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Avisos e Liturgia do XXIX Domingo do Tempo Comum – ano A

O hábito de fazer perguntas é bom para saber, compreender e esclarecer as diversas situações da vida. “O importante é não deixar de fazer perguntas” (Albert Einstein). Porém, bem sabemos que o acto de questionar, por vezes, não tem boas intenções. As perguntas podem ser ardilosas, com segundas intenções e cheias de malícia. Todos nós temos alguns deveres e compromissos com a família, a vizinhança, o trabalho, o bairro, a vila, a cidade, mas também, como cidadãos, temos com a sociedade civil, e, como cristãos, com a Igreja. A questão social, política e a religião originam sempre grandes conversas e confrontos de ideias, chegando ao ponto de algumas serem polémicas e violentas. Nestas conversas, encontramos comportamentos tolerantes e respeitosos, como também correntes ideológicas fundamentalistas, populistas, opiniões pessoais e a que veicula nos meios de comunicação social. E isto tem origem na conotação das pessoas a algum partido político outra ideologia e na proximidade ou indiferença à religião (agnósticos, ateus). No texto evangélico deste Domingo, é feita a Jesus uma pergunta “comprometedora”: “é lícito ou não pagar tributo a César”? É evidente que o contexto histórico e político não é igual ao nosso. O povo de Israel vivia sob o domínio do Império Romano que o obrigava a pagar impostos e a estar sujeito a um imperador divinizado. Por um lado, sentiam-se oprimidos economicamente; por outro, sentiam-se reprimidos e ofendidos nos seus sentimentos nacionais e religiosos. Com astúcia, Jesus pede-lhes uma moeda romana, onde estava gravada a inscrição e a imagem do “divino Augusto”, de César, e deu a célebre resposta: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. A moeda tinha o seu próprio valor, devido à sua matéria valiosa e servia para pagar os impostos. Quando Jesus diz “a Deus o que é de Deus”, podemos vislumbrar o valor da mensagem do novo mandamento: “que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei”. Cada pessoa é imagem de Deus, criada à sua imagem e semelhança. Cada pessoa (a humanidade) é amada por Deus, porque é a Sua imagem, por isso, não pode ser explorada, manipulada e abusada. No projecto de Jesus, não somos escravos de nada nem de ninguém, mas comprometidos na construção da família humana, amada por Deus. Os interesses humanos egoístas converter-nos-ão em escravos. O amor tornar-nos-á irmãos. O dinheiro divide, o amor une. Com esta resposta, Jesus não contrapõe religião e política, Igreja e Estado. São dois sectores distintos de responsabilidade. Todos somos cidadãos e alguns pertencem à comunidade cristã. A nossa condição de cristãos não nos dispensa da condição de cidadãos, com direitos e deveres, vividos em coerência com os critérios do Evangelho e promovendo o bem comum. Aqueles que fizeram a pergunta a Jesus reconheciam-no como uma pessoa “sincera e que ensina, segundo a verdade, o caminho de Deus”, ou seja, não é partidário. A sua mensagem dirige-se aos corações de todas as pessoas, seja qual for a sua condição. Hoje, temos de participar e colaborar na defesa da dignidade humana e do bem comum, escutando os gritos dos pobres, abafados pela azáfama opiácea do ter e do poder que leva à corrupção, à globalização da indiferença e ao desprezo da sustentabilidade e da ecologia (EG 54-56). Como afirma São Paulo, na segunda leitura, o que deve caracterizar aqueles que se reúnem para celebrar a Eucaristia é “a actividade da nossa fé, o esforço da nossa caridade e a firmeza da nossa esperança”.

 

22-10-2023

LEITURA ESPIRITUAL

Cumprir os próprios deveres

 

A ordem do mundo depende da fidelidade de cada um aos deveres do seu estado. Todas as desordens nascem da negligência no cumprimento destes deveres. Que belo seria o mundo se cada um cumprisse os seus deveres de estado. São estes deveres o que as pessoas mais negligenciam, incluindo as pessoas mais piedosas, e diria até que, por vezes, estas até mais que as outras. E, contudo, não se acusam disso. Um homem que não cumpre os deveres do seu estado, faça o que fizer de bom, é uma voz discordante na harmonia do mundo. Quando se escolhe um estado, pensa-se apenas nas vantagens humanas que ele traz, e não se pensa nos deveres. Quem, porém, deixa de cumprir estes deveres, prejudica o próximo. E, como Deus leva estes interesses bastante mais a peito que os seus próprios interesses, segue-se que é mais perigoso faltar-lhes. É fácil cometer omissões neste ponto; mas, como as pessoas têm dificuldade em se aperceber disso, também é raro procederem à respectiva reparação. Trata-se de pecados que se cometem sem nada fazer; de pecados que não consistem em praticar acções más, e que, muitas vezes, se seguem a acções boas. Quando omitis os vossos deveres, prejudicais os outros e prejudicais-vos a vós: prejudicais os outros porque não tendes o cuidado de os fazer cumprir o seu dever; e a vós, porque não cumpris o vosso. (São Cláudio de la Colombière, 1641-1682, Jesuíta, «Reflexões cristãs»).

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