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Avisos e Liturgia do XXXIV Domingo do Tempo Comum – ano A

NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

 

Com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, encerramos o Ano Litúrgico. Neste Domingo, São Mateus, que nos acompanhou durante este ano litúrgico, apresenta-nos Jesus como Filho do homem glorioso e rei que, no fim dos tempos, examinará a vida de cada pessoa, a partir da prática, ou não, das obras de misericórdia. É um texto que nos convida não só a pensar no fim da nossa caminhada terrena, mas também a avaliar todos os dias da nossa vida, segundo os critérios de Jesus para se alcançar o Reino preparado pelo Pai. A celebração deste domingo oferece-nos a possibilidade de contemplar Jesus a partir dos títulos que Lhe são atribuídos, tanto pela Palavra de Deus, como pela oração da Igreja. A oração colecta deste Domingo faz referência ao projecto de Deus “de instaurar todas as coisas” em Jesus, “seu amado Filho”, constituído “Rei do universo”. Diz-nos, portanto, que através de Jesus (da sua encarnação, vida, morte, ressurreição e glorificação) toda a humanidade e todo o universo estão convidados a participar da plenitude da Vida que o Pai nos oferece. Na segunda leitura, Paulo afirma que a ressurreição de Jesus é já o início e a garantia de que todo o mal – mesmo a morte – será vencido. A Oração Sobre as Oblatas fala de “reconciliação”. Recorda a importância de vivermos em paz e reconciliados connosco próprios, com todas as pessoas, com a natureza e com Deus. Levarmos a sério este projecto de vida, é dispormo-nos a seguir Cristo, “Ele é a nossa paz” (Ef 2,14), colaborando com Ele na construção do “reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz” (Prefácio); e pedindo a graça de não colaborarmos em tantos reinos da mentira, da aparência, da violência e da exclusão dos pobres que existem nos nossos dias. Jesus Cristo, o Filho de Deus, consagrado “Sacerdote eterno e Rei do universo” vai à nossa frente neste caminho, oferecendo-Se pela redenção da humanidade e do universo. Seguir Jesus leva-nos a viver com Ele em plena comunhão (Oração Depois da Comunhão). A primeira leitura e o salmo destacam, em Jesus, a missão de Pastor. O evangelho une a missão de Pastor à de Rei. Ambas têm profundas raízes bíblicas e já no Antigo Testamentos são atribuídas a Deus. Tanto o texto de Ezequiel como o salmo 22, proclamados nesta solenidade, falam de Jesus que exerce a sua realeza cuidando dos mais fracos, dos doentes e dos esquecidos deste mundo. Recorda-nos a urgente necessidade de cuidarmos uns dos outros e de sermos cuidadores do universo que Deus colocou nas nossas mãos para ser a casa acolhedora de todos. A imagem do Pastor fala também da necessidade de nos sentirmos seguros, tranquilos, de sabermos que a vida do mundo e de cada um de nós está em boas mãos. Está nas mãos de Alguém que quer acolher-nos em sua casa, preparar-nos pessoalmente a mesa e tratar-nos, com todas as honras, como hóspedes importantes. Podemos, pois, aproximarmo-nos, confiadamente, de Jesus, “manso e humilde de coração”. Hoje, é muito importante falar de Jesus Cristo com esta imagem de Rei-Pastor que acompanha, caminha ao nosso lado, concede a paz, a cura, a esperança e vai conduzindo a humanidade para a plenitude da vida. Ele conhece a situação pessoal de cada um e ocupa-se de todos. Ajuda-nos a caminhar para a nossa verdadeira casa, onde receberemos o dom da vida, na sua plenitude. É bom não esquecer que só poderemos falar de Cristo Rei-Pastor se tivermos a consciência de sermos o seu povo, a sua família, membros do seu Corpo e do seu Reino. Somos discípulos e enviados como os primeiros que Ele convidou a segui-Lo. Em todos os Domingos, o nosso Rei e Pastor prepara-nos a mesa. Oferece-nos generosamente o Pão da Palavra e o Pão da Eucaristia. Recorda-nos que nos fez nascer como membros do seu povo e da sua família na água do baptismo. Ungiu-nos, marcando-nos com a identidade de cristãos, associando-nos na sua missão de construir todos os dias o “Reino de Deus”.

26-11-2023

 

LEITURA ESPIRITUAL

«Vinde, benditos de meu Pai!»

 

«Vinde, benditos de meu Pai, recebei como herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Vinde, vós que tendes amado os pobres e os imigrantes. Vinde, vós, que tendes sido fiéis ao meu amor, a Mim, que sou o amor. Eis que o meu Reino está preparado e o meu céu aberto, e que a minha imortalidade aparece em todo o seu esplendor. Vinde todos e recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo». Então — que maravilha! — os justos surpreender-se-ão por serem convidados a aproximar-se como amigos daquele que as hostes angélicas não podem sequer ver com clareza, e perguntar-Lhe-ão com voz decidida: «Senhor, quando foi que Te vimos? Tu tinhas fome, e nós demos-Te de comer? Mestre, Tu tinhas sede, e nós demos-Te de beber? Estavas nu, e nós vestimos-Te? A Ti, que veneramos? A Ti, o Imortal, quando foi que Te vimos peregrino e Te recolhemos? A Ti, que amas os homens, quando Te vimos nós doente ou na prisão, e Te visitamos? Tu és o Eterno. Tu não tens começo, és um com o Pai e co-eterno com o Espírito. Tu criaste tudo do nada, Tu, o Rei dos Anjos, a quem os abismos temem. Tu tens por manto a luz (Sl 104,2), Tu fizeste-nos e modelaste-nos da terra (Gn 2,7), Tu criaste os seres invisíveis. A Terra inteira foge para longe da tua face (Ap 20,11). Como acolhemos nós a Tua realeza e soberania?» E o Rei dos reis responder-lhes-á: «Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes. Sempre que acolhestes e vestistes todos estes pobres de que falei, e lhes destes de comer e de beber, a eles que são meus membros (1Cor 12,12), a Mim mesmo o fizestes. Vinde para o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Desfrutareis eternamente dos bens de meu Pai que está nos céus e do Santíssimo Espírito que dá a vida». Que língua poderá então descrever tais benefícios? «Nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam» (1Cor 2,9). (Homilia atribuída a Santo Hipólito de Roma, ?-c. 235, presbítero, mártir, Tratado sobre o fim do mundo, 41-43; GCS I, 2, 305-307).

 

Programação de Missas e Celebrações da Semana de 28 de novembro a 03 de dezembro na Unidade Pastoral P. Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã, Algodres e Freixiosa.

Avisos e Liturgia do XXXI Domingo do Tempo Comum – ano A

 

a)       Ao olharmos para as leituras bíblicas deste Domingo, reparamos que o grande visado é aquele que preside e prega. Jesus critica duramente os escribas, os fariseus e toda a classe de dirigentes do povo por causa da sua hipocrisia e pela maneira interessada de exercer o seu ministério, não cumprindo o que ensinam. São umas boas pistas de reflexão para aquele que fala. Com termos muito parecidos, o profeta Zacarias também aborda este tema.

 

b)       Os fariseus não eram pessoas más. Eram piedosos, amavam a Lei de Deus, porque O queriam agradar. Tão amantes eram da Lei de Deus que se convertiam facilmente em legalistas. As formas exteriores e os ritos cumpriam-nos até ao mínimo detalhe, descuidando, todavia, coisas tão importantes como a caridade e a misericórdia. Pregavam aos outros o que deveria ser feito, mas não assumiam na vida aquilo que diziam. Ao longo do evangelho, Jesus denuncia os vários defeitos que encontrava nos fariseus e nos dirigentes da sociedade de então. Esta postura trouxe-lhe muitos problemas e veio a acabar mal. Jesus não condenou a autoridade, mas o modo de a exercer. O seu ataque era directo: “eles dizem e não fazem”: não há harmonia entre as palavras e as acções; são exigentes somente com os outros: “atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com o dedo os querem mover”; “tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens”, procurando os primeiros lugares, as saudações nas praças públicas e que os tratem por mestre, pai, conselheiro e guia. Já o Profeta Malaquias criticava os sacerdotes do seu tempo, porque não eram sinceros e somente se interessavam por si mesmos, esquecendo Deus e os seus fiéis. “Vós desviastes-vos do caminho, fizestes tropeçar muitos na lei e destruístes a aliança de Levi… Fazeis acepção de pessoas… Não temos todos nós um só Pai?”

05-11-2023

c)       Todos podemos ter algo de fariseu e de hipócrita. A denúncia de Jesus continua actual para os responsáveis de uma comunidade, para os que ocupam algum lugar de autoridade nos vários âmbitos: vida familiar, educação, política, trabalho e eclesial. Seremos “afectados” pela mesma denúncia se não fizermos o que dizemos, se somos exigentes com os outros e tolerantes connosco próprios; se somente queremos protagonismo (aplausos, uma boa opinião pública a nosso respeito, “aparecer na fotografia”), dando desprezo aos outros; se entendermos a autoridade para nosso proveito em vez de a colocar ao serviço dos outros, esquecendo a frase de Jesus: “aquele que for o maior entre vós seja o vosso servo”. Que bom seria fazer um sério exame de consciência sobre como está a nossa relação com os outros, por vezes, afectada pelo próprio interesse e pela ideia de auto-suficiência (olhar por cima do ombro do outro, tratando bem os que nos interessam ou os que são mais simpáticos, etc). Dou, aqui, uma sugestão: aqueles que na celebração litúrgica exercem algum ministério (presidente, admonitor, cantor, sacristão, etc) poderão examinar-se sobre se entendem esse ministério a seu favor ou como serviço à comunidade; se nos sentimos donos e senhores da palavra, da graça, da comunidade, ou representantes Daquele que disse que veio para servir e não para ser servido e dar a vida pelos outros. Neste domingo, além do exemplo de Jesus, temos, na 2ª leitura, o exemplo de Paulo. Que bom seria se pudéssemos dizer sobre a nossa conduta na comunidade o que ele disse de si: “pela viva afeição que vos dedicamos”, “tão caros vos tínheis tornado para nós”, desejaríamos partilhar convosco, não só o Evangelho de Deus, mas ainda a própria vida”, “foi a trabalhar noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, que vos pregámos o Evangelho de Deus”.

 

http://www.liturgia.diocesedeviseu.pt/

Programação de Missas e Celebrações da Semana, de 07 à 12 de novembro na Unidade Pastoral P. Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã, Algodres e Freixiosa

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Avisos e Liturgia do Celebração XXX Domingo do Tempo Comum – ano A

Neste Domingo, encontramos um texto bíblico muito conhecido. Na infância, a maior parte das pessoas aprenderam que todos os mandamentos se resumem em amar a Deus sobre todas as coisas e amar os outros como a nós mesmos. Podemos até cair na tentação de pensar que basta saber este preceito e nada mais, como o doutor da Lei que “perguntou a Jesus, para O experimentar”. Não deve ser esta a nossa atitude quando escutamos o Evangelho, mas invoquemos o Espírito Santo para sabermos acolher o que Jesus nos diz, tendo, assim, os Seus sentimentos, para que vivamos como seus discípulos e colaboradores da missão que o Pai lhe confiou. Quando Jesus fala de amar ou de fazer o bem, tem em conta a maneira de ser e de agir do Pai, dizendo: “como o Pai me amou, também Eu vos amei”. Antes de recebermos o “mandamento” de amar a Deus, fomos, somos e seremos amados por Ele. Com a sua vida, desde a encarnação até à morte e ressurreição, Jesus revela em que consiste “amar o próximo como a ti mesmo”. O amor a Deus está inerente ao facto de que somos amados por Ele desde sempre. Isto enche-nos de paz, de alegria, na esperança de que este amor de Deus seja conhecido e acolhido por todos. O amor aos outros fundamenta-se no facto de que “Deus tanto amou o mundo” que lhe deu o seu Filho para que tenhamos vida, e vida em abundância. “Uma Pessoa da Santíssima Trindade inseriu-Se no universo criado, partilhando a própria sorte com ele até à cruz”, como diz o Papa Francisco (‘Laudato si’, 99), ou seja, “fez-se carne” para assumir, menos o pecado, a condição humana. Assim, aprendemos a conhecer o valor e a dignidade que cada pessoa tem para Deus, e que deveria ter para cada um de nós. O amor de Jesus aos outros não foi de palavra, mas “com obras e verdade”. Um amor que nasce de um coração que se sabe amado e que ama. O texto do Êxodo ajuda-nos a não esquecer os mais necessitados deste mundo (1ª leitura), a não cairmos na idolatria do dinheiro que causa tanto mal. O Êxodo fala-nos, aqui, com uma maneira negativa: “não maltratarás, não oprimirás, não prejudicarás”. Mas, vejamos como termina: “Se ele Me invocar, escutá-lo-ei; porque sou misericordioso”. Jesus disse-nos que fossemos compassivos ou misericordiosos como é o nosso Pai do Céu. No que se refere ao amor ao próximo, não podemos ficar somente no “não” (“não maltratarás, não prejudicarás”), mas elaborar acções concretas e positivas, individual e comunitariamente. Hoje, “amar o próximo como a ti mesmo” consiste em tratar os emigrantes e refugiados como cidadãos de pleno direito, oferecendo-lhes tudo o que desejaríamos receber se estivéssemos na mesma situação; acompanhar e procurar recursos para as famílias fustigadas por estes tempos tão difíceis; viver de uma maneria mais austera (isto é mais difícil de aceitar!), para possibilitar que os outros tenham o indispensável; tomar consciência e trabalhar para uma economia que não crie ricos mais ricos à custa de uma pobreza ainda mais severa no mundo; promover a fraternidade, para que no mundo não domine a lei do mais forte, mas que a primeira preocupação sejam os mais frágeis. O mundo não mudou repentinamente com a vinda de Jesus Cristo. Ele foi como fermento na massa, como luz nas trevas. Nós temos nas mãos a missão de continuar o seu projecto, como Paulo e os cristãos de Tessalónica: “tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor” (2ª leitura). Peçamos que o Espírito Santo, derramado sobre Jesus, Maria e os Apóstolos, inunde os nossos corações. Somos enviados para que, na nossa vida, amemos a Deus, nosso Pai, “com todo o coração, com toda a alma e com todo o espírito”, e sejamos fecundos, generosos e ousados a amar os outros e a trabalhar para um mundo, segundo o projecto de Deus.

 

29-10-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Qual é o maior mandamento da Lei?»

 

O que ordenas, Senhor, aos teus servos? «Tomai sobre vós o meu jugo» respondes. E como é o teu jugo? «O meu jugo é suave e o meu fardo é leve». Quem não desejará, pois, carregar um jugo que não oprime, mas incentiva; uma carga que não esmaga, mas consola? E Tu acrescentaste, precisamente: «E encontrareis descanso» (Mt 11,29). E que jugo é esse, que não cansa, mas dá descanso? É o primeiro e o maior dos mandamentos: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração». Ora, nada é mais fácil, mais agradável ou mais doce que amar a bondade, a beleza e o amor que Tu és inteiramente, Senhor meu Deus. Além disso, não é certo que prometeste uma recompensa aos que seguissem os teus mandamentos «mais desejáveis que o ouro e mais doces que o mel» (Sl 18,11)? Sim, prometeste uma recompensa e uma recompensa infinita, como disse o teu apóstolo São Tiago: «Receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que O amam» (Tg 1,12). E diz São Paulo, inspirado em Isaías: «O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, o coração do homem não pressentiu, foi isso Deus preparou para aqueles que O amam» (1Cor 2,9). Na realidade, há grande benefício em guardar os teus mandamentos. Não é só o primeiro e o maior dos mandamentos que beneficia quem o cumpre, e não apenas a Deus que o estabeleceu; os outros mandamentos também aperfeiçoam o homem que os observa, fortificando-o, educando-o, valorizando-o e, por último, tornando-o bom e feliz. Se fores sensato, compreenderás que foste criado para glória de Deus e para a tua salvação eterna, que é esse o teu fim, o centro da tua alma, o tesouro do teu coração. Se chegares a esse resultado, serás feliz; se não, serás infeliz. (São Roberto Belarmino, 1542-1621, jesuíta, bispo, doutor da Igreja, A ascensão da alma para Deus, 1).

 

Programação de Missas no dia de Todos os Santos e Finados (01 e 02 de Novembro de 2023)na Unidade Pastoral P. Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã, Algodres e Freixiosa.

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Avisos e Liturgia do XXIX Domingo do Tempo Comum – ano A

O hábito de fazer perguntas é bom para saber, compreender e esclarecer as diversas situações da vida. “O importante é não deixar de fazer perguntas” (Albert Einstein). Porém, bem sabemos que o acto de questionar, por vezes, não tem boas intenções. As perguntas podem ser ardilosas, com segundas intenções e cheias de malícia. Todos nós temos alguns deveres e compromissos com a família, a vizinhança, o trabalho, o bairro, a vila, a cidade, mas também, como cidadãos, temos com a sociedade civil, e, como cristãos, com a Igreja. A questão social, política e a religião originam sempre grandes conversas e confrontos de ideias, chegando ao ponto de algumas serem polémicas e violentas. Nestas conversas, encontramos comportamentos tolerantes e respeitosos, como também correntes ideológicas fundamentalistas, populistas, opiniões pessoais e a que veicula nos meios de comunicação social. E isto tem origem na conotação das pessoas a algum partido político outra ideologia e na proximidade ou indiferença à religião (agnósticos, ateus). No texto evangélico deste Domingo, é feita a Jesus uma pergunta “comprometedora”: “é lícito ou não pagar tributo a César”? É evidente que o contexto histórico e político não é igual ao nosso. O povo de Israel vivia sob o domínio do Império Romano que o obrigava a pagar impostos e a estar sujeito a um imperador divinizado. Por um lado, sentiam-se oprimidos economicamente; por outro, sentiam-se reprimidos e ofendidos nos seus sentimentos nacionais e religiosos. Com astúcia, Jesus pede-lhes uma moeda romana, onde estava gravada a inscrição e a imagem do “divino Augusto”, de César, e deu a célebre resposta: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. A moeda tinha o seu próprio valor, devido à sua matéria valiosa e servia para pagar os impostos. Quando Jesus diz “a Deus o que é de Deus”, podemos vislumbrar o valor da mensagem do novo mandamento: “que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei”. Cada pessoa é imagem de Deus, criada à sua imagem e semelhança. Cada pessoa (a humanidade) é amada por Deus, porque é a Sua imagem, por isso, não pode ser explorada, manipulada e abusada. No projecto de Jesus, não somos escravos de nada nem de ninguém, mas comprometidos na construção da família humana, amada por Deus. Os interesses humanos egoístas converter-nos-ão em escravos. O amor tornar-nos-á irmãos. O dinheiro divide, o amor une. Com esta resposta, Jesus não contrapõe religião e política, Igreja e Estado. São dois sectores distintos de responsabilidade. Todos somos cidadãos e alguns pertencem à comunidade cristã. A nossa condição de cristãos não nos dispensa da condição de cidadãos, com direitos e deveres, vividos em coerência com os critérios do Evangelho e promovendo o bem comum. Aqueles que fizeram a pergunta a Jesus reconheciam-no como uma pessoa “sincera e que ensina, segundo a verdade, o caminho de Deus”, ou seja, não é partidário. A sua mensagem dirige-se aos corações de todas as pessoas, seja qual for a sua condição. Hoje, temos de participar e colaborar na defesa da dignidade humana e do bem comum, escutando os gritos dos pobres, abafados pela azáfama opiácea do ter e do poder que leva à corrupção, à globalização da indiferença e ao desprezo da sustentabilidade e da ecologia (EG 54-56). Como afirma São Paulo, na segunda leitura, o que deve caracterizar aqueles que se reúnem para celebrar a Eucaristia é “a actividade da nossa fé, o esforço da nossa caridade e a firmeza da nossa esperança”.

 

22-10-2023

LEITURA ESPIRITUAL

Cumprir os próprios deveres

 

A ordem do mundo depende da fidelidade de cada um aos deveres do seu estado. Todas as desordens nascem da negligência no cumprimento destes deveres. Que belo seria o mundo se cada um cumprisse os seus deveres de estado. São estes deveres o que as pessoas mais negligenciam, incluindo as pessoas mais piedosas, e diria até que, por vezes, estas até mais que as outras. E, contudo, não se acusam disso. Um homem que não cumpre os deveres do seu estado, faça o que fizer de bom, é uma voz discordante na harmonia do mundo. Quando se escolhe um estado, pensa-se apenas nas vantagens humanas que ele traz, e não se pensa nos deveres. Quem, porém, deixa de cumprir estes deveres, prejudica o próximo. E, como Deus leva estes interesses bastante mais a peito que os seus próprios interesses, segue-se que é mais perigoso faltar-lhes. É fácil cometer omissões neste ponto; mas, como as pessoas têm dificuldade em se aperceber disso, também é raro procederem à respectiva reparação. Trata-se de pecados que se cometem sem nada fazer; de pecados que não consistem em praticar acções más, e que, muitas vezes, se seguem a acções boas. Quando omitis os vossos deveres, prejudicais os outros e prejudicais-vos a vós: prejudicais os outros porque não tendes o cuidado de os fazer cumprir o seu dever; e a vós, porque não cumpris o vosso. (São Cláudio de la Colombière, 1641-1682, Jesuíta, «Reflexões cristãs»).

 

Avisos e Liturgia do Domingo XXVIII do Tempo Comum – ano A

Novamente, Jesus fala-nos em parábolas. Se no Domingo passado utilizava a imagem da vinha, hoje usa outra que, talvez, seja mais universal: o banquete nupcial. Não me parece exagerado afirmar que em todas as culturas é importante e cheio de significado as pessoas sentarem-se à volta de uma mesa, ou sentar-se no chão, partilhando o alimento, a hospitalidade e a amizade. Por diversas circunstâncias, fomos privados de tantas reuniões familiares. E, depois, quando voltamos a reunir e falta algum membro que já não está entre nós, sentimos que, a partir daquele momento, a nossa vida já não será como tinha sido até então. Esta experiência humana pode ser o ponto de partida para captar toda a riqueza da mensagem evangélica deste Domingo. Não podemos esquecer que Jesus tinha o hábito de falar do Reino de Deus a partir das realidades da vida quotidiana e da beleza da natureza; a Eucaristia foi instituída à volta de uma mesa, em ambiente familiar. O profeta Isaías, na primeira leitura, como também o salmo, diz-nos que Deus convida-nos para nos sentarmos à mesa. Isaías é mais universal: “sobre este monte, o Senhor do Universo há de preparar para todos os povos um banquete”. O salmo fala da dignidade de cada pessoa, ninguém é anónimo neste banquete: “para mim preparais a mesa”. O convite ao banquete é sinal daquilo que Deus quer oferecer a toda a humanidade: vencer a morte é enxugar as lágrimas de todas as faces, é estar sempre presente nas nossas vidas com a sua bondade e amor, é viver na sua casa. Ou seja, é sermos salvos por Ele. Por isso, cada celebração da Eucaristia convida-nos a fazer o que diz Isaías: “alegremo-nos e rejubilemos, porque o Senhor nos salvou”. As parábolas de Jesus ajudam-nos a entender Deus e o seu projecto do Reino, a reflectir sobre a nossa relação com os outros e sobre a necessidade de nos convertermos. Jesus não fala de um banquete qualquer, mas da festa do casamento do filho de um rei. Como é possível que os convidados não queiram ir? Parece-me que deveriam ir para, ao menos, ficarem bem aos olhos do rei que os convidou! A parábola fala-nos da aliança (ou banquete) definitiva que Deus Pai quer fazer com toda a humanidade, através do seu Filho, Jesus. Uma aliança, para a qual todos os povos estão convidados; da qual a Eucaristia é sinal, assim como deve ser seu sinal, ainda que imperfeito, a vida dos cristãos e da Igreja neste mundo. Porém, este convite continua hoje a ser recebido, por alguns, com desinteresse ou rejeição. É um escândalo o que alguns fazem, privando milhões de pessoas do banquete de uma digna vida humana. Não por falta de recursos, mas por desculpas vergonhosas: os interesses dos mercados capitais que não têm outro objectivo do que ganhar mais e mais; reina o “primeiro nós” e depois os outros; o medo da pessoa com cultura diferente; a loucura de investir cada vez mais em armamento em vez de desarmar os nossos corações; o não cuidar da casa comum que Deus nos deu: a irmã e mãe terra. A parábola deste Domingo é um convite à conversão, para não colocarmos obstáculos a viver segundo os critérios do Reino dos Céus. Apesar do desinteresse e da rejeição ao seu convite, Deus continua o seu projecto de salvar e reunir toda a humanidade em sua casa. “A sala do banquete encheu-se de convidados”. Mas, “o rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial”, e foi expulso. Pois é! Não podemos participar na Eucaristia, nem na Igreja, se não nos preocuparmos em viver o evangelho e se não formos sensíveis ao sofrimento humano. Este é o traje nupcial! A Eucaristia é comungar Cristo, o Pão da Vida e a Palavra da Vida. Esta comunhão deve tornar-se palpável na vida de cada um e na comunidade.

15-10-2023

 

LEITURA ESPIRITUAL

«Felizes os convidados para as núpcias do Cordeiro» (Ap 19,9)

 

Compreendestes quem é o Rei, Pai de um Filho que também é Rei? É Aquele acerca de quem o salmista pedia: «Ó Deus, dai o vosso juízo ao Rei e a vossa justiça ao Filho do Rei» (71,1). Ele «preparou um banquete nupcial para o seu filho»; ou seja, o Pai celebra as núpcias do Rei seu Filho, a união da Igreja com Ele, no mistério da encarnação. E o seio da Virgem Maria foi o quarto nupcial deste Esposo. Por isso, há outro salmo que diz: «Do sol fez a sua tenda, Ele mesmo é como um esposo que sai do seu pavilhão de núpcias» (18,5-6). Ele mandou os servos convidar os amigos para esta boda. Enviou-os uma vez, e depois outra vez, ou seja, primeiro os profetas, depois os apóstolos, a anunciar a encarnação do Senhor. Pelos profetas, anunciou como futura a encarnação do seu Filho único, pelos apóstolos pregou-a, depois de realizada. «Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio»: ir para o campo consiste em prestar atenção exclusivamente às tarefas deste mundo; ir para o negócio consiste em procurar avidamente o próprio lucro nos negócios deste mundo. Um e outro esquecem o mistério da encarnação, não conformando a sua vida com ele. Mais grave ainda é o caso daqueles que, não se contentando em desprezar os favores daquele que os chama, ainda O perseguem. Mas o Senhor não ficará com lugares vazios no festim das núpcias do Rei seu Filho. Manda procurar outros convivas, porque a Palavra de Deus, permanecendo embora ainda ignorada por muitos, encontrará um dia onde repousar. E vós, irmãos, que pela graça de Deus já entrastes na sala do festim, isto é, na Santa Igreja, examinai-vos atentamente, não vá acontecer que, ao entrar, o Rei encontre algum reparo a fazer na veste da vossa alma. (São Gregório Magno, c. 540-604, papa, doutor da Igreja, Homilias sobre o Evangelho, nº 38).

 

Unidade Pastoral P. Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã, Algodres e Freixiosa
Programação da Semana de 17 a 22 de outubro

 

Avisos e Liturgia do XXVII do Tempo Comum – ano A

As nossas relações da vida supõem sempre as nossas fidelidades, quer seja na amizade, no contacto diário, nos negócios, nos compromissos e encargos profissionais ou noutras circunstâncias. As leituras deste Domingo têm como fio condutor a fidelidade. Com uma linguagem amorosa (Is 55,1-7 e Sal 79), expressam a relação “esponsal” ou “nupcial”, entre o povo de Israel e Deus: “vou cantar, em nome do meu amigo um cântico de amor à sua vinha”. É o cântico do amor de Deus para com o povo de Israel, mas que não é correspondido: “esperava que viesse a dar uvas, mas ela só produziu agraços”, “esperava rectidão e só há sangue derramado; esperava justiça e só há gritos de horror”. Estas palavras recordam-nos algumas relações tendenciosas entre muitos homens e mulheres, de hoje e de sempre. Pela fé, sabemos que “Deus é fiel” (1Pe 4,19), apesar de nós não sermos fiéis. O evangelho, referindo-se à alegoria da vinha de Isaías, apresenta-nos a parábola dos vinhateiros rebeldes e assassinos (Mt 21,33-43). Em primeiro lugar, descreve a revolta violenta e cruel dos trabalhadores, até assassinarem o herdeiro, porque queriam apoderar-se de tudo, da colheita e da herança. Em segundo lugar, vem a interpelação: “quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros”? Parece que o mais lógico será mandar “matar aqueles malvados. Mas tal não aconteceu. A intenção do proprietário não é destruir a vinha, o seu povo, o mundo que ele ama, acredita e espera que frutifique. Condena os vinhateiros responsáveis da injustiça, e arrenda a vinha a outros vinhateiros, “que lhe entreguem os frutos a seu tempo”. Estes amados de Deus somos nós; e o que nos é pedido é que sejamos fiéis! O que é mais importante é descobrirmos que somos amados de Deus, e, entrando nesta corrente de amor, seremos fiéis e daremos fruto: “pelos frutos os conhecereis” (Mt 7,16). Deus confiou-nos o mundo nas nossas mãos. Será que estamos a dar frutos de bondade e de justiça? A quem somos fiéis? Quais são as nossas fidelidades e as nossas infidelidades? O que fazemos para construir um mundo melhor? Deixaremos este mundo um pouco melhor do que o encontrámos? (Baden-Powell). O que faço e como me comprometo na construção do Reino de Deus? Hoje, a vinha é o nosso planeta. Mas, como a vinha do relato evangélico, tendo em conta como este mundo está organizado, todos podemos ter cumplicidades com a injustiça, a pobreza, a miséria oculta, que descartam as pessoas. É o “crime” cometido pelos açambarcadores, pelos contrabandistas, pelos violentos, protagonistas de tantas situações desumanizadoras. São Paulo dá-nos um remédio para muitos destes males que nos rodeiam: “tudo o que é verdadeiro e nobre, tudo o que é justo e puro, tudo o que é amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor é o que deveis ter no pensamento” (Fil 4,8). Então, a vinha será o que nós quisermos construir, trabalhando, amando, comprometendo-nos, servindo a Deus e aos outros. A imagem da vinha interpela-nos nesta sociedade em crise humanitária e socio económica. Estamos a colaborar no cuidado da vinha do Senhor, na casa comum? O nosso dever é zelar e cuidar, como bons defensores de um tesouro, e não tender a pretensões de domínio daquilo que é de Deus.

 

08-10-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos»

 

«Cristo confiou-nos o ministério da reconciliação» (2Cor 5,18). São Paulo faz ressaltar assim a grandeza dos apóstolos, mostrando-nos que ministério nos foi confiado e, simultaneamente, manifestando o tipo de amor com que Deus nos amou. Depois de os homens se terem recusado a escutar Aquele que Ele lhes tinha enviado, Deus não fez estalar a sua cólera, nem os rejeitou, antes persistiu em os chamar, por Si mesmo e através dos apóstolos. Quem poderá deixar de admirar semelhante solicitude? Silenciaram o Filho, que veio para os reconciliar, o Filho único da mesma natureza do Pai. Mas o Pai não Se afastou dos assassinos, nem disse: «Enviei-lhes o meu Filho e, além de não O escutarem, entregaram-no à morte e crucificaram-no; de agora em diante é justo que Eu os abandone». Fez o contrário: quando Cristo deixou este mundo, nós, os seus ministros, ficamos encarregados de O substituir. «Pois Deus reconciliou o mundo consigo, em Cristo, e confiou-nos o ministério da reconciliação» (2Cor 5,19). Este amor ultrapassa toda a palavra e toda a inteligência! Quem foi insultado? Ele mesmo, Deus. Quem deu o primeiro passo para a reconciliação? Foi Ele. Com efeito, se Deus tivesse querido pedir-nos contas, estaríamos perdidos, visto que «todos estávamos mortos» (2Cor 5,14). Apesar do grande número dos nossos pecados, Ele não nos atingiu com a sua vingança, mas, mais uma vez, reconciliou-Se connosco; não satisfeito em ter revogado a nossa dívida, considerou-a como nada. Assim devemos perdoar aos nossos inimigos, se quisermos obter para nós este perdão magnânimo: «Ele confiou-nos o ministério da reconciliação». (São João Crisóstomo, c. 345-407, presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja, Homilia 11 sobre a 2.ª Carta aos Coríntios, 2-3).

 

Avisos e Liturgia do XXVI Domingo do Tempo Comum – ano A

A Palavra Divina, proposta para reflexão neste Domingo, convida-nos a clarificar a nossa conduta de vida. Na primeira leitura, o profeta Ezequiel afirma que se o pecador reconhece o seu erro e se converte, viverá. Mas esta conversão tem de ser sincera, como também deve ser toda a nossa acção, não “fazendo nada por rivalidade nem por vanglória”, como diz São Paulo, na segunda leitura. No texto evangélico, através do exemplo de dois comportamentos diferentes, Jesus diz-nos que o que é importante para Deus são as acções, e não as palavras. Por isso, este Domingo é um convite a uma autenticidade de vida. Como no pretérito Domingo, a parábola do evangelho volta a referir-se à vinha, símbolo do povo de Deus, para a qual Ele nos envia todos os dias. Nesta passagem, Jesus faz uma referência aos dirigentes religiosos do seu tempo que se consideravam “bons e perfeitos” e desprezavam os “pecadores e publicanos”. Mas uma coisa é considerar-se e outra é ser; uma coisa é dizer e outra é fazer. É isto o que acontece na parábola: um filho diz que sim, mas não foi, e outro disse não, mas foi, com o qual fica comprovado o texto de Mateus (7,21), no sermão da montanha, quando Jesus disse: “Nem todo o que diz ‘Senhor, Senhor’, entrará nos Reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus”. Quer dizer que não seremos julgados pelas vezes que erramos, mas pelas vezes que sabíamos rectificar o erro, e não fizemos. Quantas pessoas conhecemos que falam, criticam, que se consideram rectas e se vangloriam de tudo, mas fazem muito pouco ou nada; e outras que protestam, aborrecem-se, revoltam-se, mas depois estão presentes, trabalham, lutam e comprometem-se! Na base da parábola deste Domingo, há mais um aspecto a considerar: é a tendência de dividir a sociedade em bons e maus, justos e pecadores, quando a realidade é muito mais complexa e cada pessoa é como é, com as suas circunstâncias, como afirma Ortega y Gasset. Reflectindo sobre a parábola deste domingo, existe o perigo de destacar os que “fazem”, desprezando os que somente “dizem”. Mas ninguém pode enaltecer-se dos seus êxitos, desprezando os outros. Por isso, Jesus termina a parábola com as seguintes palavras: “em verdade vos digo: os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus”. A fé não consiste em teorias, mas é uma entrega confiante e obediente a Deus. Aquilo que dignifica as pessoas são as suas atitudes e a vontade constante de renovação. Assim, onde me situo: sou daqueles que, apesar das inseguranças, adiro ao evangelho? Ou prefiro ficar no meu casulo, na falsa sensação de cumprimento dos preceitos e de devoções, mas incapaz de me comprometer com o reino de Deus? Perante as leituras deste Domingo, concluímos que ainda estamos a tempo de nos “formatarmos” aos planos de Deus. Para tal, é preciso assumir o que nos diz São Paulo, na segunda leitura: “tende entre vós sentimentos de ternura e de misericórdia…não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas com humildade, considerai os outros superiores, sem olhar aos próprios interesses, mas aos dos outros. Tende entre vós os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, que assumiu a condição humana, humilhou-se, obedecendo até morte, e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou…e toda a língua proclama que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.

 

 

LEITURA ESPIRITUAL

Sair do pecado e entrar no Reino de Deus

 

Irmãos, chegou o momento de sairmos, cada um pela sua parte, do lugar do nosso pecado. Saiamos da nossa Babilónia e vamos ao encontro de Deus, nosso Salvador, como nos adverte o profeta: «Apressa-te, Israel, a ir ao encontro do Senhor, porque Ele vem!» (Am 4,12). Saiamos do abismo do nosso pecado e aceitemos partir ao encontro do Senhor, que assumiu «uma carne semelhante à do pecado» (Rm 8,3). Saiamos da vontade do pecado e façamos penitência pelos nossos pecados. Então, encontraremos a Cristo, que expiou pessoalmente o pecado que de maneira nenhuma tinha cometido. Então, Aquele que salva os penitentes dar-nos-á a salvação: «Ele uda de misericórdia com os que se convertem» (Eclo 12,3). Perguntar-me-eis: Mas quem pode sair sozinho do pecado? Sim, na verdade, o maior pecado é o amor ao pecado, o desejo de pecar. Abandona, pois, esse desejo, odeia o pecado e já saíste do pecado. Se odiares o pecado, já encontraste a Cristo. A quem odeia o pecado, Cristo perdoa as culpas, na esperança de arrancar de raiz os nossos maus hábitos. Mas dizeis que até isso é demasiado para vós, e que, sem a graça de Deus, é impossível o homem odiar o seu pecado e desejar a justiça. «Louvai o Senhor pelas suas misericórdias, pelas maravilhas que fez pelos filhos dos homens!» (Sl 106,8). Ó Senhor de mão poderosa, Jesus omnipotente, vem libertar a minha razão cativa do demónio da ignorância e arrancar a minha vontade doente à peste da sua cobiça. Liberta as minhas capacidades, a fim de que eu possa comportar-me com fortaleza, como desejo de todo o coração. (Isaac da Estrela, ?-c. 1171, monge cisterciense, Sermão de Quaresma, SC 207).

 

Avisos e Liturgia do XXV Domingo do Tempo Comum – ano A

A nossa reflexão sobre os textos bíblicos deste Domingo tem de ter em conta, como introdução, as palavras do profeta Isaías na primeira leitura: “os meus caminhos estão acima dos vossos, e acima dos vossos estão os meus pensamentos”. Uma afirmação que foi vivida por São Paulo, quando estava na prisão, passando momentos de incerteza sobre o caminho a percorrer na sua vida, segundo a vontade de Deus, como vemos na segunda leitura: “não sei o que escolher…desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal”. O texto evangélico é um exemplo de que a nossa lógica nem sempre coincide com a lógica de Deus. Um tema que é ilustrado, novamente, com uma parábola. A parábola dos trabalhadores que são convidados, em diversas horas do dia, a trabalhar na vinha é a parábola da generosidade de Deus. Este texto não pode ser lido a partir dos critérios da justiça distributiva, ou da política social. O seu conteúdo resume-se em três pontos: – Deus não trata as pessoas segundo a lógica da produtividade do trabalho, mas procura sempre o bem dos últimos e dos menos privilegiados; – A lógica da bondade de Deus não é a lógica dos gestores da economia e da política; – A solução dos problemas que, hoje, nos afectam não virá somente das mãos dos economistas e dos políticos, mas também de uma mudança de mentalidade das pessoas e da recuperação do sentido humanitário. Devemos imitar a gratuidade de Deus, expressa na parábola. Os critérios da economia podem ser critérios de ganância e de competição doentia e escravizante, enquanto que os critérios de Deus são de compaixão e de bondade para com os mais fracos e necessitados. A vinha é o símbolo do povo judeu, povo escolhido por Deus, que se considera o “primeiro”, o mais “importante” de todos os povos, enquanto que os gentios tinham de ser os “últimos”. Mas Deus revela que não exclui ninguém, que todos são chamados a trabalhar na sua vinha, que é o mundo. “Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um”. O denário é dado a todos por igual. Tudo é um dom gratuito e a gratuidade não é objecto de negócio. Deus não se compra nem se vende, mas entrega-se-nos gratuitamente, porque os planos de Deus são muito diferentes dos nossos planos. Hoje vivemos numa sociedade onde a economia predomina por cima de tudo e de todos. E o critério desta economia é valorizar os que mais produzem, é fazer a divisão entre os têm e os que não têm, é tornar ricos os mais ricos, e pobres os mais pobres; é tirar, por vezes, aos que não têm o que ainda têm, privando-os de um posto de trabalho para ganhar e sustentar a vida. O Evangelho faz-nos ver a vida de outra maneira. Não é um tratado de economia, mas uma maneira de entender a vida ao estilo de Deus. Saibamos imitar na nossa vida a infinita generosidade de Deus. Sejamos generosos com todos os que nos rodeiam, sobretudo com os mais fracos e necessitados.

 

24-09-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Ide vós também para a minha vinha»

 

Esta parábola trata da conversão dos homens a Deus, alguns desde tenra idade, outros um pouco mais tarde e alguns somente na velhice. Cristo reprime o orgulho dos primeiros e impede-os de censurar os da décima primeira hora, mostrando-lhes que todos têm a mesma recompensa. Ao mesmo tempo, estimula o zelo dos últimos, mostrando-lhes que podem merecer o mesmo salário que os primeiros. O Salvador tinha acabado de falar da renúncia às riquezas e do desprezo por todos os bens, virtudes que exigem coragem e um coração grande. Precisava, por isso, de estimular o ardor de uma alma cheia de juventude; para tal, o Senhor reacende nos seus ouvintes a chama da caridade e fortalece-lhes a coragem, mostrando-lhes que mesmo os que chegaram por último recebem o salário do dia todo. Para falar com mais clareza, poderia haver quem abusasse desta circunstância, caindo na indiferença e no desmazelo. Mas os discípulos perceberão claramente que essa generosidade é um efeito da misericórdia de Deus, que só ela os ajudará a merecer tão magnífica recompensa. Todas as parábolas de Jesus – a das virgens, a da rede, a dos espinhos, a da figueira estéril – convidam-nos a mostrar a nossa virtude com actos. Ele exorta-nos a levar uma vida pura e santa. Ora, uma vida santa custa mais ao nosso coração que a simples pureza da fé, pois é uma luta contínua, um labor infatigável. (São João Crisóstomo, c. 345-407, presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja, Homilias sobre o evangelho de Mateus, nº 64, 4).

 

Avisos e Liturgia do XXIV Domingo Tempo Comum – ano A

 

Neste Domingo, a Palavra de Deus fala-nos do perdão, como complemento da correcção fraterna, a qual reflectimos no pretérito Domingo. Na primeira leitura, já a sabedoria judaica advertia que é necessário perdoar aos outros o mal que nos fazem, porque, assim, Deus perdoará os nossos erros quando lhe pedirmos. Só Deus pode e deve julgar, e o seu juízo será sempre um juízo de misericórdia e justiça, ao contrário do nosso. O salmo 102 recorda-nos a essência do nosso Deus: “o Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade”. Uma conduta que devemos imitar. No evangelho, depois da pergunta de Pedro a Jesus, “Se o meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe?”, a resposta de Jesus, “não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”, marca o procedimento que nos é proposto, ilustrado, como exemplo, com uma parábola. Depois do diálogo entre Pedro e Jesus e a referência ao número sete como perfeição, Mateus coloca na boca de Jesus a expressão “setenta vezes sete”, citando o livro do Génesis (4,24), onde se diz: “Se Caim foi vingado sete vezes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete”. Porém, Jesus apresenta um perdão sem limites e conta uma parábola muito simples, exclusiva do evangelista Mateus. Na parábola, há uma grande diferença entre a dívida do funcionário ao seu senhor e as dívidas dos seus colegas a si próprio, revelando, assim, o nosso desejo de que sejam tolerantes connosco, enquanto somos exigentes com os outros; que Deus perdoe sempre os nossos erros, enquanto que somos inflexíveis, às vezes vingativos, com os erros dos outros. O grande erro de Pedro, que pode ser o nosso, foi pensar que o perdão era uma questão de quantidade, mas o perdão, como qualquer virtude e dom, é uma questão de qualidade; ou é, ou não é. Perdoar é algo que não goza, hoje, de muita simpatia na sociedade actual, nas famílias e em alguns grupos de pessoas e de relações. Não é fácil perdoar; exige muito trabalho interior. Perdoar é revelar riqueza e liberdade interior. Perdoar não significa ignorar as coisas, nem justificar as injustiças, nem perder a própria dignidade. Perdoar é uma atitude dinâmica do nosso espírito. De vez quando, ouve-se esta frase: “perdoo, mas não esqueço”. Quando alguém foi injustamente defraudado, ou recebeu um duro golpe contra a sua dignidade, é lógico que, psicologicamente, fique uma mágoa, difícil de esquecer. Mas uma coisa é a memória psicológica e outra é a vontade de vingança, quando houver oportunidade. A pessoa que não cultiva o esquecimento e a sublimação será sempre vítima das suas memórias, boas ou más. O perdão é a melhor expressão da acção de Deus. Perdoar é transbordar a nossa generosidade e amor, à maneira e ao jeito de Deus. Que a Palavra de Deus, deste domingo, nos ajude a rezar o Pai-Nosso com coerência: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

 

17-09-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete»

 

Cristo sublinha com insistência a necessidade de perdoar aos outros. Quando Pedro Lhe perguntou quantas vezes devia perdoar ao próximo, apontou-lhe o número simbólico de «setenta vezes sete», querendo desta forma indicar-lhe que deveria saber perdoar sempre a todos e a cada um. É evidente que a generosa exigência de perdoar não anula as exigências objectivas da justiça. A justiça bem entendida constitui, por assim dizer, a finalidade do perdão. Em nenhuma passagem do Evangelho o perdão, ou mesmo a misericórdia como sua fonte, significam indulgência para com o mal, o escândalo, a injúria causada, ou os ultrajes. Em todos estes casos, a reparação do mal ou do escândalo, a compensação do prejuízo causado e a satisfação da ofensa são condição do perdão. A misericórdia tem, no entanto, o condão de conferir à justiça um conteúdo novo, que se exprime do modo mais simples e pleno no perdão. O perdão manifesta que, além do processo característico da justiça, é necessário o amor para que o homem se afirme como tal. O cumprimento das condições da justiça é indispensável, sobretudo, para que o amor possa revelar a sua própria fisionomia. Com razão considera a Igreja seu dever e objectivo da sua missão assegurar a autenticidade do perdão. (São João Paulo II, 1920-2005, Encíclica «Dives in misericordia», 14).

 

Avisos e Liturgia do Domingo XXIII do Tempo Comum – ano A

 

A Palavra Divina que a liturgia deste Domingo nos oferece pode ser denominada como norma para a convivência e para a construção de uma comunidade fraterna. O profeta Ezequiel, na primeira leitura, previne sobre a responsabilidade de nos preocuparmos com os outros, sobretudo quando vemos alguém desorientado ou equivocado. Também São Paulo recorda-nos que o nosso único e grande dever é amarmo-nos uns aos outros como nos amamos a nós próprios, sendo esta a norma mais importante da nossa opção cristã. E o texto evangélico, extraído do quarto sermão de Mateus, que é dirigido à comunidade cristã, traça o esboço da correcção fraterna, como uma das aplicações mais importantes e necessárias para a edificação de uma genuína comunidade de vida entre pessoas. Das palavras de Jesus aos seus discípulos sobre a correcção fraterna, encontramos cinco atitudes que são imprescindíveis para não fazer desta prática uma montra de superioridade sobre os outros, mas uma ajuda amorosa entre pessoas. São estas as cinco disposições: – Em primeiro lugar, levar sempre o tema à oração pela pessoa que se pretende corrigir; – Que o primeiro passo seja sempre um encontro pessoal entre as pessoas, para que o diálogo e a presença gerem proximidade; – Se for necessário, discernir as situações mediante a opinião de outras pessoas que possam contribuir de uma maneira edificante; – Contar, também, com a opinião das comunidades onde se encontram as pessoas que desejam o nosso bem; – Finalmente, e como condição sempre presente, não nos cansarmos de oferecer oportunidades de recomeçar e de renascer, como Deus faz sempre connosco. Quando rezamos o Pai-Nosso, dizemos a seguinte petição: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Cumprimos o que rezamos? Será que Deus não nos olha tristemente quando rezamos estas palavras? Por outro lado, também o texto evangélico deste Domingo nos convida a reflectir noutro aspecto, tão pertinente para vida de hoje. Na vida humana, social, política e religiosa, é normal surgirem divergências entre pessoas e é quando surge a grande tentação de pretendermos ser detentores absolutos da verdade, pensando que os outros não sabem nada; por isso, devem ser corrigidos ou afastados da nossa vida. Este é outro aspecto que deve ser reflectido neste Domingo que nos fala de uma justa correcção fraterna e da construção de relações de fraternidade. Não é a mesma coisa um erro e uma opção diferente, como não é a mesma coisa a condenação e a correcção, ou a imposição e o diálogo. No fim do texto do evangelho, aparecem estas palavras: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles”. Não é necessário que dois ou três pensem da mesma forma, mas Ele está se estiverem reunidos. É a confirmação do “tive fome e deste-me de comer”. De certeza que nem todos os que davam de comer aos famintos pensavam da mesma maneira, mas Ele estava lá. Não se passará isto nos dias de hoje? O texto evangélico deste Domingo é um esplêndido hino à comunidade de comunhão de bens e de vida, refutando uma comunidade de condenações ideológicas e partidárias.

 

10-09-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles»

 

Vivendo entre irmãos, servos do mesmo amo para quem tudo é comum — a esperança, o receio, a alegria, o desgosto, o sofrimento (pois têm uma mesma alma, vinda do mesmo Senhor e Pai) –, porque crês que eles são diferentes de ti? Porque receias que aqueles que conheceram as mesmas quedas se regozijem com as tuas? O corpo não pode regozijar-se com o mal que acontece a um dos seus membros; aflige-se por inteiro e por inteiro se esforça por curá-lo. Onde dois fiéis estiverem unidos, aí está a Igreja, mas a Igreja é Cristo. Portanto, quando beijas os joelhos dos teus irmãos, é Cristo que tocas, é a Cristo que imploras. E quando, por seu lado, os teus irmãos choram por ti, é Cristo que sofre, é Cristo que suplica ao Pai. Ora, aquilo que o Filho pede é rapidamente concedido. (Tertuliano, c. 155-c. 220, teólogo, A Penitência, 10).

 

 Programação de Missas da Unidade Pastoral das Paróquias de Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã, Algodres e Freixiosa.