Início » Artigos de Opinião (Pagina 2)

Artigos de Opinião

Artigo de Opinião de Vítor Santos—Desprezo pela ética e pelo fair-play

Seja qual for o nível de prática desportiva que se considere, podemos verificar que tem grandes semelhanças com o desporto profissional, já que é necessário preparar e organizar o jogo para a competição. Os atletas são a parte mais visível destas atividades, mas existe alguém que assume o papel central em todo o processo: o treinador. Há que perceber o grande impacto que um treinador tem junto dos seus praticantes para entender que a sua valorização tem sido esquecida.

Na sua grande maioria, os treinadores da formação dão mais valor ao facto de estabelecerem uma relação positiva com os seus atletas do que à sua promoção pessoal. Estes treinadores consideram que, mais importante do que vencer, é aquilo que os jovens aprendem na prática desportiva e o prazer que retiram da atividade. Ao terem estas convicções e os comportamentos correspondentes, a sua interação com os atletas vai‑se pautar pelos valores do desporto e o seu trabalho irá contribuir para melhorar significativamente a qualidade de um ambiente desportivo saudável. No entanto, muitos destes treinadores, jovens ainda, enfrentam grandes obstáculos ao tentarem atingir os objetivos a que se propõem. Na origem destes problemas estão a falta de colaboração dos pais, a interferência de dirigentes, pais e adeptos e a dificuldade em conciliar a sua atividade profissional com o tempo de treino. É igualmente verdade que na formação, mas não só, ainda temos muitos treinadores “voluntários”.

Infelizmente, há também um outro tipo de treinadores, os que têm comportamentos desviantes e irresponsáveis. Atualmente, seja qual for o nível de competição desportiva, encontramos exemplos de comportamentos desajustados por parte dos adultos, sejam eles agentes desportivos ou espetadores. É geralmente reconhecido que a forma como os adultos participam no desporto deriva da ligação que eles estabeleceram com o desporto durante a sua juventude. Não há grandes dúvidas acerca dos efeitos a longo prazo que a prática desportiva exerce sobre as crianças e jovens.

Se a cultura desportiva em que estes adultos foram formados assenta na obtenção de resultados imediatos, na hostilidade e na intimidação, eles não irão gostar do jogo. Eles não irão sequer perceber os princípios do jogo porque viveram o desporto num contexto de desprezo pela ética e pelo fair-play. Por isso assistimos demasiadas vezes a cenas lamentáveis envolvendo agentes desportivos e adeptos.

Quando escutamos ou lemos notícias sobre certas personagens, devemos lembrar-nos de que eles são o produto do contexto em que foram gerados e que não tiveram, nem quiseram ter, a capacidade para perceber O jogo. Escolheram o caminho mais fácil.

Ao longo do tempo, investiu-se muito pouco ou mesmo nada no comportamento. Porém, os valores do desporto não nascem de geração espontânea. Precisam de ser trabalhados desde a base e em permanência, antes, durante e depois de cada treino e de cada jogo. Não é de certeza o caminho mais fácil, mas é seguramente o mais gratificante.

Vitor Santos

Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

Artigo de opinião – NAVEGAR SEM NAUFRAGAR

Os riscos do uso  excessivo das redes sociais

Vivemos numa era de conexão, mas nunca estivemos tão sós. As redes sociais, criadas com o intuito de garantir maior proximidade e facilidade de comunicação, rapidamente, se tornaram abismos invisíveis onde muitos, jovens e adultos, caem sem se darem conta. A névoa digital que retira a visibilidade perfeita da realidade, vai-se tornando num abraço apertado, que embora pareça reconfortante, pode ser sufocante. Cada like, cada comentário, cada partilha transforma-se num ato perigoso que corrói lentamente a autoestima, o autoconhecimento e a paz interior. O feed infinito de vidas aparentemente perfeitas constrói uma ilusão cruel: a de que a felicidade dos outros é real e constante, enquanto a nossa parece ser uma raridade ou até mesmo um erro ou um desajuste pessoal.

Este mundo em muito se assemelha a um iceberg, do qual só conseguimos visualizar um pequeno pedaço, a parte que cada pessoa escolhe para mostrar aos outros. Na verdade, por detrás de cada perfil perfeito, de cada foto retocada, de cada realidade convertida em história encantada, existe um aglomerado de experiências, emoções, desafios, lutas e inseguranças que permanecem ocultos. Se cada utilizador tem ou deve ter a obrigação de escancarar a sua vida, não, não tem! Mas quem está do outro lado a observar tem que ter a clara noção disso mesmo. Devido a questões culturais, sociais e até pessoais, habitualmente, é complexo para um ser humano expor as suas fragilidades. Mas o mais curioso é que na verdade, as redes sociais parecem funcionar como um livro de contos: ora um conto de fadas, onde todos são felizes e bem-sucedidos, ora se transformam num livro de terror, com conteúdos que promovem medo, insegurança e sofrimento.

O cérebro humano evoluiu ao longo de milhares de anos, tornando-se numa estrutura altamente adaptável e complexa, capaz de reagir e desenvolver competências racionais e emocionais. Especialmente na adolescência, o cérebro é extremamente sensível à comparação social. Nesta fase do desenvolvimento, os modelos sociais deixam de ser os
pais/cuidadores/familiares e passam a ser os pares e outros sujeitos com os quais se identificam, de alguma forma ou por algum motivo em particular. As redes sociais são um espelho para a apresentação destes novos modelos, o que na maioria das vezes acontece, é a falta de perceção de que o conteúdo revelado neste contexto digital é distorcido, o que se vê pode estar camuflado de manipulação, de informação filtrada, editada e idealizada.

E será que a solução passa pelo abandono das redes sociais? Não, acredito que o mais correto será falar em moderação e não em eliminação ou proibição. Recentemente tem vindo a ser estudado um novo fenómeno designado por FOMO (Fear of Missing Out). Este conceito surge da necessidade de classificar o sentimento de medo de estar fora ou a perder algo, ou seja, é a ansiedade causada pela sensação de que os outros se atualizam, divertem e têm sucesso enquanto eu estou de fora. É o medo da rejeição, da não integração no grupo. As redes sociais amplificam este sentimento, mostrando apenas os melhores momentos da vida das pessoas, criando uma falsa ilusão de perfeição que só os outros conseguem alcançar. Para evitar o FOMO, é importante lembrar que o que vemos online não representa a realidade completa e que cada um tem seu próprio ritmo e estilo de vida.

Contudo, o uso excessivo das redes sociais é uma realidade e quando colocamos em cima da mesa esta problemática, a solução que se vê como mais eficaz é a proibição e não a
educação. O que em primeira linha poderá não ser o mais adequado, afinal, sempre ouvimos dizer que o “fruto proibido é o mais apetecido”. Parece-me que a estratégia mais eficiente é a da literacia, da transmissão da mensagem direta sobre a dualidade risco-benefício, da utilização dos meios digitais.

Este processo de ensino-aprendizagem, deve focar fatos cientificamente comprovados. O uso excessivo de redes sociais promove uma maior libertação de dopamina no cérebro, criando um ciclo vicioso parecido com a adição de jogos ou drogas. Isso pode contribuir para a diminuição da concentração, pode causar ansiedade, desregulação emocional, problemas relacionados com o sono e diminuir o prazer em atividades simples. Além disso, a comparação com vidas perfeitas nas redes pode afetar a autoestima. Assim, é fácil perceber que esta situação pode impactar negativamente o desenvolvimento, especialmente em crianças e adolescentes.

Como temos vindo a referir ao longo deste texto, as redes sociais podem ter um impacto profundo na saúde mental dos jovens, influenciando emoções e comportamentos de forma preocupante. A exposição constante a vidas aparentemente perfeitas pode gerar sentimentos de inadequação, tristeza e baixa autoestima, levando alguns a pensamentos autodestrutivos. Além disso, a normalização da automutilação e do suicídio em certos conteúdos pode incentivar a imitação, especialmente entre os mais vulneráveis.

A automutilação, muitas vezes silenciosa e escondida, pode ser uma tentativa desesperada de transformar a dor emocional em algo visível, controlável. Um grito mudo esculpido na própria pele. A curto prazo, pode parecer uma válvula de escape, mas a longo prazo contribui apenas para aprofundar ainda mais a dor. É também uma realidade que as redes sociais facilitam o acesso a conteúdos perigosos. Algoritmos, que deveriam mostrar entretenimento e informação, acabam a recomendar conteúdos nocivos sobre transtornos psicológicos, romantizando a dor e sugerindo que o sofrimento é uma identidade. A exposição frequente a esses conteúdos pode normalizar ideias suicidas, tornando-as opções plausíveis para lidar com a angústia.

Mas não tem que ser assim! Os meios digitais podem ter uma utilização válida, mas é necessário estar consciente dos riscos para conseguir percecionar o perigo a tempo de evitar acontecimentos autodestrutivos (físicos e/ou emocionais). A verdadeira conexão não está na tela, mas sim no contato humano real, na escuta sem julgamentos, no apoio de quem nos ama. Afinal, somos muito mais do que a soma dos nossos seguidores ou dos likes que recebemos em cada post ou story publicados. Somos sim, seres humanos complexos, maravilhosos e únicos.

Lembrem-se! Se as redes sociais sugam para um lugar escuro, o mundo real tem cores que nenhum filtro pode recriar. E, mais importante, se sentem algum tipo de dor ou sofrimentos, não procurem ajuda e solução atrás de uma tela… nem procurem resolvê-la sozinhos. Há profissionais, familiares e amigos dispostos a caminhar consigo até encontrarem o caminho certo.

Se a dor se tornou insuportável, peçam ajuda. Procurar apoio não é sinal de fraqueza, mas de coragem. A sua vida tem valor. E merece ser vivida por completo, sem cortes, sem pausas, sem filtros.

É essencial promover um uso saudável das redes sociais, incentivando o diálogo, a literacia, a procura de apoio e a valorização da própria realidade fora do mundo digital.
Por (*)  Dra. Marta Duarte, Psicóloga Clinica e Gestora Executiva do CACB. Sócia da www.girohc.pt

 

Artigo de Opinião de Augusto Falcão—“Vamos lá falar de tolerância” parte 2

Voltamos, este mês a falar de tolerância; note-se mais uma vez, que não pretendo criar ideias fixas ou até estereotipadas sobre a tolerância ou o que deve ser a tolerância, mas criar no leitor uma “tempestade” de ideias de forma a promover uma reflexão crítica acerca do que queremos para a nossa sociedade em comum.

O que é caracteriza uma sociedade? É a crença de um grupo de pessoas em determinados valores, que todos em conjunto partilhamos, e com objetivos iguais em direção a um bem comum. São esses valores, é essa cola que nos identifica como portugueses, e que todos devemos preservar ou tentar preservar; no fundo, todas as sociedades, acabam por ter um direito, mais ou menos, sustentado à sua auto preservação, sendo esse direito, um direito razoável.

Se temos o direito, de auto preservarmos, esses direitos que nós consideramos fundamentais, onde começa a tolerância e acaba a mesma? Será que ao defendermos esses nossos valores não estamos a ser intolerantes? E onde fica o direito de preservarmos, de forma razoável, esses valores?

Estamos então perante um paradoxo? Aqui, permite-me o leitor, de responder por ele; sim estamos.

Paradoxo esse que já foi bastante filosofado por autores tal com o Popper, ou Rawls.

A defesa intransigente da sociedade de tolerância ilimitada, levará ao desaparecimento da tolerância; isso ocorrerá porque ao protegermos o direito de alguém ser intolerante, levará a que esses mesmos indivíduos, julguem dentro da sua intolerância , que eles não tem o dever ser tolerantes com a nossa posição, e eles mesmo irão lutar para que a nossa posição desapareça; é caso para dizer    que “a tolerância chegará a tal ponto que as pessoas inteligentes serão impedidas de fazer qualquer reflexão para não ofender os imbecis”, citação esta que foi incorretamente  atribuída a Dostoievski;

No entanto, devemos sempre permitir que o intolerante deva ser tolerado, caso contrário estaremos a ser intolerantes; no entanto, a liberdade de “ser parvo” – como se diz em bom português – deve ser restringida quando os tolerantes creem estar em perigo a sua liberdade, crenças e instituições. E essa restrição deve usar os meios que se julguem por convenientes para que essa preservação seja atingida. No entanto, o combate à intolerância deve ser primariamente, feito com argumentos racionais e através de debate de ideias, tentando demover os intolerantes, e levá-los a abandonar as suas crenças e valores de intolerância.

Ou seja, advoga-se o uso da força, se necessário, para preservarmos as nossas crenças e valores, que nos compõem como sociedade.

Deixo aqui, um conselho de leitura: “As sociedades abertas e os seus inimigos” de Karl Popper e a “Teoria da Justiça” de John Rawls, mas acho que no fundo a lição que podemos tirar é aquela que a sabedoria popular ainda nos diz que a “virtude está no meio” e que os extremos nunca são bons.  E que até a tolerância, sendo algo por essência uma virtude, tem que ser bebida com moderação necessária e adequada ao contexto conjetural em que vivemos.

Bom mês de março.

Augusto Falcão

Artigo de Opinião de Luís Miguel Condeço—–O futuro dos nossos sorrisos!

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Nas últimas décadas, podemos afirmar que a saúde oral das crianças e adolescentes portugueses tem melhorado, muito por força das campanhas de sensibilização e programas de prevenção. Os dados mais recentes continuam a evidenciar desafios significativos, sobretudo no que diz respeito à elevada prevalência de cáries dentárias na infância e à disparidade no acesso aos cuidados de saúde oral. Apesar dos esforços do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (2021-2025) da Direção-Geral da Saúde, muitos jovens ainda enfrentam dificuldades no acesso a cuidados médico-dentários, o que compromete por si só, o seu bem-estar e a qualidade de vida.

O problema persistente é – a cárie dentária, que continua a ser a doença crónica mais prevalente na infância, com impacto significativo na saúde geral das crianças. A Organização Mundial da Saúde revelava em 2019, que cerca de 514 milhões de crianças em todo o mundo tinham cáries dentárias em dentes decíduos (ou “de leite”). Em Portugal, os dados do terceiro Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais (apresentados em 2017), indicavam que 45% das crianças portuguesas tinham cáries dentárias. Embora o número tenha vindo a diminuir desde a implementação do cheque-dentista, estas, continuam a ser uma realidade preocupante, especialmente entre as crianças mais novas.

Em 2023, a Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária realizou um inquérito a nível nacional, no qual 13% dos pais portugueses afirmaram que os seus filhos tiveram problemas dentários devido a maus hábitos de higiene oral. A situação agrava-se entre crianças de contextos socioeconómicos mais vulneráveis, onde o acesso regular a consultas de medicina dentária é menos frequente, além das desigualdades regionais também serem um entrave na equidade do acesso aos cuidados de saúde oral.

A DGS e o seu programa nacional (PNPSO 2021-2025), introduziram importantes medidas para reforçar a prevenção e o tratamento das doenças orais em Portugal. Este programa abrange crianças e adolescentes (até aos 18 anos), bem como grávidas e pessoas de outros grupos vulneráveis, promovendo a literacia em saúde oral, a aplicação de flúor, a selagem de fissuras dentárias e o acesso a consultas de higiene oral e medicina dentária, através do cheque-dentista. Contudo, a implementação do programa tem enfrentado alguns desafios, como a falta de adesão por parte de algumas famílias ou a insuficiência de profissionais de saúde oral no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Nem só o acesso aos cuidados médico-dentários, é fundamental para a prevenção das doenças orais, também, a educação para a saúde oral desempenha um papel preventivo por excelência. A promoção de bons hábitos desde a infância, como a escovagem dos dentes duas vezes por dia com dentífrico fluoretado, a redução do consumo de açúcares e a realização de consultas regulares de medicina dentária, são essenciais para garantir uma boa saúde oral ao longo da vida.

O impacto na alteração da saúde oral, vai muito além da boca, descrevendo vários estudos que, crianças e adolescentes com problemas dentários têm maior probabilidade de sentir dor crónica, dificuldades na alimentação, distúrbios do sono e menor rendimento escolar. Em 2023, um estudo publicado na prestigiada revista científica Pediatric Dentistry Journal, evidenciou que crianças com cáries não tratadas apresentavam um desempenho académico inferior, às crianças com uma boa saúde oral.

Portugal tem dado passos importantes na promoção da saúde oral infantil, mas ainda há um longo caminho a percorrer. É essencial reforçar:

  1. Alargamento do cheque-dentista, para inclusão precoce de crianças com dentes decíduos;
  2. Presença de especialistas em medicina dentária no SNS e outros profissionais habilitados para a vigilância da saúde oral das crianças e adolescentes;
  3. Investimento na literacia em saúde oral, através de campanhas educativas que envolvam os pais, os professores, e claro, as crianças e adolescentes, promovendo hábitos alimentares saudáveis e de higiene oral;
  4. Atenção ao impacto das desigualdades socioeconómicas, apoiando as famílias com menos recursos económicos na consecução dos cuidados dentários expectáveis.

Se cuidarmos da saúde oral das “nossas” crianças e adolescentes, construímos um futuro sorridente, no entanto, as famílias, as escolas e os profissionais de saúde devem unir esforços para garantir que todas as crianças tenham um sorriso saudável. Pois mais não é, do que o indicador de um corpo saudável e de uma sociedade mais justa e equilibrada.

 

Artigo de Augusto Falcão–“Vamos lá falar de tolerância” parte 1

Talvez não seja um assunto fácil de escrever; até porque tudo o que mexe com as nossas convicções costuma ser quase que assuntos proibidos de debater, ou até de um simples sussurro.

Mas, já dizia Platão, que uma vida não questionada, não merece ser vivida; todos nós já nos debatemos com situações que vão contra as nossas convicções; contra os nossos códigos de moral e de conduta; contra tudo aquilo que os nossos Pais e Avós nos passaram; mas peço ao leitor, um minuto da vossa vida, e vamos fazer um exercício de reflexão.

Tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente das que são as “normais” no seu próprio grupo. Assim, a partir da tolerância, é garantida a aceitação da diversidade e inclusão.

Devem ter reparado que coloquei normais entre aspas; isto porque o próprio conceito de normal, não pode ser usado sem ser relativizado; a normalidade de uma ação depende do tempo e do próprio espaço onde estamos inseridos; ou seja a normalidade de um ato, pensamento, é uma noção localizada espaço-temporalmente.

A democracia como a conhecemos hoje, por exemplo, foi na sua génese muito pouco democrática, já que e a título de exemplo, o voto não podia ser exercido pela mulheres. E se nesse tempo, isto era aceite como “normal”, hoje, apesar de adotarmos a democracia, aceitamos como normal as mulheres votarem, e até achamos errado o contrário.

Ou seja, o código de valores que nós, enquanto grupo, neste caso País aceitamos como válido para todos muda consoante a sociedade evolui; aceitarmos indivíduos ou grupos que tenham valores ou atitudes diferentes das nossas já é aceitamos a diversidade e sermos tolerantes.

 Mas devemos, em nome da diversidade e inclusão, aceitar normas e atos que vão frontalmente contra todo o nosso código de valores?

E se, nós, enquanto sociedade, proibirmos esse grupo de praticar esse ato, porque o consideramos errado, à luz do nosso código de valores? Somos intolerantes?

Podemos então concluir, que ser tolerante, a própria tolerância é quase que uma virtude, ou seja é uma característica, de excelência, que deve ser mantida e cultivada por cada um individualmente e por fim como um todo enquanto sociedade.

Dizer que uma sociedade é tolerante, não é propriamente fácil, pelo que se torna mais fácil dar exemplos de sociedade intolerantes; uma sociedade intolerante apresenta comportamentos de repulsa e até mesmo ódio a tudo o que lhes seja diferente.

Acho que todos concordamos que devemos então ser tolerantes; julgo que nunca foi ideia de nenhum de nós ser catalogado como intolerante, ou mesmo contribuirmos para a construção de uma sociedade intolerante;

Mas agora coloca-se a questão: deve esta tolerância ter limites? Até que ponto devemos ser tolerantes perante algo que nos causa, enquanto sociedade, repulsa ou até mesmo ódio? E se colocarmos limites a essa tolerância, estamos a ser intolerantes, como tal, não aceitamos a diversidade e a inclusão, logo não compreendemos o mundo onde estamos inseridos?

Ou pelo contrário, aceitamos tudo sem limites, de forma a termos uma sociedade completamente tolerante, aceitando que sejam praticados atos que, são totalmente contrários aquilo que nós enquanto sociedade abominamos?

Fica a questão para a próxima edição.

Augusto Falcão

Artigo de Luís Miguel Condeço—(Neuro)Diferentes

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Hoje muitos se questionam sobre o perfil neurológico e cognitivo de alguns líderes mundiais, que enchem continuamente a nossa comunicação social com expressões, afirmações ou insinuações, que testam a forma como vemos o mundo.

A diferença das capacidades neurocognitivas sempre existiu, basta comparar personalidade como Platão e Mozart, ou Gengis Khan e Cervantes. E será porventura, aquilo que mais nos diferencia e nos torna seres únicos.

A Ciência atribui à maioria dos seres humanos, o que se designa por neurotípico, ou a pessoa que apresenta um desenvolvimento neurológico esperado e um padrão cognitivo que “encaixa” no que consideramos normal. Mas nem todos são enquadráveis neste “rótulo”, por isso se designam como neurodivergentes.

As crianças neurodivergentes, podem apresentar diferenças em várias áreas do desenvolvimento, como a cognição, a linguagem, a socialização e o comportamento, conhecendo-se como exemplos destas condições, as perturbações do espetro do autismo, o défice de atenção e hiperatividade, a dislexia, entre outras. Esta classificação não reflete uma deficiência, mas sim uma diversidade de funcionamento cerebral (dificuldades na interpretação de sinais sociais, interesses restritos, padrões de comportamento repetitivos ou uma sensibilidade sensorial elevada), que deve ser compreendido e valorizado no contexto educativo e social.

Inserida na perturbação do espetro do autismo, desde 2013 e após a publicação da 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a Síndrome de Asperger é caracterizada por especificidades marcantes que desafiam e enriquecem a compreensão sobre o desenvolvimento infantil.

Descrita pela primeira vez em 1944, pelo pediatra austríaco Hans Asperger, que observou um grupo de crianças com comportamentos sociais diferentes, dificuldades de comunicação não verbal e interesses restritivos, a Síndrome de Asperger está presente em crianças com inteligência normal ou acima da média, apesar das dificuldades na compreensão e interação com o mundo que as rodeia.

As causas associadas a esta neurodivergência, ainda não estão bem esclarecidas, apesar de a comunidade científica aceitar que se deve a um conjunto de fatores neurobiológicos que afetam o desenvolvimento cerebral.

O diagnóstico desta perturbação é conseguido pelo esforço de uma equipa multidisciplinar, que procura identificar alterações, “dificuldades” ou descoordenações relativamente às competências comunicacionais, comportamentais, e de interação social, para que a intervenção seja o mais precocemente possível, favorecendo a evolução do quadro clínico e promovendo as potencialidades de cada criança. Não devemos, pois descurar os sinais de alerta: atraso significativo na linguagem, dificuldades no relacionamento com outras crianças, obsessão por determinados temas ou comportamentos repetitivos, dificuldade em expressar emoções, baixo nível de tolerância à frustração, e sensibilidade a ruídos, cheiros ou luzes.

Todos os anos, no dia 18 de fevereiro, várias instituições e organizações não governamentais evocam o Dia Internacional da Síndrome de Asperger, procurando sensibilizar a sociedade civil e instituições com poder de decisão, para a necessidade de investir mais nestas crianças e jovens.

É essencial garantir o bem-estar da família e o desenvolvimento da criança, apoiando-os na educação/literacia sobre a sua condição (desmistificando o “ser neurodivergente” e como isso influencia o comportamento e as necessidades da criança), nas estratégias para gerir o comportamento (ensinar técnicas sobre como lidar com situações desafiantes, crises ou resistência a mudanças), na divulgação de redes de suporte (encaminhar para grupos de apoio, reduzindo a impotência e o isolamento), e na promoção de planos de intervenção personalizados (colaborar com terapeutas e demais técnicos).

O Estado, deve investir na formação de técnicos (essencialmente profissionais de saúde) e na criação de centros de avaliação e intervenção precoce; deve garantir a educação inclusiva, provendo a escola de um ambiente acessível e acolhedor; deve disponibilizar terapias, dispositivos e benefícios fiscais, por forma a colmatar algumas das necessidades destas famílias; e por fim, implementar campanhas de sensibilização para a neurodiversidade, reduzindo o estigma e o preconceito enraizado na sociedade.

As crianças neurodivergentes enriquecem a diversidade humana e desafiam a sociedade a criar estruturas mais inclusivas e compreensivas. A Síndrome de Asperger, com as suas especificidades únicas, é um exemplo poderoso de como a neurodiversidade exige um olhar atento, empático e inclusivo.

Artigo de Sara Morais—Aprendizagem – Hipnose Clínica

A aprendizagem e a Hipnose Clínica andam de mãos dadas de várias maneiras, uma vez que a hipnose pode ser uma ferramenta poderosa para ajudar no processo de aprendizagem, no desenvolvimento de novas habilidades e na superação de dificuldades cognitivas ou emocionais que possam, de alguma forma, interferir nesse processo.

Um dos grandes desafios da aprendizagem é, sem dúvida, a concentração e o foco. A Hipnose é uma ferramenta fundamental para melhorar estas duas premissas. A própria alteração de estado de consciência é caracterizado por uma intensa concentração, foco e relaxamento induzido pelo profissional, o que possibilita ao leitor a mudança das ondas cerebrais para um padrão mais organizado, como por exemplo: as ondas alfa (associadas ao relaxamento e foco) ou beta (associadas a um estado de alerta e atenção); o que por sua vez, estimulam a libertação de substâncias como a dopamina e norepinefrina que vão, consequentemente, aumentar a atividade cerebral no Córtex pré-frontal o que permite o exercício de tomada de decisões, planeamento e controle executivo. Isto, possibilita desempenhar um papel central na concentração ao filtrar as distrações e a manter o foco na tarefa que é essencial em todos e, quaisquer, ambientes de aprendizagem, onde a atenção plena é crucial para absorver, processar e armazenar novas informações.

Contudo, a ansiedade pode irromper como um obstáculo à concentração e foco e, como resultado, contribuir para o insucesso escolar / profissional. Porém, a Hipnose Clínica pode influenciar positivamente a fisiologia da ansiedade de diversas maneiras: ajudando a reequilibrar os sistemas orgânicos e promover um estado de relaxamento e controlo emocional. Durante o processo de hipnose é ativado o sistema nervoso parassimpático, o que reduz a resposta de “luta e fuga” tão característica da ansiedade. É, também, diminuída a frequência cardíaca, a pressão arterial e promovida uma respiração mais lenta e profunda o que reduz os sintomas físicos da ansiedade, como a taquicardia, a hiperventilação e a tensão muscular. Neste alinhamento, existe uma diminuição da produção do cortisol – a hormona do stress – o que favorece um ambiente físico mais calmo e equilibrado.

Ainda, durante a hipnose, o leitor pode ser orientado pelo profissional a explorar e reprogramar os padrões de pensamento que alimentam a ansiedade. O terapeuta pode sugerir maneiras de interpretar situações de grande agitação de forma mais realista e menos ameaçadora, o que reduz a ativação emocional negativa. Esta forma de reestruturação desenvolve respostas mais equilibradas e menos ansiosas. Desta forma, a Hipnose Clínica pode ajudar a reduzir a ansiedade associada às várias situações de aprendizagem, como exames ou apresentações, criando um estado de calma e confiança.

A par destas intervenções na aprendizagem a Hipnose Clínica tem, também, um papel preponderante no que diz respeito às dificuldades emocionais que podem intervir no processo de aquisição de conhecimentos. Por vezes, as pessoas têm crenças limitantes sobre a sua capacidade de aprender ou de se desenvolver em certas áreas. A hipnose pode ajudar a identificar e a mudar essas crenças, permitindo que o leitor possa desenvolver um padrão mental de crescimento e produtividade. Por outro lado, o leitor poderá apresentar dificuldades na aprendizagem por estar relacionado a um bloqueio emocional. Neste enquadramento, a hipnose clínica ajuda aceder a essas memórias e experiências traumáticas passadas e a resolver as mesmas para que possa usufruir da sua capacidade de aprender de maneira eficiente.

Em conclusão, a Hipnose Clínica pode ser uma ferramenta valiosa no processo de aprendizagem, ajudando a melhorar o foco, a reduzir a ansiedade, a incrementar a memória, e a superar os bloqueios emocionais que possam interferir na aquisição de novos conhecimentos e habilidades.

No próximo artigo poderá verificar mais sobre o papel da Hipnose na relação intrapessoal.

 

Sara Morais

Hipnoterapeuta

 

Artigo de Vítor Santos—Porquê promover a ética e o fair play no desporto?

O desporto é um fenómeno social com uma dimensão fundamental na vida dos cidadãos, nomeadamente na população jovem, pelo envolvimento desportivo e associativo que promove e também pelo desenvolvimento de competências sociais, educativas e comunitárias, de trabalho em equipa e de diálogo entre todos os indivíduos inseridos no contexto desportivo e na comunidade.

A promoção da ética e do fair play no desporto traz diversos benefícios tanto para os indivíduos quanto para a sociedade como um todo. Em primeiro lugar, esses princípios contribuem para o desenvolvimento de carácter e valores positivos nos praticantes, como disciplina, trabalho em equipa, resiliência e respeito. Além disso, eles fomentam a integração social, proporcionando oportunidades de interação entre pessoas de diferentes origens e culturas.

A ética e o fair play também têm um impacto significativo na formação das futuras gerações. Ao serem expostos a uma cultura desportiva baseada na ética, as crianças e os jovens aprendem a importância de agir com honestidade e respeito em todas as áreas das suas vidas. Esses princípios podem ser transferidos para outros contextos, como a educação, o trabalho e as relações pessoais, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e ética.

Os valores são o fundamento da decisão e da ação, ou seja, servem de guia para que o indivíduo possa medir as consequências das suas decisões sobre os outros e sobre a comunidade.  Não nascem de geração espontânea, têm de ser trabalhados.

Ao treinador, como figura central do processo desportivo, cabe a responsabilidade de transmitir, aplicar e trabalhar os valores éticos, exercendo uma ação pedagógica, de influência, continuada e persistente, sobre instituições, praticantes, encarregados de educação e adeptos.

Fomentar a ética no desporto, numa sociedade em que a cultura, a educação e o civismo evidenciam lamentáveis lacunas, não é tarefa fácil. Os que acreditam na ética no desporto são poucos e constituem uma espécie em extinção.

Por isso, faz todo o sentido continuar a falar, e cada vez mais, dos valores e da ética no desporto como contributo para a valorização social deste, mas também como suporte decisivo ao desenvolvimento dos praticantes e, por consequência, do desporto nacional. A ética no desporto não é impeditivo para se vencer. É, e será sempre, uma mais-valia para se vencer!

Os dirigentes têm de pautar a sua conduta tendo em consideração primordial os interesses e o serviço em prol da comunidade.

Como se percebe, ainda há muito caminho a percorrer. Deixo-vos um exemplo muito simples: o facto de não haver nos balneários caixotes do lixo diferenciados para separar e descartar corretamente os resíduos, quando em casa e nas escolas as crianças e os jovens já o fazem, é uma prova gritante do muito que temos a fazer para investir na mudança de comportamentos e na promoção dos valores.

Vitor Santos

Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

Artigo de Augusto Falcão—-“Ano novo, vida nova” diz a sabedoria do povo que raramente se engana

O Ano Novo, traz sempre uma nova esperança, novos sonhos, novos planos, novos anseios; e a cada ano renovamos essa ideia, cheia de esperança, que o Ano Novo será algo melhor que o que finda.

Eu não sou imune a esses desejos; claro que sim e claro que no momento das 12 badaladas, também desejo sempre algo; e regra geral é sempre que, pelo menos o Ano Novo seja melhor que o que finda.

Muita gente, deseja dinheiro, outros saúde, outros emagrecer, outros deixar de fumar (talvez este seja um dos mais pedidos), outros querem casar, ter filhos… enfim, deixemos a imaginação fluir para pedirmos novos desejos.

Mas, quem não chega ao fim do ano, ou seja, a 31 de dezembro do Ano Novo, e não atingiu aquele sonho, aquele desejo?

Longe de mim de ir aqui dissertar acerca de como atingir esse sonho; não; guardo essa tarefa para os life coachings, esses seres iluminados que se dedicam a tentar criar êxito na vida das pessoas que os procuram.

Não; vou vos falar do que me vai no espírito; neste momento, estou sentado num sofá, a escrever estas palavras, e a ouvir uma das mais belas músicas que eu posso ouvi; o “Amazing Grace” ou Maravilhosa Graça em português é uma música muito popular no mundo anglo saxónico, escrita em 1772 pelo poeta e clérigo inglês John Newton.

Newton cresceu sem nenhuma convicção religiosa em particular, mas o caminho de sua vida foi formado por uma variedade de reviravoltas e coincidências que muitas vezes foram postas em ação pelas reações de outras pessoas; com uma mensagem de perdão e redenção, “Amazing grace” é uma das músicas mais ouvidas no mundo inteiro, e em especial no mundo anglo saxónico.

A mensagem de perdão e redenção deve tocar-nos a todos nós; num mundo cada vez mais polarizado, entre o bem e o mal, nós e eles, a ideia de perdão, aceitação e até redenção estão cada vez mais colocadas de lado na nossa sociedade; num mundo onde impera a guerra, o ódio, a não aceitação da diferença entre as pessoas, a divisão entre os bons e os maus, entre eles e nós, branco ou preto, leva – me a pensar que cada vez a moderação está a morrer, e os extremos cada vez mais ganham espaço entre nós, levando a que a sociedade caminhe para um mundo onde pais e filhos, talvez, fiquem em campos opostos, defendendo verdades que ambos os lados consideram dogmas.

Está talvez na hora, de no próximo ano, tentemos mais uma vez, esquecermos estas divisões, tentar achar que estes dogmas não podem ser discutíveis; abrir a nossa mente a coisas novas, e defendermos a nossa escolha de consciência, sem criar divisionismos, entre nós e eles…

Porque o nosso mundo, não pode ser somente preto ou branco; tem que ser as duas coisas. E ambas devem e podem viver em harmonia, numa sã convivência entre mundos e experiências diferentes…aceitemos a diferença, e o mundo será melhor em 2025 para todos nós..

Convido-vos a todos a ouvir Amazing Grace…

E um feliz ano de 2025 para todos.

Augusto Falcão

Artigo de Luís Miguel Condeço——-VSR

 

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Ainda há alguns dias começamos a estação mais fria do ano, o inverno, e já vários latentes e crianças padeciam das habituais infeções respiratórias da época.

O Vírus Sincicial Respiratório (VSR), é o principal responsável pela doença respiratória em crianças até aos 2 anos de idade, transmitindo-se facilmente através do contacto com secreções ou objetos que contêm o vírus. O VSR é muito contagioso, podendo sobreviver durante várias horas na pele ou superfícies, é, pois, altamente transmissível nos seios familiares e escolares. Tal como em outras patologias respiratórias, recomenda-se a implementação da etiqueta respiratória: lavagem frequente das mãos (para reduzir a transmissão de vírus), evicção de grandes concentrações de pessoas (evitar disseminação de vírus) e permanência em locais isentos do fumo do tabaco (para não agravar as infeções respiratórias).

Das doenças respiratórias mais frequentes na idade pediátrica, a bronquiolite é a mais frequente e mais comum (nos primeiros dois anos de vida), principalmente nesta altura do ano, estimando-se que anualmente 5,6 dos internamentos por cada 1000 crianças com menos de cinco anos de idade, são devido ao VSR.

Nos casos mais severos, as crianças podem necessitar de hospitalização para suporte ventilatório e hidratação intravenosa. Bebés prematuros, lactentes com cardiopatias congénitas ou imunodeprimidos, estão entre os mais vulneráveis a possíveis complicações.

A bronquiolite manifesta-se essencialmente por febre, obstrução e corrimento nasal, tosse irritativa e pouco eficaz, muitas vezes emetizante (que pode provocar vómitos), dificuldade alimentar (ingestão de alimentos e líquidos), farfalheira e polipneia (respiração ruidosa e rápida), esforço respiratório e cansaço fácil.

A doença apesar de autolimitada, pode durar entre 3 a 7 dias, podendo alguns dos sinais persistir durante vários dias ou semanas, como o caso da tosse. A atuação dos pais e cuidadores, deve centrar-se no controlo da temperatura corporal, em garantir alimentação (fracionada) e hidratação adequada, e na desobstrução das vias aéreas superiores (cavidade oral e nasal).

Atendendo a esta problemática, vários países europeus avançaram no ano transato com a vacinação de recém-nascidos, procurando protegê-los das infeções por VSR, revelando-se esse esforço compensador pela redução abrupta do número de hospitalizações.

Em Portugal, desde o dia 1 de outubro de 2024, o Ministério da Saúde em conjunto com a Direção-Geral da Saúde, disponibilizaram através do Programa Nacional de Vacinação, a imunização gratuita para o VSR de todos os recém-nascidos com menos de 6 meses de idade e de todas as crianças com menos de 2 anos de idade, que sejam de maior risco. Esta imunização é realizada através da administração de uma única dose, que garantirá a proteção durante todo o período sazonal de “circulação” do VSR.

A vacina constituída por anticorpos monoclonais (nirsevimab), previne as crianças mais pequenas de infeções graves por VSR, estimando-se que proteja cerca de 62 mil crianças no nosso país, calculando-se um investimento de 13,6 milhões de euros, que reduzirá a sobrecarga e a pressão nos serviços de saúde pediátricos, mas também no contexto familiar e social/escolar.

A vacinação pode ser efetuada na maternidade (antes do recém-nascido receber a alta hospitalar), nos centros de saúde/Unidades de Saúde Familiares (como as restantes vacinas) e em meio hospitalar (para as crianças com condições clínicas específicas).

Para além da vacinação, é essencial reforçar a sensibilização das famílias sobre as medidas preventivas, como garantir ambientes ventilados, evitar o contacto com indivíduos doentes e promover o aleitamento materno, que são algumas das ações que contribuem para a proteção das crianças.

Os profissionais de saúde desempenham um papel crucial na adesão à vacinação e assegurando o acompanhamento dos recém-nascidos e crianças em situação de risco.