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Artigo de Luís Miguel Condeço—Há sonhos que morrem cedo demais

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

A Associação Salvador tem-se distinguido nos últimos anos, pela constante preocupação em tentar que os sonhos de todos aqueles que circulam ou utilizam a via pública (caminho, estrada ou via rápida), não morram cedo demais.

Desde 2003, que Salvador Almeida desenvolve projetos ambiciosos e com enorme impacto na comunidade, relativamente à integração e melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência motora. A maior parte, tal como ele, vítimas do flagelo que tem assolado Portugal e a Europa nas últimas décadas – a sinistralidade rodoviária.

Há 23 anos em Viseu, várias instituições ligadas à saúde e ao ensino, criaram o Grupo de Alerta para a Segurança, associação legalmente formalizada em 2006. Com objetivos distintos da Associação Salvador, mas com a mesma matriz: contribuir para uma cultura de segurança através das estruturas comunitárias e diminuir a taxa de morbilidade e mortalidade infantil, associadas aos acidentes rodoviários e de lazer (ou domésticos).

A segurança infantil e rodoviária, tem sido abordada de forma frequente por profissionais de saúde, profissionais da educação e forças de segurança, além da comunidade em geral. A sinistralidade rodoviária em Portugal continua a ser uma sombra persistente sobre as nossas estradas, uma tragédia que nos confronta com a perda de vidas e o sofrimento das famílias.

No último relatório (Sinistralidade a 24h e fiscalização rodoviária), dos primeiros cinco meses do ano, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária traçava um panorama muito negro no nosso país. Apesar do esforço e melhorias pontuais, o panorama atual revela 14.658 acidentes com vítimas registados, resultando 182 vítimas mortais e mais de mil feridos graves. De salientar, o aumento do número de acidentes em alguns distritos, como é o caso da Guarda, situando-se em terceiro lugar com maior aumento da sinistralidade (15%).

Preocupada com este flagelo, a Assembleia Geral das Nações Unidas, formalizou em 2005, o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada, a ser evocado no terceiro domingo do mês de novembro. Este ano, no dia 17, pretende-se honrar as vítimas dos acidentes rodoviários, bem como prestar apoio às famílias e sensibilizar a sociedade para a importância da segurança nas estradas. A evocação é também uma oportunidade para refletir sobre medidas preventivas e políticas de trânsito que possam reduzir o número de acidentes.

E que medidas podemos implementar para reverter esta tendência?

Educação e consciencialização permanentes – a educação rodoviária deve começar cedo e ser integrada de forma contínua no percurso escolar e profissional. Mais do que nos preocuparmos com os condutores, precisamos de uma campanha robusta, capaz que chegar a outros condutores (ciclistas, motociclistas e peões), formando para a adoção de práticas seguras.

Melhoria das infraestruturas – As zonas urbanas e as vias de tráfego elevado exigem uma renovação urgente das infraestruturas. A prioridade deve estar na criação de ciclovias e percursos pedonais, reduzindo a exposição ao perigo de veículos maiores. É exigível, estradas bem sinalizadas e com iluminação adequada, assim como, manutenção contínua dos pavimentos.

Reforço da fiscalização e tecnologia de controlo – Hoje a tecnologia tem um papel essencial em várias áreas do conhecimento, sendo benéfica a sua utilização na fiscalização e controlo da velocidade.

Fomento da utilização de tecnologias de segurança – Incentivo ao uso de veículos equipados com assistência à condução (sensores de colisão, travagem automática e alertas de fadiga).

Apoio a vítimas e famílias – Embora a prevenção seja crucial, devemos também melhorar o apoio oferecido às vítimas de acidentes e às suas famílias. Mais assistência psicológica e jurídica, e programas de reabilitação física e mental para os feridos são fundamentais para uma recuperação mais célere e menos dolorosa.

A segurança rodoviária deve ser encarada como uma prioridade nacional, exigindo um compromisso político que vá além das estatísticas anuais. Cada vida perdida, é um sonho que morre cedo demais.

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