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Artigo de opinião de Luís Miguel Condeço— O valor da saúde

Foi durante a criação da Organização das Nações Unidas, cedo se percebeu a necessidade de instituir um organismo internacional responsável pela saúde. De tal forma que, rapidamente o Comité Técnico nomeado pelo primeiro Secretário-Geral da ONU, o norueguês Trygve Halvdan Lie, elaborou e apresentou propostas para uma constituição, à Conferência Internacional da Saúde, que seria aprovada no ano de 1946 por 51 países membros e 10 países não membros.

Esperando cerca de dois anos pela ratificação de 26 dos países fundadores, a Constituição da Organização Mundial da Saúde entra em vigor no dia 7 de abril de 1948, sendo a data consensual para a fundação da organização.

E foi ao sétimo dia do mês de abril, em 1950, que se comemorou o primeiro Dia Mundial da Saúde, para apoiar e consciencializar prioridades à época como a malária, a saúde das mulheres e crianças, a tuberculose, as infeções sexualmente transmissíveis, a nutrição e a saúde ambiental. Com o passar dos anos, o trabalho da OMS ampliou-se para fazer face aos problemas de saúde que não eram sequer conhecidos em 1948, como as “novas” doenças – vírus da imunodeficiência humana, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), ou o coronavírus 2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-2).

Passados 75 anos da evocação deste dia, a OMS continua a destacar a importância da saúde materna e neonatal como pilares fundamentais para sociedades mais sustentáveis, prósperas e justas. No entanto, sabemos que a cada ano, aproximadamente 300 mil mulheres perdem a vida devido a complicações relacionadas com a gravidez ou o parto. E mais de 2 milhões de Recém-nascidos morrem no primeiro mês de vida, e outros milhões nascem sem ela. A cada 7 segundos contabilizamos uma morte, que poderia ser evitável.​

Os países enfrentam desafios significativos para alcançar as metas globais de sobrevivência materna até 2030, e 80% deles não conseguirão cumprir os objetivos estabelecidos. Este cenário sublinha a necessidade urgente de implementar estratégias eficazes que garantam a sobrevivência e o bem-estar de mães e recém-nascidos.​

É essencial garantir que todas as mulheres tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade antes, durante e após o parto. E que não devem abranger apenas as complicações obstétricas, mas também as questões relativas à saúde mental, doenças não transmissíveis e planeamento familiar. Uma gravidez saudável e um parto seguro contribuem significativamente para a construção de comunidades mais saudáveis e resilientes, assegurando um futuro pleno de esperança para todos.

Em Portugal, o Dia Mundial da Saúde é uma oportunidade para reforçar as políticas e programas dedicados à saúde materna e neonatal. Iniciativas que promovem o acompanhamento pré-natal, o acesso a partos assistidos por profissionais qualificados e o apoio pós-parto são essenciais para reduzir a mortalidade materna e infantil. Além disso, a educação para a saúde reprodutiva e a promoção de estilos de vida saudáveis desempenham um papel crucial na prevenção de complicações durante a gravidez e o parto.​

Este ano, a OMS convida-nos a refletir sobre os avanços alcançados e os desafios que persistem na área da saúde reprodutiva e infantil. É um momento para renovar compromissos, mobilizar recursos e fortalecer colaborações entre instituições governamentais, organizações não-governamentais, profissionais de saúde e comunidades. Podemos trabalhar juntos, para um futuro onde cada nascimento seja um momento de comemoração e cada criança tenha a oportunidade de crescer saudável e feliz.​

A participação ativa da sociedade civil é fundamental para o sucesso das iniciativas no âmbito da saúde materna e neonatal. Ao promovermos a consciencialização sobre a importância dos cuidados pré e pós-natais, incentivamos as mulheres a procurarem os serviços de saúde disponíveis e a adotarem práticas benéficas para a sua saúde e a dos seus bebés. Comunidades informadas e envolvidas são mais capazes de apoiar as mulheres durante a gravidez e o pós-parto, criando redes de suporte que contribuem para melhores resultados de saúde.​

Ao assegurarmos “inícios saudáveis”, estamos a construir “futuros cheios de esperança”, onde cada indivíduo tem a oportunidade de alcançar o seu pleno potencial e contribuir para um mundo mais saudável e equitativo. É este o valor da Saúde!

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

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