Novamente, Jesus fala-nos em parábolas. Se no Domingo passado utilizava a imagem da vinha, hoje usa outra que, talvez, seja mais universal: o banquete nupcial. Não me parece exagerado afirmar que em todas as culturas é importante e cheio de significado as pessoas sentarem-se à volta de uma mesa, ou sentar-se no chão, partilhando o alimento, a hospitalidade e a amizade. Por diversas circunstâncias, fomos privados de tantas reuniões familiares. E, depois, quando voltamos a reunir e falta algum membro que já não está entre nós, sentimos que, a partir daquele momento, a nossa vida já não será como tinha sido até então. Esta experiência humana pode ser o ponto de partida para captar toda a riqueza da mensagem evangélica deste Domingo. Não podemos esquecer que Jesus tinha o hábito de falar do Reino de Deus a partir das realidades da vida quotidiana e da beleza da natureza; a Eucaristia foi instituída à volta de uma mesa, em ambiente familiar. O profeta Isaías, na primeira leitura, como também o salmo, diz-nos que Deus convida-nos para nos sentarmos à mesa. Isaías é mais universal: “sobre este monte, o Senhor do Universo há de preparar para todos os povos um banquete”. O salmo fala da dignidade de cada pessoa, ninguém é anónimo neste banquete: “para mim preparais a mesa”. O convite ao banquete é sinal daquilo que Deus quer oferecer a toda a humanidade: vencer a morte é enxugar as lágrimas de todas as faces, é estar sempre presente nas nossas vidas com a sua bondade e amor, é viver na sua casa. Ou seja, é sermos salvos por Ele. Por isso, cada celebração da Eucaristia convida-nos a fazer o que diz Isaías: “alegremo-nos e rejubilemos, porque o Senhor nos salvou”. As parábolas de Jesus ajudam-nos a entender Deus e o seu projecto do Reino, a reflectir sobre a nossa relação com os outros e sobre a necessidade de nos convertermos. Jesus não fala de um banquete qualquer, mas da festa do casamento do filho de um rei. Como é possível que os convidados não queiram ir? Parece-me que deveriam ir para, ao menos, ficarem bem aos olhos do rei que os convidou! A parábola fala-nos da aliança (ou banquete) definitiva que Deus Pai quer fazer com toda a humanidade, através do seu Filho, Jesus. Uma aliança, para a qual todos os povos estão convidados; da qual a Eucaristia é sinal, assim como deve ser seu sinal, ainda que imperfeito, a vida dos cristãos e da Igreja neste mundo. Porém, este convite continua hoje a ser recebido, por alguns, com desinteresse ou rejeição. É um escândalo o que alguns fazem, privando milhões de pessoas do banquete de uma digna vida humana. Não por falta de recursos, mas por desculpas vergonhosas: os interesses dos mercados capitais que não têm outro objectivo do que ganhar mais e mais; reina o “primeiro nós” e depois os outros; o medo da pessoa com cultura diferente; a loucura de investir cada vez mais em armamento em vez de desarmar os nossos corações; o não cuidar da casa comum que Deus nos deu: a irmã e mãe terra. A parábola deste Domingo é um convite à conversão, para não colocarmos obstáculos a viver segundo os critérios do Reino dos Céus. Apesar do desinteresse e da rejeição ao seu convite, Deus continua o seu projecto de salvar e reunir toda a humanidade em sua casa. “A sala do banquete encheu-se de convidados”. Mas, “o rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial”, e foi expulso. Pois é! Não podemos participar na Eucaristia, nem na Igreja, se não nos preocuparmos em viver o evangelho e se não formos sensíveis ao sofrimento humano. Este é o traje nupcial! A Eucaristia é comungar Cristo, o Pão da Vida e a Palavra da Vida. Esta comunhão deve tornar-se palpável na vida de cada um e na comunidade.
LEITURA ESPIRITUAL
«Felizes os convidados para as núpcias do Cordeiro» (Ap 19,9)
Compreendestes quem é o Rei, Pai de um Filho que também é Rei? É Aquele acerca de quem o salmista pedia: «Ó Deus, dai o vosso juízo ao Rei e a vossa justiça ao Filho do Rei» (71,1). Ele «preparou um banquete nupcial para o seu filho»; ou seja, o Pai celebra as núpcias do Rei seu Filho, a união da Igreja com Ele, no mistério da encarnação. E o seio da Virgem Maria foi o quarto nupcial deste Esposo. Por isso, há outro salmo que diz: «Do sol fez a sua tenda, Ele mesmo é como um esposo que sai do seu pavilhão de núpcias» (18,5-6). Ele mandou os servos convidar os amigos para esta boda. Enviou-os uma vez, e depois outra vez, ou seja, primeiro os profetas, depois os apóstolos, a anunciar a encarnação do Senhor. Pelos profetas, anunciou como futura a encarnação do seu Filho único, pelos apóstolos pregou-a, depois de realizada. «Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio»: ir para o campo consiste em prestar atenção exclusivamente às tarefas deste mundo; ir para o negócio consiste em procurar avidamente o próprio lucro nos negócios deste mundo. Um e outro esquecem o mistério da encarnação, não conformando a sua vida com ele. Mais grave ainda é o caso daqueles que, não se contentando em desprezar os favores daquele que os chama, ainda O perseguem. Mas o Senhor não ficará com lugares vazios no festim das núpcias do Rei seu Filho. Manda procurar outros convivas, porque a Palavra de Deus, permanecendo embora ainda ignorada por muitos, encontrará um dia onde repousar. E vós, irmãos, que pela graça de Deus já entrastes na sala do festim, isto é, na Santa Igreja, examinai-vos atentamente, não vá acontecer que, ao entrar, o Rei encontre algum reparo a fazer na veste da vossa alma. (São Gregório Magno, c. 540-604, papa, doutor da Igreja, Homilias sobre o Evangelho, nº 38).

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