Chegámos ao último Domingo do Advento. À nossa volta, tudo está preparado para celebrar a solenidade do nascimento de Jesus. Mas, procuremos não cair em distracções, vivendo estes dias festivos sem dar conta da presença do Senhor. Não fiquemos carentes da proximidade de Deus.
Os especialistas dizem que as pessoas carentes de algum dos cinco sentidos, desenvolvem mais os outros, até ao ponto de compensar o que lhes falta. Na vida interior, acontece o mesmo. Quanto mais indiferente estiver o coração, menos sensível será a tudo e a todos. Isto acontece com pais e filhos, com casais, com empresários e operários, com sacerdotes e paroquianos…Para darmos conta da presença de Deus na nossa vida, é necessário estar vigilante e atento e não nos enfartarmos de palavras, de imagens ou de emoções. É importante que nos esvaziemos, que nos privemos de algumas coisas para estarmos mais atentos a tudo o que acontece à nossa volta. Deus pode estar muito perto de ti, mais perto do que tu pensas, mas ao estares tão preocupado com os teus problemas e inquietações, o que a todos acontece com frequência, não dás espaço aos sinais que, certamente, o Senhor vai deixando à sua passagem.
A atitude de Acaz é um alerta para todos. Acaz andou a vida inteira à procura de Deus, e quando o Senhor quis tornar-se acessível, ele ficou assustado. Isto não pode acontecer connosco que andamos uma vida inteira a pedir sinais a Deus da sua misericórdia, do seu amor ou do seu perdão. Por vezes, andamos tão cheios de ocupações e de preocupações, que não temos nem um minuto sequer na nossa preenchida agenda, nem um lugar na nossa vida, nem um sentimento no nosso coração! Muitas vezes, as nossas ocupações cegam-nos.
O Senhor deu-nos e dá-nos um sinal. Isto não podemos negar! Podemos olhar para o outro lado e repetir mil e uma vezes que não O vimos, podemos querer justificar-nos que Deus já não passa na nossa vida e no nosso mundo há muito tempo! Mas não é verdade. Deus dá-nos sinais evidentes, sinais inequívocos do seu amor por nós. Mas se não vemos os sinais, talvez seja, agora, o momento para nos esvaziarmos de algumas coisas para darmos espaço a Deus. Ele não é muito exigente, não precisa de muitas coisas, só pede um cantinho no nosso coração e na nossa vida.
Que belo exemplo encontramos na figura deste Domingo, São José. Andou esquecido durante tanto tempo, mas também ele é muito importante para a concretização do mistério da Encarnação. A José foi confiada a missão de proteger o maior tesouro dado por Deus, o Seu Filho, Jesus Cristo. No texto do evangelho, José é apresentado como “justo”, ou seja, “santo”. E porquê este título tão sublime a alguém de quem tão pouco fala a Sagrada Escritura? Em primeiro lugar, pela sua discrição. José é o homem do silêncio. Mas o silêncio de José não é um silêncio vazio; é no silêncio onde escuta a voz de Deus no seu íntimo. Ao dar conta da gravidez de Maria, sua noiva, sem a condenar, refugia-se no silêncio, na solidão, na escuta orante do Senhor. Só quem vive assim pode obter respostas de Deus. José não toma decisões precipitadas, mas deixa que o Espírito Santo o oriente. Em segundo lugar, porque José tem algo específico de um crente: a obediência. Para um cristão, que procura fazer a vontade de Deus em todos os momentos da vida, escutar significa obedecer. José aceita, sem restrições, a sua missão de guardar um tesouro. Mantendo-se discreto, alheio a possíveis críticas, e abdicando dos seus sonhos enquanto marido de Maria, José sabe que acima dos seus sonhos está um projecto de Deus para a Humanidade.
José mostra que nós somos mais do que os nossos projectos ou sonhos; somos instrumentos de Deus para um projecto maior, ao serviço de uma Palavra grávida de esperança para a Humanidade. Sem aparecer muito, José foi grande. Falando pouco, diz-nos muito. Hoje somos convidados a imitá-lo. O Menino que está para nascer é o tesouro que Deus nos confia e, como José, devemos acolher, proteger e cuidar.
LEITURA ESPIRITUAL
«Pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados»
Diz o profeta Isaías: «Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há de pôr-Lhe o nome de Emanuel» (7,14). O nome do Salvador, «Deus connosco», dado pelo profeta, refere-se às duas naturezas da sua única Pessoa. Com efeito, Aquele que é Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, é também o Emanuel do fim dos tempos, o «Deus connosco». Tornou-Se assim no seio de sua Mãe, porque Se dignou aceitar a fragilidade da nossa natureza na unidade da sua Pessoa, quando «o Verbo Se fez carne e habitou entre nós» (Jo 1,14).
Ele começou de forma admirável a ser o que nós somos sem deixar de ser quem era, assumindo a nossa natureza sem perder o que era em Si mesmo. «Maria teve o seu filho primogénito e deram-Lhe o nome de Jesus» (Lc 2, 7.21). «Jesus» é o nome do Filho nascido da Virgem, nome que indica, segundo a explicação do anjo, que Ele salvará o povo dos seus pecados. Será Ele que, evidentemente, salvará também da destruição da alma e do corpo os seguidores do pecado.
Quanto ao nome «Cristo», é título de dignidade sacerdotal e real. Sob a antiga Lei, os sacerdotes e os reis eram chamados cristos, devido ao crisma [que recebiam]. Essa unção com óleo santo prefigurava o Cristo que, vindo ao mundo como verdadeiro Rei e Sacerdote, foi consagrado: «Deus ungiu-O com o óleo da alegria, preferindo-O aos Seus companheiros» (Sl 44,8). Por causa dessa unção ou crisma, Cristo em pessoa e aqueles que participam da mesma unção – quer dizer, da graça espiritual – são chamados «cristãos». Por ser o Salvador, Cristo pode salvar-nos dos nossos pecados; por ser Sacerdote, pode reconciliar-nos com Deus Pai; por ser Rei, digna-Se dar-nos o Reino eterno de seu Pai. (São Beda, o Venerável, c. 673-735, monge beneditino, doutor da Igreja, Homilias para a Vigília do Natal, 5).