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Artigo de opinião de Augusto Falcão:“A coragem nunca é a ausência de medo, mas sim enfrentar a situação mesmo que se sinta medo”

“A coragem nunca é a ausência de medo, mas sim enfrentar a situação mesmo que se sinta medo”

 

Recordo-me daquele dia; sempre me irei recordar dele; 9 de julho de 2006; era um dia normal no heliporto da Guarda; estava quente; abafado até; o sol era típico de verão; vento nem uma brisa para sossegar os efeitos do calor no corpo.

A sombra pouco ajudava e a água quanto mais fresca era mais sede provocava. O dia tinha começado assim e não havia sinais de que iria refrescar ou melhorar.

Na altura, no heliporto da Guarda, 5 bombeiros estavam de serviço ao helicóptero de combate a incêndios aguardavam o fim do turno; com eles estava mais um elemento cuja função era receber as chamadas de alerta.

E esses 6 elementos, tal como referido, aguardavam o fim do turno; sim, porque aguardar o fim do turno, sem ativações é sempre um bom sinal.

Mas quis o destino naquele dia, que já durante o almoço o telefone tocasse. Era um alerta.

Rapidamente, entramos para o aparelho, rotores a trabalhar, patins no ar e aí vamos nós…

Alerta de incêndio em Valhelhas.

A caminho do local, a coluna de fumo era bem visível e não agoirava um trabalho fácil…. Negra e direita… não tombava devido a ausência de vento…

Chegados ao local, decidi que seríamos largados no fundo do vale, num terreno agrícola e iniciar o combate do incêndio de baixo para cima.

O incêndio esse progredia em encosta, a subir essa encosta, em mato e pinhal.

Subia a encosta de forma lenta ainda; começamos o combate nesse terreno difícil, a subir por entre mato cerrado…

De repente, parece que o vulcão explodiu. Um rugido, um trovão. Um barulho infernal.

O incêndio, acabou de subir de forma descontrolada a encosta. Mais alguns minutos e o mesmo barulho. Mais uma subida e o incêndio estava no topo da encosta…

Nesta segunda arrancada, apanhou 6 bombeiros, que sem chance de fuga foram apanhados pelas chamas.

Sem hipótese de fugir, o fogo foi mais forte que eles e ceifou as suas vidas.

Hoje recordo esse dia; com mágoa; 6 camaradas meus partiram e deixaram de estar entre nós; as suas famílias iniciaram uma nova vida. Mas quem ficou vai recordá-los para sempre…

E quem viveu esse dia, nunca vai esquecer-se da perda que naquele dia os bombeiros sofreram….

Em memória deles…..

Augusto Falcão

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