A VIDA ETERNA EXIGE A VIVÊNCIA DA POBREZA DE JESUS
No Evangelho ouvimos um fragmento do discurso escatológico que Jesus proferiu junto às portas do templo de Jerusalém. A palavra “escatológico” convida-nos a olhar para o fim dos tempos. Depois disto, Jesus iniciará o seu caminho rumo à paixão. O evangelho diz-nos que alguns dos presentes comentavam as maravilhas e o esplendor do segundo templo que ainda estava a ser construído; a grandeza do templo de Jerusalém, que era o lugar da presença e do encontro dos fiéis com Deus. E Jesus profere uma frase surpreendente: “Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído”. Desta forma, Jesus faz referência à decadência de toda a grandeza aparente, mesmo que seja a causa do orgulho de um povo. Os profetas, como Malaquias, já o tinham mencionado: “Há-de vir o dia do Senhor, ardente como uma fornalha; e serão como a palha todos os soberbos e malfeitores. O dia que há-de vir os abrasará”; perante a santidade de Deus, todo o mal e toda a injustiça são aniquilados.
Além disso, há uma série de factos que nos recordam a fragilidade da condição humana, como são as guerras, a fome, as pandemias e todos os tipos de cataclismos. Pensemos nas alterações climáticas, que nos lembram não só a nossa fragilidade enquanto espécie, como também a nossa responsabilidade ecológica, a que o Papa Francisco dedicou a encíclica “Laudato si”. Temos de estar conscientes de que o futuro das próximas gerações depende de nós! O templo de Jerusalém, que na altura em que São Lucas escreveu o seu evangelho já tinha sido destruído pelos romanos, foi substituído por um novo templo incorruptível, que é o corpo do Jesus ressuscitado. A partir de agora, este será o lugar da presença e do encontro com Deus. Assim, todas as promessas ditas pelos profetas realizam-se, tendo como fundamento a confiança no Deus da Aliança, que é o salvador: “Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol de justiça, trazendo nos seus raios a salvação. É lógico que alguns dos primeiros cristãos pensassem que o fim dos tempos e a gloriosa vinda de Cristo não demorariam muito a chegar. São Paulo tentou esclarecer este mal-entendido que levou alguns membros da comunidade de Tessalónica a não trabalhar e a ter uma atitude de esperança passiva. Além disso, os primeiros cristãos já tinham sofrido conflitos e perseguições, a sua actividade missionária já tinha provocado a rejeição e a oposição daqueles que os viam como uma ameaça. É tão doloroso quando a traição procede da família e dos amigos! Como encarar esta situação com paz e serenidade? Jesus, no evangelho, propõe algumas atitudes: o discernimento perante os falsos profetas e salvadores, “Tende cuidado; não vos deixeis enganar”; ver as perseguições como uma ocasião para dar testemunho; confiar na ajuda de Cristo nestas situações: “Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer”. Finalmente, Jesus convida-nos a confiar na promessa de alcançar a vida eterna: “nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas”. Hoje, também devemos saber dar testemunho de Cristo na nossa sociedade e no mundo. E como dar testemunho, na perseverança, para alcançar a vida eterna? Como Jesus, sermos próximos, disponíveis e pobres para os outros. Há que reflectir sobre o modo de dar uma resposta adequada que traga alívio e paz a tantas pessoas, deixadas à mercê da incerteza e da instabilidade. Temos de crescer no sentido de comunidade e de comunhão, como um modo de vida.
Temos de ir mais além do comportamento assistencialista para com os pobres. A miséria é a pobreza que mata, é a filha da injustiça, da exploração, da violência e da redistribuição injusta dos recursos. Em contrapartida, temos uma pobreza que enriquece; é a que nos é oferecida por Jesus que nos liberta e nos faz felizes. Este é o paradoxo da vida da fé: a pobreza de Cristo torna-nos ricos. A riqueza de Jesus é o seu amor, que não se fecha a ninguém e vai ao encontro de todos, especialmente dos que são marginalizados e privados do que é necessário. Faremos parte dos “novos céus e da nova terra”, ou seja, da vida eterna, se a pobreza de Jesus Cristo for a nossa fiel companheira na vida.
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paroquiasagb
Leitura Espiritual
«Tereis ocasião de dar testemunho»
Dou sem cessar graças ao meu Deus, que me guardou fiel no dia da minha tentação, de modo que hoje possa oferecer confiadamente a minha alma em oblação como «sacrifício vivo» (Rom 12,1) a Cristo meu Senhor, que me protegeu de todas as angústias. Por isso digo: quem sou eu, Senhor? Donde me vem esta sabedoria (cf. Mt 13,54), que não era minha, eu que nem o número dos meus dias conhecia e que ignorava a Deus? De onde me veio depois o tão grande e salutar dom de conhecer a Deus e de O amar, a ponto de deixar pátria e família, e de vir para junto dos pagãos da Irlanda pregar o Evangelho, para sofrer insultos por parte dos incrédulos, suportar muitas perseguições, «e até prisões» (2Tim 2,9), de forma a dar a minha liberdade pelo bem de outros? Se for digno disso, estou pronto para dar a minha própria vida sem hesitação; escolho consagrar a minha vida até à morte, se o Senhor mo permitir. Porque sou grandemente devedor de Deus, que me atribuiu esta grande graça de fazer, por meu intermédio, renascer em Deus numerosos povos, conduzindo-os depois à plenitude da fé. Permitiu-me também ordenar por toda parte ministros para este povo recentemente chegado à fé, este povo que o Senhor adquiriu nos confins da Terra, como tinha sido prometido pelos seus profetas (cf. Lc 1,70): «a ti virão os povos dos confins da Terra» (Is 49,6) e «estabeleci-te como luz das nações, para levares a salvação até aos confins da Terra» (Act 13,47). (São Patrício (c. 385-c. 461), monge missionário, bispo, Confissão, 34-38; SC 249).
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