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Artigo de Luís Condeço—O saber não ocupa lugar, mas pesa!

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

O início do ano letivo aproxima-se com tal rapidez, como a temperatura desceu na última semana de agosto. E sem darmos por isso, já as nossas crianças e jovens preparam a sua mochila, os cadernos, os manuais escolares e verificam o estado dos lápis de cor, tão necessários para os projetos desafiantes que encontrarão nas salas de aula.

Mas, por falar em mochila, anteontem reparei que no escritório havia um enorme “saco colorido” com motivos infantis, de tamanho que considero gigante! Fiquei assustado com uma das mochilas da mais nova cá de casa, de tal forma, que procurei uma balança para avaliar o peso – 9 quilograma!

Estudos recentes sugerem um aumento da prevalência e incidência das lesões músculo-esqueléticas nas crianças e adolescentes, que podem evoluir para situações de doença crónica na vida adulta. Estando as causas relacionadas com fatores genéticos ou adquiridos (estilos de vida, tarefas do dia-a-dia, qualidade de vida).

Não obstante, o Programa Nacional de Saúde Escolar da Direção-Geral da Saúde (DGS) indica que as lesões músculo-esqueléticas nos estudantes resultam frequentemente, da sobrecarga física associada ao peso em excesso nas mochilas, à adoção de posturas incorretas, por inadaptação do mobiliário escolar às características antropométricas dos estudantes e à atividade física inadequada.

A ossificação mais incompleta e a grande quantidade de tecido cartilaginoso, atesta da vulnerabilidade do sistema músculo-esquelético das crianças e jovens estudantes, suscetível ao aumento da incidência de lesões na coluna vertebral (dor no pescoço, região dorsal e lombar, e alterações posturais), nos ombros (dor e condicionamento dos movimentos), na anca e joelhos (dor e condicionamento dos movimentos e alterações na pressão plantar). De tal forma, que num estudo de 2020 onde participaram 632 adolescentes de escolas da região norte e centro de Portugal, verificou-se que 47,7% (300 adolescentes) manifestaram lesões músculo-esqueléticas nos últimos 3 meses (nas localizações anteriormente referidas), e destes 57,3% (172 adolescentes) referiram sentir dor moderada ou forte.

Hoje, a evidência científica diz-nos que o peso que uma criança ou adolescente deve transportar na mochila escolar não deverá exceder os 10% do peso corporal da mesma, sendo aceitável um limite máximo de 1/8 (12,5%) do peso corporal do estudante. Contudo, nas crianças com excesso de peso corporal, esta percentagem deve ser considerada com razoabilidade.

Mas que soluções podemos indicar?

A DGS e o Serviço Nacional de Saúde, em resposta a esta problemática, sugerem:

– Optar por mochilas de rodinhas (tipo trolley);

– Utilizar a mochila carregada à altura do dorso (parte média das costas);

– Transportar a mochila nas costas o mínimo de tempo possível;

– Distribuir adequadamente o material escolar dentro da mochila;

– Utilizar as duas alças da mochila;

– Transportar na mochila apenas o material necessário para cada dia;

– Utilizar os cacifos da escola para guardar os manuais que não são necessários;

– Não levar para a escola material desnecessário (brinquedos ou videojogos);

– Utilizar folhas de arquivo em substituição de cadernos.

Podemos concluir que o transporte de mochilas pesadas acarreta lesões e complicações músculo-esqueléticas para as crianças e jovens estudantes, mas para minorar essas consequências, estudos internacionais têm recomendado:

  • O melhoramento do design das mochilas, produzidas com materiais leves e resistentes, ergonómicas e de fácil transporte;
  • A realização de programas de educação postural por professores ou profissionais de saúde no âmbito da Saúde Escolar, como parte do currículo escolar onde se poderão incluir os estudantes e os pais;
  • O rastreio e vigilância regular da postura corporal e avaliação do peso da mochila;
  • Uma política escolar de redução da carga (número de livros), gerindo eficazmente a quantidade de manuais escolares presentes na escola ou em casa, aumentando o número de cacifos para guardar o material escolar;
  • A inspeção das zonas de pressão no corpo relacionadas com a carga excessiva.

Lembro que 9 quilograma, representa 24% do peso corporal de uma das crianças cá de casa! Não tolerem pesos excessivos das mochilas dos vossos filhos, pois as complicações irão fazer-se sentir na idade adulta.

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