
Autor
Luís Miguel Condeço
Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu
O verão aproxima-se a passos largos e com o início das férias escolares começam as “migrações” dos mais novos para casa dos avós. Apesar de toda a azáfama com esta mudança, muitas vezes nem nos apercebemos como este contacto intergeracional é tão importante para os avós e netos.
Ciente da importância dos mais velhos na preservação e transmissão das experiências de vida aos mais jovens, o Papa Francisco estabeleceu (apenas em 2021) a celebração do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos no quarto domingo do mês de julho. Contudo, em Portugal este dia é já comemorado desde 2003 por resolução da Assembleia da República, muito devido ao esforço e insistência de Ana Elisa Faria. Esta avó portuguesa de seis netos, lutou durante vários anos pela instituição de uma data que valorizasse o papel dos avós enquanto difusores da cultura, da história e dos valores, fazendo jus ao que o Papa Francisco considera, “a velhice é uma dádiva”.
Atualmente no dia 26 de julho, celebra-se o Dia Nacional dos Avós, escolhido pelas instituições nacionais no seguimento da decisão emanada do Concílio Vaticano II, que desde 1969 considera este Dia de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus Cristo, apesar da informação se atribuir aos textos apócrifos (considerados falsos pelo Cânone da Igreja Católica).
Mas além das particularidades históricas e cristãs, esta data comemorativa relembra a importância e atenção que devemos dar ao processo de envelhecer de forma ativa, ou como define a Organização Mundial de Saúde, de otimizar as oportunidades para a saúde, participar ativamente em segurança, tendo em vista uma elevada qualidade de vida das pessoas mais velhas.
Também a Comissão Europeia, considera fundamental promover estilos de vida saudáveis e oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, criar desafios a partir do início da aposentação (como atividades física e mentais), e satisfazer as necessidades da população em fase de envelhecimento relativamente aos cuidados de saúde, à mobilidade, à conetividade digital, ao acesso aos mais diversos serviços públicos, e a melhorar o bem-estar e a interação intergeracional.
Os últimos Censos de 2021 apresentam-nos uma evolução demográfica com um aumento muito significativo do índice de envelhecimento da nossa população, existindo mais de 178 idosos por cada 100 jovens. Valores que em muito se devem à redução da taxa de natalidade e à qualidade dos cuidados de saúde, que aumentam a esperança média de vida. Contudo, este último indicador não se faz acompanhar do bem-estar e da qualidade de vida nas populações mais idosas, tendo Portugal valores inferiores aos da média da União Europeia.
Deste modo, e já este ano, o governo português (através de uma Resolução do Conselho de Ministros n.º 14/2024) aprovou o Plano de Ação do Envelhecimento Ativo e Saudável 2023-2026. Neste plano dá-se enfâse a seis pilares essenciais de intervenção para o desenvolvimento do processo de envelhecimento ativo e saudável: a) saúde e bem-estar; b) autonomia e vida independente; c) desenvolvimento e aprendizagem ao longo da vida; d) vida laboral saudável ao longo do ciclo de vida; e) rendimentos e economia do envelhecimento; f) participação na sociedade.
Espera-se que este plano de ação possa constituir-se num impulso de transformação da sociedade portuguesa, garantindo melhores condições de vida, maximizando a longevidade e a qualidade de vida, não esquecendo ninguém. Pretende-se acima de tudo a recuperação e manutenção da autonomia, maximizando as oportunidades sociais e económicas criadas por uma sociedade atual em constante evolução.
A velhice é mesmo uma dádiva, mas a sociedade não pode deixar de investir na sua população mais velha. Os nossos avós são um “repositório vivo” dos nossos saberes e da nossa história, é fundamental investir neles.
A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, no seu Guia Prático do Envelhecimento Ativo aponta para a intervenção nos mais velhos, em áreas como: a atividade física, a alimentação, a cognição, a sexualidade, as relações sociais, a segurança e o bem-estar. Mas a proximidade com a família, os netos e a manutenção dos contactos sociais são os verdadeiros catalisadores da atividade na velhice.
Feliz Dia dos Avós, ativos e cheios de energia.
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