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Artigo de Opinião de Luís Miguel Condeço—Doce como o mel!

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Foi no século XVII, que Thomas Willis (importante médico inglês, que ficou reconhecido pelos estudos na área da anatomia) analisou a urina de um dos seus doentes e disse ser “doce como o mel”, uma vez que a presença de glicose (açúcar) era notória.

A Diabetes já tinha sido descrita pela primeira vez na Grécia Antiga, por Aretaeus da Capadócia no ano de 150 antes de Cristo, mas só em 1921, depois dos estudos desenvolvidos por Banting e Macleod (que lhes valeu o prémio Nobel em 1923), é descoberta a insulina. Hoje, os adultos e as crianças com Diabetes Mellitus tipo 1 (ou insulinodependentes) podem usufruir de uma vida quase normal desde que tenham um controlo adequado do seu metabolismo.

No próximo dia 14 de novembro comemora-se o Dia Mundial da Diabetes, data criada em 1991 pela International Diabetes Federation (Federação Internacional da Diabetes) e pela Organização Mundial da Saúde, e que pretende sensibilizar a população mundial sobre a doença.

A Diabetes é uma doença crónica endócrina que surge pela destruição das células beta dos ilhéus celulares de Langerhans no pâncreas, e que atinge crianças, jovens, adultos e grávidas, sendo responsável por 3,3% das mortes em Portugal no ano de 2020 e consumindo cerca de 7% da despesa portuguesa em saúde (em 2021).

Dados divulgados este ano pela Sociedade Portuguesa de Diabetologia, indicam que 10,5% da população mundial tem Diabetes, correspondendo a 537 milhões de pessoas, já em Portugal 14,1% da população é portadora da doença, contudo quase metade desta não a tem diagnosticada. Este indicador deve ser um fator de preocupação para o sistema de saúde, pois o consequente diagnóstico, educação terapêutica, tratamento e acompanhamento reduzem drasticamente a incidência de complicações tardias nos rins, olhos, sistema nervoso e cardiovascular.

O crescimento do número de pessoas com Diabetes, cerca de 80.349 novos casos em Portugal Continental no ano de 2021, antevê um acréscimo na despesa do Estado em consultas, internamentos, fármacos, dispositivos e consumíveis. Principalmente na faixa etária pediátrica, onde a incidência da Diabetes aumenta cerca de 3 a 4% ao ano, contabilizando o Observatório Nacional da Diabetes em 2015, 3327 crianças e jovens com Diabetes Mellitus tipo 1.

Apesar de ser uma patologia sem cura (crónica), é possível garantir a qualidade de vida através de um controlo metabólico adequado. Para isso, é fundamental o equilíbrio entre a terapia com insulina, a adoção de uma alimentação saudável, e o exercício físico regular. O envolvimento dos pais, cuidadores e comunidade escolar é fundamental para as crianças e adolescentes portadores da doença.

A escola não deve ser vista como a “extensão da casa”, mas o ambiente familiar e inclusivo da instituição escolar favorece o controlo metabólico, o bem-estar e a qualidade de vida da criança com Diabetes. Devem ser combatidas práticas discriminatórias de afastamento e isolamento de jovens portadores desta doença crónica, e que todos os anos as vivenciam em comunidades educativas espalhadas pelo país. A Direção-Geral da Saúde na sua Orientação 6/2016 apresenta a proposta de um Plano de Saúde Individual e cria uma base de compromisso entre a equipa de saúde que acompanha a criança e adolescente na área da diabetologia, o Agrupamento de Centros de Saúde ou Unidade de Saúde Funcional, os pais ou cuidadores e o Agrupamento de Escolas, para garantir a gestão adequada da Diabetes Mellitus tipo 1 em contexto escolar.

A doença não deve ser limitante, mas sim promotora de competências fundamentais à manutenção da qualidade de vida, principalmente para as crianças e adolescentes. Dia 14, lembremos todos aqueles que continuam a saltar, rir e brincar, mesmo com uma caneta de insulina na mochila ou conectados a um sistema de infusão subcutânea contínua de insulina.

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