A TEOLOGIA DA POBREZA: RICOS NA POBREZA DE DEUS
Neste Domingo, temos diante de nós a parábola do pobre Lázaro. O texto começa por introduzir os dois personagens principais, embora o pobre seja aquele que é descrito com mais pormenor: ele está numa situação desesperada, sem forças para se levantar; está deitado à porta do homem rico e come as migalhas que caem da sua mesa; tem o seu corpo cheio de chagas e os cães lambem-lhe as feridas. Esta situação é ainda mais dramática se considerarmos que o pobre homem se chama Lázaro: um nome que é um grito, um apelo à consciência do homem rico que vive indiferente ao seu infortúnio, uma vez que Lázaro significa “Deus ajuda”. Os pobres às portas dos ricos são um apelo para que os ricos se convertam e mudem as suas vidas. O primeiro convite que esta parábola nos faz é abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada um é um dom, seja o nosso vizinho ou um pobre estranho. Um pobre que fica à porta, à espera de compaixão, é um dom para nós e muito grande, porque os pobres estão no centro do Evangelho. Encontramos no Evangelho de Lucas um texto central e programático (Lc 4,14-21). É aquele em que Jesus vai à sinagoga de Nazaré, recebe o pergaminho do profeta Isaías, abre-o e lê a passagem de Isaías 61,1-2: “ O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros”. Os pobres não são pessoas sem importância, é como o rico o vê, mas estão no centro da vida, no centro do Evangelho. Para o Papa Francisco, a base da “teologia da pobreza” está nisto: “a pobreza é o centro do Evangelho, tanto que se retirarmos a pobreza do Evangelho, nada da mensagem de Jesus seria entendida. Paulo, com o seu pensamento, apresenta o fundamento daquilo a que podemos chamar “a teologia da pobreza”: “Conheces a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, fez-se pobre, para nos enriquecer na sua pobreza”. “Ser pobre é deixar-se enriquecer pela pobreza de Cristo e não querer ser rico com riquezas que não são as de Cristo, ou seja, é fazer o que Cristo fez”. Porque a pobreza cristã significa “que eu dou do que preciso e não do supérfluo, mesmo do necessário, aos pobres, porque sei que eles me enriquecem”. E porque é que os pobres me enriquecem? “Porque Jesus disse que ele próprio está nos pobres” (Francisco, “Meditações Diárias”, 16 de Junho de 2015). O seu nome, Lázaro, também significa que, aqueles que são esquecidos por todos, Deus não os esquece: quem não vale nada aos olhos dos homens, é valioso aos olhos do Senhor. O texto mostra como a injustiça na terra é ultrapassada pela justiça divina: após a morte, Lázaro é recebido “no seio de Abraão”, isto é, em felicidade eterna, enquanto o homem rico acaba “no inferno, no meio dos tormentos”. A este respeito, outra pergunta que podemos fazer a nós mesmos é o destino dos ricos. Como se concilia o inferno com a misericórdia de Deus? A mesma pergunta é colocada por Dostoievsky no romance The Brothers Karamazov, que comenta esta parábola com este grande texto: “Meus pais, o que é o inferno? Acho que é como o sofrimento de não ser capaz de amar. A certa altura, num momento de espaço e tempo infinitos, um ser espiritual tem a possibilidade, através da sua aparência na Terra, de dizer a si mesmo: “Eu existo e amo”. Só por uma vez lhe foi concedido um momento de amor activo e vivo. Para tal, foi-lhe dada vida terreste, de tempo limitado. Bem, este ser feliz rejeitou o dom inestimável; não lhe deu ânimo nem olhou para ele com carinho: observou-o ironicamente e permaneceu insensível a ele. Este ser, quando deixa a terra, vê o seio de Abraão, conversa com ele, como vemos na parábola de Lázaro e do homem rico com um coração mau; contempla o paraíso e a possibilidade de se elevar para o Senhor. Mas é atormentado pela ideia de chegar sem ter amado, de entrar em contacto com aqueles que não amou, tendo-os desprezado” (Parte Dois, Livro VI, Capítulo 3). O inferno é o sofrimento de não ser capaz de amar. Vivamos neste mundo, sem desperdiçar o dom que recebemos. Vamos semear o amor e seremos recompensados com o melhor das colheitas.
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Leitura Espiritual
Um pobre jazia junto do seu portão
Deus destinou a Terra, com tudo o que ela contém, a todos os homens e todos os povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos, segundo a justiça, secundada pela caridade. Sejam quais forem as formas de propriedade, conforme as legítimas instituições dos povos e segundo as diferentes circunstâncias, deve-se atender sempre a este destino universal dos bens. Por esta razão, quem usa esses bens não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de poderem beneficiar, não só a si, mas também aos outros. De resto, todos têm o direito de ter uma parte de bens suficiente para si e para a sua família. Assim pensaram os Padres e os Doutores da Igreja, que ensinaram que os homens têm obrigação de auxiliar os pobres, e não apenas com bens supérfluos. E quem se encontra em extrema necessidade tem o direito de tomar, dos bens dos outros, aquilo de que necessita. (Nota: Nestes casos, aplica-se o princípio: «Em momentos de necessidade extrema, todas as coisas são comuns, isto é, todas as coisas devem ser tornadas comuns»). É claro que, para a recta aplicação deste princípio, devem ser respeitadas todas as condições moralmente exigidas. Sendo tão numerosos os que no mundo padecem fome, o sagrado Concílio insiste com todos, indivíduos e autoridades, para que, recordados daquela palavra dos Padres – «alimenta quem tem fome, porque, se o não alimentaste, mataste-o» –, repartam realmente e distribuam os seus bens, procurando sobretudo prover esses indivíduos e povos dos auxílios que lhes permitam ajudar-se e desenvolver-se. (Concílio Vaticano II, Constituição sobre a Igreja no mundo actual, «Gaudium et Spes», 69).
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Unidade Pastoral das P. de Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã e Algodres
Avisos de 28 de setembro a 05 de outubro.



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