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Avisos e Liturgia do XXVI Domingo do Tempo Comum – ano A

A Palavra Divina, proposta para reflexão neste Domingo, convida-nos a clarificar a nossa conduta de vida. Na primeira leitura, o profeta Ezequiel afirma que se o pecador reconhece o seu erro e se converte, viverá. Mas esta conversão tem de ser sincera, como também deve ser toda a nossa acção, não “fazendo nada por rivalidade nem por vanglória”, como diz São Paulo, na segunda leitura. No texto evangélico, através do exemplo de dois comportamentos diferentes, Jesus diz-nos que o que é importante para Deus são as acções, e não as palavras. Por isso, este Domingo é um convite a uma autenticidade de vida. Como no pretérito Domingo, a parábola do evangelho volta a referir-se à vinha, símbolo do povo de Deus, para a qual Ele nos envia todos os dias. Nesta passagem, Jesus faz uma referência aos dirigentes religiosos do seu tempo que se consideravam “bons e perfeitos” e desprezavam os “pecadores e publicanos”. Mas uma coisa é considerar-se e outra é ser; uma coisa é dizer e outra é fazer. É isto o que acontece na parábola: um filho diz que sim, mas não foi, e outro disse não, mas foi, com o qual fica comprovado o texto de Mateus (7,21), no sermão da montanha, quando Jesus disse: “Nem todo o que diz ‘Senhor, Senhor’, entrará nos Reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus”. Quer dizer que não seremos julgados pelas vezes que erramos, mas pelas vezes que sabíamos rectificar o erro, e não fizemos. Quantas pessoas conhecemos que falam, criticam, que se consideram rectas e se vangloriam de tudo, mas fazem muito pouco ou nada; e outras que protestam, aborrecem-se, revoltam-se, mas depois estão presentes, trabalham, lutam e comprometem-se! Na base da parábola deste Domingo, há mais um aspecto a considerar: é a tendência de dividir a sociedade em bons e maus, justos e pecadores, quando a realidade é muito mais complexa e cada pessoa é como é, com as suas circunstâncias, como afirma Ortega y Gasset. Reflectindo sobre a parábola deste domingo, existe o perigo de destacar os que “fazem”, desprezando os que somente “dizem”. Mas ninguém pode enaltecer-se dos seus êxitos, desprezando os outros. Por isso, Jesus termina a parábola com as seguintes palavras: “em verdade vos digo: os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus”. A fé não consiste em teorias, mas é uma entrega confiante e obediente a Deus. Aquilo que dignifica as pessoas são as suas atitudes e a vontade constante de renovação. Assim, onde me situo: sou daqueles que, apesar das inseguranças, adiro ao evangelho? Ou prefiro ficar no meu casulo, na falsa sensação de cumprimento dos preceitos e de devoções, mas incapaz de me comprometer com o reino de Deus? Perante as leituras deste Domingo, concluímos que ainda estamos a tempo de nos “formatarmos” aos planos de Deus. Para tal, é preciso assumir o que nos diz São Paulo, na segunda leitura: “tende entre vós sentimentos de ternura e de misericórdia…não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas com humildade, considerai os outros superiores, sem olhar aos próprios interesses, mas aos dos outros. Tende entre vós os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, que assumiu a condição humana, humilhou-se, obedecendo até morte, e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou…e toda a língua proclama que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.

 

 

LEITURA ESPIRITUAL

Sair do pecado e entrar no Reino de Deus

 

Irmãos, chegou o momento de sairmos, cada um pela sua parte, do lugar do nosso pecado. Saiamos da nossa Babilónia e vamos ao encontro de Deus, nosso Salvador, como nos adverte o profeta: «Apressa-te, Israel, a ir ao encontro do Senhor, porque Ele vem!» (Am 4,12). Saiamos do abismo do nosso pecado e aceitemos partir ao encontro do Senhor, que assumiu «uma carne semelhante à do pecado» (Rm 8,3). Saiamos da vontade do pecado e façamos penitência pelos nossos pecados. Então, encontraremos a Cristo, que expiou pessoalmente o pecado que de maneira nenhuma tinha cometido. Então, Aquele que salva os penitentes dar-nos-á a salvação: «Ele uda de misericórdia com os que se convertem» (Eclo 12,3). Perguntar-me-eis: Mas quem pode sair sozinho do pecado? Sim, na verdade, o maior pecado é o amor ao pecado, o desejo de pecar. Abandona, pois, esse desejo, odeia o pecado e já saíste do pecado. Se odiares o pecado, já encontraste a Cristo. A quem odeia o pecado, Cristo perdoa as culpas, na esperança de arrancar de raiz os nossos maus hábitos. Mas dizeis que até isso é demasiado para vós, e que, sem a graça de Deus, é impossível o homem odiar o seu pecado e desejar a justiça. «Louvai o Senhor pelas suas misericórdias, pelas maravilhas que fez pelos filhos dos homens!» (Sl 106,8). Ó Senhor de mão poderosa, Jesus omnipotente, vem libertar a minha razão cativa do demónio da ignorância e arrancar a minha vontade doente à peste da sua cobiça. Liberta as minhas capacidades, a fim de que eu possa comportar-me com fortaleza, como desejo de todo o coração. (Isaac da Estrela, ?-c. 1171, monge cisterciense, Sermão de Quaresma, SC 207).

 

Avisos e Liturgia do XXV Domingo do Tempo Comum – ano A

A nossa reflexão sobre os textos bíblicos deste Domingo tem de ter em conta, como introdução, as palavras do profeta Isaías na primeira leitura: “os meus caminhos estão acima dos vossos, e acima dos vossos estão os meus pensamentos”. Uma afirmação que foi vivida por São Paulo, quando estava na prisão, passando momentos de incerteza sobre o caminho a percorrer na sua vida, segundo a vontade de Deus, como vemos na segunda leitura: “não sei o que escolher…desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal”. O texto evangélico é um exemplo de que a nossa lógica nem sempre coincide com a lógica de Deus. Um tema que é ilustrado, novamente, com uma parábola. A parábola dos trabalhadores que são convidados, em diversas horas do dia, a trabalhar na vinha é a parábola da generosidade de Deus. Este texto não pode ser lido a partir dos critérios da justiça distributiva, ou da política social. O seu conteúdo resume-se em três pontos: – Deus não trata as pessoas segundo a lógica da produtividade do trabalho, mas procura sempre o bem dos últimos e dos menos privilegiados; – A lógica da bondade de Deus não é a lógica dos gestores da economia e da política; – A solução dos problemas que, hoje, nos afectam não virá somente das mãos dos economistas e dos políticos, mas também de uma mudança de mentalidade das pessoas e da recuperação do sentido humanitário. Devemos imitar a gratuidade de Deus, expressa na parábola. Os critérios da economia podem ser critérios de ganância e de competição doentia e escravizante, enquanto que os critérios de Deus são de compaixão e de bondade para com os mais fracos e necessitados. A vinha é o símbolo do povo judeu, povo escolhido por Deus, que se considera o “primeiro”, o mais “importante” de todos os povos, enquanto que os gentios tinham de ser os “últimos”. Mas Deus revela que não exclui ninguém, que todos são chamados a trabalhar na sua vinha, que é o mundo. “Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um”. O denário é dado a todos por igual. Tudo é um dom gratuito e a gratuidade não é objecto de negócio. Deus não se compra nem se vende, mas entrega-se-nos gratuitamente, porque os planos de Deus são muito diferentes dos nossos planos. Hoje vivemos numa sociedade onde a economia predomina por cima de tudo e de todos. E o critério desta economia é valorizar os que mais produzem, é fazer a divisão entre os têm e os que não têm, é tornar ricos os mais ricos, e pobres os mais pobres; é tirar, por vezes, aos que não têm o que ainda têm, privando-os de um posto de trabalho para ganhar e sustentar a vida. O Evangelho faz-nos ver a vida de outra maneira. Não é um tratado de economia, mas uma maneira de entender a vida ao estilo de Deus. Saibamos imitar na nossa vida a infinita generosidade de Deus. Sejamos generosos com todos os que nos rodeiam, sobretudo com os mais fracos e necessitados.

 

24-09-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Ide vós também para a minha vinha»

 

Esta parábola trata da conversão dos homens a Deus, alguns desde tenra idade, outros um pouco mais tarde e alguns somente na velhice. Cristo reprime o orgulho dos primeiros e impede-os de censurar os da décima primeira hora, mostrando-lhes que todos têm a mesma recompensa. Ao mesmo tempo, estimula o zelo dos últimos, mostrando-lhes que podem merecer o mesmo salário que os primeiros. O Salvador tinha acabado de falar da renúncia às riquezas e do desprezo por todos os bens, virtudes que exigem coragem e um coração grande. Precisava, por isso, de estimular o ardor de uma alma cheia de juventude; para tal, o Senhor reacende nos seus ouvintes a chama da caridade e fortalece-lhes a coragem, mostrando-lhes que mesmo os que chegaram por último recebem o salário do dia todo. Para falar com mais clareza, poderia haver quem abusasse desta circunstância, caindo na indiferença e no desmazelo. Mas os discípulos perceberão claramente que essa generosidade é um efeito da misericórdia de Deus, que só ela os ajudará a merecer tão magnífica recompensa. Todas as parábolas de Jesus – a das virgens, a da rede, a dos espinhos, a da figueira estéril – convidam-nos a mostrar a nossa virtude com actos. Ele exorta-nos a levar uma vida pura e santa. Ora, uma vida santa custa mais ao nosso coração que a simples pureza da fé, pois é uma luta contínua, um labor infatigável. (São João Crisóstomo, c. 345-407, presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja, Homilias sobre o evangelho de Mateus, nº 64, 4).

 

Avisos e Liturgia do XXIV Domingo Tempo Comum – ano A

 

Neste Domingo, a Palavra de Deus fala-nos do perdão, como complemento da correcção fraterna, a qual reflectimos no pretérito Domingo. Na primeira leitura, já a sabedoria judaica advertia que é necessário perdoar aos outros o mal que nos fazem, porque, assim, Deus perdoará os nossos erros quando lhe pedirmos. Só Deus pode e deve julgar, e o seu juízo será sempre um juízo de misericórdia e justiça, ao contrário do nosso. O salmo 102 recorda-nos a essência do nosso Deus: “o Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade”. Uma conduta que devemos imitar. No evangelho, depois da pergunta de Pedro a Jesus, “Se o meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe?”, a resposta de Jesus, “não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”, marca o procedimento que nos é proposto, ilustrado, como exemplo, com uma parábola. Depois do diálogo entre Pedro e Jesus e a referência ao número sete como perfeição, Mateus coloca na boca de Jesus a expressão “setenta vezes sete”, citando o livro do Génesis (4,24), onde se diz: “Se Caim foi vingado sete vezes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete”. Porém, Jesus apresenta um perdão sem limites e conta uma parábola muito simples, exclusiva do evangelista Mateus. Na parábola, há uma grande diferença entre a dívida do funcionário ao seu senhor e as dívidas dos seus colegas a si próprio, revelando, assim, o nosso desejo de que sejam tolerantes connosco, enquanto somos exigentes com os outros; que Deus perdoe sempre os nossos erros, enquanto que somos inflexíveis, às vezes vingativos, com os erros dos outros. O grande erro de Pedro, que pode ser o nosso, foi pensar que o perdão era uma questão de quantidade, mas o perdão, como qualquer virtude e dom, é uma questão de qualidade; ou é, ou não é. Perdoar é algo que não goza, hoje, de muita simpatia na sociedade actual, nas famílias e em alguns grupos de pessoas e de relações. Não é fácil perdoar; exige muito trabalho interior. Perdoar é revelar riqueza e liberdade interior. Perdoar não significa ignorar as coisas, nem justificar as injustiças, nem perder a própria dignidade. Perdoar é uma atitude dinâmica do nosso espírito. De vez quando, ouve-se esta frase: “perdoo, mas não esqueço”. Quando alguém foi injustamente defraudado, ou recebeu um duro golpe contra a sua dignidade, é lógico que, psicologicamente, fique uma mágoa, difícil de esquecer. Mas uma coisa é a memória psicológica e outra é a vontade de vingança, quando houver oportunidade. A pessoa que não cultiva o esquecimento e a sublimação será sempre vítima das suas memórias, boas ou más. O perdão é a melhor expressão da acção de Deus. Perdoar é transbordar a nossa generosidade e amor, à maneira e ao jeito de Deus. Que a Palavra de Deus, deste domingo, nos ajude a rezar o Pai-Nosso com coerência: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

 

17-09-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete»

 

Cristo sublinha com insistência a necessidade de perdoar aos outros. Quando Pedro Lhe perguntou quantas vezes devia perdoar ao próximo, apontou-lhe o número simbólico de «setenta vezes sete», querendo desta forma indicar-lhe que deveria saber perdoar sempre a todos e a cada um. É evidente que a generosa exigência de perdoar não anula as exigências objectivas da justiça. A justiça bem entendida constitui, por assim dizer, a finalidade do perdão. Em nenhuma passagem do Evangelho o perdão, ou mesmo a misericórdia como sua fonte, significam indulgência para com o mal, o escândalo, a injúria causada, ou os ultrajes. Em todos estes casos, a reparação do mal ou do escândalo, a compensação do prejuízo causado e a satisfação da ofensa são condição do perdão. A misericórdia tem, no entanto, o condão de conferir à justiça um conteúdo novo, que se exprime do modo mais simples e pleno no perdão. O perdão manifesta que, além do processo característico da justiça, é necessário o amor para que o homem se afirme como tal. O cumprimento das condições da justiça é indispensável, sobretudo, para que o amor possa revelar a sua própria fisionomia. Com razão considera a Igreja seu dever e objectivo da sua missão assegurar a autenticidade do perdão. (São João Paulo II, 1920-2005, Encíclica «Dives in misericordia», 14).

 

Avisos e Liturgia do Domingo XXIII do Tempo Comum – ano A

 

A Palavra Divina que a liturgia deste Domingo nos oferece pode ser denominada como norma para a convivência e para a construção de uma comunidade fraterna. O profeta Ezequiel, na primeira leitura, previne sobre a responsabilidade de nos preocuparmos com os outros, sobretudo quando vemos alguém desorientado ou equivocado. Também São Paulo recorda-nos que o nosso único e grande dever é amarmo-nos uns aos outros como nos amamos a nós próprios, sendo esta a norma mais importante da nossa opção cristã. E o texto evangélico, extraído do quarto sermão de Mateus, que é dirigido à comunidade cristã, traça o esboço da correcção fraterna, como uma das aplicações mais importantes e necessárias para a edificação de uma genuína comunidade de vida entre pessoas. Das palavras de Jesus aos seus discípulos sobre a correcção fraterna, encontramos cinco atitudes que são imprescindíveis para não fazer desta prática uma montra de superioridade sobre os outros, mas uma ajuda amorosa entre pessoas. São estas as cinco disposições: – Em primeiro lugar, levar sempre o tema à oração pela pessoa que se pretende corrigir; – Que o primeiro passo seja sempre um encontro pessoal entre as pessoas, para que o diálogo e a presença gerem proximidade; – Se for necessário, discernir as situações mediante a opinião de outras pessoas que possam contribuir de uma maneira edificante; – Contar, também, com a opinião das comunidades onde se encontram as pessoas que desejam o nosso bem; – Finalmente, e como condição sempre presente, não nos cansarmos de oferecer oportunidades de recomeçar e de renascer, como Deus faz sempre connosco. Quando rezamos o Pai-Nosso, dizemos a seguinte petição: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Cumprimos o que rezamos? Será que Deus não nos olha tristemente quando rezamos estas palavras? Por outro lado, também o texto evangélico deste Domingo nos convida a reflectir noutro aspecto, tão pertinente para vida de hoje. Na vida humana, social, política e religiosa, é normal surgirem divergências entre pessoas e é quando surge a grande tentação de pretendermos ser detentores absolutos da verdade, pensando que os outros não sabem nada; por isso, devem ser corrigidos ou afastados da nossa vida. Este é outro aspecto que deve ser reflectido neste Domingo que nos fala de uma justa correcção fraterna e da construção de relações de fraternidade. Não é a mesma coisa um erro e uma opção diferente, como não é a mesma coisa a condenação e a correcção, ou a imposição e o diálogo. No fim do texto do evangelho, aparecem estas palavras: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles”. Não é necessário que dois ou três pensem da mesma forma, mas Ele está se estiverem reunidos. É a confirmação do “tive fome e deste-me de comer”. De certeza que nem todos os que davam de comer aos famintos pensavam da mesma maneira, mas Ele estava lá. Não se passará isto nos dias de hoje? O texto evangélico deste Domingo é um esplêndido hino à comunidade de comunhão de bens e de vida, refutando uma comunidade de condenações ideológicas e partidárias.

 

10-09-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles»

 

Vivendo entre irmãos, servos do mesmo amo para quem tudo é comum — a esperança, o receio, a alegria, o desgosto, o sofrimento (pois têm uma mesma alma, vinda do mesmo Senhor e Pai) –, porque crês que eles são diferentes de ti? Porque receias que aqueles que conheceram as mesmas quedas se regozijem com as tuas? O corpo não pode regozijar-se com o mal que acontece a um dos seus membros; aflige-se por inteiro e por inteiro se esforça por curá-lo. Onde dois fiéis estiverem unidos, aí está a Igreja, mas a Igreja é Cristo. Portanto, quando beijas os joelhos dos teus irmãos, é Cristo que tocas, é a Cristo que imploras. E quando, por seu lado, os teus irmãos choram por ti, é Cristo que sofre, é Cristo que suplica ao Pai. Ora, aquilo que o Filho pede é rapidamente concedido. (Tertuliano, c. 155-c. 220, teólogo, A Penitência, 10).

 

 Programação de Missas da Unidade Pastoral das Paróquias de Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã, Algodres e Freixiosa.

 

Avisos e Liturgia do XXI Domingo do Tempo Comum- ano A

Na primeira leitura deste Domingo, Isaías narra-nos a expulsão de Chebna, administrador do palácio. Para ocupar o seu lugar, o Senhor chamou Eliacim, filho de Elcias: “porei aos seus ombros a chave da casa de David”, a insígnia simbólica do poder, que são as chaves. Assim, antecipa, de uma forma profética, o gesto que Jesus terá com Pedro ao dar identidade à sua vocação especifica na Igreja; mas as chaves do Reino dos Céus não são símbolo de poder, mas de serviço. Na segunda leitura, encontramos um hino de São Paulo a louvar a sabedoria insondável de Deus. Admirando e glorificando o pensamento do Senhor, que nos conduz, por vezes, por caminhos misteriosos, somos convidados, pelo evangelho, a responder, pessoalmente, à pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou”?

Antes desta pergunta, Jesus faz outra aos seus discípulos: “quem dizem os homens que é o Filho do homem”? Para responder a esta pergunta, não é necessário escrever ou consultar inúmeros livros de sociologia ou de teologia. Assim, hoje, entre as imensas respostas que poderíamos obter, encontraríamos certamente, além de uma grande indiferença, expressões como: Jesus foi um homem que quis protagonismo, foi um moralista prudente, um profeta revolucionário, um libertador, o Filho de Deus, o Salvador, Aquele que se definiu como o Caminho, a Verdade e a Vida. Mas, é a partir da nossa experiência e vivência da vida que devemos reflectir sobre quem é, o que significa, o que representa e que caminhos aponta hoje a maneira de pensar e de viver de Jesus de Nazaré. E, agora, as respostas não podem ser teóricas, nem dos livros. Não servem as palavras vazias, nem as definições não-vividas. As respostas terão de ser expressão do que brota do nosso interior, da nossa vivência, trabalhada ao longo de toda a nossa vida.

A resposta personalizada que damos à pergunta de Jesus não somente coincide com a identidade cristã de cada um de nós, mas é importante para a imagem social que poderão ter aqueles que nos rodeiam sobre a figura de Jesus. O evangelho que, hoje, as pessoas lêem é o evangelho que encontram nos cristãos que se comprometem a seguir Jesus (Cfr. Teilhard de Chardin). Assim, a imagem actual, viva, atraente e activa, ou decadente, pouco sedutora e indiferente, que as pessoas possam ter sobre a figura e os feitos de Jesus de Nazaré depende, em grande parte, de como O vivemos e O apresentamos com as nossas palavras e acções.

Mas, não haverá, hoje, pessoas, que estariam disponíveis para aceitar a pessoa e a obra de Jesus, mas desvinculando-O da Igreja? Certamente, há necessidade de fazer uma reflexão sobre o que se entende por Igreja. Todavia, bem sabemos que a Igreja é humana e pecadora, formada por homens e mulheres fracos; uma Igreja que, tantas vezes, não é a Igreja que Jesus sonhava, uma comunidade de serviço e não de poder, tal como foi confiada a Pedro.

Sobre Jesus, podemos escrever e dizer muitas coisas. Mas peçamos-Lhe que nos ajude a saber e a viver quem Ele é e, sobretudo, a experimentar quem Ele é para cada um de nós. Como Pedro, procuremos, com a vida, dizer que Jesus é, para nós, o Messias, o Filho de Deus vivo. 

 

27-08-2023

LEITURA ESPIRITUAL

A firmeza da Igreja

 

Sentimo-nos cheios de segurança na cidadela da Santa Igreja. Nunca as promessas de Cristo deixaram de se cumprir; pelo contrário, mostram-se-nos ainda mais consolidadas pelas provas de tantos séculos e as vicissitudes de tantos acontecimentos. Os reinos e os impérios desmoronaram-se; povos que a glória do seu nome e da sua civilização tinha tornado célebres desapareceram. Assistimos à desagregação de nações, como que esmagadas pela própria vetustez. Mas a Igreja é, por natureza, imortal; o laço que a liga a seu celeste Esposo não se quebrará jamais, e ela não pode ser afectada pela caducidade, permanecendo, pelo contrário, florescente de juventude, sempre transbordante da força com a qual surgiu do coração trespassado de Cristo morto na cruz. Os poderosos da Terra ergueram-se contra ela; eles desapareceram e ela permanece! Os mestres de sabedoria imaginaram, no seu orgulho, uma variedade infinita de sistemas capazes, pensavam eles, de pôr em causa os ensinamentos da Igreja, de abalar os dogmas da fé, de demonstrar o absurdo do seu magistério. A história mostra-nos que tais sistemas caíram no esquecimento, arruinados em toda a sua dimensão. E, entretanto, do alto da cidadela de Pedro, a verdadeira luz resplandece com todo o fulgor que lhe foi transmitido por Cristo desde as origens, e que Ele alimenta com esta sentença divina: «O céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão» (Mt 24,35). Por isso, dirigi os passos da vossa alma, tal como os começastes, para a firmeza desta rocha; foi sobre ela, como sabeis, que o nosso Redentor fundou a Igreja em todo o mundo, de sorte que os corações sinceros, orientando por ela a sua marcha, não se percam. (São Pio X, 1835-1914, Encíclica «Iucunda Sane»).

 

Avisos e Liturgia do XIX Domingo do Tempo Comum – ano A  

Celebração do Domingo XIX do Tempo Comum – ano A

 

Depois de Jesus ter matado a fome à multidão com o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, como reflectimos no Domingo passado, despede as pessoas e obriga “os discípulos a subir para o barco e a esperá-lo na outra margem”. Parece que não quer que ninguém lhe agradeça o milagre que fez, não dando oportunidade a alimentar euforias entusiásticas das pessoas. Enquanto isto, os discípulos enfrentam uma tempestade. Estão cheios de medo e Jesus vai ao seu encontro, caminhando sobre o mar. O diálogo que faz com Pedro dá-nos a mensagem de que sem a ajuda de Deus e sem uma forte confiança nele somos incapazes de sermos firmes. O Senhor pede a Pedro que venha ao seu encontro, mas o medo, a dúvida e a violência do vento apoderam-se dele e vacila no caminho, começando a afundar-se. Jesus segura-o e repreende a sua pouca fé. Assim sucede quando a nossa vida está cheia de dúvidas, de medos, de apatias diante das dificuldades. Tantas vezes somos incapazes de caminhar na fé, porque nos apoiamos em falsas seguranças humanas; exigimos compreender tudo, preferimos o comodismo vazio que dispensa a presença de Deus, revoltamo-nos com o silêncio de Deus e resignamo-nos diante das dificuldades. Quando dá conta que se está a afundar, Pedro pede ajuda a Jesus. Esta súplica pode servir de modelo para as nossas orações, sem esquecer a importância que Jesus dava “para orar a sós”. É interessante verificar que os apóstolos, os discípulos e tantas outras pessoas que conviveram com Jesus e viram tantas coisas extraordinárias e maravilhosas, feitas por Ele, duvidam, ficam cheios de medo, escondem-se no momento da Paixão…E nós? Será que também precisamos de um sinal espectacular para acreditar e viver a fé? A primeira leitura deste domingo pode ajudar-nos nesta reflexão. O profeta Elias está em fuga. É perseguido por ser fiel à vontade de Deus que lhe promete uma visita. Tudo o que ele experimenta são sinais tradicionais e magníficos da aparição de Deus: uma forte rajada de vento, um terramoto, fogo…, mas Deus não estava neles. “Ouviu-se uma ligeira brisa…Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e ficou à entrada da gruta”.

Deus torna-se presente através de uma ligeira brisa, de uma forma discreta, quase insignificante, convidando a estarmos atentos, porque não se impõe, havendo o risco de passar despercebido. Recordemos os momentos da nossa vida, onde sentimos, de uma forma intensa e serena, a presença de Deus, discreto como uma suave brisa. Hoje, somos envolvidos por tanto barulho que nem sempre temos a capacidade de distinguir e discernir a voz de Deus no meio do mundo. Há que procurar espaço e tempo para reconhecer a voz de Deus. Sem isto, não conseguiremos encher o coração para amar ao jeito de Deus; as nossas boas obras estarão despidas da caridade. Jesus continua a dizer: “Não temais. Sou Eu”; e a estender-nos a mão, respondendo, assim, à nossa súplica, que é a de Pedro: “Salva-me, Senhor”. Jesus sabe que a nossa vida tem dificuldades, que podem ser vencidas com empenho, vontade e humildade. Jesus exige risco e confiança. Com a certeza da sua ajuda e da sua graça, cada um de nós poderá, também, dizer: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus”.

 

 

LEITURA ESPIRITUAL

«Homem de pouca fé, porque duvidaste?»

 

Os discípulos são de novo joguete das vagas, e cai sobre eles uma tempestade semelhante à primeira (Mt 8,24); anteriormente, porém, tinham Jesus com eles, enquanto desta vez estão sozinhos e entregues a si mesmos. Penso que o Salvador pretendia reanimar-lhes o coração adormecido; deixando-os cair na angústia, inspirou-lhes um desejo mais vivo da sua presença. Por isso, não foi imediatamente em auxílio deles, mas apenas «na quarta vigília da noite», «caminhando sobre o mar». Pedro, sempre fervoroso, adiantou-se aos outros discípulos e disse-Lhe: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas». Não Lhe disse: «Manda-me caminhar sobre as águas», mas «manda-me ir ter contigo», porque ninguém amava Jesus como ele. E fez a mesma coisa depois da ressurreição: não aguentando seguir lentamente com os outros na barca, deitou-se à água para satisfazer o seu amor por Cristo. Descendo, pois, da barca, Pedro avançou para Jesus, mais feliz de se Lhe dirigir do que de caminhar sobre as águas. Mas, depois de superar o perigo maior, o do mar, acabou por sucumbir a um menos grave, o do vento. Tal é a natureza humana: muitas vezes, depois de termos dominado os perigos mais sérios, deixamo-nos abater por outros menos importantes. Pedro não estava ainda totalmente livre do temor, apesar da presença de Cristo perto dele. De nada nos serve estarmos ao lado de Cristo se não estivermos próximos dele pela fé. «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» Se a fé de Pedro não tivesse enfraquecido, ele teria resistido ao vento sem dificuldade. E a prova foi que Jesus o segurou, deixando que o vento continuasse a soprar. Da mesma forma que a mãe sustenta, com as suas asas, o passarinho que saiu do ninho antes do tempo, quando ele vai a cair no chão, e o volta a pôr no ninho, assim fez Cristo a Pedro. (São João Crisóstomo, c. 345-407, presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja, Homilias sobre o Evangelho de Mateus).

13-08-2023

http://www.liturgia.diocesedeviseu.pt/

Programação de Missas da Semana (Segunda a Sexta) de 14 a 18 de agosto: Unidade Pastoral das Paróquias de Fornos de Algodres, Cortiçô,Casal Vasco, InfiasVila Chã e Algodres.

Cartaz elegante branco de festa da misericórdia – 8

Avisos e Liturgia do Domingo XVII do Tempo Comum – ano A

 

Na vida, há coisas, pelas quais vale a pena arriscar tudo por elas. É o que nos dizem as parábolas, proclamadas neste Domingo, no texto do evangelho. A preocupação de perder o que se encontrou, destaca o valor incomparável do Reino de Deus, acima de todas as coisas. Aderir a Jesus e ao Evangelho, supõe reflectir sobre quais são as nossas prioridades. Salomão ouve o que Deus tem para lhe dizer: “pede o que quiseres”. No diálogo com Deus, não pede o que parecia ser lógico para um rei: riqueza, vitórias sobre os inimigos, longa vida, etc. Salomão considera outras coisas mais importantes do que estas. Quer sabedoria para governar, para julgar com rectidão o seu povo. Deus elogiou o pedido de Salomão e concedeu-lhe inteligência e também tudo o que não lhe tinha pedido. É um belo texto sobre a generosidade sem limites de Deus, mas também nos convida a procurar a verdadeira riqueza. A Deus, devemos pedir serenidade para aceitar tudo aquilo que não se consegue mudar, fortaleza para mudar aquilo que se é capaz de mudar e sabedoria para fazer a distinção. Pensemos nas coisas que gostaríamos de mudar. Vamos dar conta que estão relacionadas connosco próprios, e as que não podemos mudar dependem dos outros. Mudar em nós o que gostaríamos de ver renovado à nossa volta. Tudo isto para se chegar à mesma conclusão do texto de Salomão: a sabedoria como orientação para a nossa vida. A sabedoria de Salomão foi reconhecida ao longo dos séculos: todos recordamos como ele soube identificar a verdadeira mãe da criança de entre as duas mulheres que a reclamavam como filho. Esta sabedoria vinha de Deus e todos devemos pedi-la e acolhê-la. Na segunda leitura, São Paulo também nos fala de prioridades, mas com uma outra linguagem, que lhe é muito peculiar. Ele diz que o plano de Deus deve ser uma realidade em nós. Ele destinou-nos a sermos imagens vivas de seu Filho. Ao acolhermos esta missão, alcançaremos a verdadeira felicidade. O projecto de Deus está centrado em Jesus Cristo. Todos são chamados a serem filhos de Deus, por Jesus Cristo, o primeiro de entre todos os irmãos. São Paulo afirma que a esperança cristã está fundamentada na fidelidade de Deus ao seu plano de salvação. Deus não se esquece de cumprir as suas promessas. A nossa prioridade deverá ser o tesouro escondido, a pérola preciosa. O Reino é comparado ao tesouro escondido, porque não é algo que se apresente com clareza, mas exige procura, esforço, empenho, paciência e perseverança. O Senhor sempre recompensa e multiplica os dons a quem não tem medo de arriscar escolher a melhor parte e fazer do Reino dos Céus o critério absoluto da vida. O Reino dos Céus é comparado a uma pérola, que não é mais uma entre tantas, mas a única. Qual é o nosso bem mais precioso? O Filho de Deus. Aderir a Jesus Cristo supõe cortar com ideias e comportamentos da vida passada, porque se recebe uma vida nova, pela conversão. Também o Reino dos Céus é comparado a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes que, depois, serão divididos entre bons e maus. No anúncio do Reino, não se deve fazer escolha de pessoas. A nós, compete-nos anunciar a todos. A Deus, compete fazer a escolha. A nós, compete lançar as redes para que todos sejam “apanhados” pela Boa Nova e se deixem transformar em novas criaturas, em peixes bons.

30-07-2023

 

Leitura Espiritual

Foi vender tudo quanto possuía

 

Nosso Senhor Jesus Cristo insistiu muitas vezes no seguinte: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (Mt 16,24). E noutro passo: «Se queres ser perfeito, vende o que tens e dá o dinheiro aos pobres»; e acrescenta : «depois, vem e segue-Me» (Mt 19,21). Para aquele que sabe compreender, a parábola do negociante quer dizer a mesma coisa: «O Reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola». A pérola preciosa designa indubitavelmente o Reino dos Céus, e o Senhor mostra-nos que nos é impossível obtê-lo se não abandonarmos tudo o que possuímos: riqueza, glória, nobreza de nascimento e tudo aquilo que tantos outros buscam avidamente. O Senhor declarou ainda que é impossível ocuparmo-nos convenientemente do que fazemos quando o nosso espírito é solicitado por coisas diversas: «Ninguém pode servir a dois senhores», disse (Mt 6,24). Por isso, o tesouro que está no Céu é o único a que podemos ligar o coração: «Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração» (Mt 6,20). Em suma, trata-se de transportarmos o nosso coração para a vida do Céu, de maneira que possamos dizer: «A cidade a que pertencemos está nos Céus» (Fl 3,20). Trata-se, sobretudo, de nos tornarmos semelhantes a Cristo, «que, sendo rico, Se fez pobre» por nós (2Cor 8,9). (São Basílio, c. 330-379, monge, bispo de Cesareia da Capadócia, doutor da Igreja, Regras Monásticas, Regras Maiores, 8).

 

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Avisos e Liturgia do Domingo XIV do Tempo Comum – ano A

 

O texto evangélico deste Domingo é uma oração de Jesus. Sabemos que Jesus rezava sozinho e, também, com os seus discípulos. Além de rezar os salmos, fazia a sua própria oração, mas não conhecemos muitas destas orações. Com as suas palavras, podemos iluminar as nossas com duas coisas muito importantes: confiança e bênção. “Eu te bendigo, ó Pai”. Estamos perante uma oração confiante, onde Deus é chamado de Pai. Em todas as orações de Jesus, Deus é chamado de Pai: a oração de Jesus, a oração cristã, é inteiramente filial. Recordemos as palavras do Pai-Nosso! É uma oração de bênção e de acção de graças. Jesus bendiz o Pai, porque os sábios e inteligentes deste mundo rejeitam a Sua mensagem; todavia, os pequeninos acolhem os mistérios do Reino: o que aos olhos humanos parecia um fracasso, foi um êxito, na perspectiva de Deus. Mas, porque é que os sábios e os inteligentes não entendem estas coisas? Porque, como os escribas e os fariseus, procuram um Deus à sua medida, para satisfazer os seus interesses, com sabedoria e conhecimentos humanos e que seja legalista e vingativo. Assim, fecham os corações à misericórdia de Deus e não capazes de acolher o Reino e a Justiça de Deus, por Jesus Cristo. A Palavra de Jesus é preparada e ilustrada com as outras duas leituras bíblicas, que nos convidam a praticar duas atitudes fundamentais da vida cristã: humildade e conversão. Humildade, porque o texto de Zacarias anuncia a entrada triunfal em Jerusalém do rei messiânico, que será aclamado pelos habitantes da cidade. Recorda-nos a entrada de Jesus em Jerusalém, antes da sua paixão, no Domingo de Ramos. O texto descreve o Messias esperado como um rei vitorioso, mas com a supressão explícita dos aspectos políticos e militares. É uma entrada triunfal, mas simples: a chegada é humilde e não há ostentação de armas, nem violência. O seu reinado caracterizar-se-á por uma paz universal: “anunciará a paz às nações, o seu domínio irá de um mar ao outro mar, até aos confins da terra”. A soberania de Deus é universal e a sua salvação é oferecida a todos os povos. Conversão, porque no capítulo 8 da carta aos Romanos, São Paulo faz uma interessante reflexão sobre a vida nova do crente: uma comparação entre o que ele chama “o espírito” e a “carne”. São duas realidades que podemos alimentar, ou não, no nosso interior. São dois dinamismos que actuam na pessoa humana e a inclinam para âmbitos diferentes e incompatíveis. Apesar de tudo, graças a acção de Cristo, aconteceu algo decisivo na história, que se pode definir como a passagem ao âmbito do Espírito. Aqueles que acreditam em Cristo, já receberam, pelo Baptismo, a vida nova que vem de Cristo ressuscitado. O Espírito habita neles e é esta presença que os converte, nos converte, em cristãos. É este Espírito que nos liberta das escravidões da carne. Já recebemos a vida nova, a vida do Espírito, a que vem de Cristo ressuscitado. É um tempo novo, mas ainda não estamos no tempo definitivo. Porque recebemos este dom sem mérito algum da nossa parte, devemos corresponder-lhe. Humildade e conversão, este é o desafio. Mais do que nunca, façamos nossas as palavras do salmo: “Louvarei para sempre o vosso nome, Senhor, meu Deus e meu Rei”. Não fiquemos somente na teoria, com os sábios. Tudo o que dissermos por palavras, sintamos no nosso coração, e que se note nas nossas obras. Temos a sensação de que falamos de coisas negativas, do sacrifício da vida e da dor. Mas, sem sacrifício, não se vence na vida. Sim, a cruz é sofrimento e é morte, mas também é sinal de salvação; mais ainda, é sinal de até onde chega o amor de Jesus por nós. Porque amar é sofrer, é querer o bem do outro, é aconselhar quem está a desviar-se do recto caminho. Quem ama está lá, esperando que ele regresse, que um dia compreenda o que, realmente, dá felicidade. Isto é o que Deus, em Jesus, faz por nós. Seguir Jesus e a cruz são inseparáveis, como também a ressurreição e a vida. Isto diz-nos São Paulo na segunda leitura. Vinculando a morte com o baptismo, diz-nos que aqueles que morreram com Cristo, ou seja, os que foram baptizados, participarão na sua ressurreição e viverão definitivamente com Ele.

 

09-07-2023

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Leitura Espiritual

«Em quem repousarei, senão naquele que é manso e humilde, e teme as minhas palavras?» (Is 66,2, LXX)

 

Está claro, pois, que o Reino de Deus Pai pertence aos humildes e aos mansos. Com efeito, também está dito: «Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra» (Mt 5,4). A Terra é o estado e o poder, firme e imutável, suscitado pela beleza e a rectidão dos mansos, porque eles estão sempre com o Senhor, comunicam uma alegria incessante, conquistaram o Reino preparado desde o começo e são dignos do lugar e da ordem do Céu, qual terra cuja localização no centro do Universo é a razão da virtude, segundo a qual o homem manso, que se encontra no seu centro, entre o elogio e a difamação, permanece impassível, nem inchado pelos elogios, nem abatido pela difamação. Com efeito, depois de ter recusado o desejo das coisas das quais está livre por natureza, a razão não sente os ataques das mesmas quando a perturbam; repousando da sua agitação, transportou todo o poder da alma para o porto da liberdade divina distanciada da acção, essa liberdade que o Senhor desejava transmitir aos seus discípulos quando lhes dizia: «Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas». Ele chama repouso ao poder do Reino divino, um poder que suscita nos que são dignos uma soberania distanciada de qualquer servidão. Ora, se o poder indestrutível do Reino em estado puro foi dado aos mansos e humildes, estes estão cheios de amor e desejo dos bens divinos, tendendo por isso, em extremo, para a humildade e a mansidão, a fim de se tornarem marca do Reino de Deus, na medida em que isso é possível ao homem, trazendo em si aquilo que, pela graça, os faz ter uma forma espiritual semelhante à de Cristo, o qual é, na verdade e por essência, o grande Rei. (São Máximo, o Confessor, c. 580-662, monge, teólogo, Interpretação do Pai-nosso).

 

Cartaz elegante branco de festa da misericórdia – 3

Avisos e Liturgia da Celebração do Domingo X do Tempo Comum – ano A

 

Terminado o Sermão da Montanha, a leitura contínua do evangelho de S. Mateus prossegue com a vocação (chamamento) dos discípulos e com o discurso da missão. Hoje, no evangelho Jesus chama Mateus (nos evangelhos de Marcos e de Lucas é chamado de Levi) para fazer parte do grupo dos Apóstolos. Parece, à primeira vista, um convite como todos os outros: Jesus toma a iniciativa, encontra-se com Mateus, chama-o e ele deixa tudo imediatamente para O seguir. Mas, o chamamento de Mateus tem alguns aspectos importantes. Em primeiro lugar, Mateus é o autor do evangelho, ou seja, é o narrador que relata a sua própria vocação. Em segundo lugar, Mateus era um publicano, um cobrador de impostos, considerado um pecador na sociedade judaica. Este elemento é importante, porque, depois da vocação de Mateus, afirma-se: “Um dia em que Jesus estava à mesa em casa de Mateus, muitos publicanos e pecadores vieram sentar-se com Ele e os seus discípulos”. Como é importante destacar a ideia de que Jesus chama sem ter em conta a condição social do candidato, “sem fazer acepção de pessoas”. Aquilo que mais interessa a Jesus é o desejo de O seguir daquele que é chamado. Esta atitude de Jesus exprime o amor universal de Deus que deseja que todos os homens se salvem, fazendo nascer ao mesmo tempo o sol sobre os justos e os pecadores.

Esta atitude aberta de Jesus incomodou os fariseus, convencidos que eram os “eleitos”, ou, como se diz na linguagem dos “media”, tinham o “exclusivo”. Jesus responde-lhes: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” e “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”. Estas afirmações de Jesus podem levar-nos a reflectir sobre os destinatários da nossa acção evangelizadora, não esquecendo de que também somos pecadores e, por isso, necessitamos da salvação que vem do Senhor, mas que para a receber é necessária uma atitude aberta e humilde e nunca auto-suficiente. A tentação de pensar que a salvação está assegurada é antiga. O povo judeu considerava-se o povo eleito e, através de ritos e de práticas cultuais, de ofertas e de sacrifícios, pensava que tinha Deus sempre do seu lado. Os profetas foram sempre recordando que a verdadeira fé supõe as obras. Por isso, hoje, Oseias diz-nos na primeira leitura: “Procuremos conhecer o Senhor”, ou seja, em primeiro lugar, amar o Senhor com todo o coração. “Eu quero misericórdia e não sacrifícios, o conhecimento de Deus, mais que os holocaustos”. Jesus usa esta frase no evangelho para justificar a sua presença entre os pecadores que estão mais receptivos a uma mensagem de salvação que os próprios justos. Esta ideia aparece também no salmo responsorial: o que Deus dá mais importância não são os sacrifícios nem os holocaustos, mas a vida, “A quem segue o caminho recto darei a salvação de Deus”.

S. Paulo oferece-nos, neste Domingo, uma reflexão idêntica. A ideia central da sua Carta aos Romanos é a seguinte: o que salva não é o cumprimento escrupuloso da Lei do Antigo Testamento, mas a fé em Deus e a graça obtida por Jesus Cristo. Na segunda leitura, S. Paulo apresenta-nos o exemplo de Abraão que, “perante a promessa de Deus, não se deixou abalar pela desconfiança, antes se fortaleceu na fé, dando glória a Deus”. E isto Deus teve em sua consideração como também tem em consideração a vivência e a firmeza da nossa fé em Jesus morto e ressuscitado “para nossa justificação”.

Hoje, não somos escravos de ritos e de formas legalistas como em outros tempos. Porém, é sempre oportuno recordar que deve haver coerência entre a fé e a vida. Recordemos o evangelho do Domingo anterior: “Nem todo aquele que Me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus”. Sendo assim, a nossa fé deve expressar-se não só com palavras, com teorias, com formas externas, mas também com um amor verdadeiro a Deus e aos irmãos, esforçando-nos por viver como Jesus em todos os momentos da nossa vida (“uma vida santa” – oração depois da comunhão). A Oração Colecta deste Domingo é um resumo da nossa reflexão: “ensinai-nos com a vossa inspiração a pensar o que é recto e ajudai-nos com a vossa providência a pô-lo em prática”.

11-06-2023

 

Leitura Espiritual

«Segue-Me»

 

«Jesus ia a passar, quando viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança dos impostos, e disse-lhe: “Segue-Me”». Não o viu tanto com os olhos do corpo, mas com o seu olhar interior, cheio de misericórdia. Jesus viu um publicano, compadeceu-Se dele, escolheu-o e disse-lhe: «Segue-Me», isto é, imita-Me. Convidou-o a segui-lO, mais que com os passos, no modo de viver. Porque «quem diz que permanece em Cristo deve também proceder como Ele procedeu» (1Jo 2,6).

Mateus levantou-se e seguiu-O. Não devemos admirar-nos de que o publicano, ao primeiro chamamento do Senhor, abandonasse os negócios terrenos em que estava ocupado e, renunciando aos seus bens, seguisse Aquele que via totalmente desprovido de riquezas. É que o Senhor chamava-o exteriormente com a sua palavra, mas iluminava-o de um modo interior e invisível para que O seguisse, infundindo na sua mente a luz da graça espiritual, para que pudesse compreender que Aquele que na Terra o afastava dos negócios temporais lhe podia dar no céu tesouros incorruptíveis (cf Mt 6,20).

«Um dia em que Jesus estava à mesa em casa de Mateus, muitos publicanos e pecadores vieram sentar-se com Ele e os seus discípulos». A conversão de um publicano deu a muitos publicanos e pecadores um exemplo de penitência e de perdão. Foi, na verdade, um belo e feliz precedente: aquele que havia de ser apóstolo e doutor das gentes atraiu consigo ao caminho da salvação, logo no primeiro momento da sua conversão, um numeroso grupo de pecadores. (São Beda, o Venerável, c. 673-735, monge beneditino, doutor da Igreja, Homilias sobre os evangelhos I, 21).

 

 

Avisos e liturgia da Celebração do Domingo da Santíssima Trindade – ano A

 

Neste Domingo, celebramos o “Mistério de Deus”. Talvez seja uma das celebrações que mais nos custa a entender, porque para cada celebração somos congregados “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Ou como diz São Paulo, na segunda leitura: “a graça de Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”. Estamos tão habituados a ouvir estas palavras que nem pensamos no que estamos a dizer. Ao menos uma vez por ano, a Igreja convida-nos a reflectir e a celebrar a solenidade do nosso Deus, que é Trindade, aberto ao amor e necessitado de amor. Deus é relação entre pessoas como o amor é relação entre pessoas. O amor esconde e revela Deus.

Deus é amor (1Jo 4,8). Esta definição da primeira carta de São João revela o dinamismo da história da salvação: Deus faz uma promessa, a Aliança, com a humanidade, e perante a infidelidade humana Deus responde com o perdão e a reconciliação. Isto já podemos constatar no Antigo Testamento. A primeira leitura narrava-nos o momento em que Deus renova a Aliança, depois do episódio do bezerro de ouro. O povo foi infiel ao Senhor, que o tinha libertado da escravidão do Egipto. Moisés intercede pelo povo para que se revele o rosto misericordioso de Deus, a quem não agrada castigar. No decorrer do livro do Êxodo, isto vai repetir-se em diversas ocasiões: Deus responde sempre com perdão às infidelidades do povo.

Também no Novo Testamento, podemos constatar este dinamismo redentor. A salvação depende da opção de acolher ou de rejeitar Jesus; por isso, “acreditar” nele é aceitá-lo, alcançando, assim, a vida eterna. Esta parte final do diálogo de Jesus com Nicodemos insiste, sobretudo, na ideia de que a vinda do Filho ao mundo é a realização deste amor salvífico e sem limites de Deus. Mais que enviar o seu Filho, Deus oferece-o a todos nós.

Como podemos exprimir um mistério tão insondável? É tão conhecida a imagem do Pai sentado, sustentando nas mãos a cruz, onde está pregado o seu Filho; por cima deles, está o Espírito Santo, em forma de pomba, iluminando-os e unindo-os no seu amor! É uma imagem que nos recorda que Deus assumiu a nossa natureza humana e que nos convida a participar na sua vida para sempre. Nos braços abertos do Filho, todos podemos sentir o abraço de Deus. O Filho é a imagem da doação e da entrega de Deus; é a melhor expressão de um Deus que é Pai; é a melhor metáfora para revelar a relação, manifestada no Espírito Santo que nos ilumina e cuida. É imenso o amor que nos tem, a dor que sente por nós, a disposição de se sacrificar para o nosso bem, a proximidade a tudo e a todos. Por isso, entrega-se na Cruz, que, ao mesmo tempo, esconde e revela tudo isto. A cruz, cravada no solo, é uma árvore que nos acolhe com os braços abertos. É o sinal da nossa salvação e do nosso perdão. Uma árvore com três braços. Um Deus em três pessoas. Um Deus de relação, comunidade e compromisso.

Não percamos tempo em tentar explicar racionalmente a realidade de um único Deus em três pessoas. Em vez de tentar explicar o “como”, procuremos contemplar “quem” nos espera e não se cansa de esperar: Deus, “clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade”. É Nele que devemos colocar toda a nossa confiança e esperança.

 

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04-06-2023

Leitura Espiritual

«Para que todo o homem que acredita nele tenha a vida eterna»

 

Insensatos, que não cessais de revelar-vos indiscretos na procura da Trindade, sem vos contentardes em acreditar tão-só que Ela existe, tal como vos orienta o Apóstolo, ao dizer: «quem se aproxima de Deus tem de acreditar que Ele existe e recompensa aqueles que O procuram» (Hb 11,6). Que ninguém se ocupe de questões supérfluas, mas se contente em apreender o conteúdo das Escrituras, que dizem que o Pai é uma fonte — «o meu povo abandonou-Me, a Mim, nascente de águas vivas» (Jr 2,13); «abandonaste a fonte da sabedoria» (Br 3,12) — e é luz: «Deus é luz» (1Jo 1,5). O Filho, em relação a essa fonte, é um rio, de acordo com o salmo: «Enches, a transbordar, o rio caudaloso» (Sl 65,10), e em relação à luz é «resplendor da sua glória e imagem fiel da sua substância» (Hb 1,3).

Assim sendo, o Pai é luz, e o Filho o seu resplendor. E é no Filho que somos iluminados pelo Espírito, como diz também Paulo: «que o Pai vos dê o Espírito de sabedoria e vo-lo revele, para O conhecerdes, e sejam iluminados os olhos do vosso coração» (Ef 1,17-18). É, porém, Cristo quem nos ilumina nele quando somos iluminados pelo Espírito, pois a Escritura diz: «O Verbo era a Luz verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina» (Jo 1,9).

Para além disso, sendo o Pai fonte e Cristo rio, é dito igualmente que bebemos do Espírito: «e todos bebemos de um só Espírito» (1Cor 12,13). Dessedentados, pois, pelo Espírito, é de Cristo que bebemos, porquanto bebemos «de um rochedo espiritual que os seguia, e esse rochedo era Cristo» (1Cor 10,4). Ora, sendo o Pai o «único Deus sábio» (Rm 16,27), o Filho é a sua sabedoria, porque «Cristo é poder e sabedoria de Deus» (1Cor 1,24). Por conseguinte, ao recebermos o Espírito de sabedoria, recebemos o Filho e adquirimos a sua sabedoria. O Filho é a vida, pois Ele disse: «Eu sou a Vida» (Jo 14,6).

Mas também se diz na Escritura que somos vivificados pelo Espírito, quando Paulo afirma que «o Pai, que ressuscitou Cristo de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vós» (Rm 8,11). Ao sermos vivificados pelo Espírito, é Cristo que Se faz vida em nós: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2,20). Existindo assim no seio da Trindade uma tal correspondência e uma tal unidade, quem poderá separar o Filho do Pai, e o Espírito do Filho ou do Pai? O mistério de Deus não é concedido ao nosso ser com discursos eloquentes, mas pela fé e por via de preces respeitosas. (Santo Atanásio, 295-373, bispo de Alexandria, doutor da Igreja, Carta I a Serapião, 19; PG 26, 573).

 

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Solenidade de Corpus Christi Festa Santo Padroeiro Cartaz – 1