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Conversa com Prof.César Fernando, Seia FC sobre futebol feminino

Fomos conversar com o Prof.César Fernando, do Seia FC, que nos falou da presença da turma senense nos Nacionais de Promoção e Taça Nacional de Futebol Feminino.

Magazine serrano–Seia recebeu recentemente a fase zonal da Taça
Nacional de Futebol feminino, um grande feito?

foto:Face CF

Prof
César–
Sim, principalmente considerando que outros candidatos
surgiram para a organização deste evento. A qualidade da infraestrutura
municipal a par do reconhecimento da competência dos recursos humanos, fez com
que a Federação Portuguesa de Futebol tomasse a decisão de o realizar em Seia.
O nosso orgulho vai para além dessa escolha, congratulamo-nos pelo reconhecimento
unânime da qualidade do serviço prestado.

MS- A turma do Seia ficou pelo caminho mas foi positivo participar?
CF– Naturalmente
que sim. Sabíamos à partida que este grupo, considerado o mais competitivo,
dificultava a nossa participação. No entanto, nunca deixámos de acreditar no
nosso valor, no nosso trabalho. O facto é que existe uma diferença grande em
termos competitivos, entre equipas que fazem um campeonato ao longo da época e
nós, que a nível distrital, infelizmente não temos qualquer tipo de competição
neste escalão. Com certeza que saímos desta competição, mais fortes e honramos
o nosso compromisso, mas fica um amargo de boca por não podermos ter acesso a
competição durante toda a época, capacitando as nossas atletas para enfrentar
as adversárias desta competição. O sucesso da nossa prestação e organização foi
reconhecido pelo Clube Albergaria, atual detentor do título nacional e
vencedor desta fase, que nos honrou com um convite para participação no seu
Torneio a realizar nos dias 27 e 28 deste mês.
MS-O
Seia FC tem feito um excelente trabalho quer na formação, quer no futebol
feminino?
CF-Isso
é uma questão ou a simples constatação de um facto evidente?
Sendo uma realidade tão óbvia,
permita-me apenas associar ambas. Isto é, no Seia Futebol Clube não separamos
géneros, trabalhamos na formação independentemente de ser masculino ou
feminino. Nesta casa não subestimamos género ou escalão etário, o lema é o
mesmo para todos os escalões ou secções, queremos contribuir para a formação
integral de todos os nossos atletas, incluindo nestes as pessoas que praticam
Zumba no clube. O nosso contributo tem que ter as vertentes: académica,
desportiva e social. Somos um todo e não apenas uma soma de várias parcelas,
somos todos orgulhosamente senenses.  
MS – Com
a dita crise financeira, o Seia FC ainda tem muitos apoios?
CF– A
crise financeira já é quase secular no associativismo desportivo.
Quando criámos este clube tínhamos
consciência de que o tempo dos “carolas” já tinha acabado. Também o tempo das
câmaras subsidiarem os ordenados dos atletas acabou, ou tende a acabar, pois
ainda existem casos caricatos onde se toma banho num balneário imundo, com 3
chuveiros em que dois não funcionam e o outro só deita água fria… Mas
treinadores e atletas são bem pagos para vencerem as suas competições. Esta é a
realidade ingrata do nosso futebol. Mas cada município, cada clube terá que
tomar as suas opções.
No clube que represento apostamos no
valor humano, nas convicções de quem tiver a capacidade de ser altruísta.
Felizmente, aos poucos, com muitas
decepções pelo caminho, fomos encontrando pessoas com este perfil, pessoas
integras e capazes de valorizar este clube, com ou sem crise financeira. Quem
faz o clube são as pessoas e não apenas o dinheiro. Vivemos no limiar
financeiro, tivemos mesmo que acabar com o escalão sénior e júnior masculino,
mas isso não nos impediu de manter a nossa identidade.
MS- No
que toca ao futebol feminino, o Seia FC pode vir a ser no futuro um viveiro de
jogadoras também?
CF– Não
acredito em viveiros per si só. Tenho a certeza de que a maioria das atletas só
pratica futebol, porque nós existimos. Tivemos a coragem de não deixar o
futebol feminino terminar no nosso distrito. Temos atletas da Guarda, Fornos e
Manteigas, com todas as despesas inerentes ao facto, mas também com todo o
esforço enorme que as mesmas fazem para poderem treinar e jogar. Estamos a
incentivar outros clubes, as próprias escolas, fazemos um trabalho de fundo,
não começamos a casa pelo telhado.
Percebo a sua questão, mas quando
criamos plantas num viveiro, queremo-las ver mais tarde crescer em jardins
bonitos. Neste momento esse jardim é o nosso!
Nós temos esta convicção, as atletas
também a têm e só assim seremos mais fortes. Só imbuídos neste espírito orgulhosamente
senense é que poderemos crescer.
Aceitamos que outros trabalhem de forma
diferente, nem sequer ousamos dizer que é pior ou melhor, apenas estamos
convictos de que o caminho para o sucesso se constrói e não se compra. É
verdade que dá muito mais trabalho, é verdade que demora mais tempo, mas também
é verdade que o sucesso alcançado é muito mais consistente. E é isso que
procuramos.
MS- Como
vê o futebol feminino e o desempenho da nossa seleção no distrito da Guarda?
CF– Infelizmente
não posso ver de maneira diferente da sua ou de qualquer outra pessoa. Os
factos falam por si…
Tal como referi relativamente ao Seia
Futebol Clube, são os recursos humanos que fazem a diferença.
É gritante a ineficácia ou inexistência
de trabalho em prol do desenvolvimento do futebol feminino. Não lhe chamarei
negligência porque negligentes são aqueles que têm capacidade para o fazer e
não o fazem…
Curiosamente isto acontece num distrito
que já teve a honra de obter um título nacional ao nível de selecções, num
distrito com várias jogadoras internacionais… Enfim, se este sucesso se
reportasse á modalidade de futsal, calculo que a coisa seria diferente. Repito
que são as pessoas que fazem a diferença, é na qualidade dos recursos humanos
que devemos apostar para alcançar o sucesso pretendido.
MS- A
nível nacional, o futebol feminino está a crescer cada vez mais?
CF– Obviamente
que sim. Há uma clara aposta da FPF nesse sentido e as Associações Distritais
que a acompanham têm enorme sucesso.
Felizmente já na próxima época 2015/16
haverá o Campeonato Nacional de Juniores, permitindo às nossas atletas usufruir
de um quadro competitivo anual regular, situação a que estavam privadas pois no
nosso distrito não existe qualquer competição.
Infelizmente a Liga Feminina ainda não
arranca este ano, por lamentáveis questões burocráticas ou caprichos clubísticos,
focados apenas em interesses próprios, incapazes de ter uma visão mais ampla
sobre o desenvolvimento do futebol feminino em Portugal. Certamente que na
época 2016/17, com a entrada de clubes como Sporting, Porto, Benfica e outros
clubes de referência no panorama do futebol português, a dimensão do futebol
feminino será mais visível.
MS- O
futuro do Seia FC poderá passar pelo futebol Sénior ou manter esta estrutura
atual?
O futuro imediato do Seia Futebol Clube
passará pela nova Direção que será eleita na próxima assembleia geral. No
entanto, posso adiantar que a estrutura atual é fruto da necessidade e não uma
opção!
Considero que um clube sem representação
sénior, será sempre um clube diminuído na sua visibilidade. Mas não só. No caso
do Seia Futebol Clube, também na sua própria génese formativa.
Não faz muito sentido, travar o processo
de formação efetuada aos atletas. O lógico será dar sequência a esse meritório
trabalho. No entanto, ainda que sem qualquer custo remuneratório a treinador e
jogadores, o Seia Futebol Clube não tem capacidade financeira para suportar o
escalão júnior e sénior.
A verdade é que todos têm a mesma
retórica de que não pagam aos jogadores, nem treinadores, nem prémios, etc… Mas
enfim…
Que lhe poderei dizer?
Nós vimo-nos confrontados com as
despesas inerentes à participação destes escalões e percebemos que para tal ser
possível teríamos que abdicar de escalões de formação mais jovem. Como é
sabido, a génese do Seia Futebol Clube está no contributo à formação integral
dos seus atletas, assim sendo tivemos que optar por terminar com os escalões
mais elevados.
Propusemos em conjunto com outros clubes
uma reestruturação dos nossos quadros competitivos, mas ainda que votada e
aceite por maioria em assembleia geral, o facto é que não se concretizou, nem
se concretizará essa ou outra qualquer modificação, porque pelos vistos as
coisas devem estar bem aos olhos de quem comanda o futebol no nosso distrito. O
facto de divergirmos em opinião não significa que ambos não queiramos o
desenvolvimento do nosso futebol. Com toda a certeza que sim, cada um á sua
maneira e nestas coisas manda quem pode e obedece quem deve.
Para o Seia Futebol Clube, enquanto
financeiramente não seja possível, entendo que o clube não deverá participar no
escalão sénior, continuando até lá a enveredar todos os esforços possíveis para
que essa possibilidade se torne real.
Espero sinceramente que este clube se
mantenha fiel à sua génese, sem ceder às tentações nem tomar decisões
impulsivas, porque é isso que o diferencia.
Aproveito a oportunidade para desejar as
maiores felicidades à direção vindoura, repleta de elementos Orgulhosamente
Senenses, na certeza do alcance de todos os sucessos que a atual Direção não conseguiu alcançar.

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