Autor
Luís Miguel Condeço
Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu
Quando se evoca um dia de combate a algo, não devemos ter uma postura relaxada e inócua. É o que acontece no próximo dia 20 de outubro, em que todos, a uma escala mundial devemos combater o bullying.
Apesar de se tratar de um estrangeirismo, esta palavra que começou a ser utilizada pelo psicólogo sueco-norueguês Dan Olweus na década de 80 do século passado, após o suicídio de três estudantes (vítimas de assédio dos colegas), está amplamente difundida na nossa sociedade, infelizmente!
Este comportamento difere das outras discussões, desentendimentos, intimidações ou conflitos entre pares, pela intencionalidade (propósito de provocar mal-estar ou dominar física ou psicologicamente outra pessoa), pela repetição (prolongado no tempo e repetido), e pelo desequilíbrio entre pessoas (de poder ou de força entre agressor e agredido).
Ocorrendo maioritariamente em contexto escolar, mas não só, podemos classificar este terrível fenómeno quanto ao seu tipo:
- Físico – a agressão física propriamente dita, como bater, empurrar ou acariciar contra a vontade de alguém.
- Verbal – os insultos, as ameaças ou os nomes depreciativos.
- Socio-emocional – o isolamento e a exclusão social ou dos grupos.
- Cyberbullying – todo o tipo de ameaça ou insulto veiculado através da internet (com forte crescimento na atualidade).
A organização das Nações Unidas para a infância (UNICEF), reconhecia em 2019, que “uma em cada três crianças em todo o mundo é vítima de bullying”, por seu lado, um estudo português de 2020, afirma que praticamente metade dos jovens (que participaram no estudo) já estiveram envolvidos em comportamentos tipificados como bullying, em pelo menos uma vez por mês (quer no papel de agressores ou agredidos).
No ano passado em Portugal, os jovens LGBTQ+ (dos 14 aos 19 anos) foram as vítimas preferenciais. Quanto ao contexto escolar, e segundo dados da Polícia de Segurança Pública, no ano letivo de 2021/2022 registaram-se 2.847 ocorrências criminais deste tipo de situações, das quais 1.169 foram agressões físicas e 752 foram ameaças verbais ou injúrias.
As vítimas de bullying são os jovens mais vulneráveis, isto é, que são percecionados de forma diferente pelos colegas (porque possuem uma deficiência, ou pertencem a uma minoria, ou têm uma caraterística física diferente – ser baixo ou obeso), são introvertidos, têm poucos amigos, ou estão sujeitos a situações de conflito ou violência doméstica.
O “silêncio” é o grande aliado do agressor, pois mais de 60% das vítimas não o denuncia, e quem o faz, leva em média cerca de 13 meses para tomar essa atitude.
Ao assinalarmos o Dia Mundial de Combate ao Bullying, devemos recordar todos os comportamentos de sofrimento e mal-estar perpetuados a muitas crianças e jovens que sentiram e sentem: medo constante; raiva e irritabilidade; apatia, tristeza e baixa autoestima; humilhação e rejeição; isolamento; comportamentos autodestrutivos; dificuldades de aprendizagem e concentração; dor; alterações do sono; dificuldade em relacionar-se com os outros; ou vulnerabilidade à ansiedade, depressão e ideação suicida.
Qualquer adulto que conviva regularmente na família ou na escola com uma criança ou jovem que:
- Demonstre alterações do humor;
- Alteração do comportamento habitual;
- Recusa injustificada em ir à escola;
- Insucesso escolar;
- Roupa ou material escolar danificado;
- Lesões corporais sem explicação;
- Queixas recorrentes (dor de barriga, por exemplo);
- Insónias ou pesadelos;
- Afastamento/isolamento;
- Violência contra si próprio.
Deve alertar de imediato os pais e educadores/professores, no reconhecimento, recusa e denúncia do problema. O conforto e o apoio nunca deve ser negado, é importante que a criança nunca se sinta sozinha.
A violência e a agressão não fazem parte de ser criança ou de crescer!
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