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Liturgia do XVII Domingo do Tempo Comum – ano B

A EUCARISTIA – O ALIMENTO DA UNIDADE E DA SACIEDADE

A partir deste Domingo, e durante cinco semanas, deixamos o evangelho de São Marcos, o evangelista deste ano e do ciclo B, para nos debruçarmos sobre o capítulo 6 do evangelho de São João, onde encontramos o discurso do pão da vida. É um texto que nos ajuda a reflectir sobre a Eucaristia, mas também sobre outros aspectos. As ideias básicas que encontramos nestas cinco semanas são estas: 1) O pão, ao ser partilhado, multiplica-se (tema deste domingo); 2) não basta trabalhar para ter somente o alimento de todos os dias, mas também para ter o alimento que dá a vida eterna; 3) Jesus diz que Ele é o pão da vida, de uma vida plena e eterna; 4) aderir a Jesus não supõe somente o aspecto intelectual e teórico, mas assimilação e compromisso de vida; 5) ao escutar este discurso, muitas pessoas abandonaram Jesus, mas Pedro e os Doze afirmaram que só Ele tem palavras de vida eterna.

Neste Domingo, queremos reflectir somente nisto: o pão, e quem diz o pão pode acrescentar muitas outras realidades, ao ser repartido multiplica-se. Na primeira leitura, em estreita relação com o texto do evangelho, o profeta Eliseu disse ao seu servo que distribuísse os vinte pães de cevada e de trigo novo pelas pessoas para os comer. E o servo respondeu: “Como posso com isto dar de comer a cem pessoas?”. A mesma reacção teve o apóstolo André com Jesus: “Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?”. Eliseu e André irão ver o mesmo prodígio: “todos comeram e ficaram saciados”. Com Eliseu e com Jesus, o final é o mesmo: “recolheram e encheram doze cestos com os bocados dos cinco pães de cevada que sobraram aos que tinham comido”. A mensagem é muito clara: o pão repartido multiplica-se, e o mesmo se passa com os outros bens materiais e espirituais: com o dinheiro, com a cultura, com a fé, a esperança, o amor, a luta pela justiça e pela liberdade, o espírito de serviço, o voluntariado, e tantas outras acções. Mas há um pormenor que não pode passar despercebido: os dois primeiros protagonistas destes milagres são o homem que deu a Eliseu o que tinha e o rapazito que partilhou os pães e os peixes do seu farnel. Isto leva-nos a concluir que a generosidade dos dois, ou seja, a generosidade das pessoas torna possível os milagres.

O relato da multiplicação dos pães é uma clara referência à Eucaristia, o sacramento que tem uma importância singular e primordial na vida da comunidade cristã, e que, todos os domingos, nos convoca. Na Eucaristia, Cristo é o pão que se multiplica permanentemente para nos dar o sustento de cada dia. Porém, Ele convida-nos a partilhar o nosso pão, ou seja, tudo o que somos e temos com aqueles que mais precisam. O apóstolo Filipe disse a Jesus que era preciso muito dinheiro para dar um bocadinho de pão a cada um. Porém, Jesus alimentou toda aquela multidão e, assim, recordou que “nem só de pão vive o homem”. A Eucaristia, como pão da vida, é o alimento da nossa vida interior, que nos convida à conversão e, assim, a tornarmo-nos alimento para os outros. Perante a confiança cega no dinheiro, como solução para tudo e todos, de uma sociedade injusta, Jesus propõe a eficácia do amor, expressa na partilha.

Não nos limitemos, pois, a ver no texto do evangelho deste Domingo a narração de um acontecimento espectacular e maravilhoso, porque descreve a forma de saciar todas as necessidades das pessoas para crescerem com dignidade. Na proximidade, na sensibilidade de coração, na solidariedade e na partilha, é possível consolar, confortar e saciar todos os homens e mulheres do nosso tempo.

Leitura Espiritual

A multiplicação dos pães

Nosso Senhor multiplicou o pão no deserto, e em Caná transformou a água em vinho. Deste modo, habituou a boca dos discípulos ao seu pão e ao seu vinho, até à altura em que lhes daria o seu corpo e o seu sangue: fê-los provar um pão e um vinho transitórios para fazer nascer neles o desejo do seu corpo e do seu sangue vivificantes.

Deu-lhes generosamente estas pequenas coisas, para que eles soubessem que a sua dádiva suprema seria gratuita. Deu-lhas gratuitamente, embora pudesse ter-lhas vendido, para ficarem a saber que não lhes pediria que pagassem uma coisa inestimável; porque, embora eles pudessem pagar o preço do pão e do vinho, não poderiam pagar o seu corpo e o seu sangue. E não só nos ofereceu gratuitamente as suas dádivas, como nos tratou com afecto.

Porque deu-nos estas pequenas coisas gratuitamente para nos atrair a Si, para irmos a Ele e recebermos gratuitamente o enorme bem que é a eucaristia. As pequenas porções de pão e de vinho que ofereceu eram agradáveis à boca, mas a dádiva do seu corpo e do seu sangue é útil ao espírito. Ele atraiu-nos através de alimentos agradáveis ao paladar para nos chamar para aquilo que dá vida à nossa alma.

A obra do Senhor abarca tudo: num abrir e fechar de olhos, multiplicou um pedaço de pão. O que os homens precisam de dez meses de trabalho para fazer e transformar, fizeram os seus dez dedos num instante. De uma pequena quantidade de pão nasceu uma enorme quantidade de pães; foi como na primeira bênção: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra» (Gn 1,28). (Santo Efrém, c. 306-373, diácono da Síria, doutor da Igreja, Diatesseron – Comentário do Evangelho, 12, 1-4; SC 121).

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