é apresentado como “justo”, ou seja, “santo”. E porquê este título tão sublime a alguém de quem tão pouco fala a Sagrada Escritura? Em primeiro lugar, pela sua discrição. José é o homem do silêncio. Mas o silêncio de José não é um silêncio vazio; é no silêncio onde escuta a voz de Deus no seu íntimo. Ao dar conta da gravidez de Maria, sua noiva, sem a condenar, refugia-se no silêncio, na solidão, na escuta orante do Senhor. Só quem vive assim pode obter respostas de Deus. José não toma decisões precipitadas, mas deixa que o Espírito Santo o oriente. Em segundo lugar, porque José tem algo específico de um crente: a obediência. Para um cristão, que procura fazer a vontade de Deus em todos os momentos da vida, escutar significa obedecer. José aceita, sem restrições, a sua missão de guardar um tesouro. Mantendo-se discreto, alheio a possíveis críticas, e abdicando dos seus sonhos enquanto marido de Maria, José sabe que acima dos seus sonhos está um projecto de Deus para a Humanidade.

José mostra que nós somos mais do que os nossos projectos ou sonhos; somos instrumentos de Deus para um projecto maior, ao serviço de uma Palavra grávida de esperança para a Humanidade. Sem aparecer muito, José foi grande. Falando pouco, diz-nos muito. Hoje somos convidados a imitá-lo. O Menino que está para nascer é o tesouro que Deus nos confia e, como José, devemos acolher, proteger e cuidar.

 

18-12-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«Pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados»

 

Diz o profeta Isaías: «Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há de pôr-Lhe o nome de Emanuel» (7,14). O nome do Salvador, «Deus connosco», dado pelo profeta, refere-se às duas naturezas da sua única Pessoa. Com efeito, Aquele que é Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, é também o Emanuel do fim dos tempos, o «Deus connosco». Tornou-Se assim no seio de sua Mãe, porque Se dignou aceitar a fragilidade da nossa natureza na unidade da sua Pessoa, quando «o Verbo Se fez carne e habitou entre nós» (Jo 1,14).

Ele começou de forma admirável a ser o que nós somos sem deixar de ser quem era, assumindo a nossa natureza sem perder o que era em Si mesmo. «Maria teve o seu filho primogénito e deram-Lhe o nome de Jesus» (Lc 2, 7.21). «Jesus» é o nome do Filho nascido da Virgem, nome que indica, segundo a explicação do anjo, que Ele salvará o povo dos seus pecados. Será Ele que, evidentemente, salvará também da destruição da alma e do corpo os seguidores do pecado.

Quanto ao nome «Cristo», é título de dignidade sacerdotal e real. Sob a antiga Lei, os sacerdotes e os reis eram chamados cristos, devido ao crisma [que recebiam]. Essa unção com óleo santo prefigurava o Cristo que, vindo ao mundo como verdadeiro Rei e Sacerdote, foi consagrado: «Deus ungiu-O com o óleo da alegria, preferindo-O aos Seus companheiros» (Sl 44,8). Por causa dessa unção ou crisma, Cristo em pessoa e aqueles que participam da mesma unção – quer dizer, da graça espiritual – são chamados «cristãos». Por ser o Salvador, Cristo pode salvar-nos dos nossos pecados; por ser Sacerdote, pode reconciliar-nos com Deus Pai; por ser Rei, digna-Se dar-nos o Reino eterno de seu Pai. (São Beda, o Venerável, c. 673-735, monge beneditino, doutor da Igreja, Homilias para a Vigília do Natal, 5).

 

Avisos e Liturgia do III Domingo do Advento- ano A

 

Ao terceiro Domingo do Advento, é dado, já há alguns séculos, o nome do Domingo da alegria, o qual está muito bem atribuído. Falta já pouco tempo para as festas natalícias, mas os enfeites e melodias que se ouvem nas ruas e nas nossas casas vão já antecipando o ambiente festivo. Faltam poucos dias, mas são suficientes para tomar consciência do que iremos celebrar, porque há cristãos que, pouco a pouco, se deixam influenciar por uma imagem de Natal que não é muito própria de alguém que acredita em Deus.

Se nas últimas duas semanas reflectíamos e rezávamos com o nosso pensamento orientado para o futuro, nestes dias começamos a olhar para o que aconteceu em Belém. O nascimento de Jesus marcou um antes e um depois na História. Deus fez-se menino, assumiu a fraqueza humana. E isto é motivo de grande alegria. Mas há mais! Ao fazer-se um de nós, fez-nos um pouco divinos. Isto não é fábula, é a realidade! Para Deus, nada do que é nosso lhe é estranho e, ao assumir a nossa condição, assume toda a nossa realidade: a boa e a má e, depois, fará justiça. Como afirma Santo Ireneu: “A glória de Deus é o homem vivo. Por causa do seu amor infinito, Cristo tornou-se naquilo que nós somos, para fazer plenamente de nós aquilo que ele é”.

Quantas pessoas vivem situações que não provocaram, que não queriam, das quais não são responsáveis por elas existirem! Recordemos as vítimas de acidentes, das doenças, do abandono das suas famílias. Quem os ajuda, os defende e os apoia? São aqueles que estão mais próximos e que são verdadeiros amigos generosos. É isto que nos falam as leituras deste Domingo. Devemos estar alegres, porque Deus é este Amigo que está perto, que apoia, ajuda e defende. Não há maior alegria do que saber e experimentar que alguém nos quer bem, nos entende, nos ouve, que sofre com as nossas aflições e que se alegra com os nossos regozijos. Esta é uma das razões para celebrar o Natal. “Deus connosco” não é um nome pomposo ou exagerado que os profetas deram ao Messias, mas é uma realidade tão forte que somente uma palavra não pode conter.

A alegria é uma particularidade próprio do cristão, fundamentada na certeza que Deus está connosco, está próximo, ama-nos, cuida de nós. E neste domingo esta alegria parece assemelhar-se à de uma mulher grávida que espera ansiosamente o seu filho. “Espera com paciência a vinda do Senhor”, afirma Tiago na sua leitura. Paciência e esperança são hoje desafios concretos para melhor viver a expectativa da vinda do Senhor

No Evangelho, Jesus elogia João: “Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista”. Hoje, como João, cada um deve ser precursor, ou seja, preparar o caminho para alguém, neste caso, Jesus. Ser cristão não se resume a acreditar que Jesus é o Filho de Deus. Ser cristão implica imitar o Mestre, sabendo que Lhe será sempre inferior. A verdadeira missão de João foi ser um provocador. Com as suas palavras, abanou as consciências, fez perceber a gravidade dos erros das pessoas do seu tempo, alertou para a necessidade de mudar de vida. João foi um inconformado da sociedade. Quando João enviou os seus discípulos para perguntar a Jesus se era o Messias, o Esperado, Jesus respondeu com as suas obras: “Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres”. Em Jesus, cumpre-se a profecia de Isaías: Ele vem para fortalecer as mãos fatigadas, robustecer os joelhos vacilantes e dar esperança aos corações perturbados.

Assim, como devemos viver a proximidade do Natal? Cada um deve ser precursor desta vinda próxima do Senhor. Para muitas pessoas, as mãos continuam fatigadas, os joelhos teimam em não querer avançar no caminho, os corações continuam quebrados e dilacerados pelo ódio, injustiça e incompreensão. Enquanto houver “dor e gemidos”, devemos continuar a gritar como salmista: “Vinde salvar-nos, Senhor”. Jesus é Aquele que veio, que vem e que há de vir. Não deveremos esperar outro. Ele é a verdadeira alegria. Levemos a alegria de Jesus aos nossos irmãos com as nossas palavras e acções.  

 

11-12-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele»

 

Veneremos a compaixão de um Deus que não veio julgar o mundo, mas salvá-lo. João, o percursor do Mestre, que até então desconhecia este mistério, logo que percebeu que Jesus era verdadeiramente o Senhor, clamou àqueles que tinham vindo pedir o baptismo: «Raça de víboras» (Mt 3,6), porque me olhais com tanta insistência? Eu não sou o Cristo. Sou um servo e não o Mestre. Sou um simples súbdito, não sou o rei. Sou uma ovelha, não o pastor. Sou um homem, não um Deus. Curei a esterilidade da minha mãe vindo ao mundo, mas não tornei fecunda a sua virgindade; fui tirado de baixo, não desci das alturas. Emudeci a língua do meu pai (cf Lc 1,20), não manifestei a graça divina. […] Sou miserável e pequeno, mas depois de mim virá Aquele que é antes de mim (cf Jo 1,30). Ele vem depois, no tempo; mas anteriormente estava na luz inacessível e inefável da divindade. « Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu, e não sou digno de levar as suas sandálias. Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo» (Mt 3, 11). Eu estou subordinado; Ele é livre. Eu estou sujeito ao pecado, Ele destrói o pecado. Eu ensino a Lei, Ele traz-nos a luz da graça. Eu prego como escravo, Ele legisla como mestre. Eu tenho por leito o chão, Ele os Céus. Eu dou-vos o baptismo do arrependimento, Ele dar-vos-á a graça da adopção. «Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo». Porque me venerais? Eu não sou o Cristo (Homilia atribuída a Santo Hipólito de Roma (?-c. 235), presbítero, mártir, Sermão sobre a Santa Teofania; PG 10, 852).