Teve lugar no passado domingo, 18, um espetáculo comunitário no Centro Cultural de Aguiar da Beira, que apresentou rituais católicos tradicionais deste concelho no distrito da Guarda, num“grande momento de promoção cultural e convívio entre gerações”.
Um dia depois do Carnaval a Igreja enceta um novo tempo litúrgico que nos transporta até à Páscoa da Ressurreição de Jesus, atravessando quarenta dias de deserto – o período da Quaresma. Tempo de jejum, partilha, penitência e rituais na preparação da maior festa para os cristãos, a Páscoa.
Em Aguiar da Beira foram revividas algumas dessas tradições locais – umas ímpares e em risco de desaparecer e outras iguais mas simultaneamente tão diferentes de povo para povo –,
apresentadas pelos participantes das Oficinas das Tradições – 60 Mais Social Clube do CLDS 3GAguiar no Coração.
Pelo palco passaram cerca de 150 participantes do concelho, na sua maioria seniores estreantes na representação, revivendo rituais como a imposição das cinzas, bênção dos ramos, encomendação das almas, passagens da via sacra, terço dos homens, enterro do
senhor ou a visita pascal.
Destaque para a recriação do terço dos homens e do enterro do senhor, celebração característica da vila por ser composta só por homens e que não se realizava há vários anos por falta de comparência de irmãos da Santa Casa da Misericórdia, a quem pertencia a organização.
A iniciativa organizada pelo CLDS 3G Aguiar no Coração teve o objetivo de envolver a comunidade, motivando todos e todas, dos mais jovens aos mais velhos, na partilha e preservação de hábitos e saberes culturais, contribuindo assim para o reforço dos laços sociais e da identidade do concelho.
A tradição do terço na freguesia de Aguiar da Beira remonta a tempos imemoriais, sendo uma celebração organizada pela Santa Casa da Misericórdia, com os irmãos que fazem parte desta
irmandade.
O terço realizava-se todas as sextas feiras da quaresma, terminando na sexta feira santa com a procissão enterro do senhor.
Ao escurecer a sineta da Igreja da Misericórdia tocava para que os irmãos se reunissem para assim darem início ao terço que percorria a rua de baixo, ia até à igreja matriz e rua direita e recolhia do ponto de partida.
O terço era composto só por homens, enquanto que as mulheres esperavam nas esquinas das ruas e ao passar elas rezavam baixinho.
Durante as sextas feiras normais da quaresma o terço era cantado e nos intervalos dos mistérios tocava uma campainha, onde se ajoelhavam no ato da glória, só se levantando no início do outro mistério. As três Avé Marias não eram cantadas, mas cantava-se a Salvé Rainha.
Na sexta-feira Santa saía a matraca e percorria todas as ruas da vila para convocar os irmãos a fim de se juntarem na Igreja da Misericórdia, para depois saírem.
Neste dia, o terço não era cantado, mas sim rezado. Inserido no terço fazia-se o enterro do Senhor, onde se levava o esquife, a cruz dos Martírios e os Estandartes. O esquife ficava na igreja matriz onde pernoitava.
É uma tradição que já há vários anos não se realiza devido à falta de comparência de irmãos.
Por:AGC