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Artigo de opinião-Vítor Santos-Época desportiva 2024-2025

Levar e buscar os filhos aos treinos, acompanhar os jogos e estar sempre atento ao
comportamento do filho em campo fazem parte da rotina de um pai ou uma mãe de atleta.
Todos temos a convicção de que o envolvimento parental positivo desempenha um papel muito
importante na vida desportiva das crianças e dos jovens. O suporte familiar está relacionado
com o aumento da confiança dos atletas e até mesmo com a sua permanência na prática
desportiva. No entanto, é comum observarmos um acompanhamento negativo por parte de
alguns pais, que gritam e insultam constantemente. A pressão exercida fora do treino e da
competição é massacrante e desmotivadora. Tais comportamentos levam-nos a refletir
profundamente sobre os limites do acompanhamento que fazemos.
Os pais podem escolher se querem ser facilitadores ou obstáculos no desenvolvimento
desportivo dos seus filhos. Facilitam quando contribuem e se disponibilizam para o crescimento
e a evolução dos filhos, incentivando-os e respeitando as suas motivações, escolhas e
momentos. Contudo, tornam-se obstáculos quando impõem pressões ou não os incentivam.
O início de mais uma época desportiva é o momento certo para uma autorreflexão sobre o seu
comportamento e sobre as melhorias possíveis.
Muitos clubes já têm dificuldades em encontrar treinadores para as suas equipas. Se a estas
dificuldades acrescentarmos a falta de árbitros e de dirigentes associativos, temos de repensar
se não estaremos a afastar recursos humanos qualificados das funções, porque continuamos a
não investir no mais importante: o comportamento!
A forma como, no final de um jogo, a primeira atitude é correr na direção da equipa de
arbitragem revela muito sobre a cultura desportiva dos nossos agentes desportivos. Esta cena
teatral, tão comum em Portugal, é quase sempre um ato de transferência de responsabilidade
e de falta de compromisso da equipa perante um resultado negativo. Quando se trata de um
comportamento pontual, podemos até aceitá-lo — todos temos um dia menos bom. Mas
quando se torna um padrão já não é tolerável. Quando ganham, as equipas já não correm para
o árbitro. Porque será? A verdade é que os melhores não se desgastam com o que vai além do
jogo, focam-se nos aspetos que são da sua responsabilidade e que controlam e incentivam
quem lideram.
Temos de ser exigentes com todos os agentes desportivos e respeitar a modalidade em que
estamos inseridos. Estar constantemente a pôr tudo e todos em causa não é tratar bem a
modalidade que nos apaixona e que, para muitos, é também uma profissão.
Existem muitas ações de formação para treinadores e dirigentes, mas continua a faltar um
investimento na vertente comportamental. É esta que faz a diferença entre os excelentes e os
outros, permitindo que se foquem na sua função.
Votos de uma excelente época desportiva.

Desenho:Miguel Rebelo

Vitor Santos
Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

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