A fala é uma função complexa que engloba a articulação dos sons da nossa língua, bem como, o seu conhecimento fonológico, através da coordenação de movimentos estruturais e funcionais.
A criança desenvolve a fala desde cedo, muito antes de começar a falar. Utiliza o olhar, a expressão facial e o gesto para comunicar, a partir da interação com os outros. Começa por desenvolver a capacidade da compreensão, incluindo a de discriminar os sons da fala. À medida que isso acontece, desenvolve a expressão que contempla, posteriormente, a fala.
A fala tem duas dimensões: a fonética e a fonologia. A fonética relacionada com os movimentos físicos ao nível da produção e da perceção (independentemente do seu significado) e a fonologia relacionada com a organização do sistema de sons da língua. A sua produção passa necessariamente pela produção da voz (através da vibração das cordas vocais), a qual, para além de controlada pelo sistema nervoso central, envolve três etapas: respiração, fonação e articulação.
Assim, ao longo do processo de aquisição da linguagem, a criança vai reconhecendo progressivamente, os sons com que, na sua língua materna se constroem as palavras que servem para comunicar com os outros. As crianças tentam adaptar a forma de dizer as palavras, de modo a que consigam produzi-las o mais corretamente possível recorrendo ao uso de processos fonológicos, para facilitar a sua produção. A aquisição do sistema fonológico da nossa língua acontece, de forma contínua até aos sete anos de idade. Desta forma, o desenvolvimento fonológico inicia-se através da aquisição de sons simples e com o decorrer dos anos há uma expansão desse sistema fonológico, adquirindo os sons mais complexos.
Atualmente, as alterações da fala e da linguagem constituem o problema mais frequente no desenvolvimento infantil com incidências que variam entre 2 a 19%.
A dificuldade na produção dos sons da fala é diagnosticada quando a criança não articula esse mesmo som, tendo em conta a idade esperada e não são resultado de uma incapacidade física, estrutural, neurológica ou auditiva.
Existem vários sinais de alerta que nos permitem perceber se a criança poderá a vir ter dificuldades na produção dos sons da fala. Entre os quais, se destacam:
- Aos três anos não se faz entender fora do contexto familiar;
- Aos quatro anos apresenta uma fala pouco percetível;
- Aos cinco anos omite ou troca sons nas palavras;
- Aos seis anos não articula corretamente todos os fonemas do português;
- Usa gestos em vez de palavras para comunicar.
As alterações no desenvolvimento da fala necessitam de uma avaliação, por parte de um Terapeuta da Fala, quer irá determinar a necessidade ou não de um acompanhamento individualizado, assim como, orientar e acompanhar a família através do fornecimento de estratégias facilitadoras, para melhorar as competências da criança.
Algumas das orientações às famílias deverão ser:
- Dizer a palavra corretamente, logo após a palavra que a criança tem dificuldade;
- Quando a dificuldade é num som específico devemos dizer a palavra dando maior entoação a esse som;
- Evitar o “não é assim que se diz” e usar expressões como “faz como eu”;
- Não pedir à criança para repetir a palavra em que teve dificuldade para evitar frustração;
- Elogiar a criança depois desta repetir a palavra, mesmo quando não articula de forma correta;
- Não infantilizar as palavras através de diminutivos (ex: “cadeirinha”);
- Usar jogos como “loto”, “dominó”, “puzzles” para promover os sons que a criança tem dificuldade.
Ana Carolina Melo Marques C-046322175
Terapeuta da Fala na APSCDFA, na Clínica Nossa Srª da Graça e na CliViseu