DOMINGO III de PÁSCOA – ano B
Como aconteceu no Domingo passado, contemplamos mais uma aparição de Jesus ressuscitado aos seus discípulos. Para eles, não foi fácil compreender a experiência de fé em Jesus ressuscitado. Estas manifestações gloriosas foram decisivas para uma fé viva e para assumirem a missão de serem arautos da mesma.
Na nossa vida, há tantas situações e acontecimentos que consistem em processos e etapas a percorrer, podendo, até, revelarem sentimentos e experiências contrapostas, de alegria ou de tristeza, de paz ou de ansiedade, de decepção ou de ilusão, de abatimento ou de esperança. Além disso, também há tantos momentos de relação e de convívio, como encontros para dialogar e debater questões políticas, sociais, éticas, artísticas, económicas e até religiosas. Mas, atenção, uma coisa é partilhar experiências vividas, e outra é partilhar ideias ou dialogar e debater questões políticas, de futebol e de religião.
A intercomunicação é franca e enriquecedora quando a experiência pessoal se mistura com os sentimentos e as convicções. A vida continua, apesar de muitas ideias e previsões. Então, podemos afirmar claramente o seguinte: comunicar ideias não é a mesma coisa que dar testemunho. Facilmente damos conta que se alguém nos fala a partir da sua experiência de vida procura fazê-lo numa atitude humilde de partilha, sem a preocupação de convencer ou de impor. Bem sabemos que o descrédito de muitas ideologias e crenças brota da incoerência da vida das pessoas, dos grupos, partidos ou instituições que as defendem e promovem. Hoje, somos mais sensíveis e receptivos aos testemunhos pessoais do que às doutrinas.
Nestes Domingos do Tempo Pascal, os textos bíblicos descrevem-nos as experiências vividas pelos discípulos de Jesus e pelas primeiras comunidades cristãs, e como todos pregavam e partilhavam a alegria e a densidade dessas experiências. Isto provocou a rápida expansão da mensagem de Jesus e sobre Jesus, apesar das dificuldades e das perseguições. Esta mensagem era mais do que uma doutrina ou uma teoria; era, realmente, uma proposta de uma nova maneira de encarar e de interpretar os acontecimentos e a vida.
Neste Domingo, o texto do evangelho de S. Lucas fala-nos de dois discípulos, decepcionados e tristes, que regressam a casa depois dos acontecimentos vividos que culminaram com a crucifixão e a sepultura do Mestre e Messias, em quem tinham confiado. No caminho, tiveram uma experiência misteriosa de encontro com Jesus, que lhes abriu os olhos. Começaram a interpretar os acontecimentos de outra forma e recuperaram a esperança perdida, e Jesus aceitou a hospitalidade e a mesa de ambos. Não guardaram para si esta vivência. Regressaram imediatamente a Jerusalém para junto dos seus companheiros, que permaneciam trancados em casa. Então, “os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão”. Enquanto estavam a contar isto, “Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: ‘A paz esteja convosco’. A primeira reacção foi de susto: só podia ser um espírito. Mas o Ressuscitado insistiu: “Porque estais perturbados? Sou Eu mesmo”. A segunda reacção foi a insegurança de acreditar de imediato, “apesar da sua alegria e admiração”; até que, finalmente, a paz, o júbilo, a confiança acabam por se impor.
Por fim, os discípulos receberam a missão de não reservar para eles esta nova experiência: “Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia…Vós sois testemunhas de todas estas coisas”. Este testemunho é sublime e expressivo na primeira carta de S. João (1Jo 2,1-5a): “E nós sabemos que O conhecemos, se guardamos os seus mandamentos”. Sabemos que os seus mandamentos se concentram num só: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Esta é a garantia da verdade de um testemunho.
Elo de Comunhão 18-04-2021LEITURA ESPIRITUAL
Quando Jesus apareceu aos apóstolos, estando fechadas as portas, e veio pôr-Se ao meio deles, eles ficaram dominados pelo espanto e cheios de medo, julgando ver um fantasma (Jo 20,9; Lc 24,37). Mas, quando soprou sobre eles dizendo: «Recebei o Espírito Santo» (Jo 20,22), e mais tarde, quando lhes enviou do céu esse mesmo Espírito como novo dom, esse dom foi uma prova indubitável da sua ressurreição e da sua nova vida. Com efeito, é o Espírito que dá testemunho no coração dos santos, e em seguida pela sua boca, de que Cristo é a verdade, a verdadeira ressurreição e a vida. É por isso que os apóstolos, que inicialmente tinham duvidado, mesmo à vista do seu corpo vivo, «davam testemunho da ressurreição com grande poder» (Act 4, 33) depois de terem experimentado esse Espírito que dá a vida. É-nos muito mais proveitoso acolher Jesus no coração do que vê-Lo com os olhos e ouvi-Lo falar. A acção do Espírito Santo sobre os nossos sentidos interiores é muito mais poderosa do que a impressão dos objectos materiais sobre os nossos sentidos exteriores.
Muito bem, irmãos, qual é o testemunho que a alegria do vosso coração presta ao vosso amor por Cristo? Quando hoje, na Igreja, tantos mensageiros proclamam a ressurreição, o vosso coração exulta e exclama: «Jesus, o meu Deus, está vivo; eles anunciaram-no! Perante esta boa nova, o meu espírito desalentado, tíbio e entorpecido pela dor, recuperou a vida. A voz que proclama esta boa nova desperta da morte os mais culpados.» Irmão, o sinal que te permitirá reconhecer que o teu espírito recuperou a vida em Cristo é se ele disser: «Se Jesus está vivo, tanto me basta!» Oh, palavra de fé e bem, digna dos amigos de Jesus! «Se Jesus está vivo, tanto me basta!» (Beato Guerric de Igny, c. 1080-1157, abade cisterciense, I Sermão para a ressurreição do Senhor, 4).